DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A IDEOLOGIA DO SÉCULO XXI



1.     Introdução.

Com o surgimento do Capitalismo e fim do Feudalismo, aquele modo de produção, estruturado, sobretudo nas bases da propriedade privada, do lucro e da produção sem limites, gerou as maiores catástrofes ambientais que o mundo já presenciou. Desde a Revolução Industrial que os grandes senhores do capital vem retirando da natureza, de forma desmedida e incontrolável, os meios necessários para a produção de “suas mercadorias”. Esses meios nunca foram repostos novamente ao meio ambiente.

Nas épocas atuais esses mesmos senhores percebem a necessidade, diante da pressão de diversos organismos que compõe a sociedade, de se criar um novo conceito de desenvolvimento, “descartando” o antigo: surge assim o conceito de desenvolvimento sustentável com a proposta de solucionar os problemas e crises ambientais atuais, concertar os erros do passado e evitar que novos erros se repitam.

Entretanto tudo isso não passa de uma grande farsa, posto que a única perspectiva do conceito de desenvolvimento sustentável possível é a econômica, descartando assim tanto a ambiental quanto a social. Logo, além de percebermos este conceito como um pseudo-conceito, cumpre ao final deste breve artigo questionar o que fazer e apresentar algumas possibilidades que contraponham a esta nova ideologia do século XXI: sustentabilidade.

O trabalho estrutura-se em tópicos que relembram passagens bíblicas, relembrando a ideologia cristã que reinava no período anterior ao capitalismo: no primeiro tópico (No princípio era o verbo!) trataremos das características do feudalismo e apresentaremos como surgiu o capitalismo. No segundo tópico (Apocalipse Ambiental!) apresentaremos a idéia de expropriação da natureza pelo capital, exemplificando-a por meio do fato histórico representado por meio da Revolução Industrial. No terceiro (O Falso Profeta!) demonstraremos que o conceito de desenvolvimento sustentável apresentado por grandes corporações econômicas é um pseudo conceito ambiental, e, por fim O Juízo Final, onde apresentar-se-á as reflexões finais acerca do tema.

2.     No princípio era o verbo!

O feudalismo é um modo de produção que prevaleceu, sobretudo, na Europa Medieval do século V ao XV, muito embora estivesse presente em outras partes do mundo, e, em épocas distintas. Poder-se-ia conceituá-lo, acompanhando Johnson (1997, p. 122), como “[...] um núcleo de relações sociais organizadas em torno da agricultura e do controle da terra”. O controle destas porções de terra, chamadas de feudos, estava a cargo de senhores feudais, que tinham “[...] o direito de apropriar-se para uso próprio de parte do que era produzido pelos camponeses, que viviam presos à terra por tradição [...]”. (JOHNSON, 1997, p. 112). Em contradição a esta elite encontramos os camponeses que apesar de dominados e explorados pela nobreza, “[...] exerciam algum controle sobre os meios e processos de produção e possuíam direitos tradicionais ao uso da terra.”. (JOHNSON, 1997, p. 112).

Mas, foi com o surgimento de um novo grupo social, formado por mercadores urbanos e artesãos que viviam em localidades denominadas de Burgos, motivo pelo qual ficaram conhecidos como Burgueses, que “as pequenas cidades e a atividade capitalista que nelas ocorria desenvolveram-se finalmente a tal ponto que lideraram a desintegração do feudalismo.” (JOHNSON, 1997, p. 112).

Com o fim do feudalismo surge um novo sistema político-econômico: o capitalismo, que é um modo de produção, em que os meios de produção e distribuição são propriedade privada de uma elite econômica, e, não mais do camponês ou do operário. O seu principal objetivo, e quase único, é o lucro e o acúmulo de riquezas, é um sistema baseado na livre iniciativa e auto-regulação do mercado, sem ou com pouca intervenção do estado.

Tem como característica, além das já citadas, a divisão de sua sociedade em duas classes bastante distinta uma da outra: de um lado está uma minoria denominada “capitalista”, ou os donos dos meios de produção e capitais, ou em outras palavras: os burgueses e, de outro lado a grande maioria chamada proletariado, pessoas que vendem sua força de trabalho em troca de um salário que garanta a sua sobrevivência, ou seja, um salário de miséria.

3.     Apocalipse Ambiental!

O capitalismo tem como um de seus elementos fundamentais, além dos outros já expostos, a alienação do trabalhador. Este sofre um processo de alienação dia após dia, a ponto de não reconhecer como seu, o produto de seu próprio trabalho.  Aproveitando-se disso, o burguês expropria cruelmente o trabalhador, retirando-lhe o que Marx passou a chamar de mais valia, ou seja, o “[...] valor que o operário cria além do valor de sua força de trabalho [...]”. (ARANHA e MARTINS, 2007, p. 267).

Diante disto, percebe-se que com o Capitalismo não é só o homem-operário que é prejudicado, posto que a natureza (meio ambiente), também é expropriada. Pois ao longo dos tempos, o capitalismo desencadeou uma corrida desenfreada por lucro, produção exacerbada de mercadorias e acumulo de riquezas, fato este que exigiu e exige cada vez mais disponibilidade dos recursos naturais que são escassos.

Como exemplo histórico da expropriação da natureza realizada pelo capitalismo, pode-se citar a Revolução Industrial, que ocorreu a partir do século XVIII, e “[...] provocou uma rápida mudança nas técnicas e nos instrumentos de trabalho, que por sua vez ampliaram os empreendimentos comerciais e aumentaram a produção.” (SANTOS, 1977, p.189). Esta Revolução teve como seus principais palcos, países como: Inglaterra, Estados Unidos, França, Bélgica e Alemanha, os quais para mover suas novas máquinas necessitavam de grandes montas de recursos oferecidos pela natureza, mais especificamente o carvão mineral, fato que deu início a um grande processo de desflorestamento, poluição, desmatamento, a destruição da biodiversidade, degradação dos solos e, principalmente, o problema que denominamos hoje: aquecimento global. Logo, pode-se concluir parcialmente, que,

[...] o grau de poluição (dentre outros problemas já citados) aumentou muito com a industrialização e urbanização, e a sua escala deixou de ser local para se tornar planetária. [...] A própria aglomeração urbana já é por si só uma fonte de poluição, pois implica numerosos problemas ambientais, como o acúmulo de lixo, o enorme volume de esgotos, os congestionamentos de tráfego etc. (Equipe Monografias Brasil, grifo nosso)

Posto isso, e diante dos diversos alertas que a natureza vem demonstrando, no decorrer das últimas décadas, é imperioso que surja algum conceito que ao mesmo tempo dê uma (pseudo) solução aos problemas ambientais e, mantenha intactas as estruturas do modo de produção capitalista. Este conceito é chamado de desenvolvimento sustentável.

4.     O Falso profeta!

Segundo Arlete Moysés Rodrigues (1993, p.16), o conceito de desenvolvimento é produto do capitalismo, e se consolida no século XX como progresso tecnológico, medido tanto pela produção quantitativa de mercadorias quanto pela disponibilização de serviços nos mais variados mercados (nacionais e estrangeiros). Quase de forma análoga surge o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual vem à tona após a descoberta da crise ambiental provocada por este mesmo modo industrial/capitalista de produzir, fato este citado no tópico anterior.

Com isto, percebemos duas questões de extrema importância: a crise ambiental foi gerada pelo modo de produção capitalista, desenfreado e ávido por lucro; e, a pseudo-preocupação deste mesmo modo de produção, para com o meio ambiente, apresentando uma solução (o desenvolvimento sustentável) que não extrapola os limites impostos pelo próprio capitalismo. Pode-se dizer que: o cerne do capitalismo não se modifica com o conceito de desenvolvimento sustentável, apenas adquire outra roupagem.

Mas, o que é o desenvolvimento sustentável? Para aquela autora, há muitas e, diferentes definições para desenvolvimento sustentável. Podemos dizer que dentre as mais diversas encontramos: de um lado as conservadoras-governamentais, empresariais, que buscam aliviar a pobreza e diminuir a degradação ambiental; de outro as mais radicais representadas por movimentos populares, ecológicos e/ou ambientalistas revolucionários, dentre outros, que consideram que desenvolvimento sustentável significaria: igualdade entre todos os indivíduos, justiça social real, repartição das riquezas, preservação da diversidade cultural e da integridade ecológica, e o fim das classes, da propriedade privada e da pobreza etc.

Percebe-se que na sociedade atual prevalece a primeira perspectiva de sustentabilidade, ou seja: “[...] um desenvolvimento que não seja apenas economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente sustentável.”. (SACHS, LOPES e DOWBOR, 2010, p. 15). Conceito este que gera em alguns teóricos, a sensação de que estamos cercados por um ambientalismo falso profético, onde a “idéia do verde” é utilizada como mercadoria, slogan bem lucrativo, e, as reformas implementadas nada alteram da realidade estrutural capitalista.

5. O Juízo Final!

Cumpre-se especificar que este conceito de desenvolvimento sustentável é a ideologia do século XXI. Com muita facilidade encontramos um programa de televisão, um intelectual, um político, as pessoas mais velhas e as mais novas, ambas, falando de consciência ecológica, desenvolvimento sustentável e tudo o mais. Entretanto, será que essas pessoas se perguntam e procuram investigar se aquelas empresas que se dizem sustentáveis realmente preservam o meio ambiente, se realmente repartem de forma equânime as riquezas produzidas? Será que elas se questionam se aquelas empresas que estão utilizando a marca da sustentabilidade, o fazem apenas para chamar a atenção da mídia e da população, mostrando-se como “bons-moços”, e, conseqüentemente, gerar mais lucro e renda para uma elite e minoria social?

Essas reflexões devem vir à tona para que se possa expor, em tempos de Rio + 20, que o conceito de sustentabilidade apresentado pelas grandes corporações internacionais, pela grande mídia e pelas estruturas burguesas de dominação, ou seja: os Estados, estão preenchidos de ideologia e, que, as crises ambientais que existem não se resolvem com o pseudo-ambientalismo apresentado por estes agentes capitalistas.

Pode-se perceber que a idéia de justiça social, apresentada por eles, é muito pouca para um povo oprimido e expropriado desde o início dos tempos. Este subconceito (justiça social) se exprime quase como assistencialismo, caridade, e, não ataca a estrutura da desigualdade social e da pobreza, posto que enquanto existir o capitalismo: a pobreza e o desemprego lá estarão. A proposta de uma sociedade justa dada pelo FMI, Banco Central, etc., é superficial e antipopular.

O ambientalmente equilibrado esbarra num elemento central do modo de produção capitalista: o lucro. Esta mentalidade capitalista impede que se retire menos do meio ambiente, protegendo-o para as gerações futuras. Ou seja, diante da Ética Capitalista é impossível praticar o princípio da equidade intergeracional, da solidariedade entre as gerações presentes e futuras, posto que com isso: a produção diminuirá e através do efeito cascata o lucro do burguês também diminuirá.

Diante de tudo isto a única perspectiva que vemos viável ao conceito de desenvolvimento sustentável é a perspectiva econômica. Este viés é o único e verdadeiro elemento aplicável deste conceito. Por isso que neste trabalho identificamos tal conceito como um falso profeta, que recria e camufla um conceito já existente desde o século XIX: o de desenvolvimento econômico, numa idéia supostamente nova. Seria quase que: um lobo vestido de ovelha.

Por fim, nas palavras de Sachs, Lopes e Dowbor (2010, p. 4), devemos nos perguntar: “[...] qual desenvolvimento queremos? E para este desenvolvimento, que Estado e que mecanismos de regulação são necessários? [...]”. Acrescentaria a este questionamento que necessitamos de uma verdadeira revolução nas estruturas sociais capitalistas. O Capitalismo não mais é válido para atender aos questionamentos da atualidade. ¿Que tal un nuevo socialismo, compañero?

 

REFERÊNCIAS_________________________________________________________

  • ARANHA, M. L. De A.; MARTINS, M. H.      P. Filosofando: Introdução à      Filosofia. 3ª Edição - Revista. São Paulo: Moderna, 2007. 
  • Equipe Monografias      Brasil. A Degradação do Meio Ambiente. Disponível em: http://monografias.brasilescola.com/biologia/a-degradacao-meio-ambiente.htm.      Acesso em: 12 mai. 2012.
  • JOHNSON      , Allan G. Dicionário      de Sociologia. 1ª Ed. Rio de      Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 316 pgs.
  • RODRIGUES, Arlete Moysés.      Desenvolvimento sustentável: a nova roupagem para a velha questão do      desenvolvimento. In: DE GRAZIA, Grazia (Org.). Direito à cidade e meio ambiente. Rio de Janeiro: Fórum      Brasileiro de Reforma Urbana, 1993. P. 12 - 20
  • SACHS, I. ; LOPES, C.; DOWBOR, L. Crises e oportunidades em tempos de      mudança. Disponível em http://criseoportunidade.wordpress.com/2010/01/20/crises-e-oportunidades-em-tempos-de-mudanca-coordenacao-cientifica-crise-e-oportunidade/.      Acesso em 12 mai. 2012.
  • SANTOS, L. História Geral e do Brasil. 2ª Ed.      Rio de Janeiro: Saraiva. 1977

 


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