EDUCAÇÃO EM CUBA: ANTES E DEPOIS DO MOVIMENTO 26 DE JULHO E DA REVOLUÇÃO CUBANA 1953



Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar o resultado de diversas pesquisas realizadas por profissionais sobre a educação em Cuba, antes e depois de dois adventos significativos na História do país. O Movimento 26 de Julho e a revolução Cubana 1953. Pretende também demonstrar o desenvolvimento e os avanços educacionais pelos quais têm passado o país, e explicitar os corolários da ocupação americana (1889-1902) e do atual o embargo comercial americano.

PALAVRAS - CHAVE: EDUCAÇÃO, CUBA, REVOLUÇÃO.

INTRODUÇÃO:

      O texto inicial apresenta uma problemática levantada por Carnoy[1], que compara a educação cubana com a de outros países (não socialistas) da América do Sul. No entanto, Ghiraldelli[2] discorda da metodologia utilizada por Carnoy, tecendo duras críticas. Nosso objetivo é conhecer o sistema educacional cubano sem entrar neste debate. O texto está estruturado da seguinte forma: Um breve histórico da educação cubana, educação Infantil, especial, média e superior.

 

1. - Comparação Cuba x Brasil (perspectiva de Carnoy)

     Os alunos cubanos tiram notas mais altas em exames internacionais que as crianças de outros países latino-americanos, incluindo o Brasil. "A educação de Cuba oferece à maioria dos alunos uma educação básica que somente crianças de classe média alta recebem em outros países da América Latina" explica o economista Martin Carnoy. O economista filmou salas de aula em Cuba e no Brasil e cronometrou o tempo dedicado a explicação dos conteúdos pelos professores.

     Como uma sociedade com renda per capita menor que a brasileira consegue promover uma educação de melhor qualidade para todos os jovens de sua população?

      De acordo com Carnoy, o ótimo desempenho dos estudantes cubanos é resultado de um sistema educacional que dá oportunidades iguais para todos os alunos, que estudam em um ambiente mais seguro e menos desigual que o brasileiro. 

    

1.1 - Breve histórico da educação cubana

 

     Ao longo de mais de quatro séculos a maioria dos cubanos foram excluídos do acesso à educação e à cultura, este fato foi consequência de um regime de escravidão.

     A ausência de liberdade na ilha tornou muito difícil a passagem de ideias e de medidas que contribuíssem para o enriquecimento espiritual do homem cubano.

     Cuba passou por um período de ocupação militar dos EUA (1899) que se prolongou até 1902. A ocupação americana gerou influência nos diversos setores da vida nacional causando na história da educação cubana, entre outras coisas, perturbações e a distorção do ensino.

     Durante a República neocolonial em 1902, a influência americana no campo da educação foi desastrosa: o aumento de abandono escolar e o abandono dos serviços educativos dos diferentes governos. O pedagogo cubano Enrique José Varona[3] descreve esta fase como algo muito triste, o desinteresse dos governantes pela educação, a falta de recursos, o estado das escolas, entre outros problemas, deixaram consequências graves para os cubanos.  

     Em 1953, os cubanos liderados por Fidel Castro, foram lançados novamente para luta armada para tentar mudar esse quadro: Apenas 56,4% das crianças puderam frequentar a escola primária, e apenas 28% das crianças e jovens entre os 13 e os 19 anos de idade puderam continuar seus estudos em escolas Media nesse período.

     O acesso ao ensino superior foi muito limitado. Na indústria existia o ensino de um único centro para o nível equivalente ao de meios técnicos, que foi o Colégio de Artes e Ofícios. O restante dos 16 centros apenas preparavam os trabalhadores em quantidades muito pequenas e com formação limitada pela falta de orçamento e falta de material básico para o estudo.

     O ensino agrícola apresentava uma situação crítica, porque só havia seis fazendas-escola e um instituto florestal com poucas perspectivas de aula e recursos.

     A Universidade de Havana, fundada em 1728, o Oriente, fundado em 1947 e da Central de Las Villas, em 1952, constituía a três universidades oficiais que existia antes do “triunfo da Revolução”.

     Para a formação dos professores tinham antes de 1959, seis escolas normais oficiais, um em cada capital provincial, com matrículas limitadas e só havia três faculdades de ensino nas universidades de Havana, Las Casas e de Leste.

     Em 26 de julho de 1953, com o assalto aos quartéis Moncada e CESPEDES em Santiago de Cuba e Bayamo, respectivamente, sob a liderança de Fidel Castro, começou a última etapa na realização da definitiva independência da ilha.

2. - Educação Infantil

 

     De acordo com a professora Magda[4] a educação infantil em Cuba, é prioridade nacional, sendo responsabilidade do Estado. Cuba é um país socialista, de organização política e ideológica baseada na filosofia marxista-leninista. Sendo assim, a responsabilidade é estatal e coletiva.

      Até o ano de 1959 (ano do Triunfo da Revolução como dizem os cubanos) o atendimento às crianças antes da idade escolar era realizado por entidades beneficentes, que atendiam aos órfãos e desamparados.

     Nos anos 60 surge a Federação das Mulheres Cubanas, que passa a organizar as necessidades das mulheres, foram criados os "Circulos Infantiles" e, ao mesmo tempo, escolas para formar diretoras e assistentes, recrutadas dentro da militância revolucionária.

     Em 197l foi criado o "Instituto de la Infância" com dois objetivos básicos: educar a criança de forma integral e aperfeiçoar o pessoal docente. Os Circulos constituem a via institucional que atende às mulheres trabalhadoras, preferencialmente professoras e médicas, somando hoje um total de 1.113 centros atendendo a 16% das crianças cubanas entre 0 e 6 anos.

     Aqueles que não conseguem o acesso aos Circulos passam a integrar o programa "Educa a tu hijo", composto por 9 livretos que são desenvolvidos com a Coordenadora do Programa, estabelecida em um Circulo, durante encontros que se realizam a cada 2 semanas. Por este programa são atendidas 68,84% das crianças. Englobando os dois modos de atendimento, 94,71% das crianças cubanas estão integradas ao Sistema Pré-Escolar.

     Existe uma modalidade diferente chamada de "Circulos Infantiles de Educación Especial", destinada a atender crianças com "desvantagens sociais" (mães hospitalizadas ou presas, alcoólatras, crianças abandonadas). As crianças permanecem em período integral no Circulo e ao final do dia são recolhidas por "famílias substitutas".

     As crianças aprendem conteúdos chamados “Valores”, em que são enfatizados a família, o patriotismo, a história do país, a história dos heróis cubanos e o socialismo. Um dos livros mais utilizados pela educação infantil é La edad de oro de José Martí, herói da independência cubana. Trata-se de uma coletânea de contos para as crianças de conteúdo sócio moral e patriótico.

El niño há de trabajar, de andar, de estudiar, de ser fuerte, de ser hermoso... Las niñas debem saber lo mismo que los niños para poder hablar com ellos como amigos cuando vayan creciendo”...

(MARTÍ, 1994:1, 2).

3. Educação Primária

     A educação primária está inserida dentro da Educación General Politécnica y Laboral, onde encontramos o maior número de educandos.

     Tem como objetivos: formação integral da personalidade dos estudantes, conhecimentos elementares das mais diferentes matérias dos planos de estudo, sentimentos e convicções cívicas, cultura física, educação estética e educação para o trabalho.

    

Está dividida em três níveis:

  • - Enseñanza Primária (1º ao 6º)
  • - Enseñanza Média Básica (7º ao 9)
  • - Enseñanza Média Superior (10º ao 12º)

     O ensino primário divide-se em dois ciclos: do 1º ao 4º ano, onde o professor é polivalente (exceto educação física e artes) e acompanha o aluno do início ao fim do ciclo, com três disciplinas: Língua Materna, Matemática e O Mundo Em Que Vivemos (noções básicas de Geografia, História e Ciências).

     No 2º ciclo (correspondente ao 5º e 6º ano) os professores são dois (além dos específicos já mencionados): um para humanidades e outro para exatas, sendo introduzidas as disciplinas de História e Geografia de Cuba, Educação Cívica e Ciências Naturais.

     A possibilidade de retenção pode ocorrer ao final do 2º e 4º ano do primeiro ciclo e ao final do 6º ano do 2º ciclo, sendo que nesta série a avaliação é elaborada pelo município.

     Como princípio da educação cubana a avaliação é contínua e diagnóstica, cabendo ao professor resolver os problemas em sala da aula. Quando isso não é possível as escolas contam com apoio permanente de uma equipe composta por fonoaudiólogos, psicólogos, médicos, etc.

     Quando um aluno está enfermo, impossibilitado de ir à escola, existem professores designados para acompanhá-lo, no hospital ou em casa.

     Atualmente existem 7403 escolas externas (aulas das 8 ao meio-dia e atividades após 14:30 até as 17 horas); 1444 semi-internas (onde as crianças passam o dia todo) e 86 internas (onde as crianças tem folgas nos finais de semana apenas). As escolas estão localizadas prioritariamente nas áreas rurais (75%).

     Além destas existem Escolas de Iniciação Desportiva e Escolas Vocacionais de Arte, para onde são encaminhados os jovens que demonstram talentos especiais em alguma modalidade esportiva ou artística.

     Hoje 100% das crianças entre 6 e 11 anos estão escolarizadas, sendo que 99,3% se mantêm na escola após o período obrigatório (até o 9º ano) e 98% concluem a secundária.

     Cuba tem 1.044.573 alunos na escola primária, e, para atendê-los existem 1.611 pedagogos especializados, 64.603 docentes (77,2% com nível universitário), 1.139 fonoaudiólogos, 282 psicopedagogos, 13.252 auxiliares de ensino, além de especialistas de outras áreas.

4. Educação Especial

     A Educação Especial tem como objetivo possibilitar aos alunos uma formação profissional que lhe permita uma incorporação ativa à sociedade. Até 1959 existiam 14 instituições que atendiam 134 alunos. Hoje são 427 escolas especiais que atendem a 55.000 alunos.

     Elas estão divididas em 2 grupos: específica e de trânsito.

     As de trânsito são aquelas para onde vão os alunos com alguma dificuldade de aprendizagem ou de conduta, e que depois de corrigido o problema são reintegrados à escola "normal".

     As específicas servem aqueles que tenham problemas graves, de deficiência mental, por exemplo, e que estão impossibilitados de incorporarem-se ao sistema convencional.

     As escolas estão organizadas de modo a trabalhar com a família e a comunidade. Uma vez detectado o "problema" a família recebe uma preparação adequada para aprender a tratar com o "especial" bem como a comunidade.

     A escola não tem na deficiência do educando sua preocupação central, mas sim nas suas potencialidades, e para elas são dirigidos os esforços dos educadores. Os educadores que trabalham nas Escolas Especiais são todos licenciados, com 1 ano de pós-graduação por especialidade.

5. Educação Média

      O ensino secundário é (preparatório para a universidade); o técnico profissionalizante e o operário. Dentro de um critério de seletividade, onde se considera o aproveitamento do estudante, a partir do 9º ano ele poderá seguir três caminhos: cursar mais um ano, dentro da perspectiva de tornar-se um operário especializado (padeiro, por exemplo), ou cursar uma das profissões de técnico qualificado (mecânico); caso tenha um ótimo aproveitamento cursará a secundária rumo à universidade.

     A opção profissional está intimamente ligada às necessidades do país, e da região mais especificamente. Assim, caso um aluno queira estudar mecânica de automóveis, mas dentro do planejamento local, as vagas já estiverem preenchidas, ele terá que escolher outra profissão.

     Antes do "Período Especial" existiam 432 especialidades, hoje existem apenas 69. Tais modificações fizeram-se necessárias para adequações tecnológicas e também para adequação dos planos de estudos à nova realidade cubana. Dentre estas 69 especialidades 53 são técnicos médios e 16 de obreiros qualificados, voltados para indústria, agropecuária, economia e serviços.

     Existem 580 Centros (em 1959 existiam 6), com 21.300 professores, que são formados em Universidade Pedagógica específica para atuação nas escolas técnicas. Dos 580 Centros, 150 são agropecuários, 130 industriais, 92 de economia e serviços e 208 de ofícios.

     O ano letivo estende-se por mais de 230 dias, onde se incluem de 5 a 7 semanas no campo (trabalho agrícola) e aproximadamente 3 semanas para exames.

     O pré-universitário estende-se do 10º ao 12º ano, e pode ser cursado nos IP (Instituto Pré-universitário Urbano), em regime de externato, ou no regime de internato no campo, nos IPUEC (Instituto Pré-Universitário em Campo). Para aqueles alunos que demonstram talentos e habilidades acima da média existem as EVA (Escola Vocacional de Artes), IDE (Escola de Iniciação Desportiva) e o IPVCE (Instituto Pré-Universitário Vocacional em Ciências Exatas).

6 - Ensino Superior

     Em Cuba existe separação entre o bacharelado e a licenciatura. Por exemplo: caso queira ser geógrafo, o caminho é a Universidade de Havana, no curso de Geografia, agora para ser professor de geografia deverá cursar um Instituto Superior Pedagógico, de onde sairá "Licenciado em Geografia".

     A formação de professor se dá em 5 anos de estudos (período integral), os estágios começam já no primeiro ano (um dia por semana na escola, observando), sendo que atingem, no mínimo, 3.500 horas ao final do curso.

     Os professores são desafiados a sistematizar constantemente, investigando e buscando soluções para os problemas, tanto no campo teórico, como no prático.

     Para as escolas técnicas os professores são formados num Instituto Superior Pedagógico especializado, dedicado somente às disciplinas profissionalizantes. Também existe uma intensa relação entre estudo-trabalho.

     Todos os integrantes das escolas trabalham por um determinado período no campo, de forma coletivizada (organizados em brigadas). Da mesma forma que no técnico profissionalizante a escolha profissional do universitário deverá atender as necessidades da sociedade cubana, dentro do planejamento estabelecido pelo governo.

    

Considerações Finais

 

     Cuba apresenta uma organização educacional exemplar, no entanto, é necessário trazer à tona as distinções políticas, sociais, culturais e econômicas que o país atravessa. Fazer comparações sem levar em conta tais distinções pode resultar em um grande equívoco.

     O sistema educacional cubano atende às necessidades do seu país. Lançar um olhar para educação cubana pode ser profícuo para pensar nas melhorias e adequações do sistema educacional brasileiro, porém temos que considerarmos as especificidades e necessidades distintas do Brasil.

    

 

Bibliografia e Fontes

 

  • MARTÍ, José. La edad de oro. Havana: Editorial Pueblo y Educación. 1994
  • MINISTÉRIO DE EDUCACIÓN, Educa a tu hijo. Programa para la familia dirigido al desarrollo integral del niño. Vol 1 a 9. Havana: Editorial Pueblo y Educación. 1992.
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuba
  • http://palavrorioporelleny.blogspot.com.br/2010/08/um-olhar-para-educacao-cubana.html
  • http://www.sprachcaffe-cuba.com/portugues/hist.html
  • http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/ensino-em-cuba-497480.shtml
  • http://ancar.sites.uol.com.br/cuba.htm
  • http://www.ced.ufsc.br/~nee0a6/pmagda.

[1] Martin Carnoy leciona Educação e Economia na Universidade Stanford, nos Estados Unidos.

[2] Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo.

[3] Enrique José Varona (Camagüey, 1849 - Havana, 19 novembro de 1933) foi escritor, filósofo, pensador e pedagogo cubano.

[4] Magda Carmelita Sarat Oliveira – Professora Pedagoga participante do Congresso de Pedagogia 2001 em Havana – Cuba.


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