Débora, Barac e Jael. O livramento dos israelitas das mãos dos cananeus.



Embora para a maioria dos historiadores a saída do povo hebreu do Egito seja inverossímil, provas arqueológicas datam a chegada deste povo a região da Palestina por volta do século XII a. C.

Segundo a bíblia, após o êxodo,  a saída do Egito e 40 anos no deserto, o povo de Israel chega a Palestina. A terra prometida. A tomada se dá pelo líder Josué, sucessor de Moisés.Onde a batalha mais famosa é a tomada de Jericó. Onde a muralha dessa cidade caiu com o som das trombetas e dos gritos do povo de Israel.  Após a tomada da terra há a divisão desta entre as doze tribos de Israel.

Após a morte de Josué há entre os filhos de Israel idolatria e culto a outros deuses( Jz 2.11-12), por causa disso Deus os entregou nas mãos dos povos vizinhos, segundo a bíblia "na mão de roubadores", mas Deus levantou "juízes que os livraram da mão dos que os roubaram"(Jz 2.15).

Entre vários relatos encontrados no livro de Juízes está a história de Débora e Barac. No período em que os israelitas estavam sendo oprimidos pelo rei cananeu, Jabim, e seu poderoso exército com novecentos carros de guerra e Sísera seu comandante.

Débora e Barac eram juízes em Israel, segundo Ochoa, Débora profetiza e juíza das tribos de Isacar e Efraim e Barac juiz da tribo de Naftali. O inimigo nessa época era o povo cananeu.(OCHOA, 2003, p. 71). O rei cananeu, ou o que alguns historiadores dizem ser rei somente de Hazor, uma cidade-estado cananéia, era Jabim. E segundo a bíblia Deus “os vendeu a mão de Jabim” porque “os filhos de Israel tornaram a fazer o que parecia mal aos olhos do Senhor”(Jz 4.1-2). O rei Jabim oprimia violentamente os filhos de Israel por vinte anos, e contava com um exército que continha novecentos carros de ferro(Jz 4.3), o comandante de seu exército era Sísera. “Naqueles dias, os carros eram equivalentes aos tanques das guerras modernas, e novecentos carros formavam um exército assustador que quase não dá pra imaginar.” (LOSCH, 2008, p.213) Segundo o historiador Flávio Josefo “os israelitas foram vencidos e dominados por Jabim, rei dos cananeus” que “mantinha ordinariamente trezentos mil homens de infantaria, dez mil cavaleiros e três mil carros. Sísera, general do exército, desfrutava grande favor junto dele, porque vencera os israelitas em vários combates”. (JOSEFO, 2004, p.219)

Nos tempos dos juízes, “as possessões de Israel não constituíam uma unidade territorial perfeita. Apesar das áreas montanhosas da Palestina estarem em sua maioria nas mãos de Israel, ele não podia, uma vez que combatia a pé, aventurar-se na planície para enfrentar os carros de batalha patrísticos das cidades-estados que lá se encontravam.”(BRIGHT, 1978, p.226) Nesse tempo “os israelitas se misturaram com os canaanitas(cananeus)”(BRIGHT, 1978, p.227). Como explicação tomemos as palavras de Bright: “Foi inevitável que alguns israelitas vissem a religião agrária como parte necessária da vida agrária, e começassem a fazer sacrifícios aos deuses da fertilidade. Outros, sem dúvida, acomodavam a adoração de Iahweh com a adoração de Ba’al, e começaram até mesmo a confundir os dois.” (BRIGHT, 1978, p229) Assim como diz nas escrituras “Então, fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do Senhor; e serviram aos baalins. E deixaram o Senhor, Deus de seus pais, os que tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e encurvaram-se a eles, e provocaram o Senhor à ira.”(Jz 2.11-12)  Nesse período a Palestina era uma região muito próspera, com grandes e pomposas cidades. Assim “os hebreus ficaram impressionados com as realizações culturais de seus vizinhos e, aos poucos, foram absorvendo a sua cultura, religião, e o modo de vida daquelas nações.” (LIRA E SILVA, 2007, p.36)

 “A vitória de Débora e Barac(Jz 4-5), embora de data incerta, deve, à luz de provas arqueológicas ser colocada aproximadamente em 1125 a. C., ou um pouco antes.”(BRIGHT, 1978, p.231) A respeito da datação Bright elucida algumas das provas arqueológicas e lança algumas possibilidades no que diz respeito à vitória israelita, com a provável destruição de cidades cananéias. “A batalha realizou-se em Tanac (Jz 5.19); a linguagem implica que aquela cidade existia na época. Mas tanto Tanac como Megido fora violentamente destruídas aproximadamente em 1125 a. C., ou um pouco mais cedo, e transformadas em ruínas, Tanac por mais de um século. É tentador associar a destruição destas cidades com a vitória de Barac.”(BRIGHT, 1978, p.231. nota de rodapé 81)

 “A vitória foi obtida quando uma chuva torrencial alagou os campos e atolou os carros canaanitas, possibilitando que a infantaria israelita matasse todos os seus ocupantes.” (BRIGHT, 1978, p. 231) Para não parecer invenção ou mera conjectura Schultz alerta para um olhar cuidadoso às escrituras, no que diz respeito o desenrolar da batalha entre Sísera e Barac. “Um cuidadoso exame do relato parece indicar que quando os carros de guerra do inimigo estavam no vale de Quisom, uma repentina chuvarada reduzia a vantagem dos cananeus. Os carros guerreiros deveriam ser abandonados ao ficarem atolados na lama (Jz. 5.4, 5.20-21, 4.15).” (SCHULTZ, 1998, p.78) Ainda a respeito da batalha, mais no aspecto tático Losch elucida alguns pontos importantes: “Sísera, desenvolveu com sucesso um exército de coalizão de várias tribos cananeias. Os hebreus confiaram na técnica da guerrilha, enquanto as tropas de Sísera lutaram do modo mais tradicional de confrontação entre exércitos, face a face.” (LOSCH, 2008, p.475) Sísera “guiou novecentos carros de guerra para a planície no sopé da montanha (Monte Tabor). Uma repentina tempestade transformou a planície em um pântano, os cavalos e os carros ficaram atolados e os hebreus desceram da montanha e varreram as tropas dos cananeus. Sísera, porém, fugiu a pé.” (LOSCH, 2008, p.475)

Barac e os israelitas ao verem a multidão de inimigos intentaram fugir mais Débora os impediu. “e ordenou-lhes que combatessem naquele mesmo dia sem temer aquele grande exército, pois a vitória dependia de Deus, e deviam confiar no seu auxílio. Travou-se o combate. Nesse momento viu-se cair uma forte chuva com granizo. O vento impelia-a com tanta violência contra o rosto dos cananeus que os arqueiros e fundibulários não se podiam servir nem dos arcos nem das fundas, e os que estavam armados mais pesadamente tampouco podiam usar as suas espadas, tão enregelados estavam pelo frio. Os israelitas, ao contrário, tendo a tempestade pelas costas, não eram incomodados por ela e ainda sentiam redobrada a coragem, vendo nela um sinal visível do auxílio divino.” (JOSEFO, 2004, p.219)

Após essa batalha, segundo Josefo, “Baraque marchou em seguida para a cidade de Hazor, e derrotou e matou o rei Jabim, que vinha com um exército ao seu encontro. Ele arrasou a cidade e governou o povo de Deus por quarenta anos.” (JOSEFO, 2004, p.220)

A vitória de Débora e Barac é o único episódio, no período dos juízes, em que Israel conquistou um novo território. Nesse tempo todas as suas guerras eram defensivas. (BRIGHT, 1978, p.233) Apesar de ser um período conturbado, com invasões e opressões por parte de povos vizinhos, temos no livro de Juízes a libertação chegando através de campeões que Deus enviava para desafiar os opressores. (SCHULTZ, 1998, p.77) Apesar dos filhos de Israel estarem assolados pela idolatria e apostasia nesse tempo, quando clamavam a Deus e se arrependiam, o Senhor enviava um libertador. Temos o exemplo de Jz 4.3 em que “os filhos de Israel clamaram ao Senhor”. Os juízes podem ser tomados como exemplos de “chefes militares que conduziram os israelitas a atacar o inimigo, foram, como notáveis, Otoniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque, Gideão, Jefté e Sansão. Especialmente dotados com uma divina capacidade, aqueles chefes rejeitaram os inimigos e Israel de novo gozou de um período de paz e tranquilidade.”(SCHULTZ, 1998, p.77)

 Débora que era profetiza e juíza manda chamar a Barac e lhe entrega a ordem de Deus dizendo que os cananeus estavam entregues nas mãos dos israelitas (Jz 4.6-7). A resposta de Barac é de que ele só subiria à batalha se Débora fosse com ele. Então, Débora profetiza que, pela sua falta de fé, a honra da vitória não seria dada a ele e sim a uma mulher. Ao fim da batalha Sísera foge e se esconde na tenda de Jael, esposa de um queneu chamado Héber, segundo a bíblia havia paz entre os queneus e Jabim, rei dos cananeus.  Sísera ao pedir água a Jael recebe leite, nas tradições orientais o leite era “um antigo símbolo de hospitalidade” (LOSCH, 2008, p.219), assim aumentando a cofiança de Sísera de que estaria seguro ali. Sísera então adormece e Jael com uma estaca e um martelo o mata cravando a estaca na sua cabeça. Quando Barac chegou ao acampamento de Héber, Jael foi ao seu encontro e lhe entregou o corpo de seu inimigo. Assim cumpriu-se a profecia de Débora de que a honra da batalha seria de uma mulher.

Bibliografia

BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo, Ed. Paulinas, 1978.

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2004.

LIRA e SILVA, Eliezer de. Débora, uma mulher corajosa. Lição n°7. In.: LIRA e SILVA, Eliezer de. Lições Bíblicas. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 3° Trimestre de 2007. (p. 34-38)

LOSCH, Richar R. Todos os personagens da Bíblia de A a Z: um manual completo para quem deseja conhecer profundamente a vida de cada uma das pessoas citadas na Palavra de Deus. São Paulo: Didática Paulista, 2008.

OCHOA, José. Atlas Histórico de La Bíblia I. Antiguo Testamento.  Madrid: Archivos Acento,2003.

SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.

 Observação do autor: Barac ou Baraque são duas formas aceitas para nomear este personagem bíblico. Tanto que no texto tomei como padrão "Barac", porém nas citações mantive a grafia original das publicações.


Autor: Adilson Cardoso Pires


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