A CIDADANIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA



A formação da cidadania não é um assunto recente, tão pouco a importância que é dada à educação formal. Nesse sentido, à educação atribui-se o papel de formação e desenvolvimento da consciência crítica e política dos seus educandos. A Geografia também é de suma importância nesta discussão, devido o seu objeto de estudo, o espaço geográfico, ser resultado da produção da sociedade em seu curso histórico, o que vincula a disciplina geográfica à idéia de cidadania.

            Ensinar Geografia, então, é uma prática política e requer que o educador reflita em sua práxis, considerando as condições de trabalho no processo de ensino e aprendizado. Para fazermos uma reflexão sobre o ensino de Geografia e a cidadania é preciso que conheçamos as representações sociais de seus professores, logo, como vêem a cidadania e como encaram essa questão diante de suas práticas pedagógicas e de suas rotinas diárias como educadores e como cidadãos.

            Esses elementos estão presentes na Lei de Diretrizes e Bases da Educação desde 1961, vigente na Constituição Federal e encontram-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) guiados através dos temas transversais, devendo ser parte constituinte do currículo de todas as disciplinas escolares.

            A Geografia como disciplina escolar ganha destaque nesse sentido por seu caráter interdisciplinar que engloba conhecimentos de várias ciências na análise dos fenômenos espaciais em que o ser humano tem papel destacado e decisivo em todo o processo. Por conseguinte, é atribuído não apenas, mas em especial a Geografia, a missão da educação para a preparação de cidadãos cada vez mais conscientes de sua participação na sociedade como forma de transformação da organização social e espacial mediante a conquista e a consolidação de direitos e deveres individuais e coletivos no exercício da cidadania. Baseado nesse entendimento foi que se buscou conhecer a perspectiva de cidadania dos professores de geografia aqui em questão.

É em meio à geografia crítica que renasce o discurso da importância do ensino de geografia para a formação do cidadão. Para Vesentini (2004) é preciso que a geografia continue engajada para afirmar sua importância enquanto parte constituinte do currículo educacional brasileiro. Ele ressalta:

(...) consiste em contribuir para a cidadania plena, em levar o educando a conhecer o mundo em que vivemos (...) sem nenhuma preocupação com conceitos petrificados e sempre levando em conta o fato de que este mundo está sempre em processo de mudanças e transformações( ...). (VESENTINI, 2004, p. 248).

Para Saviani (2002), o Estado brasileiro está atento às necessidades de mudança para atuação no mundo globalizado. As elites percebem a importância da mudança na educação para a garantia de um novo cidadão, mais atuante no mundo do trabalho e, frente ás mudanças tecnológicas. Isso se reflete na tentativa das elites dominantes de construir uma nova escola que atenda aos preceitos neoliberais.

Cidadania é um termo que tem sido utilizado constantemente em diversos “meios”, presente em vários debates. Todo trabalho voltado à sociedade, ao respeito aos direitos e deveres dos indivíduos e à formação de conscientização social, recorre à cidadania para justificar sua importância. É de fato notório o quanto é empregada esta palavra. E também o quão importante é a sua prática.

            Com a educação não poderia ser diferente. É comum ouvir a idéia de que a educação é muito importante para a pessoa “ser alguém na vida”. Isso não quer dizer que a educação tenha realmente reconhecido um papel de destaque na preparação do cidadão.

Ao menos é isso que se pode observar através das políticas públicas para a educação. Alguns avanços, como foi exposto anteriormente, já foram dados nesse sentido, na forma dos PCN’s. Entretanto, cabe salientar que essa é uma medida paliativa e que torna um consenso entre os profissionais da educação, a necessidade de medidas mais emergenciais como forma de mudar a realidade escolar brasileira. 

Segundo Silva (2003), os direitos dos cidadãos são legalmente reconhecidos pelo Estado, mas é preciso que seus acessos sejam garantidos por ele. Só assim se constituiria um estado-nação em que o cidadão teria o exercício pleno do direito, e não se sentiria um cidadão, apenas periodicamente, em tempos de eleições. 

O professor de geografia, por seu caráter questionador do espaço construído pelas diferentes sociedades, tem um papel fundamental no auxílio ao aluno para a compreensão e o questionamento. É nesse sentido que o professor de geografia deve ter compromisso como cidadão e profissional para possibilitar que seus alunos se tornem atores de seu próprio aprendizado, analisando o espaço de acordo com o movimento da sociedade.

Para tanto, Fernandes (1986, p.22) afirma que:

 

Se o professor não tiver em si a figura forte de cidadão, acaba se tornando instrumental para qualquer manipulação, seja ela, democrática ou totalitária. Todos os regimes manipulam.

Segundo Vesentini (2002), a geografia escolar tem procurado pensar o seu papel na atual sociedade que está constantementeem mudança. Sãoanalisados seus conteúdos, seus métodos, marcando nessa disciplina, desde o final da década de 1970, um período de mudanças significativas em suas propostas de pesquisa e de ensino, com o Movimento de Renovação da Geografia. A verdade é que muitas dessas propostas estão na teoria e, embora sejam positivas para a qualidade do ensino, sua aplicação ainda está “engatinhando”.

BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC; SEMTEC, 2002. 

FERNANDES, Florestan. A formação política do professor. In: Universidade Escola e Formação de Professores. São Paulo, Brasiliense, 1986.

SAVIANI, Nereide. Saber escolar, currículo e didática – problemas da unidade conteúdo/ método no processo pedagógico. 3 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.

SILVA, Aida Maria Monteiro. Práticas de cidadania na escola e na sala de aula. In: Políticas educacionais, práticas escolares e alternativas de inclusão escolar/ org. Verbena Moreira S. de S. Lisita, Luciana Freire E. C. P. Souza. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

VESENTINI, José William. Realidade e perspectiva do ensino de geografia no Brasil. In: O ensino de geografia no século XXI /José William Vesentini (org.). – Campinas, SP: Papirus, 2004.


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