COMO OS ESTUDOS DA DIDÁTICA E CURRÍCULO PODEM COLABORAR COM O TRABALHO DOCENTE NO CENÁRIO DE COMPLEXIDADE DA ''ESCOLA''?



RESUMO

Com o presente trabalho é proposto uma reflexão sobre importantes questões que permeiam discussões e práticas no contexto escolar envolvendo a didática e o currículo, enquanto colaboradores do trabalho docente, num cenário de tantas complexidades, como é o caso da escola. Para melhores esclarecimentos, serão apresentados conceitos extraídos de textos de Libâneo e Moreira sobre didática e currículo, como também a relação entre ambas. Por fim, conclui-se com sugestões que poderão contribuir para com a prática docente em sala de aula.  

Palavras-chaves: Didática, Currículo, Escola, Proposta pedagógica, Prática docente.

O que é Didática

Os estudos desenvolvidos sobre a didática, refletido em vários pontos de vista levam a variadas opiniões e/ou concepção sobre esse campo. A Didática ora se apresenta como uma variedade do saber psicológico, ora uma variedade do saber sociológico, ora uma variedade do saber político, dentre outras.

Conforme o que afirma Libâneo (1998, p.58),

[...]a didática ocupa-se dos processos de ensino e aprendizagem na sua globalidade, na sua interseção ou interação, com finalidade de orientar o trabalho do professor. Portanto, ensino como atividade prática, melhor dizendo práxis, que é também, fonte de investigação, estimulando o próprio professor a descobrir suas possibilidades de ação.  

Compreendendo a forma pela qual Libâneo define a didática pode-se entender que a mesma vai além do que se denomina por disciplina, ou matéria, propriamente dita num currículo de formação de professores. Embora esta possa ser inserida na proposta pedagógica da escola como uma “práxis”, conduzindo o professor à reflexão da sua prática, e ao reconhecimento das normas educacionais, sensibilizando-os a descobrirem as suas potencialidades através das suas ações. Ele destaca ainda que cabe à didática responder os seguintes elementos: “o para que ensinar, o que ensinar, quem ensina, quem aprende, como se ensina, em que condições se ensina”. (LIBÂNEO,1998, p.53).  

Pensar a didática, portanto está além das questões de ensino, sem, contudo supervalorizá-la.

Considerando, ainda a importância da didática no processo da aprendizagem proposta aos alunos no interior da escola, Libâneo (2002, p.5) ainda destaca que:

A Didática é uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direção e orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança profissional.

 O que é o Currículo

Para Libâneo, ao dar um enfoque, sociocrítico destaca a perspectiva de colocar o currículo “como ponte entre a teoria e a prática, a partir da prática” (LIBÂNEO,1998.p.56). Nessa orientação, o currículo, antes de ser algo decorrente de uma teorização, constitui-se em torno dos problemas. [...] “o currículo define-se como projeção do projeto pedagógico, ou seja, o currículo é um desdobramento necessário do projeto pedagógico, materializando intenções e propósitos em objetivos e conteúdos”. (Libâneo, 2002, p.32)

Pensar currículo conforme Moreira e outros, 2005, enquanto “artefato social e cultural”, é o mesmo que ir além do espaço físico da escola, é repensar o aluno enquanto individuo e ser social, envolvido num processo histórico, influenciado pela cultura que lhe cerca. Portanto, o currículo não pode ser considerado

[...] um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo produz identidades individuais e sociais. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal. (MOREIRA, 2005, p.35).

Relação entre didática e currículo

Para estabelece a relação da Didática com o Currículo, Santos e Oliveira apud MOREIRA, 1998, destacam que o “campo do currículo volta-se predominantemente para as questões relacionadas à seleção e a organização do conhecimento escolar, enquanto que o da didática prioriza o ensino como seu objeto de estudo” (grifos meus). São “campos superpostos”, de acordo Gimeno Sacristán, apud,  MOREIRA ,1998.

Para Libâneo,1998, “a didática e o currículo têm objetos de investigação coincidentes, isto é, abarcam a mesma problemática e os mesmos campos de atuação prática”. O currículo torna-se “um campo de projeção da didática”, numa visão curriculista. (LIBÂNEO, 1998, p.86).

Considerar que no universo escolar existe uma dicotomia entre a “escola que ensina a pensar e a escola que ensina a fazer” é tentar separar a teoria da prática, é admitir que a formação do profissional cidadão seja compartimentada, em um momento se aprende a pensar, a construir o conhecimento e em um segundo momento se coloca em prática aquilo que foi aprendido.

 Conclusão. 

Pensar a didática e o currículo enquanto disciplinas apenas é subestimar o potencial das questões que permeiam estes “campos de conhecimentos”.

Muito se comenta da prática de sala de aula e pouco se buscam as orientações teóricas vigentes para subsidiar e também melhorar a “práxis” do profissional da educação. O planejamento pedagógico exige objetivos claros, tomada de decisões, conhecimentos e métodos diversificados, ele não é isolado, porém acontece em um contexto amplo, diversificado, abarcado de muitas especificidades, carregado de diferentes culturas e por isso precisa de ações teoricamente flexíveis.

Cabe ao professor a competência de selecionar conteúdos, organizar o planejamento das suas aulas, estimular os alunos, incentivando-os. Em outras palavras, “dirigir as atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria aprendizagem”. (LIBÂNEO, 2002, p.6).

A tarefa do professor no processo didático é, portanto, facilitar para o aluno a articulação dos conhecimentos que possui e que dizem respeito ao ensino, possibilitando-lhe explicitar sua síntese, “através de uma proposta educacional que considere o caráter politico-ideológico das decisões de ensino”. Propondo ainda a “assimilação ativa pelos alunos dos conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes, desenvolvendo suas capacidades e habilidades intelectuais”. (LIBÂNEO, 2002, p.12).

Pode-se assim dizer, que a escola possui uma cultura própria da sua construção, da sua razão de ser, contudo esta cultura é fruto da criação do próprio homem, portanto caberão as próprias pessoas as modificações necessárias, buscando os propósitos de todos aqueles que nela estão inseridos. (LIBÂNEO, 2002)

Referências:

LIBÂNEO, José Carlos. Os campos contemporâneos da didática e do currículo: aproximações e diferenças.In: OLIVEIRA, Maria Rita Neto S. Confluências e divergências entre didática e currículo. Campinas, Papirus, 1998 .(p.53 - 91).

LIBÂNEO, José Carlos. Didática: Velhos e novos temas. Goiânia, GO. Edição do Autor - Maio 2002.. Disponivel em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAeiboAG/libaneo-livro-didatica .  Acesso em: 16 de set. 2012.

MOREIRA, Antônio Flavio Barbosa. Didática e Currículo: questionando fronteiras. In: OLIVEIRA, Maria Rita Neto S. Confluências e divergências entre didática e currículo. Campinas, Papirus, 1998.(p.33 a 52).  

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Autor: Selma Christiany Marques


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