A Origem da Língua Portuguessa



Origem da língua Portuguesa1 

Dinelza Furtado Morais2 

Resumo: 

Esse artigo aborda um tema de grande relevância no processo de entendimento de uma língua falada hoje por mais de cento e cinqüenta milhões de pessoas, mostraremos abordagens importantíssimas em relação a origem e evolução da língua Portuguesa, para melhor expor e explicar uma história que vem sofrendo grandes mudanças no processo linguístico, partindo do latim até chegar definitivamente ao português. A partir desse artigo podemos compreender melhor todo o processo de desenvolvimento da língua Portuguesa.

Palavras-chaves: Origem. Evolução. Latim. Língua Portuguesa.

Introdução

A origem da língua portuguesa é um tema grandioso ao qual engloba uma série de processos, que envolve acontecimentos políticos, sociais, culturais que tiveram repercussão ou conseqüências lingüísticas, abrange toda uma história cultural de um povo ou de povos que se sucederam numa região, que corresponde a uma história externa da língua portuguesa, ressalta também o processo de história interna da língua que engloba a evolução fonética, morfológica, sintática e semântica, a história da língua portuguesa é a história da transformação do latim lusitânico em português, da perspectiva dos fenômenos culturais.

A formação e a própria evolução da língua portuguesa contam com um elemento decisivo, o domínio romano, sem desprezar por completo a influência das diversas línguas faladas na região antes do domínio romano sobre o latim vulgar, o latim passou por diversificações, dando origem a dialetos que se denominava romanço do latim romanice que significava, falar a maneira dos romanos.

Com várias invasões bárbaras no século V, e a queda do Império Romano no Ocidente, surgiram vários destes dialetos, e numa evolução constituíram-se as línguas modernas conhecidas como neolatinas. Na Península Ibérica, várias línguas se formaram entre elas, o catalão, o castelhano, o galego-português, deste

 

1Artigo elaborado como requisito necessário para aprovação na disciplina de Prática de Pesquisa III.

2Aluna do 4º período do curso de Letras hab. Língua Portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

último resultou a língua portuguesa.

O galego-português era uma língua limitada a todo Ocidente da Península, correspondendo aos territórios da Galiza e de Portugal, cronologicamente limitado entre os séculos XII e XIV, coincidindo com o período da Reconquista. Na entrada do século XIV, percebe-se maior influência dos falares do sul, notadamente na região de Lisboa, aumentando assim as diferenças entre o galego e o português.

O galego apareceu durante o século XII e XV, aparecendo tanto em documentos oficiais da região de Galiza como em obras poéticas. A partir do século XVI, com o domínio de Castelo, introduz-se o castelhano como língua oficial, e o galego têm sua importância a segundo plano. Já o português, desde a consolidação da autonomia política e, mais tarde, com a dilatação do império luso, consagra-se como língua oficial. Da evolução da língua portuguesa destacam-se alguns períodos como pré-histórico; proto-histórico e histórico, como é um dos casos que corresponde do português arcaico ao português moderno.

  1. 1.    Perspectivas da historia de uma língua:

Em geral, quando se fala em história da língua portuguesa, a idéia que se tem é do estudo cronológico da evolução do latim para o português e da abrangência de nossa língua pelo mundo, como também a origem e a expansão do latim, as fontes e as diferenças entre o latim clássico e o latim vulgar, as línguas românicas, as transformações fonéticas e morfossintáticas do latim até o português, as fases e os domínios geográficos da língua portuguesa, relacionando-se diferentes estágios da língua e suas manifestações nos diferentes lugares em que foi ou é utilizado.

1.1.        História externa evolução da cultura em seus reflexos lingüísticos:

 

Em relação à história externa da língua Portuguesa cumpre ressaltar que é a história dos acontecimentos políticos, sociais e culturais que tiveram repercussão ou conseqüências lingüísticas, é a história cultural de um povo ou de povos que se sucederam numa região, é exatamente a história cultural voltada para a evolução da língua. O português coincide com a história das outras línguas românicas, o latim dialetado do ocidente hispânico ou Península Ibérica, depois da invasão dos bárbaros, foi-se modificando até adquirir fisionomia própria, fato que ocorreu entre os séculos IX e XII. A Península Ibérica se tornou província romana em resultado das guerras púnicas, a Península foi inteiramente incorporada ao crescente Império Romano, que logo em seguida foi dividida em Hispania Citerior e Hispania Ulterior, divisão que resultou em Tarraconense, Cartaginense e Galécia Citerior, Bética e Lusitânea Ulterior.

Mais é o latim da periferia que foi mais conservado que o do centro, que pode explicar a discrepância luso-castelhana, é a história da Península que desde o paleolítico dois povos tinham morado na região, o mediterrâneo ligado especificamente à cultura capsense do norte da África, e o cantabropirenaico, que é o mais antigo no solo hispânico, e desses dois descenderam os iberos e os bascos, que originou a civilização tartéssia ou turdetana, que surgiu no Sul de Portugal.

A origem da língua Portuguesa, está relacionada diretamente a continuação do latim ibérico e do romance lusitânico, o latim se tornou língua-comum de quase toda a região excetos os bastos, que, não obstante terem sofrido influência cultural dos senhores do mundo, conservaram seu misterioso idioma até nossos dias. Não só o latim coloquial se generalizou nas Espanhas mais que também foi ensinado e cultivado o latim literário, com toda certeza temos um latim ibérico, vivo e cotidiano, subdialetado. Segundo Melo (1981, p. 70).

No entanto, esse latim regional se achava contido nas suas tendências divergentes, por força dos fatores de unificação tais como as escolas, o prestigio das elites, o poder do império e a unidade cultural, que fazia sentirem-se todos romanos, cidadãos do capus mundi. A isso se acrescentará o serviço militar, a rede rodoviária de primeira ordem, que facilitava as comunicações com a metrópole, e, por fim, a pregação cristã em linguagem lhana e boa, a conclamar os homens a uma união superior de fé, justiça e caridade.

No século V começaram as invasões bárbaras alanos, vândalos, suevos e visigodos. Os dois primeiros passaram, os dois últimos ficaram, sendo que os suevos, embora absorvidos depois pelos visigodos, acabaram se estabelecendo no noroeste, aonde veio a formar-se o romance galego-português. Os germânicos foram dominados pela cultura, adotaram o latim por língua sua, imprimindo nele seus antigos hábitos lingüísticos.

A Península foi invadida pelos árabes no século VIII, que derrotaram os visigodos e lhes destruíram o império. Parte dos vencidos ficou vivendo sob o jugo sarraceno, mas outra parte se refugiou nas montanhas das Astúrias, onde se organizou, e de onde partiu o movimento da reconquista, que foi devolvendo aos antigos donos o solo hispânico. Assim foram formados os primeiros reinos, entre os quais o de leão. Um feudo deste, o condato Portucalense, foi ortogado ao cavaleiro francês D. Henrique, por sua morte ficou o governo com a viúva, D. Tareja, que acabou por dividir seu povo. Os descontentes se rebelaram e, vitoriosos elegeram rei a D. Afonso Henrique. Este proclamou a independência do condado e prosseguiu no luta contra os mouros.

A língua do condado era a mesma da Galiza, o golego-português, com a independência, a feição sul-minhota foi estendendo-se e absorvendo os falares moçarábicos. Deslocado o centro político para o sul, estabeleceu-se um português-comum, que acabou por divergir levemente do galego, enquanto este se conservou, o português esse desenvolveu e se alterou, adaptando-se e enriquecendo-se na sua expansão.

1.2.        História interna: evolução fonética, morfológica, sintaxe e semântica:

 

A história interna corresponde à descrição dos processamentos da língua, é o estabelecimento da evolução fonética, morfológica, sintática e semântica. Um bom e clássico exemplo a respeito são os metaplasmos, transformações fonéticas que as palavras sofrem no decorrer do tempo, segundo as chamadas leis fonéticas. Uma das leis fonéticas é a chamada “lei do menor esforço” ou “lei da simplificação articulatória”. Essa lei prega que sempre quando falamos procuramos deixar a língua mais fácil de ser pronunciada para o aparelho fonador. Ela vai ao encontro da tendência da língua portuguesa de evitar palavras proparoxítonas. Tudo isso explica a transformação da palavra latina “óculu” (proparoxítona) em “olho” (paroxítona). Observando o processo óculu>oclu>olho, dentre as transformações nesse processo temos a perda da vogal “u” e a transformação do encontro “cl” em “lh”.

Consideramos as diversas pecualidades fonéticas, morfológicas, sintáticas e de vocabulário, deve-se dividir o período histórico em duas fases que são a arcaica e a moderna. A primeira vai do aparecimento dos primeiros textos, no século XIII, até meados do século XVI, provavelmente em 1536, data da morte de Gil Vicente e da edição da primeira gramática, de Fernão de Oliveira; a segunda vem daí aos nossos dias, tendo sido camões o autor que deu feição nova e definitiva à língua literária. Segundo Coutinho (1976, p. 57).

Quase no limiar da época moderna, como a extremá-la da arcaica, o fato literário de maior importância é a publicação dos Lusíadas (1572) por Luís de Camões. Constitui esta obra a verdadeira epopéia nacional portuguesa. Nela se acham retratados o espírito de aventura, a resistência no sofrimento, as qualidades guerreiras, o heroísmo, numa palavra, todas as grandes virtudes da nação portuguesa. Não é Vasco da Gama o herói do poema. A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi apenas o pretexto para camões escrever o seu imortal poema. O assunto é a história de Portugal, rico de episódios e de lances dramáticos. O seu herói é o próprio povo português.

O português que se fala hoje no Brasil é resultado de muitas transformações de acréscimos ou supressões de ordens morfológicas, sintáticas e fonológicas.  Essas transformações passaram por três fases distintas desde o galego-português, língua que predominou nos séculos VIII ao XIII, dissociando-se posteriormente do galego e dando, assim, surgimento ao português arcaico séculos XIV ao XVI, que, por conseguinte, tornou-se português clássico língua de Camões, perpassando ainda por outros dialetos até chegar ao português contemporâneo brasileiro.

  1. 2.    Períodos históricos da Língua Portuguesa:

 

Constituem a história da língua portuguesa, a divisão de três grandes épocas que são: pré-histórico, proto-hitórico e histórico, são épocas importantíssimas para a distribuição e evolução da nossa língua, correspondendo a cada um seus fatos históricos do processamento e difusão da língua portuguesa.

2.1.  Pré-histórico

 

Esse período começa com as origens da língua e vai até o século IX. Entre o século V e o século IX temos o que geralmente se denomina romance lusitânico . É o período da história que antecede a invenção da escrita, evento histórico que marca o começo dos tempos históricos registrados, também pode ser contextualizado para um determinado povo ou nação como o período da história desse povo ou nação sobre o qual não haja documentos escritos. Segundo Coutinho (1976, p. 56), “A pré-histórica começa com as origens da língua e se prolonga até o século IX, em que surgem os primeiro documentos latino-português. É reduzido o material lingüístico desta época, constante de escassas inscrições”. Esse período tem como foco principal a origem da língua que sucede mais adiante a escrita.

2.2. Proto-hitórico

 

Esse período corresponde do século IX ao século XIII, esse período tem como característica principal a documentação indireta, que são as palavras portuguesas transparentes nos textos latino-bárbaros da idade média, ou seja, nesta fase encontram-se já, nos documentos redigidos em Latim Bárbaro, o latim dos notários e tabeliões da Idade Média. Palavras e expressões originárias das romanas locais, entre as quais aquele que dera origem ao português, provavelmente se deduz que a língua já era falada, mas não escrita. Nos textos se encontra palavras portuguesas, o que podemos comprovar a evidência que o dialeto galaico-português já existia nesse tempo.

2.3. Período Histórico

Esse período inicia-se no século XII e estende-se até aos nossos dias. Esta fase compreende dois períodos, período do português Arcaico que vai do século XII ao século XV, o primeiro texto inteiramente redigido em português, data do século XII, pensou-se durante muito tempo tratar-se da “cantiga de Ribeirinha”, porém o tempo veio provar que o autor desta composição, Paio Soares de Taveirós, se situa no segundo terço do século XIII e não no século XIII, quando considerado está cantiga escrita em 1189 ou 1198. Porém tudo indica que a Notícia de Torto antes de 1211 e o testamento de Afonso II 1214 serão os mais antigos documentos não literários escritos em português.

Quanto às composições de caráter literário, pensa-se que João Soares de Paiva, a quem se deve uma cantiga de maldizer, terá sido o primeiro poeta a escrever em idioma português. A partir dessa altura, aparecem outros textos de poesia e, mais tarde, surgem os primeiros textos em prosa. As poesias reunidas no “cancioneiros” e as “crônicas de Fernão Lopes, Gomes Eanesd Zurara e Ruide Pina são textos que documentam este período arcaico. Em 1290, D. Denis, o rei “Trovador”, torna obrigatório o uso da língua portuguesa e funda, em Coimbra, a primeira Universidade.

O outro corresponde ao período do português moderno do século XVI até aos nossos dias. Por influência dos humoristas do Renascimento, o século XV ficou marcado por um aperfeiçoamento e enriquecimento lingüístico. Ao mesmo tempo em que se procurava, ao nível das artes e das letras, imitar os modelos latinos, tentava-se igualmente aproximar a língua portuguesa da língua-mãe. Em 1572, a obra de Luís de Camões, os Lusíadas, marco histórico do nosso idioma e monumento literário e lingüístico.

É neste mesmo século que surgem as primeiras tentativas de gramaticalização da língua portuguesa, em 1540, João de Barros escreve a segunda gramática da língua portuguesa. A partir do século IV, através da expansão marítima, os portugueses descobrem novas terras e a elas levam a sua língua, estendendo deste modo o espaço geográfico em que a língua portuguesa serve, com mais ou menos alterações relativamente à do povo que a divulgou, de língua de comunicação em várias nações do mundo.

 

 

 

Considerações Finais:

De acordo com o que vimos nesse artigo podemos observar a enorme importância no aprofundamento do estudo da origem e evolução da língua portuguesa, podemos compreender melhor esse tema que envolve uma série de fatores que permitiu da origem do latim surgir uma língua falada hoje por milhões de pessoas, nesse artigo também podemos compreender as transformações ocorridas no processo lingüístico até chegar ao português que utilizamos hoje, uma língua de cultura como a nossa portadora de uma longa história, que serve de matéria prima para o aprofundamento da sua origem, não se esgota somente na descrição do seu sistema lingüístico, ela vive na história, na sociedade e no mundo.

A partir desse artigo podemos observar também que está língua não dispõe de um território contínuo, mas é sentida como sua por igual em comunidades distanciadas, por isso apresenta grande diversidade interna, pertencentes às regiões e os grupos que a usam, e por isso podemos concluir através desse artigo que o português é uma das principais línguas internacionais do mundo, que sofreu grandes e significativas transformações até chegar hoje ao português que utilizamos.

Referências Bibliográficas

COUTINHO, Ismael de Lima Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.

MELO, Gladstone Chaves de. Iniciação à Filologia e à Lingüística Portuguesa. Ao Livro Técnico, 1976.


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