UM LOUCO DIFERENTE...



UM LOUCO DIFERENTE...

Sempre ao cair da tarde, ele passava e prendia a minha atenção. Roupas sujas como ele todo, pernas nuas até os joelhos, donde seguia coxas acima uma calça esfarrapada que deixava à mostra os pés inchados da longa caminhada em busca da caridade e compreensão de todos...  Seus cabelos eram de um colorido ofuscado, estranho às cores comuns e por demais eretos, dando a vaga impressão de que estavam sempre fugindo de Lúcifer... O mais crítico era um pequeno detalhe, talvez o mais importante: trazia sempre na mão uma nova marca de um velho rádio...

O que mais atraía a minha atenção era a velocidade de seus passos, parecia que estava fugindo da sogra!... O pescoço obedecia fielmente todas as bruscas e perigosas curvas da cabeça...

- Quando será que um ser humano daquele despertará interesse ou preocupação nos intelectuais, nos políticos, nos estudantes, nos profissionais de saúde, nos governantes ou, até mesmo, nos religiosos afincos?...

- Ele nasceu ninguém sabe onde, quando e como conseguiu transpor a barreira do ventre desconhecido...  Encontrou como residência o mundo; como leito, a sarjeta da vida; como mistério, as pessoas que dele se afastavam assustadas; como única companheira, àquela velha negra e taciturna que todos criam ser uma macumbeira, mas que nunca se esquecia de lhe estender um prato de comida...

O seu olhar rápido e assustado parecia sempre querer me transmitir alguma mensagem importante...

- Seria louco?... Ou simplesmente mais um preocupado com os muitos problemas mundiais que ceifam impiedosamente os menos favorecidos da sorte?

- Cruzava comigo e gritava: cuidado! Depois seguia apressado rumo ao desconhecido...


Autor: Francisco Antônio Saraiva De Farias


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