EDUCAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO: OS DESAFIOS PARA A INTERDISCPLINARIDADE E MULTIRREFERENCIALIDADE



EDUCAÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO: DESAFIOS PARA A INTERDISCPLINARIDADE E MULTIRREFERENCIALIDADE

 

 

1        INTRODUÇÃO

 

A educação não é alheia ao mundo, mas inserida nele. Portanto, falar em educação é falar em atualidade, mundo, sociedade e estruturas conjunturais. É impossível abordar esta temática sem falar do meio sócio-histórico-cultural no qual ela está inserida como um todo, fruto da historicidade, do trabalho construído pela humanidade no tempo.

A globalização é um processo histórico-cultural que em pouco tempo efetivou-se como resultado de inúmeros esforços de interligação da ciência no mundo, da comunicação entre países e de políticas públicas para melhoria da sociedade. É nela que estamos, envolvidos direta ou indiretamente, construindo nosso viver histórico na atualidade. A educação como trabalho do homem no tempo está também envolvida pela globalização e não pode desvencilhar-se dela. É sobre este cenário que vamos nos deter, por hora.

2  PROCESSO HISTÓRICO

Após as grandes guerras mundiais, a corrida espacial e tecno-científica levaram a humanidade à integração dos saberes das mais diversas áreas com a atualização dos meios de comunicação. O telefone foi aprimorado de tal forma que pôde ser móvel, com a invenção dos telefones celulares em 1973, ano da primeira ligação feita a partir de um telefone móvel. Com ele, abriu-se a possibilidade de comunicação à distância e transmissão de dados sem fio. Mas este seria apenas o começo. Mais tarde, nos anos 1980, a internet foi a grande novidade nas corporações governamentais, bancos e universidades, popularizando-se a partir da década de 1990 – no Brasil, especificamente, a partir de 1994.

A popularização da internet foi a peça-chave para a interligação mundial numa rede com malhas de comunicação e de transmissão de dados. Com ela foi possível ampliar os horizontes de conhecimento de um mundo extra ao de cada pessoa a ela conectada: foi a popularização de culturas, a possibilidade de inculturação e aculturação em rede, a busca pelo outro mais distante e, sem perceber, a perda de si mesmo. Uma das contradições apresentadas por especialistas a respeito da globalização na era .com é justamente a perda da própria identidade, num mundo onde o que vale é o que está na moda, o que está em evidência. Com isso, os traços culturais, a identidade nacional, tribal, ficaram ameaçados. Mas e a escola? “É perceptível que as inovações tecnológicas no início do século XXI colocam os profissionais do ensino diante de novas situações da educação e de aprendizagem”, apontam Marques e Almeida (apud PINTO, 2008, p. 228).

3. INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E SUA INFLUENCIA NO ENSINO-APRENDIZAGEM

A partir da década de 1980, as universidades começaram a pensar em informática para a educação. No Brasil surgiram projetos para a utilização dos recursos oferecidos pela informática na educação, como por exemplo, o PROINFO e o EDUCOM. Ambos contemplavam a possibilidade dos professores aplicarem novas tecnologias e meios de comunicação no ensino-aprendizagem. A globalização alcançara o mundo da escola e desafiava os professores a mudarem sua postura na sala de aula. Aos alunos, ela influenciava no seu tratamento com as informações e com a gama de possibilidades oferecidas principalmente pela internet.

Afinal, em se tratando de informática na educação, Marques e Almeida acenam:

[...] Não se resume a simplesmente colocar os educandos em contato com o computador e ensinar-lhes informática básica, mas, adicionalmente, estimular e propiciar o desenvolvimento de suas habilidades em: adquirir informações na rede [...], analisá-las e interpretá-las criticamente.” (apud PINTO, 2008, p. 232)

O que tínhamos não era suficiente para suprir essa necessidade: os projetos, inicialmente, atingiam apenas as capitais brasileiras e a formação profissional dos educadores acabava prejudicada nas regiões interioranas.

Com a implantação dos Laboratórios de Informática Educativa, em meados dos anos 2000, a escola tinha a possibilidade de aplicação da informática no ensino das diversas áreas. Mas a formação dos professores ainda não era suficiente. Surgem dois problemas: o primeiro relativo à resistência da utilização do computador em sala de aula e o segundo da falta de formação profissional – também, em partes, oriunda da desvalorização, por parte dos educadores, dos cursos oferecidos pelo governo. Os laboratórios, num primeiro momento, serviram apenas como suporte para antigas práticas educacionais, ligadas ao tradicionalismo e ao comodismo docente. Os desafios para um trabalho interdisciplinar e multirreferencial estavam por vir. Sublinhando Mariotti (2000, p. 96):

[...] Trabalhar com a presença necessária e inevitável dos processos ou idéias antagônicas. Em vez de tentar fugir às diferenças, visa conviver com elas e religar posições opostas sem pretender negar, racionalizar ou esconder essa posição.

4. APONTAMENTOS ACERCA DE UMA EDUCAÇAO PARA O FUTURO

A interdisciplinaridade, perspectiva de interligação de dois ou mais saberes no processo de conhecimento, presente na história há séculos e evidenciada sua necessidade no século XX com a globalização, tornou-se mais necessária com a chegada dos computadores na escola. Diversas discussões surgiram a respeito da temática dentro das universidades, dando um suporte para a aplicação da informática na educação básica. O contato dos alunos com o computador em casa foi facilitando o trabalho dos professores e suscitando a criação de projetos que contemplassem a busca da interdisciplinaridade. A escola, organizada num modelo serial, excludente, se apresentava, no entanto, para a juventude como uma obrigação necessária para a satisfação paterna e materna dentro da educação básica. O Ensino Médio era considerado uma porta para o vestibular, apenas.

A interligação dos diversos saberes é uma das propostas apresentada pelo modelo de escolas organizadas em Ciclos de Formação Humana. Neste os conceitos de interdisciplinaridade e multirreferencialidade são essenciais, pois a escola trabalha com áreas de formação e privilegia as áreas do conhecimento como um todo. As tecnologias se apresentam em todas as áreas como um suporte para o ensino-aprendizagem e ajudam na interligação dos diversos saberes, num trabalho construtivo, em forma de projetos, reunido a partir das diversas concepções e das diversas formas de ensinar o conteúdo em suas facetas mais variadas. Capra (1996, p. 176) destaca:

Os componentes da rede produzem e transformam continuamente uns aos outros, e o fazem de duas maneiras distintas. Um tipo de mudanças estruturais são mudanças de auto-renovação. Todo organismo vivo renova continuamente a si mesmo, com células parando de funcionar ou, gradualmente por etapas, construindo estruturas, e tecidos órgãos repondo suas células em ciclos contínuos. Não obstante essas mudanças em andamento, o organismo mantém sua identidade, ou padrão de organização, global.

Não há, portanto, possibilidade de futuro para uma escola que não esteja aberta para os processos de evolução do mundo globalizado e que tenha propostas de interligação dos diversos saberes. Buscar referências diversas para a apresentação de conteúdos em sala de aula – aqui entendida não apenas como o ambiente físico, mas um espaço de aprendizagem atemporal, construído dia-a-dia – consiste o grande desafio das escolas nos anos que virão. De acordo com Joerke (2003, p. 63):

A complexidade, bem como a interdisciplinaridade são um desafio. Um bom caminho se tem a percorrer na tentativa inesgotável e maravilhosa de sua elucidação. Faça sua trilha e junte-se aos nós – tanto como teias de relações quanto como às intersubjetividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quer-se, enfim, evidenciar o trabalho coletivo dentro do corpo docente, buscando o apoio de tecnologias no ensino-aprendizagem, agindo de forma interdisciplinar e multirreferencial. A educação no futuro dependerá da força de trabalho dos professores em ofertar o máximo de novidades e de cientificidade ao universo da sala de aula. Os desafios são constantes, pois está claro que não se consegue acompanhar todas as novidades no que diz respeito às tecnologias. A força do desenvolvimento interdisciplinar e multirreferencial na educação está intimamente ligada ao conceito de globalização, pois esta é reflexo de um trabalho intercambial, podendo servir de exemplo para aquela. Resta, portanto, buscar, a todo custo, unir forças para um trabalho colaborativo em prol do ensino, mostrando para os alunos que o aprender é uma situação complexa, exigente e perene. Trabalhar como professor em tempos vindouros significará ter capacidade de orientar para a formação pessoal do aluno na pesquisa, atuando na grande malha de conhecimento que interliga os diversos saberes.

REFERÊNCIAS

CAPRA, Frijot. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.

CARRETERO, Mário. Construtivismo e Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

JOERKE, Gabriel Antônio Ogaya. Re-construindo e integrando saberes e fazeres no terceiro grau – uma perspectiva dialógica. Cuiabá: Defantini, 2003.

 

MARIOTTI, Humberto. As paixões do ego: complexidade, política e solidariedade. São Paulo: Palas Athenas, 2000.

MARQUES, Gleber Nelson; ALMEIDA, Patrícia Vasconcelos. “Tecnologia educacional: cultura midiática e educação”. In: Aroldo José Pinto; Leandro Eduardo Wick Gomes (orgs.). Ver e entrever a comunicação: sociedade, mídia e cultura. São Paulo: Arte e Ciência, 2008.

VALENTE, J. A. O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: NIED-UNICAMP, 1999.

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