Dificuldade de Aprendizagem



Dificuldade de Aprendizagem

 O tema dificuldade de Aprendizagem tem sido objeto de estudo desde os séculos XVIII e XIX. Neste período tanto a ciência quanto os pais e educadores viam as crianças que não aprendiam como seres anormais que precisavam de acompanhamento médico específico para se desenvolver.

As crianças que apresentavam qualquer tipo de “anormalidade” eram tratadas em hospícios e hospitais. Neste momento difundiu-se o campo de pesquisa voltada para o desenvolvimento da mente humana. Isto contribuiu de forma significativa com a educação desde o passado até os dias atuais.

                      Nesta época, a falta de informação dos educadores e familiares inibiu o desenvolvimento das crianças que apresentavam tais anormalidades, comprometendo sua interação com crianças ditas normais e limitando o seu potencial de aprendizagem por acharem que essas crianças seriam incapazes de aprender os conceitos oferecidos pela educação regular.

(...) por volta dos séculos XVIII e XIX, com o grande desenvolvimento das ciências médicas e biológicas, especialmente da psiquiatria. Datam dessa época os estudos de neurologia, neurofisiologia e neuropsiquiatria, conduzidos em laboratórios anexos a hospícios, e a rígida classificação dos pacientes dessas instituições como “anormais”. Posteriormente o conceito de anormalidades começou a ser transferido dos hospitais para as escolas: as crianças que não acompanhavam seus colegas na aprendizagem passaram a ser designadas como “anormais escolares”, já que seu fracasso era atribuído a alguma anormalidade orgânica. (SCOZ, 1994, p. 19)

O mito criado em torno das crianças com dificuldades de aprendizagem que são consideradas como pessoas incapazes de aprender, criaram bloqueios e preconceitos visíveis até os dias atuais. Naquela época a grande maioria das crianças eram encaminhadas para escolas ou classes especiais durante o seu momento de escolarização.

E essa diferenciação das crianças por níveis intelectuais de conhecimento comprometeu ainda mais a dificuldade de absorção do conhecimento das crianças, inibindo cada vez mais o seu desenvolvimento e potencial de atingir a aprendizagem tão almejada pela sociedade que luta constantemente pelo modelo padrão de pessoa.

Pode-se verificar que no decorrer dos anos muitos pais têm demonstrado preocupação com a aprendizagem de seus filhos. Por isso, empenham-se para que, suas crianças se desenvolvam e aprendam a ler e escrever, chegando o mais rápido possível das crianças tituladas “normais”, uma vez que não querem que eles passem pela situação de exclusão dentro do ambiente educacional.

A generalização das crianças com distúrbios de aprendizagem, tidas como “burras”, provocaram e provocam até hoje danos na interação da criança com o mundo que a cerca, ocasionando com isso, exclusão que traumatizam a criança durante o seu período de escolarização e socialização.

 

 

(...) é categórico afirmar que o que acontece no início da escolaridade primária é decisivo para todo o resto da história escolar da criança. É ali, nas aulas do 1ª ano primário que a criança é definida como bom aluno, lento, rápido, com problemas, sem problemas. É ali que ela vai receber a primeira etiqueta, que terá conseqüências no resto de sua escolaridade. (FERREIRO apud SUKIENNIK, 2000, p. 83)

 

 

 

Durante o primeiro contato da criança com a escola ela passa por período de adaptação com este novo ambiente e neste momento algumas crianças podem mostrar mais dificuldade para assimilar esta nova realidade e a quantia razoável de informações e novidade que ele recebe quando saem de seus lares.

Neste momento de transição de casa para o ambiente educacional a criança passa por várias mudanças, e a aquisição de novos conhecimentos para muitas crianças torna-se um desafio maior e em meios a esses desafios surgem às dificuldades que são comuns no recinto educativo.

                  Entretanto, as pessoas que apresentam déficit de aprendizagem normalmente são atribuídas como hiperativos, indisciplinados, doentes mentais e etc. A falta de conhecimento ocasiona esta generalização e rotulação dessas crianças como seres incapazes de aprender, sendo esta uma afirmação falsa, já que o que deve ser feito é analisar o aprendiz de forma individual, respeitando o seu tempo no processo de aquisição do conhecimento.

 

Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escrita, fala, leitura, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central, e podendo ocorrer ao longo do ciclo vital ( PAIN, apud SISTO, 2001, p.31 e 32).

 

 

 

 A dificuldade de aprendizagem é mais comum durante o período de escolarização da criança que pode ser causada por diversos fatores o que não significa que esta criança não é capaz de aprender. Não existe um tempo determinado para a dificuldade de aprendizagem desaparecer, a aprendizagem ocorre no momento de amadurecimento da mente humana e isso, pode ser passageiro ou durar por muito tempo.

 

 

 

(...) as dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico. As dificuldades são definidas como problemas que interferem no domínio de habilidades escolares básicas, e elas só podem ser formalmente identificadas até que uma criança comece a ter problemas na escola. As crianças com dificuldades de aprendizagem são crianças suficientemente inteligentes, mas enfrentam muitos obstáculos na escola. São curiosos e querem aprender, mas sua inquietação e incapacidade de prestar atenção tornam difícil explicar qualquer coisa a eles. Essas crianças têm boas intenções, no que se refere a deveres e tarefas de casa, mas no meio do trabalho esquecem as instruções ou os objetivos (STRICK e SMITH apud FONSECA, 1995, p. 50)

Os problemas que rodam o ambiente escolar são diversos, a falta de interesse de algumas crianças em aprender, a ansiedade, o descontrole emocional, a ausência de normas e o desrespeito ao adulto são algumas das situações que fazem partem do ambiente educacional e influenciam o fracasso escolar tão temido pela rede educacional.

Algumas crianças quando em salas de aulas tem dificuldades de concentração e isso, implica em uma defasagem, pois não conseguem acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas de sala e isto, nem sempre são ocasionados por problemas neurológicos, mas também por conflitos externos que ele ainda não consegue lidar devido a sua imaturidade.

Esses conflitos, na grande maioria das vezes a criança trás de casa e muitos pais só os percebem quando a criança chega à escola, por estarem neste momento recebendo uma educação formal diferente da que ele recebia em casa e a partir disso, começam a notar as dificuldades e limitações de seus filhos que antes passavam despercebidas aos seus olhos.

Durante o período de escolarização da criança, nesta ocasião nem todas as crianças conseguem apresentar o mesmo nível de aprendizagem dos seus colegas e esta situação pode ser momentâneo ou não, necessitando essas crianças de um acompanhamento maior para desenvolverem a aprendizagem proposta pelo sistema educacional e social.

 

O conceito de problemas ou atrasos na aprendizagem é muito amplo (...) e seu significado abrangeria qualquer dificuldade observável enfrentada pelo aluno para acompanhar o ritmo de aprendizagem de seus colegas da mesma faixa etária, seja qual for o fator determinante desse atraso (...)(MARTIN e MARCHESI, 1995, apud SUKIENNIK, 2000, p.80)

                 Muitas vezes em nossas vidas encontramos dificuldades para lidar com situações até então novas para a nossa realidade, com isso, levamos certo tempo para nos adaptarmos e aprendermos com esta nova situação. Com a criança não é diferente ela passa pela mesma condição, porém o que a diferencia do adulto é que ela ainda está no período de pré-aquisição de conceitos e os adultos já os têm definidos.

                 A rotulação de níveis de aprendizagem é freqüente no ambiente escolar, principalmente no quesito idade, porque muitos educadores ainda estão fundamentados na idéia que as crianças são educadas em série e deve aprender no mesmo momento. Deve-se destacar que cada criança possui ritmos diferentes para adquirir conhecimento e se desenvolver, precisando em determinado momento de uma estimulação maior para o aprendizado.

                 A ausência de estímulos e o atraso na aprendizagem, ocasionam nessas crianças um afastamento da sala de aula, causando nesse indivíduo uma auto discriminação que contribui ainda mais com sua defasagem escolar e um distanciamento maior da aprendizagem.

                 Todas as pessoas que estão envolvidas com o processo de educação precisam estar bem preparadas para lidar com situações de dificuldades de aprendizagem, visando garantir em primeiro momento a inclusão desta criança no ambiente escolar sem exclusões, tendo em mente que o processo de aprendizagem é lento e as dificuldades que forem surgindo no decorrer deste caminhar devem ser observadas e trabalhadas, visando o desenvolvimento do pensamento cognitivo desse indivíduo. 

Os problemas de aprendizagem são considerados (...) não como o contrário de aprender, mas como um processo diferente deste, um estado particular de um sistema que para equilibrar-se precisa adotar um determinado tipo de comportamento que determina o não aprender e que cumpre uma função positiva (SCOZ, 1994, p. 30)

O fato de nem todas as pessoas assumirem um comportamento padrão, pode correr-se o risco de serem titulados como diferentes do normal e ser diferente na sociedade que temos hoje, implicaria em uma série de conflitos até serem aceitos pela sociedade. E isso, também ocorre com as pessoas que apresentam alguma dificuldade na aprendizagem, principalmente quando elas vêm de uma classe social influente que cobra deste indivíduo padrões que ele não buscar e não quer desenvolver.

Ainda vivenciamos uma sociedade atrelada de valores morais e de regras e esta mesma sociedade compartilha o seu espaço com pessoas de todos os níveis sociais. Com isso, institui-se ao educador durante a sua docência diagnosticar e avaliar a realidade de seu aluno, verificando o nível de aprendizagem de seus educandos para não cometerem erros de rotulação de capacidade intelectual, respeitando o conhecimento e as limitações de cada um, sem cometer injustiças e generalizações do saber dentro das salas de aula.

Algumas dificuldades são momentâneas na vida escolar da criança, sendo, superadas anos à frente com práticas educativas eficazes, outras acompanham este ser por anos de sua vida. E este não desenvolvimento cognitivo e físico pode comprometer e dificultar a sua fase adulta e o seu convívio social, provocando nesta pessoa traumas e limitações em sua vida pessoal.

As discussões que o tema dificuldade de aprendizagem provoca no ambiente educacional fazem com que as pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a educação compreendem o grande drama que as crianças passam ao enfrentar este problema dentro e fora das salas de aula. Podemos verificar que muitas dificuldades estão atreladas a valores sociais que comprometem cada vez mais o desempenho de crianças e adultos que encaram tais problemas.

A complexidade em torno dos fatores que desencadeiam tais problemas dificulta a compreensão dos motivos que contribuem para esta defasagem e o emprego de padrões sociais impedem a aceitação desse público de forma natural e sim com preconceitos e discriminações.

Apesar disso, percebe-se que o campo da educação tem evoluído de forma significativa a partir de estudos psicopedagógicos, a fim de entender e ajudar a solucionar os dramas que tanto afetam e assustam a educação e os pais que têm filhos com dificuldades educativas, produzindo assim efeitos positivos para o meio educacional.

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Autor: Suzi Dos Santos Leite De Souza


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