Alunos Disléxicos e a Prática Pedagógica



ALUNOS DISLÉXICOS E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Leila Martins da Silva

 

 

Palavras-Chave: Aluno, dislexia, práticas pedagógicas, inclusão.

 

      Dislexia é o diagnóstico dado quando o aluno é saudável e inteligente possuindo estímulos sócios culturais adequados e não apresenta problemas de ordem sensorial ou emocional.  No entanto, enfrenta uma dificuldade acima do comum ao desenvolver uma leitura ou escrita, sendo manifestada no início da alfabetização quando a criança não consegue decodificar os sinais gráficos com sequências fonológicas das palavras, com uma leitura muito lenta, com erros de soletração no ato de ler, de ortografia ao escrever e trocas de letras e sílabas tendo dificuldade na compreensão da informação lida. As consequências podem ocasionar problemas na compreensão da leitura, diminuindo as oportunidades da criança aprender a ler, pois ela evitará entrar em contato com materiais escritos, buscando outras atividades que não envolvam leitura e escrita, como nos mostra Lyon (2003, p. 53):

Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada pela dificuldade com a fluência correta na leitura e por dificuldade na habilidade de decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa etária.

     Dislexia não é uma doença, é um distúrbio genético e neurobiológico do funcionamento do cérebro quanto ao processamento linguístico relacionado à leitura, porém não impede que a criança reconheça os fonemas através de sua grafia, assim nos afirma Paín (1985, p. 30):

“[...], pois se trata de um problema localizado dentro das agnosias, que não impede a criança ou adulto afetado por um processo traumático reconhecer os fonemas através de sua grafia”.

     Portanto a criança disléxica tem seu jeito de ser e de aprender onde o ideal é que seja realizado o diagnóstico de dislexia o quanto antes possível, para que seja amenizado ou evitado um comprometimento social e emocional do indivíduo ao longo de sua vida. Quanto mais cedo entrar em contato com a linguagem, melhor, pois as informações são recebidas por meio do contato físico, cognitivo e emocional.  Essa criança precisa ser inserida no processo ensino-aprendizagem, onde o educador deve valorizar sua diferença no que se refere ao seu modo de aprender, inserindo-o de maneira complementativa e conjunta com a comunidade escolar e os pais.

3. A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO EDUCADOR DIANTE DE ALUNOS DISLÉXICOS

     O educador tem o papel de observar e auxiliar a criança no processo de ensino aprendizagem, sendo ele o mais importante na descoberta de alunos disléxicos. Diante desses alunos o professor necessita de uma prática diferenciada, onde suas aulas sejam dinâmicas e motivadoras, dando abertura para que todos sem exceção descubram suas potencialidades, como nos afirma Martinez (2000, p. 184):

A importância do professor no desenvolvimento da criatividade de seus alunos é inquestionável, pois ele observa, organiza, critica, parte de experiências antigas para solucionar problemas novos e desenvolve todo o trabalho docente de forma a contribuir para fomentar a criatividade de seus alunos.

     O educador precisa elaborar suas aulas prevendo a utilização de materiais concretos planejados para vir ao encontro do contexto dessas crianças onde as mesmas possam manuseá-los através do contato direto estimulando o tato, a visão e o som, despertando a criatividade na execução das atividades propostas e do processo ensino-aprendizagem. Tais atividades pedagógicas podem ser planejadas através de métodos ativos, como por exemplo, utilizar-se da teoria do desenvolvimento intelectual, descrita pelo psicólogo suíço Jean Piaget, que atende aos diversos estágios do desenvolvimento infantil, quanto aos aspectos intelectuais, sociais e afetivos da criança.  Da mesma forma, estando consciente da diversidade que essas apresentam. Deve-se lembrar de que cada um tem seu tempo e ritmo de aprendizagem e o educador necessita se adaptar a esses estilos e ritmos, incluindo essas crianças no processo de ensino-aprendizagem, como cita Carvalho (1997):

O principio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível independente das dificuldades que apresentam. Desta forma, as escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos.

      Sendo assim, o educador tem a necessidade de atuar de forma centralizada no atendimento do educando disléxico, priorizando as especificidades da sua necessidade, incluindo-o no processo ensino-aprendizagem, contemplando a estimulação da percepção sensorial, tendo o apoio de uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos que devem iniciar uma minuciosa investigação.  Essa equipe multidisciplinar deve ainda garantir uma maior abrangência do processo de avaliação verificando inclusive a necessidade do parecer de outros profissionais como o neurologista, o oftalmologista, o pediatra entre outros.    Deve-se ter sempre o apoio da família para atender essa criança da melhor maneira possível, realizando um trabalho multidisciplinar.

4. OS PROCESSOS INCLUSIVOS PARA ALUNOS DISLÉXICOS

     A escola inclusiva vai muito além da presença física do aluno, ela precisa assegurar uma aprendizagem significativa que venha a favorecer a relação, a percepção e a interação do educando, para que esse possa exercer um papel de sujeito ativo na sociedade. A escola não deve nivelar nem uniformizar o discurso e a prática, precisa antes valorizar as diferenças trabalhando num processo de inclusão e interação entre todos, elaborando um currículo aberto e flexível que atenda às diversidades de todos os alunos presentes no contexto escolar. Compete ao professor aplicar atividades de maneira que inclua o aluno disléxico no processo-ensino aprendizagem, esse trabalho precisa ser de maneira que o aluno se sinta incluído na sala de aula. Fora da sala regular o disléxico precisa ser atendido em uma sala especial onde haja disponibilizado recursos, e este possa receber acompanhamento de um educador especializado, de preferência um psicopedagogo, sendo ele o mais habilitado, dentro das escolas, por ser possuidor de uma formação mais específica em relação à fundamentação teórica e de técnicas pedagógicas, referentes às dificuldades de aprendizagem.

      O conteúdo aplicado pelo educador deverá ser de várias maneiras até encontrar o método mais adequado, que não seja o tradicional, pois a criança disléxica não consegue internalizar um todo e o mais indicado passa a ser o método multissensorial e o fônico, por esse desenvolver habilidades metafonológicas e ensinar as correspondências grafo fonêmicas.  Dessa forma, ele precisa ser aplicado num trabalho centralizado no educando, atendendo a especificidade da sua necessidade como define a Declaração de Salamanca (1994, p. 16): “As pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades”.

     O educador deve trabalhar de maneira lúdica, utilizando-se de cartazes, histórias dramatizadas, jogos, material dourado e muitas outras que chamem a atenção dessa criança. É necessário que o mesmo dê tratamento igualitário a esse aluno no momento em que este estiver em sala regular de ensino, junto com os demais colegas, reconhecendo as suas mais diversas necessidades, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de aprendizagem.  Ao mesmo tempo deve também assegurar uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado garantindo a inclusão de alunos disléxicos no processo de ensino aprendizagem.  Assim, não haverá exclusão, cabendo ao educador aplicar atividades em grupo para que nesse momento haja interação entre os grupos que estão desenvolvendo as atividades na sala de aula.

     A avaliação de alunos disléxicos deverá ser diferenciada, principalmente no que se refere a erros ortográficos. Se necessário poderá ser aplicada uma avaliação oral, para que essa criança não se sinta prejudicada. O educador terá que tomar cuidado para não rotular essa criança, pois ela é apenas diferente na maneira de aprender, mas um aluno como outro qualquer e deve ser trabalhado a partir da sua diferença para que esse possa se desenvolver integralmente como os demais alunos, voltado para uma prática educacional inclusiva:

Construir e cultivar práticas de inclusão pressupõe, também, manter-se motivado para fazer a inclusão no dia-a-dia da sala de aula, não deixando que valores não inclusivos, como comodismo, elitismo, pessimismo entre tantos outros, afetem a forma de trabalhar e planejar do professor, evitando assim excluir os alunos que apresentam diferentes ritmos  de aprendizagem. (SANTOS 2008, p. 62)

     Tomando por base a reflexão nas pesquisas de Santos (2008), entende-se o quanto o educador é importante no processo de inclusão de alunos disléxicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

CABUSSÚ, Maria Arminda S. Tutti; Dislexia e estresse: implicações neuropsicológicas e psicopedagógicas. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 11/06/12.

FONSECA, Vítor da; Dislexia, cognição e aprendizagem: Uma abordagem neuropsicológica das dificuldades de aprendizagem na leitura. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 07/06/12.

 

FONSECA, Vítor da; Educação especial: programa de estimulação precoce. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

LUKASOVA, Katerina, et al; Discriminação fonológica e memória em crianças com dislexia e bons leitores. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 09/06/12.

 

MARTINS, Maria Anelli; CAPELLINI, Simone Aparecida; Intervenção precoce em escolares de risco para a dislexia: revisão da literatura. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 12/06/12.

MARTINS, Vicente. Crianças disléxicas - conhecendo as habilidades de leitura para identificar possíveis problemas. Revista do professor. Porto Alegre: n.94, p. 28-32, abril/junho, 2008.

MEC, Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. [2.ed.]/ coordenação geral SEESP/ MEC.- Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial,2006.

MENDES, Eniceia Gonçalves, et al; Inclusão escolar pela via da colaboração entre educação especial e educação regular. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 15/06/12.

OLIVEIRA, Marileide Antunes de; LEITE, Lucia Pereira; Educação inclusiva: análise e intervenção em uma sala de recursos. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 12/07/12.

PAÍN, Sara; Diagnósticos e Tratamentos dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artemed, 1985.

ROCHA, Maria Angélica Moreira, et al; Dislexia: atitude de inclusão. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 09/06/12.

 

SANTOS, Mônica Pereira; Inclusão em Educação. 2. ed.São Paulo: Cortez, 2008.

SILVA, Sther Soares Lopes da; Conhecendo a dislexia e a importância da equipe interdisciplinar no processo de diagnóstico. Disponível em http://www.scielo.br, acesso 15/06/12.

 

 


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