AFETIVIDADE: PERSPECTIVA SOB OLHAR DA PSICOLOGIA COGNITIVA NO ÂMBITO ESCOLAR



AFETIVIDADE: PERSPECTIVA SOB OLHAR DA PSICOLOGIA COGNITIVA NO ÂMBITO ESCOLAR

FABIANA JUVÊNCIO AGUIAR DONATO

 

A psicologia cognitiva estuda os processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento e é hoje um ramo da psicologia dividido em centenas de linhas de pesquisa diferentes, que encontram dificuldade para conversar entre si. Geralmente, no meio educacional, a psicologia cognitiva é invocada em oposição à psicologia "afetiva". A psicologia cognitiva é mais ligada à corrente piagetiana, que se preocupa com o desenvolvimento intelectual, enquanto a afetiva está relacionada à linha de Freud, mais interessada nas emoções.

Wallon formulou uma teoria da afetividade definida como teoria da emoção e do caráter. A afetividade, para este autor, tem papel fundamental no desenvolvimento da personalidade, pois é o primeiro domínio funcional percorrido pela criança. O recém-nascido e a criança, no seu primeiro ano de vida, utilizam gestos e expressões carregadas de significados afetivos, anteriores à inteligência (WALLON, 1993). Conforme cita Almeida (1999, p.42), “a afetividade manifesta-se primitivamente no comportamento, nos gestos expressivos da criança”.

Para Vygotsky (1991), diferentemente da psicologia tradicional que separava os aspectos intelectuais e os volitivos e afetivos, o pensamento nasce na esfera da motivação, que inclui afeto, emoção, impulsos, interesses, inclinações e necessidades. Só é possível compreender o pensamento humano quando se concebe e se compreende a sua base no aspecto afetivo volitivo. Vygotsky (1991, p. 57) defende a indivisibilidade entre as dimensões afetiva e cognitiva.

A afetividade humana encontra-se, para ele, entre as funções psicológicas superiores. E, nessa dinâmica, como aponta Molon (2003), não há um predomínio exclusivo de uma das funções, pois todas estão inter-relacionadas. Em determinados momentos, dependendo da demanda de cada situação, uma função emerge mais fortemente, estabelecendo uma hierarquia entre as funções. Essa hierarquia é, porém, circunstancial.

Com base na história evolutiva humana, considerou-se que a psique – entendida, nesse caso, como razão – teria necessariamente de avançar, enquanto as emoções, retroceder, provocando a “gloriosa morte de todo um setor da vida psíquica” (Vygotsky, 1999).

Ainda segundo Vygotsky que defende a existência de interconexões funcionais, nas quais os sentimentos são atravessados pelos pensamentos, e os pensamentos são permeados pelos sentimentos, e estes acontecem a partir dos e nos processos volitivos. Sob esse prisma, a função psicológica que potencializa as demais é a “vontade”.

As experiências cognitivas e afetivas que se corporificam na prática pedagógica asseguram o sentido da estreita relação entre ensinar, aprender, produzir e reproduzir discurso entre escolarização e subjetividade, constituindo a metodologia de ensino no núcleo do processo institucionalizado de formação do indivíduo.

Sendo assim, os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Tendo origem subjetiva e enraizada nas emoções, etnicidade, religião, cultura. Todos os seres humanos podem e devem tomar conhecimento dos valores a eles inerentes.

No âmbito da educabilidade cognitivaou intervenção cognitiva não tem sido exceção, na medida em que tem constituído um campo privilegiado de experimentação e aplicação explícita de modelos da cognição originados por essas teorias e materializados em programas que procuram explicitamente promover as capacidades cognitivas dos sujeitos, para além dos

conteúdos curriculares tradicionais.

Neste sentido, Mayer (1981, apud Both, 1989) define formalmente psicologia cognitiva como: a análise cientifica do processo mental humano e estruturas (construção) com o objetivo de entender o comportamento humano.

Entretanto, mesmo as escolas tendo passado por várias mudanças existe um fator importante que precisa ser analisado. É a relação professor e aluno, principalmente a afetividade, sendo um fator de extrema importância no processo ensino-aprendizagem.

Em suma, como atitude social moderna, de uma sociedade em notória crise, a ciência irrompe em contradições e desarticulação; e o conhecimento que se emprega e se difunde como base da educação forma e desenvolve indivíduos que têm sido, ao mesmo tempo, contraditórios e desarticulados.

 

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 

Na história da psicologia, iniciada no séc. XIX, o cenário não foi muito diferente. Depois que o comportamento humano foi considerado sujeito a princípios universais e que se admitiu a ciência psicológica como possível alguns dos problemas filosóficos foi transferido para a psicologia. Na área educacional o trajeto também não foi e não é muito diferente. É comum, ainda hoje, no âmbito escolar, o uso de uma concepção teórica que leva os educadores a dividirem a criança em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Produzem fragilidades de segundo plano, próprias da privacidade "inata" de cada um. Seguindo essa crença, as instituições educacionais caminharam para a ênfase da razão, priorizando tudo o que se relaciona diretamente ao mérito intelectual conforme Arantes (2003, p.237).

A infância é uma etapa biologicamente útil, que se caracteriza como sendo o período de adaptação progressiva ao meio físico e social. A adaptação, aqui, é “equilíbrio”, cuja conquista dura toda a infância e adolescência e define a estruturação própria destes períodos existenciais. E, conforme ensina o psicólogo Jean Piaget (1985), “educar é adaptar o indivíduo ao meio social ambiente”. Piaget afirma que:

 

[...] a pedagogia moderna não saiu de forma alguma da psicologia da criança, da mesma maneira que os progressos da técnica industrial surgiram, passo a passo, das descobertas das ciências exatas. Foram muito mais o espírito geral das pesquisas psicológicas e, muitas vezes também, os próprios métodos de observação que, passando do campo da ciência pura ao da experimentação, vivificaram a pedagogia (PIAGET, 1985, p. 148).

 

Segundo Piaget existe vários estágios do desenvolvimento e a cada estágio há um estilo característico através do qual a criança constrói seu conhecimento. Vejamos:

• Primeiro estágio: Sensório motor (ou prático) 0 – 2 anos: trabalho mental: estabelecer relações entre as ações e as modificações que elas provocam no ambiente físico;

• Segundo estágio: Pré-operatório (ou intuitivo) 2 – 6 anos: desenvolvimento da capacidade simbólica (símbolos mentais: imagens e palavras que representam objetos ausentes);

• Terceiro estágio: Operatório-concreto – 7 – 11 anos: capacidade de ação interna: operação. Características da operação: reversibilidade/invariância – conservação (quantidade, constância, peso, volume);

• Quarto estágio: Operacional-formal (abstrato) – 11 anos... A operação se realiza através da linguagem (conceitos).

Pode-se ainda destacar os estudos realizados por Henry Wallon, o qual não separou o aspecto cognitivo do afetivo. Seus trabalhos dedicam um grande espaço às emoções como formação intermediária entre o corpo, sua fisiologia, seus reflexos e as condutas psíquicas de adaptação.

Para Fernández (1991) e Dantas (1992) que vêm defendendo que o afeto é indispensável na atividade de ensinar, entendendo que as relações entre ensino e aprendizagem são movidas pelo desejo e pela paixão e que, portanto, é possível identificar e prever condições afetivas favoráveis que facilitam a aprendizagem.

Sendo assim Almeida (1999) destaca que “a afetividade e a inteligência, constituem um par inseparável na evolução, psíquica, pois ambas têm funções bem definidas e, quase integradas, que permitem o adolescente atingir níveis de evolução cada vez mais elevados”.

Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente. Como também na adequação da tarefa à possibilidade do aluno, fornecendo meios para que ele realize a atividade confiando em sua capacidade, demonstrando atenção às suas dificuldades e problemas, são maneiras bastante refinadas de comunicação afetiva.

 

PROBLEMÁTICA

 

Se com a criança o afeto é essencial, com os adolescentes ele tem que ser mantido. Através do estímulo, o professor fará esta mediação, pois o objetivo proposto não é transferir o modelo de pai ou mãe, mas com esta ação permita o adolescente crescer, e despertar nele o interesse que ao longo de sua vida, o desenvolva intelectualmente, nesta trajetória seria de grande importância que o aluno estivesse afetivamente vinculado ao professor, onde ele possa ter uma vida promissora com o auxílio do educador comprometido não somente com a educação de um adolescente, mas com responsabilidade de formar cidadãos de valores para uma sociedade que acredita que educandos se transformam através do afeto.

Diante do exposto, este estudo propõe avaliar os valores afetivos no ambiente escolar. São objetivos específicos do mesmo: observar a importância dos valores afetivos para os estudantes; relacionar a afetividade com o desempenho escolar; a analisar o valor afetivo na relação professor-aluno.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A discussão apresentada está subsidiada à luz das contribuições teóricas que fundamentam a psicologia cognitiva, entre outros elementos que contribuem para a progressão do conhecimento. Partimos do pressuposto de que um modelo associado aos avanços das ciências cognitivas que possibilita ao aprendiz construir ativamente a compreensão do mundo.

 

O presente estudo buscou ressaltar a importância do vínculo afetivo para a construção dos educandos. Segundo Seibert et al. (2006), a aprendizagem pode ser considerada como um processo evolutivo, a qual depende e muito do relacionamento que o aluno desenvolve com o aprender e com a figura do professor. Desse sentido, ensinar não se resume a uma tarefa objetiva e concreta, mas as implica em vivências e experiências de interações e trocas recíprocas entre aluno e professor.

Pode-se observar que a falta de vínculo afetivo com o aluno tem auxiliado muito na aprendizagem, de forma negativa, estimulando um bloqueio e desinteresse do aluno. Assim, o elo de aproximação do professor com o educando tem ajuda evidenciada na vida escolar.

Percebeu-se também que o professor interfere positiva ou negativamente na formação de seu aluno, quando coloca em evidencia o seu potencial de aprendiz e fragiliza o vínculo estabelecido nas relações. Este pode decorrer do fato do docente não possuir formação emocional e afetiva, levando à maior frequência das falhas do que os acertos. A falta da valorização da docência também reflete na autoestima.

Portanto, os resultados deste estudo corroboram a hipótese da afetividade está totalmente ligada ao desempenho escolar e a falta dela ser a principal causa do baixo desempenho escolar nos educandos. Assim sendo fica evidenciada que a afetividade no ambiente escolar é uma séria preocupação para os alunos, onde se faz necessário reconhecer em seu educando um individuo com autonomia, com experiência de vida oposta, com direito a escolhas diferentes ao do professor.

É compromisso de a escola assumir efetivamente, em união com os pais, à tarefa de proporcionar aos alunos oportunidades de crescimento com seres humanos. Assim, seu trabalho educacional é cuidar da formação, fazendo-os cumprir regras, impondo-lhes limites, e acima de tudo acreditando que os jovens têm capacidade de suportar frustrações.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALMEIDA, A.R.S. A emoção e o professor: um estudo a luz da teoria de Henri Wallon, Psicologia Teoria e Pesquisa, v.13, n 2, p. 239-249, mai/ago, 1997.

ARANTES, V.F. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. Coleção Editorial. São Paulo: Summus, 2003. 237p.

 

 

DANTAS, H. Afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon, em La Taille: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial Ltda, 1992.

 

FERNANDÉZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

 

LA TAILLE, Yves de et al. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

 

MOLON, S. I. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky. Petrópolis: Vozes,

2003.

 

SIERBERT, Al, Resiliencia. Construir en la adversidad, Alienta Editorial, Barcelona, 2006


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