A Escola e a Família: Duas Pedagogias na Formação dos Sujeitos Sociais



1 INTRODUÇÃO

Ao observar a instituição escola e a família, considerando suas diferenças e semelhanças, compreendendo-as sob o olhar denso da cultura, levam-se em consideração os cidadãos, homens e mulheres, enquanto sujeitos sociais e históricos, presentes e atuantes na história da sociedade, tão arraigada de divisores de classes, que separam constantemente os homens da natural condição de igualdade.
Diante de tal realidade, a escola, enquanto instrumento da educação, enfrenta grandes desafios, quanto às ações que promove. A família é espaço sócio-cultural cotidiano e histórico no processo de socialização, se relaciona com as instituições de ensino, tornando-se berço de atitudes, bem como de mudanças, ou estagnação, da realidade na qual a sociedade a insere, pois é delas que partem os sujeitos sociais que irão manter, ou mudar, a si próprios e, conseqüentemente, a realidade onde estão inseridos.
Destarte, uma relação escola-família, desenvolvida de maneira responsável e comprometida com o avanço da sociedade, é crucial para a evolução da educação de um país.

2 A HISTORIOGRAFIA DA FAMÍLIA BRASILEIRA, A PARTIR DOS ASPECTOS
SÓCIO-EDUCACIONAIS

A sociedade formada por relações antagônicas, composta por classes amplamente diferenciadas, é resultado de intensas transformações histórico-sociais que afetaram intimamente as instituições, dentre elas a família, bem como os sujeitos envolvidos, dependentes dela.
A história da família brasileira é compreendida, quando da observação do período colonial seguindo o tracejo de uma linha temporal até os dias atuais. Uma variedade que tem que ser considerada na análise de transformações dessa instituição, bem como do estudo das características que a constituem.
A priori, ressaltam-se dois aspectos, quando da análise de tal história: o primeiro, diz respeito ao fato de que os modelos das instituições sociais, dentre elas a família, bem como a maneira como estas se posicionam, são o reflexo do quadro na sociedade na qual estão inseridas, levando-se em consideração as transformações sócio-econômicas, políticas e culturais envolvidas. Quando se analisa historicamente os aspectos familiares de uma sociedade, torna-se imprescindível que se leve em consideração, pontos como a etnia, temporalidade, grupos sociais, gênero, contextos econômicos regionais, a fim de equiparar o sujeito ao seu tempo e espaço, para não cometer erros anódinos no decorrer do estudo.
É preciso compreender a família como um fenômeno historicamente situado, sujeito a alterações, de acordo com as mudanças das relações de produção estabelecidas entre os homens [...] É evidente que as funções da família vão depender do lugar que ela ocupa na organização social e na economia. (ARANHA, 1989, p. 75).
O segundo aspecto revela-se na compreensão obtida quando se percebe que algumas historiografias da família brasileira ainda se atem na preponderação das características culturais, mais do que as atitudes e/ou condições sociais, além do segregado estudo regionalista, onde é observada a carência de informações acerca das classes e das localidades menos favorecidas.
Ao tratar a família como uma representação microscópica da ordem social. Estes autores falharam no foco sobre a dinâmica na formação e organização da vida familiar. O resultado foi um estudo das atitudes culturais mais do que das condições sociais. A tipologia do caráter nacional representa somente a cultura dominante, e exclui uma variedade de experiências familiares, entre outros grupos.

[...] outros lugares, como o sertão pecuário nordestino foram também praticamente esquecidos em suas especificidades históricas e regionais, ora enquadrado numa visão de mundo litorâneo-nordestino, ora percebido como um mundo meio selvagem, se quer diferente do litoral. (TERUYA, 2000, p. 7).

Poster (1979 apud LANE; CODO, 2001, p. 105) apresenta quatro modelos de família: a aristocrática e a camponesa, predominantes na Europa, nos séculos XVI e XIX, e a proletária e a burguesa, ambas surgidas no século XIX.
De acordo com os autores, na Europa, as famílias aristocráticas mantinham sua riqueza e o controle de suas terras, favorecidas pela coroa. As relações entre seus componentes estavam baseadas na hierarquia e na tradição, onde os homens viviam para as ações voltadas para a guerra e, as mulheres à vida social nos castelos onde residia, sendo que as crianças eram criadas e educadas pelos empregados da casa.
A família camponesa, por sua vez, era comumente estruturada de forma a bem organizar-se com a grande natalidade existente em seu seio. Viviam, em sua maioria, com outras famílias, em vilarejos ou aldeias, que os unia na dependência comunitária, nos costumes e também pela tradição. Os homens detinham o trabalho mantenedor e, as mulheres criavam as crianças (filhos ou não) em regime comunitário, onde estas, desde cedo, dependiam de toda a comunidade e, não somente dos pais.
A partir do século XIX, surgem as famílias proletárias e as burguesas, quando da industrialização mundial. No Brasil, estes dois modelos tomaram as formas exigidas pelo plano socioeconômico e cultural do país, perdurando, sob várias remodelagens, até os dias atuais.
Não é razoável falar de ausência de organização, mas de polimorfismo familiar. Despidos de rigidez das fórmulas e sem olhos preconceituosos, pode-se ver as famílias como elas são, e não como deveriam ser, segundo modelos que são abstratos, pois são históricos e presos às diferentes perspectivas das classes sociais. (CARVALHO, M. E., 2006, p. 57).
Atualmente, numa sociedade de intensa competição e de falta de oportunidades, índices alarmantes de violência e pobreza, grande diferenciação de classes, com os indivíduos cada vez mais ocupados e conseqüentemente mais distantes como, por exemplo, quando escolhem morar sozinho, mas também socialmente, quando do isolamento social – reconhecem-se numerosas formações familiares, como aquelas chefiadas somente por mulheres ou somente por homens, aquelas formadas por casais sem filhos (seja por vontade própria ou não), até aquelas provenientes da união de casais homossexuais, embora esta ainda, a exemplo de alguns países, não tenha sido legalizada no Brasil.
Num país onde muitos direitos já foram conquistados, mesmo que de modo superficial, como o voto direto e democrático, diferenças já foram amenizadas, a exemplo dos preconceitos raciais e de gênero, barreiras rompidas, quer seja na tecnologia ou em qualquer outro campo, o que se observa também, é que a família, juntamente com outras instituições como a Igreja e, principalmente, a escola, metamorfoseou-se conforme os anos se passaram, adequando-se às relações sociais resultantes também do histórico no qual se insere.

3 EDUCAÇÃO FAMILIAR E EDUCAÇÃO ESCOLAR: semelhanças e diferenças

Sabendo-se da necessidade de socialização, pois ao viver em sociedade não dispõe de ações puramente instintivas, como os animais, o homem acaba por ter que se submeter ao processo comum de aprendizagem, contínua e inesgotável, ou seja, à educação.
O que diferencia o homem, como ser cultural, das outras espécies animais é que, embora tenha em comum com eles esses fatos da vida, o homem escolhe como vai realizá-los, dentro das alternativas dadas pelos limites da sua existência social. [...] O que diferencia o homem das outras espécies animais é, portanto, sua capacidade de simbolização, implícita em suas escolhas. (CARVALHO, M. E. 2006, p. 40).
Etimologicamente, a palavra educação parte de dois termos latinos: educare, que significa criar, alimentar, ter cuidado com os seres, como as crianças, animais e plantas, e ao termo educere, que quer dizer modificar, conduzir para, guiar, tirar de (para fora). Logo, o termo educação seria então, a sistematização destes sentidos, quando se diz que seria a condução de um estado para outro, ou seja, a adaptação do comportamento de um indivíduo em acordo com as exigências de uma determinada sociedade (LIBÂNEO, 2000, p.52).
Em seu sentido ontológico é compreendida como a junção dos processos formativos ocorrentes no meio social, sejam estes, sistematizados ou não-sistematizados, institucionalizados ou não-institucionalizados, intencionais ou não-intencionais, para conservar ou para mudar. Dessa forma, várias instâncias existentes na sociedade acabam por exercer a função educacional, quando influenciam os sujeitos de alguma forma, sejam aquelas formalizadas própria e exclusivamente para a aprendizagem, como as escolas e a universidades, até aquelas em que tal papel é exercido sem estarem exatamente organizados para determinado fim, como é o caso da família, da religião, do trabalho, do lazer e até da própria mídia.
O conhecimento obtido nos primeiros contatos – socialização primária – tem seu direcionamento em torno da cultura na qual o indivíduo está inserido. Quando um indivíduo brinca, presta atenção em algo ou alguém, quando caminha, conversa, pega um ônibus ou táxi, quando dirige qualquer meio de transporte, quando escreve uma carta ou um e-mail, quando leciona, quando assiste a uma aula ou a televisão, vale dizer, quando realiza qualquer ação, de alguma forma acaba se educando através das situações vividas.
Neste contexto social podem ser englobados todos os segmentos sociais, tais como a família, as instituições educacionais e religiosas, as atividades profissionais, dentre outros, em relação aos valores, idéias, normas e regras, além dos princípios sociais transmitidos aos indivíduos como a criança, jovens estudantes e os adultos.
As absorções educacionais se dão através de modalidades de educação formais, como é o caso da escola, não-formais, como são denominados os agrupamentos como, por exemplo, as Associações, e as informais, tais como a família. Sendo que, a compreensão da transmissão de conhecimentos através de tais modalidades, acontece através da observação das primeiras nas quais se tem contato. A família e a escola. Instituições informal e formal, sucessivamente.
As relações antagônicas, provenientes de uma sociedade composta por classes amplamente diferenciadas e resultantes das transformações correntes, afetam intimamente os sistemas educacionais, entre estes, o de ensino, tais como a escola e a família, bem com a relação existente entre elas, envolvendo exclusivamente aqueles que dependem dela.
Diante de argumentações, intensamente reformuladas a partir da análise da ligação entre as instituições, escola e família, de suas peculiaridades e relevâncias, vê-se o surgimento de questões a respeito de qual seria a relação atualmente existente entre elas, bem como o modo pelo qual esta estaria se dando, sendo que ao mesmo tempo em que se procura respostas para as indagações, busca-se a criação de meios para estreitá-la.

4 ASPECTOS LEGAIS RELATIVOS À FAMÍLIA E A ESCOLA

A sociedade constrói seus elementos constitutivos e meios educacionais, em qualquer instância, a partir do grau de complexidade em que se encontra organizada. Toscano (1999, p. 126) afirma que “[...] quanto mais simples for esta divisão, mais elementares serão os meios de que lança mão”.
Para a autora, quando esta divisão se organiza de maneira mais complexa, com a inserção de especializações em sua estrutura, é necessário um mínimo de formalização, quando do surgimento de indivíduos e agrupamentos específicos, na transferência de conhecimentos de sua própria especialização, ou seja, para a transmissão de conhecimentos, pelo ato educacional, àqueles que a buscam.
No Brasil, tem-se consciência a respeito da valorização da educação, como agente de transformação, e fundamental alicerce de esclarecimento intelectual, no seu corpo social, sendo de incumbência desta sociedade a criação de condições que permitam o desenvolvimento de fatores sociais inerentes às condições dos indivíduos que a compõem.
Em meio a estas condições, encontram-se as instituições educacionais, família e escola, bem como os Organismos Governamentais, com suas responsabilidades e papéis a desempenhar, com sua parcela de contribuição a oferecer àqueles que a integram, quaisquer que seja a classe social em que se inserem ou os meandros tomados para compô-las.

A educação [...] insere-se no conjunto das relações sociais, econômicas, políticas, culturais que caracterizam uma sociedade [...] na sociedade presente, as relações sociais são marcadas por antagonismos entre os interesses de classes sociais e grupos sociais, que se manifestam em relações de poder. (LIBÂNEO, 2000, p. 71).

Na sociedade brasileira, para a convivência e regulação das condutas provenientes das relações sociais, houvera o estabelecimento de leis que pudessem defender os direitos e exigir o cumprimento de deveres norteadores da educação, onde a especificidade de algumas como, por exemplo, o Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), regulamentam os dispositivos constitucionais e estabelecem as normas referentes à proteção do educando, enquanto principal sujeito da relação escola-família.
Segundo o disposto na Constituição Federal, a educação é um direito de todos, bem como dever do Estado e da própria família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração de toda a sociedade, para o desenvolvimento pleno da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CF, art.205), sendo que é competência privativa da União legislar sobre diretrizes e bases da Educação Nacional, consoante o disposto no artigo 22, XXIV, do texto constitucional.
Observando a definição de que a educação, “[...] é um direito de todos e dever do Estado e da Família” (BRASIL, 1988), vê-se que a Lei Maior procura registrar em seu texto, a garantia de que as instituições ligadas ao ato educacional – Poder Público (União, Estado e Municípios) e a Família – têm a co-responsabiliade social de inserir e cuidar da educação de seus membros.

5 A PESQUISA REALIZADA NA UNIDADE INTEGRADA “ESTADO DO PIAUÍ”:
diagnóstico da pesquisa sobre a relação escola-familia

Os aportes, provenientes da pesquisa bibliográfica, serviram de subsídios para a pesquisa de campo, desenvolvida no período compreendido entre agosto a novembro de 2006, na Unidade Integrada “Estado do Piauí”, escola de pequeno porte da Rede Estadual(atualmente é Municipal) de Ensino do Maranhão, a qual proporcionou a necessária percepção da relação escola-família na contemporaneidade.
Foram entrevistados 31 sujeitos, divididos em 23 pais/responsáveis, 04 professoras e 04 funcionários do corpo técnico e administrativo da escola. Além da observação cotidiana dos aspectos físicos e pedagógicos no turno vespertino da referida escola.
As análises que subsidiaram este trabalho, fora intensamente enriquecida pela pesquisa de campo, proporcionando uma aproximação concreta com o objeto de estudo. Foram aplicados questionários, feita a observação diária do cotidiano da escola e, o acompanhamento do processo de eleição do Colegiado Escolar, que aconteceu não somente nesta escola, mas em todas as instituições de ensino (Estaduais) do Maranhão.
As perguntas presentes no questionário aplicado foram elaboradas a partir da necessidade da obtenção de informações a respeito da relação entre a escola e família, por parte dos entrevistados. Para que, juntamente com a observação cotidiana da escola, pudesse ser analisado o relacionamento entre os envolvidos, na Unidade integrada “Estado do Piauí”.
A observação no ambiente escolar em questão, tivera por parte dos sujeitos envolvidos, em especial dos professores, uma grande contribuição para o seu andamento, bem como, para a sua contemplação.
A presença dos familiares fora pouco observada, salvo quando acompanhavam seus filhos no consultório odontológico da escola, e na votação do Colegiado Escolar (que mobilizou num dia inteiro, todas as escolas do Maranhão). Logo, o relacionamento entre ambos se apresenta de maneira esporádica, ocorrendo normalmente em momentos (reuniões) com dia e hora marcados. Embora alguns pais, diariamente, esperem seus filhos na porta da escola quando se aproxima a hora da saída, isto não implica uma aproximação entre a escola e eles.
O diagnóstico resultante das informações colhidas e da observação da realidade escolar existente na Unidade Integrada “Estado do Piauí” – que absorve os alunos da comunidade socioeconômica e culturalmente carente do bairro e das proximidades – possibilitou a constatação de que há inúmeras dificuldades, consideravelmente relevantes, enfrentadas por parte da família e da escola e, principalmente, na relação família-escola, já que ambas as instâncias sócio-educativas foram, e ainda são uns dos ambientes mais expressivos na formação individual dos sujeitos sociais.
Entretanto, quando se problematiza a relação escola-família, o que se observa é uma fragilidade que a cerca, além do surgimento de questionamentos a respeito do assunto.
Partindo deste pressuposto, compreende-se a escola como uma das instituições que contribuem para o processo de socialização necessário ao indivíduo, sujeito social, na busca da igualdade, valorizada suas diferenças, nas relações sociais. Sendo observada como uma instituição única, “[...] com os mesmos sentidos e objetivos, tendo como função garantir para todos, o acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente acumulados pela sociedade” (DAYRELL, 1999, p. 4).
É o ambiente familiar, onde o ser humano tem o seu primeiro contato social e, informalmente, aprende pela vivência e pela experiência que lhe é transmitida. Seja esta família de que camada for ou em que tempo ou espaço se encontrar.

A família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa socializadora. A família constitui uma das mediações entre o homem e a sociedade. Sob este prisma, a família não só interioriza aspectos ideológicos dominantes na sociedade, como projeta, ainda, em outros grupos os modelos de relação criados e recriados dentro do próprio grupo. (CARVALHO, M. B., 2006, p. 90).

Compreende-se que, o papel a ser exercido pela escola, ultrapassa o ensino pedagógico presencial da sala de aula, e o da família, vai muito além do simples sustento (alimentação, moradia, vestuário e etc) para com os filhos que a freqüentam.
Diante de tais defesas, a análise da ligação entre as instituições, escola e família, paralelamente às diferenciações existentes entre elas, ou seja, os pontos relevantes, consideradas as peculiaridades e as transformações histórico-sociais, abre espaço para questões a respeito de qual seria a real e atual relação existente entre elas, bem como estaria se dando tal relacionamento na contemporaneidade.
Di Santo (2006, p. 2), em seu artigo Família e Escola: uma relação de ajuda relata que
Atualmente, a família tem passado para a escola a responsabilidade de instruir e educar seus filhos e espera que os professores transmitam valores morais, princípios éticos e padrões de comportamento, desde boas maneiras até hábitos de higiene pessoal. Justificam alegando que trabalham cada vez mais, não dispondo de tempo para cuidar dos filhos. Além disso, acreditam que educar em sentido amplo é função da escola. E, contraditoriamente, as famílias, sobretudo as desprivilegiadas, não valorizam a escola e o estudo, que antigamente era visto como um meio de ascensão social.

A escola, por sua vez, afirma que o êxito do processo educacional depende, e muito, da atuação e participação da família, que deve estar atenta a todos os aspectos do desenvolvimento do educando. Reclama bastante da responsabilidade pela formação ampla dos alunos que os pais transferiram para ela, e alega que isto a desviou da função precípua de transmitir os conteúdos curriculares, sobretudo de natureza cognitiva. Com isso, ao invés de ter as famílias como aliadas, acaba afastando-as ainda mais do ambiente escolar, numa confusa transferência mútua de responsabilidades, a serem desempenhados por estas, enquanto dispositivos que contribuem para os fatores envolvidos na aprendizagem e, no próprio processo de socialização dos educandos.
Logo, o estreitamento de tal relacionamento, apresenta-se deficiente se comparado à busca e realização de uma educação mais qualitativa, no processo educacional em que se inserem. Havendo, uma confusa transferência de responsabilidades, bem como a falta de compromisso entre as partes envolvidas, diante do telespectador-aluno, que assiste, mesmo sem se dar conta, ao seu fracasso escolar, impulsionado primeiro pelo fracasso da escola e dos pais que os acolhe. Quando na realidade, seria necessário um mínimo de empenho de ambas as partes, para alcançar também, um mínimo de desenvolvimento, saudável, na relação escola-família. Em conformidade com Piletti (1999, p. 95), a respeito dos caminhos a serem seguidos.
O primeiro passo para a interação positiva entre a escola e a comunidade é, sem dúvida, o conhecimento da própria comunidade por parte da escola. Quando educadores (professores e administradores) são originários do meio em que se localiza a escola, sua vida comunitária certamente fornecerá inúmeros dados para esse conhecimento.

Segundo ele, os primeiros passos a serem dados pela escola, para um considerável afunilamento desta relação, seriam o abandono da posição superior ainda mantida por grande maioria dos educadores (como meros controladores e transmissores de conhecimento) e, a instalação, permanente, de instrumentos que facilitassem o intercâmbio entre as partes.
Cabe, primeiramente, a escola iniciar o processo de aproximação com as famílias atendidas por ela mesma, já que utilizando sua autoridade, enquanto instituição educacional formal, poderá facilitar o acesso entre ambas, através de atividades como: visitas familiares, saídas para estudo e/ou lazer, e a realização de trabalhos comunitários; além da formação de grupos específicos, formados por todos os sujeitos envolvidos.
No que diz respeito à formação de tais agrupamentos, cita-se o Colegiado Escolar, existente na escola pesquisada a pouquíssimo tempo, que tem o intuito de promover uma interação mais consistente com a comunidade, reafirmando a necessidade de mecanismos de integração.
Art.14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
[...]
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (CARNEIRO, 1998, p. 78)
[...]

Observando que, a Lei de Diretrizes e Bases tem em seu teor documental uma forte especificidade educacional relacionada diretamente a uma aproximação mínima entre as instituições envolvidas, ressalta-se que as organizações sócio-educacionais somando objetivos individuais aos da coletividade, devem estar cientes de que suas ações recíprocas influenciam, mormente todo o quadro nos quais se integram.
Abranches (2003 apud Jardzwski, 2000-?), em seu texto Colegiado Escolar, pontifica

Uma maneira de promover essa interação é por meio do Colegiado Escolar, um modelo de administração coletiva, em que todos participam dos processos decisórios e do acompanhamento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, envolvendo as questões administrativas, financeiras e pedagógicas.

A autora enfatiza que a missão das instituições escolares é a formação politizada dos cidadãos, dando-lhes poder individual de decisão, além da capacidade de agir e interagir em seu próprio meio. E para que isto aconteça, é necessário um ato conjunto com a comunidade, ou seja, a família, parte imprescindível do processo ensino-aprendizagem.
Na Unidade Integrada “Estado do Piauí”, instituição estadual, o processo de candidatura, desenvolveu-se durante todo o mês de setembro e parte do mês de outubro, deste ano (2006). Onde foram formadas as chapas com os candidatos, as quais se dividiam em: segmentos de professores, segmento de alunos, segmentos de servidores e segmento de pais. Cada um destes segmentos com três chapas, cada um delas composta por 02 ou 03 membros.
Entretanto, através da observação e dos questionamentos escritos e orais, percebeu-se que, parte dos envolvidos, principalmente, os pais, não estavam completamente cientes da eleição e de seus objetivos. Alguns, não tinham a mínima consciência a respeito do papel exercido e das responsabilidades do Colegiado Escolar. Além disso, a maioria dos componentes das chapas eram indicação da própria Direção da Escola, inclusive os alunos, que estavam bastante aquém da reflexão a respeito da relação entre suas famílias e a escola em que estudam, estando a mercê de ambas. E isto se explica, pela faixa etária em que se encontram, quando no máximo estão entrando na adolescência, não tendo ainda, maturidade para tais reflexões.
Assim, a relação entre a escola e a família percebida nas instituições educacionais públicas estaduais, tendo com base a Unidade Integrada “Estado do Piauí”, encontra-se muito aquém de um relacionamento necessário para um bom desenvolvimento social dos sujeitos que dependem dela.
Tal quadro demonstra que, o afastamento entre os familiares dos alunos e a escola freqüentada por eles, provém de todo um conjunto de fatores sócio-culturais, imbuídos na mentalidade dos envolvidos no processo educacional, onde cada qual se vê dono de um papel, completamente isolado e, separado do outro.
A importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos representa um papel importante não somente para o desempenho escolar destes, mas para o processo socializador desenvolvido a partir dela, onde o diálogo existente entre as instituições, família e escola, colabora para o equilíbrio no processo educacional dos filhos/alunos.
Normalmente o que se vê, são pais que matriculam seus filhos na escola, não mantendo nenhum outro contato coma instituição, senão nas raras vezes que vão a uma ou outra reunião e/ou no final do ano letivo, para receber o boletim e fazer a matrícula da série seguinte. A escola, acompanhando este comportamento, contribui para este quadro, quando não abre as portas para um relacionamento mais próximo com os familiares de seus alunos, afastando-os muitas vezes de um caminho intensamente mais estreito entre as duas instituições.
A relação entre as duas instituições, encontra-se resumida no âmbito do rendimento escolar, com o aferimento de notas e do comportamento dos filhos/alunos na sala de aula, ressalvadas as esporádicas concentrações em datas comemorativas.
Partindo deste o que se observa numa sociedade cindida em classes e engendrada por outras constantes desigualdades, é que nem as escolas e nem as famílias conseguiram ainda, iniciar este processo conjunto, que afunila as diferenciações e amplia as oportunidades de parceria entre elas mesmas, passando dos simples encontros ocasionados pelas reuniões entre pais e mestres para uma relação mais atuante e mais constante. Ceccon (2001, p. 90) em seu texto, como o povo pode mudar a escola, declara que

O caminho a ser seguido para a mudança da escola é o mesmo caminho que o povo já vem trilhando em busca da solução para tantos outros problemas de sua vida quotidiana [...]. É descobrindo juntos soluções novas e se ajudando uns aos outros ao invés de cada um ficar quieto e calado em seu canto.

Em meio às referências provenientes da vivência no espaço educacional proposto, o que se observa são ricas contribuições, bem como intensas dificuldades existentes na relação escola-família, no que se refere às necessidades básicas constituintes do aprendizado contido em uma formação ampla e integrada a valores de cunho cultural e sócio-economicamente atuais.
É sumariamente válida a percepção de que, embora tenham sido criados dispositivos legisladores das instituições, escolar e familiar, as dificuldades provenientes e que constituem esta relação, mostram-se muitas vezes mais propagáveis e mais firmadas que as próprias soluções para elas, ou seja, devido aos inúmeros fatores sociais que permeiam tal processo, vê-se o surgimento crescente dos problemas em detrimento das inoperantes soluções para eles.
O papel a ser exercido pela escola e pela família, em se tratando de uma sociedade que tem em seu bojo a democracia e a formação de cidadãos conscientes, é a busca de novas formas e de tracejados caminhos que, evoluindo os alicerces do processo educacional, contribuam para a criação de condições que possam viabilizar o exercício da cidadania, como a transmissão de conhecimentos na socialização da informação, da transparência e da discussão e do apoio às idéias, para inovações na mentalidade cultural pública.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ato educacional é uma das operações mais significativas, realizadas pelo ser humano e, no processo de manutenção da educação, é imprescindível que se reconheça que, a parceria entre a instituição escolar e a família, mostra-se multifacetada, intensamente carente de discussões e melhorias adequadas ao seu desenvolvimento.
A relação escola-família, tão discutida por pesquisadores, depende exclusivamente do compromisso dos envolvidos no processo educacional: escola, família, educadores e comunidade. Considerando-se que é no seio destas duas instituições que brotarão as mãos que sustentarão a sociedade futura. Tal relação, somente pode ser válida se estiver baseada na confiança, no respeito mútuo e na aceitação das peculiaridades de cada uma das instituições, já que nenhuma família é igual à outra e cada escola se conduz de acordo com normas e procedimentos inerentes à sua organização.
De fato, na vida escolar, o contato entre o educador e a família do educando é primordial, onde tal aproximação informal tem sua importância firmada em diversas razões, como: a tranqüilidade com que os pais observam a segura permanência de seus filhos na escola; a motivação dos próprios alunos – quando percebem que a escola e a família se interessam por sua educação.
Pode-se apontar às necessárias melhorias e oportunidades de promoção positiva de interação no relacionamento entre a escola e a família, como caminhos para a superação das dificuldades que a permeiam:
a) a escola deve conhecer a comunidade que atende, e se fazer presente nela, buscando alternativas que possam aproximá-las;
b) é importante que se perceba a atual construção e organização da instituição familiar, sem mistificar como formas ideais os modelos antigos;
c) a instituição escolar, deve ter claro que é direito dos pais/responsáveis, participar de decisões a respeito das questões pedagógicas e administrativas, fazendo sugestões e opinando na escola de seu filho;
d) a família precisa da escola e a escola precisa da família. Logo, a relação entre elas deve se desenvolver no nível igual de importância, para se ajudarem mutuamente;
e) a escola deve apoiar os agrupamentos, como a associação de pais e mestres, conselhos de classe e o colegiado escolar, para que não se restrinjam apenas para a arrecadação de fundos, ou simplesmente, para a organização de festas na instituição;
f) a família deve exigir da escola o cumprimento de suas obrigações, e participar, não somente nos encontros promovidos pela mesma, mas do cotidiano da instituição, exercendo seus direitos, enquanto cidadão.
É primordial, repensar a relação entre as duas instituições, promovendo mudanças significativas, não é uma tarefa fácil, pois existem inúmeros mecanismos de exclusão que rechaçam não somente as vontades e os desejos de mudanças, como os pais que não valorizam a interação com as escolas de seus filhos ou a escola que mantendo o tradicionalismo impedem uma maior aproximação entre elas. Não se deseja, contudo, esgotar e/ou reduzir toda a grandiosidade do tema, mas contribuir para que haja uma maior aproximação entre a escola e a família.

REFERÊNCIAS
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CECCON, C. (Org.) A vida na escola e a escola na vida. Petrópolis: Vozes, 2001.
DAYRELL, J.T. A escola como espaço sócio-cultural. In: ______.Múltiplos olhares sobre a educação e cultura. Belo Horizonte: [s.n.], 1999. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2006.
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TOSCANO, M. Introdução à sociologia educacional. Petrópolis: Vozes, 1999.

Autor: Odiléa Silva


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