Sic Transit Gloria Mundi



Sic Transit Gloria Mundi

 Nessa última sexta eu vi o Pedro Álvares numa pequena cidade do interior de São Paulo. Na realidade cheguei a duvidar que aquele velho gordo e alquebrado pudesse ser ele. Mas aquela careca em forma de coroa, agora totalmente branca, e aquela cara redonda não deixavam margem a muitas dúvidas. Mesmo assim perguntei a um amigo, residente nessa cidade, se aquele velhinho de andar claudicante era efetivamente aquele mesmo sujeito, arrogante e presunçoso de outrora. A confirmação da identidade daquele indivíduo me deixou meditabundo. Era difícil acreditar que aquele combalido ancião, que atravessava com dificuldade uma das ruas daquela cidade, fosse a mesma pessoa que havia me destratado, há quase trinta anos atrás, simplesmente porque eu não o tratara de “coronel”. Mais tarde, fiquei sabendo que esse indivíduo, mesmo reformado, exigia esse tratamento de todos que se dirigissem a ele, incluindo aí os seus próprios familiares. Creio que esse desvio de comportamento pode ser explicado de forma lógica. No meu ponto de vista, o Pedro Álvares se agarrava ao termo “coronel” por julgar que assim estaria livre de cobranças e contestações. Certamente os “anos de chumbo” da ditadura militar ajudaram bastante para esse seu comportamento ridículo. Mas em minha opinião, foi aquele incidente em 1976, quando o Pedro Álvares ainda era major, que cristalizou essa sua curiosa obsessão de exigir, de todos, o tratamento de “coronel”. Naquele ano ele teve de empreender uma fuga vexatória para não apanhar do proprietário de um avião que ele havia danificado. No alto da sua soberba, ele havia recusado a participação desse proprietário naquele vôo de certificação, acidentando-se logo na decolagem. Essa clara tentativa de enquadrar os civis só pode ser explicada por esse incidente. Ele muito provavelmente passou a olhar os civis com aquele mesmo medo que o fez correr daquele proprietário do avião avariado. E na sua cabeça, o termo “coronel” o colocaria num patamar que o protegeria de investidas ou cobranças, até mesmo de civis como aquele proprietário furioso de 1976.

Mas a passagem dos anos é impiedosa e acaba, quase sempre, colocando as coisas nos seus devidos lugares. Além de trazer a ruína física ela também serve para desmascarar aqueles que tentam fazer da sua vida um teatro, jogando por terra todas aquelas coisas ensaiadas com tanto cuidado. E essa é precisamente a situação atual do pretensioso “coronel” Pedro Álvares.

 Marco Dous

17 de dezembro de 2010


Autor:


Artigos Relacionados


Arquivos Mentais Abertos

A Confissão De Pedro.

Promessas

A "frâmura"

Uso Racional De Medicamentos

O Mito Da ''naturalidade''

Na Sua Opinião Os “símbolos” (abstratos Ou Concretos) São Iguais, Para Todos? Sim Ou Não? - Ii