Multinivel: Gigante Com Pés De Barro



Quando iniciei a busca de respostas acerca do MMN (Marketing Multinível) tinha acabado de saír de uma descoberta fabulosa que, realmente, mudou a minha vida. Já lá vamos.

Eu conheci o Multinível através de um cliente. Realmente já tinha ouvido falar, há uns 15 anos atrás fora abordado no meu escritório por um desconhecido, que não voltei a ver, que por sua vez me deixara umas cassetes que eu nunca ouvi. Além disso uma prima minha esteve num multinível durante algum tempo. Isso dava-me o direito de dizer “ah... multinível.... sei muito bem o que é!” Nada que me interessasse a mim, designer gráfico e músico de conservatório, artista portanto. Como muitos artistas desprezava o sucesso financeiro e a minha vida profissional pautava-se por ganhar o indispensável para a familia (o que já não era pouco) e em manter uma auto-estima considerável. Sempre considerei ser capaz de ficar rico, mesmo que todas as evidências me mostrassem o oposto. Com isto quero dizer o seguinte: fui dono de duas empresas, fecharam ambas, a primeira com muitas dívidas que eu fui pagando pessoalmente, a segunda sem grandes dívidas de dinheiro, mas com grandes dívidas de tempo. Mudei de casa uma vez, para pior, troquei de carro 3 vezes, uma para melhor, duas para pior. Muitas horas de trabalho, muitas alegrias pessoais, muita responsabilidade e pouco resultado financeiro são expressões que podem muito bem resumir a minha vida profissional até há poucos anos atrás. Tirando um pequeno periodo em que fui professor no secundário (funcionário público portanto) e militar obrigado (de novo funcionário público) o meu único emprego tinha sido conquistado com suor e lágrimas como designer numa empresa que ainda não existia, mas viria a existir e a ter muito sucesso. Estive aí um ano e meio, e despedi-me 2 meses depois de ter conseguido 80% de aumento salarial. Qual era o meu plano? Rigorosamente nenhum. Esperava conseguir encontrar clientes e estabelecer-me por minha conta. Desde essa altura a minha luta como empresário tinha sido muito solitária, sem ajuda profissional de ninguém, fui desbravando o caminho e construindo o meu negócio de design gráfico.

 

Como disse no início, um dia entrou no meu gabinete, dentro da minha empresa, um homem na casa dos trinta, com umas ideias de fazer uns sites para um sistema de multinível. Devo dizer que, semanas antes tinha encontrado um site a falar de um rendimento extra (exactamente o que eu precisava). Inscrevi-me no site e no dia seguinte alguém me ligou, mas não sei porquê, desinteressei-me. Mas agora, com alguém à minha frente a falar de multinível, de sites, de sistemas de promoção, etc, etc, a minha linguagem, aquilo interessou-me. Pareceu-me uma boa oportunidade de ganhar finalmente muito dinheiro. Eu estava muito cansado da luta. Tinha acabado de fazer 40 anos e parecia que tinha 60. Muito gordo e muito pálido, a minha pele parecia translúcida, esverdeada mesmo, a saúde começava a ressentir-se do estilo de vida de muitas horas de trabalho, excesso de peso e de tabaco e pouco dinheiro.

 

Este potencial cliente, depois de muita insistência da minha parte falou-me da possibilidade de criar um rendimento extra, vitalício e hereditário.

 

Assinei a minha proposta de adesão e tornei-me distribuidor. À minha sede de saber quais eram as regras do jogo o meu cliente (agora patrocinador), não me disse nada, a não ser: “vai a um curso de fim de semana para esclarecer todas as dúvidas e dar toda a informação necessária para poderes iniciares o teu negócio”.

 

Lá fui, vi desconfiado a explicação sobre os produtos, mas fiquei convencido que realmente funcionavam, até porque já os usava há uns dias e podia atestar a sua eficácia. Depois o plano de marketing deixou-me siderado. Tudo explicado, as percentagens, as comissões, os bónus até ao infinito, etc. Fiquei impressionadíssimo e decidi fazer a coisa a sério.

 

Até aqui, tudo óptimo. Ganhei 400€ no meu primeiro dia no novo negócio, que ia fazendo nos intervalos do meu trabalho, ao fim do mês tinha ultrapassado o meu salário. Vi que era real, os números funcionavam e tudo batia certo com o que me fora dito no curso. Realmente muito pouco eu recordava do curso, excepto a excitação diante da possibilidade de finalmente ter em mãos um veículo que me pudesse levar onde sonhara. Aprendi que o multinível se baseia em duas actividades: vender e recrutar, dito de forma simples. Dediquei-me a recrutar, porque, vender, realmente não era bem o meu, apesar te ter clientes e fazer vendas. Contruí uma pequena organização durante o meu primeiro ano, tinha boas primeiras linhas, todos adorávamos os produtos e o negócio. Não tinha entendido o aspecto mais importante do multinível, também ninguém mo tinha dito, e daí, talvez eu esteja enganado... Assim, passei os primeiros 18 meses a lutar por resultados que ia conseguido demasiado lentamente.

 

Como empresário que sempre fui, ainda por cima da área do marketing, sempre pensei que sabia exactamente o que fazer com o multinível. Nunca prestei atenção a quem me falava de formação, até porque eu sei de negócios e não precisava nada de ir aprender como fazer um negócio. Além disso cada uma das minhas primeiras linhas entendia também que sabia exactamente como funciona o multinível e a minha atitude multiplicou-se pelas minhas linhas. Resultado: ao fim de 2 anos: reset. Tudo a zero. A minha organização desapareceu, quase todos continuam a usar os produtos, mas os meus rendimentos cairam quase a zero.

 

Eu nunca pensei que tal fosse possível com o multinível. Sempre pensei que a organização crescesse, não diminuisse. Que toda a gente iria adorar os produtos e o plano de marketing. Engano... Pensei ainda que, se falasse com toda a gente que se cruza no meu caminho iria conseguir fazê-los entender e todos iriam querer os meus produtos e a minha oporunidade. Errado. Afinal o que estava a correr mal? Será que eu não sou talhado para o multinível? Que isso de ficar rico é só para os outros? Com toda a sinceridade muitas vezes pensei que sim. Só não desisti do negócio porque tinha o meu sonho claro como água à minha frente e ia buscar entusiasmo a uma teimosia feroz, herdada da minha mãe.

 

Que se passava então? Porque é que pessoas menos inteligentes tinham mais sucesso? Até os grunhos!! Porque é que, sendo eu inteligente e experiente, não conseguia sucesso de espécie nenhuma, consegui inclusivé perder a minha organização inteira.

 

Se o leitor está a pensar aderir a um multinível, não o faça sem ler este depoimento até ao fim. Pode poupar-lhe muito tempo e uma verdadeira fortuna.

 

Então o que sucedeu? Será o sistema enganador? Será que isto tudo foi inventado para me enganar a mim e a mais não sei quantos incautos? Andaram a brincar com os meus sonhos? Todas estas perguntas eu as coloquei a mim mesmo muitas vezes. Toda a minha organização passou pelas mesmas dúvidas, penso eu, e foram todos embora. Não os consegui ajudar nem esclarecer, porque eu próprio não sabia as respostas.

 

Um dia, 2 anos depois de iniciar a minha empresa multinível, sozinho, isto é, sem organização, tive uma epifania. O responsável foi o meu patrocinador que, soube depois, me ia observando à distância e aqui e ali me dava um toque ligeiro, sem intrusão, mas manteve-me ligado por um qualquer cordão umbilical, sem eu na altura me aperceber.

 

A a minha epifania foi esta: o Multinível é um Gigante com Pés de Barro. Sempre me tinha sido dito: “vender e recrutar” mas num treino no Casino da Figueira, o Jim Rohn disse-me: “A única coisa que andas aqui a fazer é a mudar a vida das pessoas,  começando pela tua. Se não mudares nada muda. Não andamos aqui para vender e para recrutar!” demorei 2 anos a entender que eu tinha construído um negócio baseado em duas pernas, mas para ele não caír são necessárias 3 pernas e a terceira perna é o desenvolvimento pessoal. Não falo de literatura motivacional, nem de pensamento positivo, nem de séries melosas de frases bonitas espalhadas pela net em powerpoits de gosto duvidoso. O desenvolvimento pessoal é “tornares-te melhor em todos os aspectos”. Fisicamente em forma, disciplinado e organizado, com tempo livre para desfrutar da familia, generoso, disponível para ajudar toda a gente, de forma desinteressada, paciente com aqueles que pensam que sabem tudo e fazem todos os erros que tu cometeste, e disposto a dar o máximo, todos os dias.

 

Mudando o chip no teu modo de vida, na tua forma de entender a vida, os valores e as prioridades, a vida torna-se subitamente mais feliz. Não tem nada a ver com o dinheiro, simplesmente os revezes da vida têm um efeito muito menor. Assim tornas-te mais atraente. Sem falares do negócio a ninguém, sem pensares nisso sequer, algumas pessoas aproximam-se de ti. Todos se sentem bem junto de quem está a ir a algum lugar, e, tirando os invejosos que continuam a perder a oportunidade das suas vidas, os outros vão usando os teus produtos e querendo também ser como tu. Crias então uma organização baseada nas relações pessoais, em que todos usam o produtos e todos partilham sonhos, métodos e ferramentas. Esta organização, baseada em valores humanos nunca mais acabará e vai-te fazer rico para lá de todos os teus sonhos.

 

Faz o teu gigante, mas em vez dos pés de barro opta por aprender tudo com os melhores, todos os dias, não uma vez por ano ou por semana. Todos os dias. Um dia os pés de barro transformam-se em betão e tu estás mais rico e mais feliz porque serviste muitos e ajudaste outros a tornarem-se também pessoas melhores.


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Rui Gabriel escreve sobre.... histórias de sucesso


Autor: Rui Gabriel


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