Qualidade de Vida, se faz com Promoção e Educação em Saúde



INTRODUÇÃO

As condições de vida e saúde têm melhorado de forma contínua e sustentada na maioria dos países, no último século, graças aos progressos políticos, econômicos, sociais e ambientais, assim como aos avanços na saúde pública e na medicina. Na América Latina, por exemplo, a expectativa de vida cresceu de 50 anos, depois da II Guerra Mundial, para 67 anos, em 1990, e para 69 anos, em 1995. Entretanto, as mesmas organizações são taxativas ao informar que ainda que tal melhoria seja incontestável, também o é a permanência de profundas desigualdades nas condições de vida e saúde entre os países e, dentro deles, entre regiões e grupos sociais (SOUZA e CARVALHO, 2003).

A resposta social a tais problemas de saúde tem sido, investimentos crescentes em assistência médica curativa e individual, ainda que se identifique, de forma clara, que medidas preventivas e a promoção da saúde, assim como a melhoria das condições de vida em geral, tenham sido, de fato, as razões fundamentais para os avanços antes mencionados (SOUZA e CARVALHO, 2003).

Tornou-se lugar comum, no âmbito do setor saúde, repetir, com algumas variantes, a seguinte frase: saúde não é doença, saúde é qualidade de vida. Por mais correta que esteja, tal afirmativa costuma ser vazia de significado e, freqüentemente, revela a dificuldade que temos, como profissionais da área, de encontrar algum sentido teórico e epistemológico fora do marco referencial do sistema médico que, sem dúvida, domina a reflexão e a prática do campo da saúde pública. Dizer, portanto, que o conceito de saúde tem relações ou deve estar mais próximo da noção de qualidade de vida, que saúde não é mera ausência de doença, já é um bom começo, porque manifesta o mal-estar com o reducionismo biomédico. Porém, pouco acrescenta à reflexão (MINAYO; HARTZ e BUSS, 2000).

Considerando a relevância do tema estabelecido, o presente estudo visa contribuir juntamente com os profissionais de saúde para a promoção da saúde, a qualidade de vida.

OBJETIVO

Enfatizar e apresentar algumas das estratégias de promoção da saúde e qualidade de vida.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica que visa contribuir para o conhecimento dos profissionais de saúde ajudando na melhora da qualidade de vida, promoção da saúde, prevenção e assistência da comunidade.

A coleta dos dados foi feita através de livros, revistas, e textos de bancos de dados eletrônicos: Lilacs, Scielo, considerando os últimos cinco (10) anos de publicação.

DESENVOLVIMENTO

Qualidade de Vida: Conceitos

Desde os anos sessenta do século passado, a expressão qualidade de vida tem sido referência de inúmeros discursos acadêmicos, políticos, ideológicos e outros, movidos principalmente pelo interesse das Nações Unidas, ainda na década de 1950, de mensurar os níveis de vida de diversas comunidades mundiais. Ainda hoje esse conceito tem uma definição imprecisa, não existindo um consenso teórico a seu respeito. Uma boa parte dessas investigações, inicialmente, associava a qualidade de vida a um conceito quantitativo, relativo a recursos materiais disponíveis para determinado indivíduo ou sociedade mencionados (CORREA, 2001).

Observa-se, entretanto, que os esforços atuais em defini-lo tendem para uma abordagem mais ampla e integradora. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde, propondo uma natureza multifatorial da qualidade de vida, refere-se a esse conceito a partir das dimensões: saúde física, saúde psicológica, nível de independência (em aspectos de mobilidade, atividades diárias, dependência de medicamentos e cuidados médicos e capacidade laboral), relações sociais e meio ambientes. Trata-se de visão global, que considera as várias dimensões do ser humano na determinação dos níveis de qualidade de vida de cada indivíduo (SOUZA e CARVALHO, 2003).

A complexidade em se quantificar os fatores subjetivos não pode, portanto, excluí-los das considerações acerca da qualidade de vida. Mesmo que critérios materiais específicos da experiência cotidiana sejam usados como indicadores, a dimensão subjetiva deve ser observada a fim de que se tenha uma percepção integral desse conceito (SOUZA e CARVALHO, 2003).

Assim, a qualidade de vida não pode ser tomada como um conceito geral, mas entendida dentro da experiência cotidiana e pessoal de cada um dos envolvidos. Prover ótimas condições de sobrevivência não garante a elevação dos níveis de qualidade de vida, visto que o que determina é a forma e a capacidade do indivíduo em perceber e se apropriar dessas condições. De nada adiantam os recursos se o beneficiário não pode se favorecer deles. Além disso, viver com qualidade é uma condição que satisfaz as exigências e demandas que determinada situação inflige aos indivíduos, dentro de um dado contexto particular. Qualquer fenômeno social deve ser considerado no âmbito de seu contexto histórico e entendido dentro da conjuntura política, econômica e cultural na qual se processa, inclusive a condição de qualidade de vida (SOUZA e CARVALHO, 2003).

Uma vez satisfeitas as necessidades relacionadas à simples sobrevivência (fisiológicas), outros grupos de necessidades dominariam o indivíduo hierarquicamente (segurança, amor, estima e auto-realização), fazendo-o avançar em suas condições de bem-estar. Assim, sustenta-se que a qualidade de vida se eleva através de uma escala de valores que avança desde a satisfação das necessidades básicas do ser humano em direção ao sentimento de bem-estar subjetivo e social (SOUZA e CARVALHO, 2003).

Baseados em referenciais teóricos, se considera para esse estudo, o conceito de qualidade de vida como a condição biopsicossocial de conforto, relativa a experiências humanas objetivas e subjetivas e consideradas dentro das particularidades individuais e sociais da situação singular. Refere-se, portanto, a uma definição de caráter contextual, devendo ser entendida dentro das especificidades de cada situação, e multidimensional, considerando os vários determinantes da condição humana (SOUZA e CARVALHO, 2003).

Qualidade de Vida e Promoção da Saúde

Intervenções que visam a elevação da qualidade de vida são palco para que diversos atores sociais atuem na promoção do bem-estar humano e na organização de uma sociedade cada vez melhor, considerando o caráter multidimensional desse conceito. Uma proposta que se implica na elevação da qualidade de vida deve envolver-se de políticas intersetoriais que incentivem e proporcionem condições agradáveis e desenvolvimento individual e coletivo. Nesse contexto, as ações dirigidas à saúde, em particular, adquirem grande relevância (SOUZA e CARVALHO, 2003).

Uma boa saúde é o melhor recurso para o progresso pessoal, econômico e social, e uma dimensão importante da qualidade de vida. Os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, de meio ambiente, de conduta e biológicos podem intervir a favor ou contra a saúde. O objetivo da ação pela saúde é fazer com que essas condições sejam favoráveis para se poder promover à saúde (Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde, 1986) (SOUZA e CARVALHO, 2003).

As propostas de promoção da saúde, apresentadas pela conferência, entendem a saúde como elemento importante no conjunto de condições indispensáveis à qualidade de vida. Entendida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, esse conceito de saúde supera o caráter estático, exclusivamente sanitário e de ausência de enfermidade, característicos do conceito anteriormente adotado, o qual não abarcava a amplitude de aspectos que a saúde representa. As estratégias de promoção da saúde voltam-se para estilos de vida e condições sociais, econômicas e ambientais que determinam a saúde e, de forma mais ampla, a qualidade de vida. Dessa forma, as ações em prol da saúde demandam a participação dos diversos setores da sociedade, não podendo ser asseguradas apenas pelo setor sanitário (SOUZA e CARVALHO, 2003).

O Brasil, a partir da Constituição de 1988, assume o compromisso de reorganizar seu modelo de atenção à saúde, referenciado na perspectiva de saúde como direito de cidadania e como recurso que apóia o desenvolvimento individual e coletivo, agregando práticas assistenciais, preventivas e educativas. Tem como princípios norteadores garantir o acesso universal, equânime, o atendimento integral e descentralizado da saúde. Nessa proposta, estão compreendidos os campos da assistência, das intervenções ambientais e das políticas externas ao setor de saúde que interferem nos determinantes sociais do processo saúde-doença das coletividades. Os níveis de atenção à saúde são representados pela promoção, proteção e recuperação da saúde, nos quais deve ser sempre priorizado o caráter preventivo. Trata-se de um modelo de atenção centrado na qualidade de vida e na relação das equipes de saúde com a comunidade, privilegiando a abordagem familiar (BRASIL, 2006).

A reorganização do sistema de saúde brasileiro, de acordo com esse novo referencial, tem dado origem a várias estratégias e programas de intervenção, entre eles o Programa de Saúde da Família (PSF). Baseadas no princípio de saúde como direito de todos, o objetivo dessas propostas é garantir a promoção da saúde através de um atendimento acessível a todos, de forma contínua, integral e de qualidade(BRASIL, 2006).

Promoção da Saúde e as Conferências

A promoção da saúde, como vem sendo entendida nos últimos vinte e cinco anos, representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas e seus entornos neste final de século. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução(BUSS, 2000).

Decorridos pouco mais de dez anos da divulgação da Carta de Ottawa, um dos documentos fundadores da promoção da saúde atual, este termo está associado a um conjunto de valores: qualidade de vida, saúde, solidariedade, eqüidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e parceria, entre outros. Refere-se também a uma combinação de estratégias: ações do Estado (políticas públicas saudáveis), da comunidade (reforço da ação comunitária), de indivíduos (desenvolvimento de habilidades pessoais), do sistema de saúde (reorientação do sistema de saúde) e de parcerias intersetoriais. Isto é, trabalha com a idéia de responsabilização múltipla, seja pelos problemas, seja pelas soluções propostas para os mesmos (BUSS, 2000).

A promoção da saúde vem sendo interpretada, de um lado, como reação à acentuada medicalização da vida social e, de outro, como uma resposta setorial articuladora de diversos recursos técnicos e posições ideológicas. Embora o termo tenha sido usado a princípio para caracterizar um nível de atenção da medicina preventiva, seu significado foi mudando, passando a representar, mais recentemente, um enfoque político e técnico em torno do processo saúde-doença-cuidado (BUSS, 2000).

O conceito moderno de promoção da saúde (e a prática conseqüente) surgiu e se desenvolveu, de forma mais vigorosa nos últimos vinte anos, nos países em desenvolvimento, particularmente no Canadá, Estados Unidos e países da Europa Ocidental.

Importantes Conferências Internacionais sobre Promoção da Saúde, foram realizadas nos últimos anos no mundo (BRASIL, 2006):

ØEm Ottawa (WHO, 1986), a carta define promoção da saúde como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Subjacente a este conceito, o documento assume que a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida, e propõe cinco campos centrais de ação: • Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; • Criação de ambientes favoráveis à saúde; • Reforço da ação comunitária; • Desenvolvimento de habilidades pessoais; • Reorientação do sistema de saúde.

ØEm Adelaide (WHO, 1988), elegeu como seu tema central as políticas públicas saudáveis que se caracterizam pelo interesse e preocupação explícitos de todas as áreas das políticas públicas em relação à saúde e à eqüidade e pelos compromissos com o impacto de tais políticas sobre a saúde da população.

ØEm Sundsvall (WHO, 1991), foi a primeira conferência global a focar diretamente a interdependência entre saúde e ambiente em todos os seus aspectos. Ocorreu na efervescência prévia à primeira das grandes conferências das Nações Unidas previstas para "preparar o mundo para o século XXI".

ØEm Jacarta (WHO, 1997), aconteceu a primeira conferência a se realizar num país em desenvolvimento. Pode-se dizer que, desde o seu subtítulo (novos atores para uma nova era), pretendeu ser uma atualização da discussão sobre uma dos campos de ação definidos em Ottawa: o reforço da ação comunitária. A conferência reconheceu que os métodos em promoção da saúde baseados no emprego de combinações das cinco estratégias de Ottawa são mais eficazes que os centrados em um único campo, e que diversos cenários (cidades, comunidades locais, escolas, lugares de trabalho etc.) oferecem oportunidades práticas para a execução de estratégias integrais.

Foram definidas cinco prioridades para o campo da promoção da saúde para os próximos anos:

1.Promover a responsabilidade social com a saúde, através de políticas públicas saudáveis e comprometimento do setor privado.

2.Aumentar os investimentos no desenvolvimento da saúde, através do enfoque multissetorial, com investimentos em saúde, e também em educação, habitação e outros setores sociais.

3.Consolidar e expandir parcerias para a saúde entre os diferentes setores e em todos os níveis de governo e da sociedade.

4.Aumentar a capacidade da comunidade e fortalecer os indivíduos para influir nos fatores determinantes da saúde, o que exige educação prática, capacitação para a liderança e acesso a recursos.

5.Definir cenários preferenciais para atuação (escolas, ambientes de trabalho etc.).

Na América Latina (OPAS, 1992), realizou-se a Conferência Internacional de Promoção da Saúde, a Declaração de Bogotá o documento de lançamento da promoção da saúde na América Latina reconhece a relação de mútua determinação entre saúde e desenvolvimento, afirmando que a promoção da saúde deve buscar a criação de condições que garantam o bem-estar geral como propósito fundamental do desenvolvimento. Assume que, assolada pelas desigualdades que se agravam pela prolongada crise econômica e as políticas de ajuste macroeconômico, a América Latina enfrenta a deterioração das condições de vida da maioria da população, junto com um aumento dos riscos para a saúde e uma redução dos recursos para enfrentá-los.Por conseguinte, o desafio da promoção da saúde consiste em transformar as relações excludentes, conciliando os interesses econômicos e os propósitos sociais de conforto para todos, assim como trabalhar pela solidariedade e a eqüidade social, condições indispensáveis para a saúde e o desenvolvimento (BRASIL, 2006).

O documento estabelece cinco princípios ou premissas:

ØA superação das complexas e profundas desigualdades de tipos econômico, ambiental, social, político e cultural, como relativas à cobertura, acesso e qualidade nos serviços de saúde.

ØA necessidade de novas alternativas na ação de saúde pública, orientadas a combater simultaneamente as enfermidades causadas pelo atraso e a pobreza e aquelas que se supõe derivadas da urbanização e industrialização.

ØA reafirmação da democracia nas relações políticas e sociais.

ØA conquista da eqüidade ao afirmar que o papel da promoção da saúde consiste não só em identificar os fatores que favorecem a iniqüidade e propor ações para aliviar seus efeitos, como também atuar como agente de transformações radicais nas atitudes e condutas da população e seus dirigentes.

ØO desenvolvimento integral e recíproco dos seres humanos e das sociedades.

A Declaração de Bogotá aponta três estratégias para a promoção da saúde na América Latina (BRASIL, 2006):

ØImpulsionar a cultura da saúde, modificando valores, crenças, atitudes e relações.

ØTransformar o setor saúde, pondo em relevo a estratégia de promoção da saúde.

ØConvocar, animar e mobilizar um grande compromisso social para assumir a vontade política de fazer da saúde uma prioridade.

O documento define ainda onze compromissos indispensáveis para a implementação da promoção da saúde na América Latina:

1.Impulsionar o conceito de saúde condicionada por fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais, biológicos, e a promoção da saúde como estratégia para modificar esses fatores condicionantes.

2.Convocar as forças sociais para aplicar a estratégia de promoção da saúde.

3.Incentivar políticas públicas que garantam a eqüidade e favoreçam a criação de ambientes e opções saudáveis.

4.Estabelecer mecanismos de concertamento e negociação entre os setores sociais e institucionais.

5.Reduzir gastos improdutivos, como os gastos militares, o desvio de fundos públicos para a geração de lucros privados, a profusão de burocracias excessivamente centralizadas e outras fontes de ineficiências e desperdícios.

6.Fortalecer a capacidade da população para participar nas decisões que afetam sua vida e para optar por estilos de vida saudáveis.

7.Eliminar os efeitos diferenciais das desigualdades sobre a mulher.

8.Estimular o diálogo de saberes diversos.

9.Fortalecer a capacidade de convocação do setor saúde para mobilizar recursos na direção da produção social de saúde, estabelecendo as responsabilidades dos diferentes atores sociais em seus efeitos sobre a saúde.

10.Reconhecer como trabalhadores e agentes de saúde as pessoas comprometidas com os processos de promoção da saúde.

11.Estimular a investigação em promoção da saúde, para gerar ciência e tecnologia apropriada e disseminar o conhecimento resultante.

Prevenção Primária e Educação em Saúde

A prevenção primária, a ser desenvolvida no período de pré-patogênese, consta de medidas destinadas a desenvolver uma saúde geral melhor, pela proteção específica do homem contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente. A educação em saúde é elemento importante para esse objetivo. Alguns autores afirmam que os procedimentos para a promoção da saúde incluem um bom padrão de nutrição, ajustado às várias fases do desenvolvimento humano; o atendimento das necessidades para o desenvolvimento ótimo da personalidade, incluindo o aconselhamento e educação adequados dos pais, em atividades individuais ou de grupos; educação sexual e aconselhamento pré-nupcial; moradia adequada; recreação e condições agradáveis no lar e no trabalho. A orientação sanitária nos exames de saúde periódicos e o aconselhamento para a saúde em qualquer oportunidade de contato entre o médico e o paciente, com extensão ao resto da família, estão entre os componentes da promoção (BUSS, 2000).

As diversas conceituações disponíveis para a promoção da saúde podem ser reunidas em dois grandes grupos. No primeiro deles, a promoção da saúde consiste nas atividades dirigidas à transformação dos comportamentos dos indivíduos, focando nos seus estilos de vida e localizando-os no seio das famílias e, no máximo, no ambiente das culturas da comunidade em que se encontram. Neste caso, os programas ou atividades de promoção da saúde tendem a concentrar-se em componentes educativos, primariamente relacionados com riscos comportamentais passíveis de mudanças, que estariam, pelo menos em parte, sob o controle dos próprios indivíduos. Por exemplo, o hábito de fumar, a dieta, as atividades físicas, a direção perigosa no trânsito. Nessa abordagem, fugiriam do âmbito da promoção da saúde todos os fatores que estivessem fora do controle dos indivíduos (BUSS, 2000).

Caracterizar a promoção da saúde, modernamente, é a constatação do papel protagonista dos determinantes gerais sobre as condições de saúde, em torno da qual se reúnem os conceitos do segundo grupo. Este se sustenta no entendimento que a saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, e de habitação e saneamento; boas condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo de toda a vida; ambiente físico limpo; apoio social individual e familiar; estilo de vida responsável; e um espectro adequado de cuidados de saúde. Suas atividades estariam, então, mais voltadas ao coletivo de indivíduos e ao ambiente, compreendido num sentido amplo, de ambiente físico, social, político, econômico e cultural, através de políticas públicas e de condições favoráveis ao desenvolvimento da saúde (as escolhas saudáveis serão as mais fáceis) e do reforço da capacidade dos indivíduos e das comunidades (BUSS, 2000).

Programa de Saúde da Família

A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS (BRASIL, 2006).

Incorporando e ampliando o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), as primeiras equipes do Programa de Saúde da Família foram formadas em janeiro de 1994. Priorizando ações de proteção e promoção da saúde, o atendimento é prestado na unidade básica de saúde ou no domicílio, por uma equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Cada equipe é levada a conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por meio de cadastramento e diagnóstico de suas características, tornando-se mais sensível às necessidades dos indivíduos atendidos. Recomenda-se que uma equipe seja responsável por no máximo, 4.500 pessoas. Assim esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos de co-responsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde da comunidade mais facilmente. A reorganização da atenção básica pressupõe ainda o funcionamento de um sistema de referência e contra-referência eficiente que assegure a integralidade das ações de saúde (SOUZA e CARVALHO, 2003).

A estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS, condicionada pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. A velocidade de expansão da Saúde da Família comprova a adesão de gestores estaduais e municipais aos seus princípios. Iniciado em 1994, apresentou um crescimento expressivo nos últimos anos. A consolidação dessa estratégia precisa, entretanto, ser sustentada por um processo que permita a real substituição da rede básica de serviços tradicionais no âmbito dos municípios e pela capacidade de produção de resultados positivos nos indicadores de saúde e de qualidade de vida da população assistida (BRASIL, 2006).

A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção no SUS. Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem produzido resultados positivos nos principais indicadores de saúde das populações assistidas às equipes saúde da família (BRASIL, 2006).

Exemplos de Programas e Iniciativas do Nível Federal (BRASIL, 2006).

ØEstratégia Saúde da Família na Atenção Básica

Reorganização da atenção básica, com adscrição de família a equipes multiprofissionais e ações abrangentes de promoção, prevenção e assistência.

ØAgentes Comunitários de Saúde

Parte da equipe de saúde da família; em certos locais, atua sozinho, com práticas de promoção e prevenção.

ØBolsa Família e Renda Mínima, c

·omplementação da renda familiar, com recursos da União, para melhoria da alimentação e das condições de saúde e nutrição, além da educação fundamental.

ØAleitamento materno

ØCarteiro Amigo, atividade de incentivo ao aleitamento materno, com a utilização de carteiros, que divulgam informações sobre o tema de casa em casa.

• Iniciativa Hospital Amigo da Criança

Cerca de 230 hospitais credenciados no país, com práticas de incentivo ao aleitamento nos berçários e entre crianças internadas.

ØPolítica Nacional de Alimentação e Nutrição

Leis Federais para adição de micro-nutrientes: ferro e ácido fólico em farinhas; iodação do sal.

ØRede Nacional de Bancos de Leite Humano (IFF/FIOCRUZ), 180 unidades.

ØPrograma de educação e saúde através do exercício físico e do esporte. Núcleos Agita Brasil.

ØPrograma de Prevenção e Controle das Doenças Imunopreveníveis (PNI).

Vacinas: BCG, Pólio, DTP/HIB (tetravalente), Tríplice viral, Antiamarílica, Influenza (para adultos). Futuro: vacinas contra o rotavirus e 7-valente contra pneumococus.

ØPrograma Humanização no Pré-Natal e Nascimento.

Melhoria no acesso à cobertura e à qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao recém-nascido, incluindo práticas de promoção da saúde; registro civil obrigatório e gratuito.

ØPrograma Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, Educação, diagnóstico precoce (papanicolau e auto-exame de mamas) e tratamento.

ØPrograma Nacional de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer
Capacitação de profissionais em mais de três mil municípios brasileiros: escolas, empresas e comunidades locais.

Ação intersetorial: Registro de produtos; Proibição de venda a crianças e adolescentes; Restrição de publicidade em meios de comunicação; Regulação de teores máximos de alcatrão, nicotina; Maços de cigarro; Proibição de fumar em prédios públicos e aeronaves; Escolas, ambientes de trabalho e unidades de saúde livres do cigarro.

ØEscolas Promotoras da Saúde

Programa espelho da OMS/OPAS, com iniciativas incipientes, em diversos pontos do território nacional.

• Programa Saúde do Adolescente

Dirigido a todos os jovens entre 10 a 19 anos e caracterizado pela integralidade das ações e pelo enfoque preventivo e educativo.

ØPrograma Saúde na Escola

Vídeos educativos para compor a grade de programação da televisão, escola/MEC.

ØControle do Álcool.

Restrições de publicidade e de venda para menores de 18 anos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais de saúde, os movimentos sociais e as organizações populares, políticos e autoridades públicas têm responsabilidades sobre as repercussões positivas ou negativas que as políticas públicas têm sobre a situação de saúde e as condições de vida.

Referenciadas na estratégia definida pelo atual modelo de organização da saúde pública do Brasil, as equipes de saúde do programa de saúde da família têm realizado suas atividades visando cumprir com o compromisso de promover a saúde e elevar a qualidade de vida da população que atende. Na medida em que se entende o conceito de qualidade de vida por um viés multidimensional, considerando o caráter biopsicossocial da natureza humana, um programa de assistência à saúde não limita seu trabalho a intervenções de nível epidemiológico e sanitário. Elementos de caráter pessoal, social e econômico, entre outros, devem ser incluídos no planejamento e definição das estratégias.

A mediação intersetorial e entre população e poder público, assim como à capacitação para o exercício da cidadania e do controle social são contribuições inestimáveis que a prática da promoção da saúde, por profissionais e ativistas da saúde, pode trazer ao movimento social.

Ressaltamos a importância do incentivo a propostas de desenvolvimento local que podem contribuir enormemente para o estabelecimento de alianças pró-saúde e a introdução de inovações na gestão pública, em torno de processos como a intersetorialidade e as políticas públicas saudáveis. A defesa e promoção da saúde unidos a movimentos sociais, profissionais de saúde, e as organizações populares podem conduzir à adoção mais rápida, e em maior profundidade, das estratégias aqui apontadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.SOUZA RA, CARVALHO AM. Programa de saúde da família e qualidade de vida: um olhar da Psicologia. Estudos de Psicologia. v.8, nº.3. Natal. 2003.

2.MINAYO MCS, HARTZ ZMA, BUSS PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência & Saúde Coletiva. v.5, nº.1. Rio de Janeiro. 2000.

3.CORREA AL. Qualidade de vida urbana na Amazônia: os casos de Marapanim e Vila dos Cabanos. Unama. Belém. 2001.

4.BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Educação em Saúde. Disponível em: http://www.saude.gov.br/programas/Acesso em março de 2006.

5.BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Saúde da Família, Promoção da Saúde. Disponível em: http://www.saude.gov.br/psf/Acesso em março de 2006.

6.BUSS PM. Promoção da Saúde e Qualidade de Vida.Ciência & Saúde Coletiva. vol.5, nº.1. Rio de Janeiro. 2000.

7.BRASIL. Ministério da Saúde. Declaração de Santa Fé de Bogotá. In Ministério da Saúde/FIOCRUZ 1996. Promoção da Saúde: Cartas de Ottawa, Adelaide, Sundsvall e Bogotá. Disponível em: http://www.saude.gov.brAcesso em Fevereiro de 2006.

PARA CITAR ESTE TRABALHO:

MAIA, LFS. Qualidade de vida, se faz com promoção e educação em saúde. Enfermagem. São Paulo, outubro de 2008. Disponível em: http://www.webartigos.com  Acesso em ____/____/_______.


Autor: Luiz Faustino dos Santos Maia


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