Valores Humanos Para Humanos de Valor



Encontramo-nos às voltas com dois monstros que nos desafiam: o antropocentrismo obtuso e o individualismo euóico.

O primeiro nasceu durante o Renascimento, quando Deus foi retirado do centro do universo para ceder espaço à Razão universal e organizadora do mundo. Essa concepção permeou o racionalismo e o empirismo, chegando ao positivismo iluminista sustentando conceitos de evolução natural, ordem e progresso. Esse monstro é obtuso porque não adota a postura da humildade para ver a existência humana como uma manifestação de vida entre outras.

O segundo monstro se fortaleceu na Modernidade, em meio a debates filosóficos, econômicos e políticos durante a consolidação do capitalismo liberal. Em nome do "ter" o "ser" foi relegado a algo de somenos, subjugando o senso da coisa pública e o conceito de bem comum.

Diante desses dois monstros o nosso desafio é o de resgatarmos os valores humanos para que possamos formar humanos de valor, entre eles:

  1. Os da humildade ôntica. Em grego, "ontos" significa "ser". Logo, o homem e a mulher devem se perguntar: quem somos? Certamente, não somos reis ou senhores de quem quer que seja. Como seres que se colocam em pé de igualdade diante das outras expressões de vida, poderemos fazer cessar nossas ações destrutivas.
  2. Os da inter-relação pessoal. Saber que ninguém é absolutamente auto-determinado, mas interacional. Isso quer dizer que a vida deve ser compreendida em sua dimensão comunitária e coletiva. Se tomarmos essa atitude a sério, homem e mulher estaremos dando um bom passo contra o individualismo tacanho que nos sufoca.
  3. Os da co-responsabilidade social. É estarrecedora a maneira como "o que pertence a todos" tem sido dilapidado entre nós. A corrupção é um indicativo disso, ao ponto de vermos como legítima a ação de quem rouba para "levar vantagem" em tudo. Mas, no fundo, somos todos responsáveis por todos, e não unicamente pela nossa própria pessoa.
  4. O quarto núcleo de valores humanos que podem ser potencializados na formação de humanos valorosos é o do respeito à pluralidade da vida. Bem compreendido, esse núcleo ético-valorativo leva-nos ao sentimento de que "somos um com os demais", em relação aos quais não nos encontramos nem à frente, para não nos sentirmos uns mais importantes que os outros, nem atrás, para não nos sentirmos perdedores, mas seres que caminham lado a lado, na igualdade, fraternidade e liberdade realmente vitais.
  5. O quinto núcleo ético diz respeito à solidariedade. Em nome da manutenção da vida, devemos nos esforçar para que recursos humanos e materiais sejam canalizados visando a superar os males que humanos perpetram contra humanos, tais como a fome, a doença, a morte, a guerra e a tortura em suas variadas gradações.

Claro que a projeção desses cinco núcleos para uma ética conseqüente em relação ao princípio absoluto que é a vida pode soar utópica. Mas não devemos ter medo da utopia. Quem teme a utopia, teme o poder da imaginação. E quem teme a imaginação, teme a certeza de que uma outra maneira de ser, estar e agir em outro mundo é plenamente possível. Tomara que esse medo não seja o nosso parâmetro existencial!


Autor: Wilson Correia


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