UMA PERGUNTA IMPENSADA
UMA PERGUNTA IMPENSADA
O sol projetava no terreiro limpo a sombra da escola e dos vultos fantasmagóricos dos alunos sentados nos degraus da pequena escada. A professora e a escola eram novas. Pelo ali, naquela colônia de hansenianos.
Os alunos, aliados avulsos nos degraus da escada tosca, usavam vestimenta indistinta. A uma ordem da professora, fizeram fila indiana e adentraram calados à sala.
- Bem, começou a professora, agora que estão sentados, vão me responder algumas perguntas:
-Quem tem renda própria?
Silêncio absoluto.
- Quem tem roupa de frio e come três vezes por dia?
Silêncio total.
- Quem mora longe e tem transporte próprio?
Continuou reinando o silêncio.
- Quem já frequentou antes uma escola?
Novamente o silêncio absoluto provou à professora que não dava pra continuar.
Mudou a tática e começou pela chamada.
Chamou todos os zés, os chicos, as marias e também algumas raimundas...
Deu resultado!
Os alunos desinibiram-se, à sua maneira, e responderam muitos presentes, alguns sim, tô aqui e pronto.
Entusiasmada, a professora resolveu retomar o diálogo.
- Quem for filho de hanseniano levante o braço.
Todos levantaram, menos um, que não tinha braços pra levantar...