A Escola Necessária (As Confidências dos Banheiros)



RESUMO

Este trabalho é um convite à reflexão sobre a prática do educador enquanto gestor. Buscou-se informações dentro das escolas, não diretamente com os seus gestores, mas sim nas paredes, no lixo, no refeitório, na cozinha, na área de recreação, no carinho implícito, no capricho da decoração dos painéis informativos, nas placas indicativas, no jardim, na área verde, na horta e no banheiro. O objetivo era identificar o que esses conjuntos de coisas poderiam indicar sobre a prática de ensino dos seus gestores, partindo do pressuposto o cidadão que a escola quer formar, objetivo maior de um Projeto Político Pedagógico e também explicito na Constituição Federal brasileira de 1988, no artigo 205 e na LDB, artigo 2º. Foram objetos dessa pesquisa, 100% das escolas estaduais e 88% das escolas municipais da região urbana da cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, onde foram observados os aspectos das instalações prediais dessas unidades escolares, buscando indicações da relação prática X discurso dos seus educadores enquanto gestores. Também utilizou-se os resultados do IDEB de 2007, com objetivo de verificar uma possível existência da relação entre os resultados obtidos pelos alunos das escolas que foram observadas e as condições de conservação e limpeza das instalações prediais, destas. Palavras-chave: Prática versos Discurso. Estética. Qualidade. Conservação e Limpeza versos Ensinoaprendizado.

1 INTRODUÇÃO

O bem maior de uma nação é a qualidade do seu capital humano, que lhe dá condições ou não para superação dos seus problemas. É através da qualidade do capital humano que se produzem riquezas e fazem a divisão destas, diminuído as diferenças socioeconômicas. Uma grande empresa ao contratar um executivo, busca a excelência deste capital humano, exigindo que o candidato tenha alguns pré requisitos e destes, façam parte o capacidade criativa, relação interpessoal, nível moral e capacidade de gestão com qualidade. As escolas estão formando este capital humano com qualidade suficiente para atender o mercado de trabalho? Seus gestores estão imprimindo qualidade no seu trabalho para que isso realmente possa acontecer?

Este trabalho foi buscar estas informações dentro das escolas. Não diretamente com os seus gestores.Mas sim nas paredes, no lixo, no refeitório, na cozinha, na área de recreação, no carinho implícito no capricho da decoração dos painéis informativos, nas placas indicativas, no jardim, na área verde, na horta e no banheiro. O objetivo era identificar o que esses conjuntos de coisas poderiam indicar sobre a prática de ensino dos seus gestores, partindo do pressuposto que o cidadão que a escola quer formar, objetivo maior de um Projeto Político Pedagógico e também explicito na Constituição Federal brasileira de 1988, no artigo 205 e na LDB, artigo 2º, que tratam da educação, o fruto destas orientações e determinações, contribuirá para a formação de um capital humano elevado, ou seja, com qualidade. Mas para que isso possa realmente acontecer é necessário que a escola tenha também qualidade.

Qualidade é o resultado positivo de um conjunto de ações, realizadas no dia-a-dia, em todas as etapas, aplicadas por toda a estrutura, em todos os níveis da equipe, com regras e procedimentos, bem definidos, visando a elaboração de um produto ou prestação de serviços, resultado este, que passa pelo comprometimento de toda a equipe com os objetivos da empresa, considerando os fatores humanos, físicos e psicológicos, para atingir a qualidade almejada.

Segundo Paulo Freire, [1] o educador deve vivenciar a prática do discurso. Isso significa que para falar de hábitos de higiene, do capricho com o trabalho, organização e disciplina, tem-se primeiro, zelar pela qualidade da higienização de todas as dependências da escola e prezar pela qualidade na manutenção predial, primar pela qualidade das aulas, buscar a excelência na elaboração das refeições, utilizar-se de livros e materiais didáticos que possam contribuir positivamente com criatividade e o "aprender a aprender". Neidson Rodrigues [2] em seu livro "Da Mistificação da Escola à Escola Necessária" fala das habilidades essenciais ao educador à uma escola necessária, do nível de comprometimento de um educador. É importante frizar que o autor se refere às condições para se ter uma escola realmente democrática, que hoje se denomina Gestão Participativa, visto isso, fica evidente o envolvimento de toda comunidade escolar, concentrando esforços para oferecer uma escola mais eficiente, comprometida com as necessidades da sociedade.

"O educador não pode julgar que a atividade da educação funciona do mesmo modo que a de um trabalhador de fábrica. Não há como o educador começar a ser educador na hora em que bate o ponto e deixar de sê-lo na hora em que o relógio indica o fim do expediente."

Do educador se exige uma constante ocupação com o ato educativo. Ele tem de ser. È uma questão de ser não uma questão de situação. Exige-se, portanto, um crescimento dessa consciência política, que se obtém no próprio processo político do trabalho."

"À medida que o educador, enquanto educador compreende a importância social do seu trabalho, a dimensão transformadora da sua ação, a importância social, cultural, coletiva e política da sua tarefa, o seu compromisso cresce".

Atentem para o novo uniforme das escolas estaduais. Cinza! Será que é para disfarçar a falta de higiene dos nossos alunos. Em empresas como a Faurecia do Brasil, fabricante de bancos de automóveis, fornecedora da PSA Peugeot Citrôen do Brasil, o uniforme é todo branco, para que sujeira possa ser vista, garantindo a limpeza do produto.Para o Estado tem-se ocultar a sujeira? E quanto o mau cheiro, também oriundo da falta de hábitos de higiene? Qual é a solução para disfarçar? Será o fumacê, passando quem sabe, pelas escolas em todos os turnos diariamente ou promover a "manutenção" daquele valão, bem pertinho desta? Tomem como pressuposto que a escola é reprodutora de padrões de comportamento, logo se pode afirmar que os padrões encontrados na escola são reproduzidos.

O questionamento mais importante da escola, na elaboração do projeto político pedagógico é: "Que cidadão quero formar?" e depois de muitos debates, embates, apartes e por fim um senso comum ou da maioria, é definido, por exemplo, que "o cidadão que a escola quer formar," é um cidadão crítico, criativo, capaz de exercer influências positivas na sociedade a qual pertence. Para atingir tal objetivo a escola deve ter qualidade, a escola deve ser lugar propício para a prática ensinada, deve ser exemplo de uma sociedade pretendida, desde a suas instalações, com a qualidade impressa em todos os aspectos.

Os PCNs no volume 9, que trata do Meio Ambiente e Saúde, recomendam abordar hábitos de higiene como assuntos, transversais, mas como fazer isso se a escola como um todo, não vê neste assunto importância. Pelo menos é isso, que indica na prática o estado dos banheiros e demais dependências de 53% das instituições educacionais que foram objeto dessa pesquisa. Quem são os responsáveis por isso?, o governo! Uma boa parcela dos educadores dirá. Tem-se que pensar, no mínimo, que muitos gestores não dão importância ao aspecto físico da escola. Portanto, não fazem a manutenção preventiva, deixando a situação ficar caótica para então solicitar ao governo, uma reforma cara, que se tiverem sorte, só será executada próximo ao período eleitoral, ao menos é o que mostram os históricos das gestões governamentais. Em geral apesar de serem conhecedores dos seus compromissos, a prática de muitos é incoerente com a missão da escola. A tônica do educador deve ser a vivência do seu discurso, para que possa existir coerência, facilitando a compreensão do mundo, não apenas na subjetividade do discurso, mas com exemplos.

Considerando o que diz a Constituição Brasileira de 1988, no seu artigo 1º, que os fundamentos do Estado Democrático são: a soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Tomando-se com pressuposto a expressão: "a dignidade da pessoa humana", as escolasdeveriam ser bem cuidadas, bonitas e bem higienizadas. O fato da escola apresentar um aspecto ruim pode ser um indicador de uma gestão deficitária. As escolas deveriam ser dotadas de todas as condições favoráveis para uma educação "transformadora". As suas instalações devem ser exemplos da prática que se quer difundir. É contraditório se não for assim. É óbvio que muitas das vezes, durante a pesquisa, outras indicações apontavam que a deficiência da limpeza em algumas escolas, era conseqüência de outros fatores; tais como a falta de ASGs no quadro de funcionários ou a falta de comprometimento de alguns funcionários, concursados ou indicados, que se valem de atestados duvidosos ou apadrinhamentos políticos. Mas mesmo diante de tantos problemas que possa existir, o gestor, enquanto educador deveria vivenciar o seu discurso. Deveria ser crítico, então político, colocando para a sociedade as dificuldades de uma gestão para oferecer qualidade e buscando o apoio dos políticos influentes na comunidade, ao qual a escola está inserida, visando o saneamento dos problemas da instituição. Mas isso é muito difícil acontecer, porque existem outros fatores, que levam muitos gestores a não lutar contra forças negativas, internas e externas como o medo de retaliação política oficial ou marginal, o conceito próprio de gestão escolar ou simplesmente a priorização de outras questões.

As escolas públicas da zona urbana de Resende são na maioria, um pouco melhores que a maioria das casas dos seus alunos e do bairro da escola. Em algumas escolas as salas de aula possuem o mesmo odor dos ônibus lotados e seus banheiros o mesmo odor "daquele banheiro público horroroso".Para o aluno, os ambientes, dentro e fora da escola, ficam nivelados por baixo. As condições das paredes, piso, mobiliário e instalações hidráulicas e elétricas, sempre necessitando de manutenção, condições comuns para o aluno, que o levará a seguinte reflexão: "Este é o meu mundo! Pobre, feio, fedorento, onde as coisas acontecem pela metade, de qualquer jeito". E estas condições, com certeza, não são propícias para que uma criança tenha um nível de autoestima desejável, que a leve a aprender e desenvolver-se, tornar-se um cidadão crítico e criativo. Tudo é desfavorável.

Este trabalho é um convite à reflexão sobre um olhar diferente sobre os problemas das instituições educacionais da rede pública, estadual e municipal, sobre o que as estruturas físicas destas instituições estão confidenciando.

2 O QUE OS BANHEIROS CONFIDENCIAM

Para que fosse possível verificar possíveis indicações do grau do comprometimento do educador e se este tem vivenciado a prática do seu discurso, optou-se por uma pesquisa, que compreendeu os métodos de entrevista e observação. Foram objetos dessa pesquisa, 100% das escolas estaduais e 88% das escolas municipais da região urbana da cidade de Resende, estado do Rio de Janeiro, onde foram observados os aspectos das instalações prediais, dessas unidades escolares, buscando indicações da relação prática X discurso dosseus educadores enquanto gestores. Para manter sob sigilo a identidade destas instituições educacionais, objeto desta pesquisa, foram codificadas com as letras de A a T . Também utilizou-se os resultados do IDEB de 2007, com objetivo de verificar uma possível existência da relação entre os resultados obtidos pelos alunos das escolas que foram observadas e as condições de conservação e limpeza das instalações prediais, destas.

Após uma análise dos dados recolhidos, constata-se que 83% dos gestores das escolas públicas da rede de ensino municipal e estadual, possuem o mesmo discurso. Perguntado qual era o principal papel da educação, responderam, não exatamente com as mesmas palavras, que era "a formação de um cidadão crítico e criativo, consciente dos seus direitos e deveres...".

93% dos gestores relataram que a maior queixa dos professores, referente aos alunos, é falta de estrutura familiar, visível na falta de limites, na falta de hábitos de higiene, na falta de perspectivas e desinteresse pelas aulas. Isso reforça a idéia de que escola deve assumir o papel de trabalhar valores e hábitos de higiene.

GRÁFICO 2: Dados das escolas públicas, referentes à 2ª pergunta da entrevista: Qual é a maior queixa dos professores desta escola, com relação aos alunos?

No caso da escola "A" a única luminária da sala da direção está fixada na parede a dois metros de altura, oferecendo uma péssima luminosidade. A impressão que se tem é que o eletricista vendo a altura do pé direito desta sala, que deve chegar aos seis metros, optou por uma solução mais fácil. Pelo visto a direção concordou com a solução ou tenha partido dela, esta. Professor não tem que ser conhecedor técnico de instalações elétricas e hidráulicas, ou qualquer outra área que não seja da área especifica de educação. Mas neste caso em particular, faltou no mínimo o bom senso e questionar este serviço, porque nitidamente a luminosidade estava ruim. Isto pode ser uma indicação de incapacidade administrativa.É importante dizer que apesar da existência de indicações de problemas nesta gestão, outros fatores indicam o contrário, por exemplo: a manutenção de duas jardineiras de calachoes, logo na entrada; apresentando também uma grande área verde, bem cuidada. Esses aspectos podem dar a indicação que seus gestores acreditam que um ambiente agradável possa contribuir positivamente no processo da aprendizagem.

Outro caso que indica má administração é o da escola "C" onde no início do ano após uma tempestade, desabou, possivelmente por problemas na amarração, a cobertura de estrutura metálica da quadra esportiva, erguida há pouco tempo.

O fato é que a empresa contratada para realizar esta obra, alega não constar do contrato uma indenização para sinistros desta natureza. Nesta mesma escola foi construído recentemente um banheiro para os meninos. Na ocasião das observações dessa pesquisa, uma educadora confidenciou que o aluno necessitando de fazer uso do banheiro, teria que chamar um funcionário responsável pelo controle do uso deste, para abri-lo. Essa atitude foi tomada após a prática de vandalismo por alguns meninos, que espalharam fezes pelas paredes do banheiro, cujo odor fétido ainda estava entranhado nos azulejos. Deve haver outras soluções para o problema. Ainda nesta escola a biblioteca fica confinada num espaço mínimo, que pode ser considerado um depósito de livros. Possuindo um espaço livre para atender seis alunos, bem apertadinhos.

Apenas 16% das escolas possuem lixo seletivo, contra 84% que podem indicar que não estão nem aí para as questões ambientais. Aliás, em uma das escolas municipais observadas, havia um conjunto de coletores de lixo seletivo, mas na averiguação, constatou-se que o objetivo do conjunto naquela instituição era apenas de decoração ou "para inglês ver" e não foi considerado, portanto, na pesquisa.

Com relação ao aspecto dos banheiros, 37% apresentam um nível regular e 11% com um nível muito ruim. Podem ser indicadores, dentre as variáveis possíveis; que seus gestores não estão capacitados, ou existam muitos problemas internos e externos, que comprometam a qualidade da gestão. Os dados também revelam percentuais positivos de 11% para o nível muito bom e 41% para bom.Isto pode indicar que existem um percentual significativo de gestores comprometidos com a missão proposta nos PPPs. Neste aspecto as escolas estaduais estão um pouco melhores que as municipais, talvez em função das últimas reformas, apesar da escola "T" que é estadual, apresentar o pior banheiro masculino da rede pública da região observada. Este possui inscrições com fezes.

Indicações positivas significativas foram encontradas em duas escolas municipais e duas escolas estaduais, estas escolas primam pela qualidade da limpeza e aspecto estético dos seus banheiros, com um nível excelente de odor. Podem ser indicadores que seus gestores possuem carinho e dedicação na prática educadora, registrados no cuidado com o jardim e área verde, mas nem tudo é maravilha, dessas apenas uma possui lixo seletivo.

Ao visitar as unidades dos CIEPs, é fácil constatar que devido as suas dimensões enormes, arquitetura "fria" e problemas em seus quadros de funcionários, a sua manutenção é difícil e de custo elevado. Os recursos aportados diretamente nestas unidades, talvez não sejam suficientes para suprir as necessidades deste modelo de escola. Cabe aqui uma outra pesquisa para verificar esta questão. Estas unidades foram projetadas a partir dos ideais de Paulo Freire e Darci Ribeiro, para educação, entendendo que uma escola deveria oferecer uma grande área de recreação, provida de parque, ginásio esportivo, estes com vestiários e banheiros dotados de chuveiro, para que os alunos pudessem tomar banho após as atividades esportivas e que no projeto original, seria uma escola de tempo integral, dando a oportunidade aos educadores trabalharem os temas transversais; hoje recomendados pelos PCNs.

Percebe-se que algumas escolas públicas estaduais passaram por uma boa reforma, por conta da atuação do ex-secretário estadual de Educação, Nelson Maculan, que durante a sua administração promoveu a reforma de muitas escolas. Vale lembrar que o ex-secretário é engenheiro, logo, este fato pode justificar a preocupação com a manutenção das escolas. Em Resende as duas escolas estaduais, mais antigas, passaram por uma grande reforma e uma delas, pelo menos no aspecto estético, pode-se tomar, hoje, como referencia de padrão de escola desejável. No quesito aspecto geral as escolas estaduais são superiores. As suas instalações estão em melhores condições.

Com o objetivo de verificar a relação do aspecto da estrutura física da escola com o rendimento escolar do aluno, cruzou-se as informações colhidas na pesquisa feita diretamente nas escolas, com os resultados dos seus alunos, de turmas iniciais, no último exame da Prova Brasil, base de cálculo para o IDEB, tomando como base a média nacional das escolas públicas que é 4,2 e considerado neste cruzamento os resultados, igual ou maior que 4,0. Observa-se um total de oito instituições, sendo estas, "B, D, G, H, J, L, N e R", que possuem estes índices. Destas, cinco escolas, B, G, J, N e R, apresentaram um bom nível de conservação e limpeza nas instalações prediais, que nesta pesquisa é identificada como aspectos gerais. Especificamente tratando do estado de conservação, limpeza e odores dos banheiros, as escolas "B" e "N", classificadas como regular, "G" apresentou aspectos bons e "J" e "R" muito bons. É importante destacar que a escola "J" que obteve a melhor classificação nesta pesquisa, também obteve a média mais alta, 5,3. As escolas "D e L" apresentaram aspectos gerais ruins, mas seus banheiros foram classificados como regulares. Considerando o aspecto geral da escola "D", que pode ser comparada ao Carandiru (real e ficção), apesar dos problemas, obtém um índice de 4,0 nas turmas inicias, mas tem o segundo pior índice nas turmas finais (3,0) dentre as escolas que foram objeto desta pesquisa, isso pode indicar que os professores das turmas iniciais, apesar do quadro negativo, estão fazendo a diferença na vida dos seus alunos. A escola "H" apresentou aspectos gerais regulares, com bons aspectos em seus banheiros.

Abaixo do índice proposto, encontram-se duas situações interessantes: A escola "S" apesar de apresentar um bom aspecto e apresentar um nível razoável no aspecto dos seus banheiros, possui o pior índice, 2,8. Talvez o fato da escolar estar dentro de uma região conhecida como "Zona do Medo", com um histórico de alto índice de violência, possa explicar o baixo rendimento na avaliação do IDEB. O outro registro interessante é o fato da escola "T" que apresentava um aspecto geral bom e um banheiro horrível, obteve a média de 3,3. Isso pode ser a confirmação da relação direta da influência do ambiente escolar no aprendizado do aluno.

Considerando os registros do quadro acima, pode-se verificar a existência de indicações sobre a relação entre as condições de conservação e limpeza das instalações de uma instituição educacional, com o processo ensinoaprendizagem. Fica mas evidente esta relação, comparando a média do IDEB ao estado de conservação, limpeza e odores dos banheiros.

Não participaram desta análise; a escola "I", por ser uma instituição exclusiva de ensino médio e as escolas "M, Q" e "O" por não possuírem turmas iniciais.

3 POR UM AMBIENTE FAVORÁVEL AO PROCESSO ENSINOAPRENDIZA-GEM

Para o embasamento deste trabalho buscou-se alguns autores como Paulo Freire, [3] que diz em sua obra "Pedagogia da Autonomia" (Saberes necessários à prática educativa), "Ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria" ainda no capitulo 1.5 da mesma obra diz o seguinte:

"A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado da estética. Decência e boniteza de mãos dadas".

Paulo Freire diz que só se sai da ingenuidade para se tornar crítico através de educadores comprometidos com a ética. Ser ético é dar o seu melhor, produzindo o máximo de esforço para que o ambiente escolar seja acolhedor; propício para a aprendizagem. Neste mesmo livro Paulo Freire fala da importância desta escola necessária:

"É incrível que não imaginemos a significação do "discurso" formador que faz uma escola respeitada em seu espaço. A eloqüência do discurso "pronunciado" na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos sanitários, nas flores que adornam."

A tese de doutorado do pesquisador Paulo Roberto Padilha, [4] Diretor de Desenvolvimento Institucional do Instituto Paulo Freire, Doutor e mestre em Educação (FEUSP), intitula-se "Currículo Intertranscultural: por uma escola curiosa, prazerosa e aprendente". Explicitamente tem um discurso pela estética, pelo belo. Sendo isso um dos fatores preponderante para um bom desenvolvimento da criança e do adolescente e também para um bom desempenho dos profissionais desta escola desejada.

"Quem gosta de freqüentar uma escola suja, feia, depredada, pichada, cheia de muros e de grades? As condições da estrutura física e materiais da escola devem ser uma preocupação constantepara o bem-estar e o bom desenvolvimento de todas as ações no local de trabalho.

Deve-se preservar ainda no espaço escolar, a conservação das dependências e dos diferentes espaços como: o jardim, as possíveis áreas livres e esportivas para que alunos, professores e a comunidade da escola, possam ocupá-las e freqüentá-las de forma agradável, alegre e prazerosa. Mas isso só, não é o essencial. Temos que dar uma importância maior à qualidade e à beleza das relações pessoais, interpessoais, intrapessoais e grupais que nela (escola) possamestabelecer prioritariamente.

Na comunidade escolar todos esse fatores são imprescindíveisna organização desses espaços de trocas e de relações, que todospossuem para se dedicar,reivindicar e lutar politicamente por eles e, por conseguinte, conquistá-los. Nenhuma mudança fundamental acontece gratuitamente, sem esforços, sem luta e sem conflito. Essa é também uma dimensão política do ato educativo".

Buscou-se também reportagens que tratassem das dificuldades da educação brasileira e soluções para estas, como por exemplo, a questão da dificuldade de gerir funcionários públicos e ações que alguns governos estaduais estão utilizando-se para melhorara qualidadedo serviço público dentro das escolas. Nestas buscas encontrou-se uma reportagem, datada de 2008, do Jornal Folha da Região (Araçatuba – SP), [5]que traz a uma notícia sobre a distribuição na rede pública estadual de ensino de São Paulo, um manual de conservação, limpeza e manutenção, que tem como objetivos a padronização, economia e a melhora da qualidade desses serviços.

Nesta matéria pode-se verificar a preocupação do estado em oferecer aos alunos uma escola mais bem cuidada.

"Todas as 5.500 escolas estaduais recebem a partir desta segunda-feira, 25 de fevereiro, um manual de conservação, limpeza e manutenção. O objetivo da Secretaria de Estado da Educação é padronizar estes afazeres, para que as unidades mantenham condições adequadas para os cerca de 5,5 milhões de estudantes da rede. A obra traz dicas e informações importantes que contribuirão inclusive para a economia de recursos na hora das manutenções. Com o título "Roteiro para Conservação de Edifícios Escolares da Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo", foi elaborado por técnicos da Fundação para o Desenvolvimento da Educação, órgão vinculado à Secretaria.

"Essa atuação preventiva é essencial para que sejam evitados grandes problemas, que muitas vezes prejudicam o andamento das aulas. Até agora não existia um manual de conduta, o que fazia muita falta. Agora há um roteiro preventivo de ações", afirma a secretária de Estado da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro."

A edição especial da Revista Nova Escola, [6] de março de 2007, traz uma reportagem registrada em nove páginas, que vem ao encontro à abordagem do tema deste trabalho. Durante três meses a editora Roberta Bencini e a fotógrafa Marie Ange Bordas, através de uma oficina de fotografia, trabalharam com 24 estudantes, entre 11 e 15 anos, de duas escolas públicas da Grande São Paulo, com o objetivo de registrar o olhar do jovem sobre a escola. Através dos vários depoimentos falam do quanto é ruim ser aluno de uma escola maltratada, o descaso de professores e funcionários e da sensação de estarem dentro de um presídio. Também existe o reconhecimento que muitas das vezes são responsáveis pelos conflitos e depredações das instalações.

4 A PRÁTICA DO EDUCADOR E O MITO DA CAVERNA

Quando o educador não percebe ou não aceita tantas indicações, leva-nos a diagnosticar duas situações: O educador não possui condições de fazer tal análise ou mesmo de compreendê-las, logo, não deveria ser gestor do conhecimento. A outra hipótese é que o educador não tem compromisso com a educação. É educador e poderia ter qualquer outra profissão que lhe rende-se o mesmo ganho, com o menor esforço possível. As circunstancias levaram-no a "estar" educador. Aceitar uma verdade, muitas vezes requer abandonar uma estabilidade e "navegar por mares nunca dantes navegados". É compreensivo o receio, pela mudança de postura, diante das questões que se fazem necessárias, mas não aceitável, por que como educador, tem o compromisso com a verdade. Tem que ser ético e crítico. Não pode fazer de conta que tudo está bem, quando não está.

Paulo Freire diz que o educador deve ser ético e ter o compromisso com mudanças sociais. Ao dar crédito a suas idéias, o educador tem que ser crítico, para que o aluno também - o seja. Sendo critico, por consequência também político. É inconcebível o educador dizer que não gosta de política. No mínimo mostra um despreparo para a profissão.O educador para promover mudanças tem que ser líder. Não líder nato. Mas do líder emergido da autoridade advinda dos conhecimentos dos conteúdos, técnicas pedagógicas, da sua prática, do desejo e a necessidade de ser fomentador das mudanças que a sociedade tanto anseia.

5 CONCLUSÕES

Ao analisar estritamente os percentuais da classificação dos níveis das condições de manutenção e limpeza das escolas públicas do município de Resende, pode-se achar que a educação pública em Resende está mais ou menos e encontrar neste fato, algo positivo. Mas ao considerar que quase 50% desses alunos estão matriculados em escolas classificadas com razoáveis e ruins e que este percentual representa um universo de 15 mil alunos e considerando também que esses alunos estarão em breve, participando dos processos seletivos do mercado de trabalho, onde as melhores renumerações ficarão, com os candidatos que apresentarem um nível de conhecimento mais elevado, com capacidade de seguir procedimentos e especificações técnicas, que sejam capazes de solucionar problemas ou contribuir com idéias revolucionárias, para atender um mercado cada vez mais exigente e que dificilmente estes alunos serão bem sucedidos, porque a educação que estão tendo é razoável e não excelente, diante de um mercado de trabalho que busca a qualidade.

O indício de uma relação direta, verificado no cruzamento das informações obtidas nesta pesquisa, apontando que os alunos com os melhores aproveitamentos, são oriundos das escolas com as melhores classificações, reforçam a tese da necessidade de uma escola com mais qualidade. Ao promoverem uma investigação sobre os vinte melhores resultados do último ENEM, verão que estas escolas particulares e públicas, possuem em comum. Além dos bons resultados, são instituições bonitas, dotadas de jardins, áreas verdes, em suma um lugar prazeroso.

É lógico que os problemas de conservação e limpeza, muitas das vezes possuem origens em outros fatores, que comprometem a gestão escolar, como: a falta de comprometimento dos funcionários, o descaso por parte do poder público e as depredações promovidas por alguns alunos.

A história recente, os noticiários do presente, indicam a existência de déficits de bons princípios de valores, déficits intelectuais e déficits de higiene, na sociedade brasileira, e é através da educação que se poderá reverte este quadro. Mas isso só será possível quando esta for vista, pensada, reestruturada de forma que alcance toda a abrangência do significado da palavra educar. Só através de uma escola necessária a sociedade poderá ser mais justa, pensando e agindo em prol do coletivo. O Brasil deixará de ser o país onde todos querem levar vantagem, fazendo a política da prevenção a todos os atuais problemas sociais, com uma só ação, promovendo profundas mudanças na sociedade brasileira. A conscientização da valorização da educação pelo poder público, não como parte de uma manobra eleitoreira, mas sim advinda dos políticos comprometidos com as transformações necessária, comprometidos com a escola necessária, para que estas transformações possibilitem no futuro, uma análise internacional positiva dos indicadores sociais do Brasil, colocando-o no cenário internacional como um porto seguro para os investidores estrangeiros. Tornando o produto brasileiro sinônimo de qualidade no mercado internacional, porque o país estará na vanguarda das pesquisas e detentor de importantes e valiosas patentes.

Para construir uma escola necessária, os governantes deveriam atentar para as necessidades reais de uma instituição educacional, que tenha como objetivo formar uma sociedade de qualidade, que para tanto, deva apresentar uma arquitetura que possa expressar-se "lugar de gente", configurando-se, por essa via, em sinônimo de lugar agradável. Ter na sua concepção, um estudo prévio quanto à localização, dimensões, área com uma topografia mais adequada, enxuto, amplo e arborizado se possível, guardando distância em relação às ruas e aos prédios vizinhos, com espaços específicos para as atividades esportivas e artísticas.Sua construção deveria exercer sobre as crianças um papel pedagógico abarcando os propósitos de desenvolvimento dos hábitos de higiene, criatividade e moral, conformando-as aos padrões de vida considerados civilizados. Que tenha esta escola condições de exercitar a ética em suas ações, para que seus valores estejam entranhados tão profundamente, que suas decisões estejam sempre de acordo com estes. Corretas e dignas. Afinal, Lawrence Kolhberg [7] diz que o nível moral é desenvolvido de acordo com os princípios de valores agregados e a capacidade de análise de cada indivíduo e que a moral pode ser aprendida. Logo, deduz-se que internalizados bons valores, as ações de vandalismo, motivo das más condições de muitas escolas públicas, cessariam. Seria a solução para o déficit moral, cultivado há 509 anos, que corrompe e é corrompido e vem deixando muitas famílias a margem da divisão das riquezas geradas no país, por conta dos desvios das verbas públicas e por falta de uma política educacional, compromissada com a melhoria do nível intelectual e moral da sociedade brasileira.

Ao largo do foco deste trabalho, durante as buscas por informações que pudessem se agregadas à sua construção, encontrou-se muitos pesquisadores, jornalistas e políticos discorrendo sobre a meritocracia, que foi implantada em 2002, nas escolas públicas de New York e que tem obtido resultados positivos. Fundamenta-se, essencialmente, na implantação de um sistema de gestão voltado para resultados, como ocorre no ambiente empresarial. Gestores de escolas que conseguem atingir as metas estipuladas - redução dos índices de evasão e repetência, desempenho favorável dos alunos nas avaliações, recebendo incentivos financeiros como forma de reconhecimento. Também lhes é conferida autonomia para repartir o bônus, conforme os critérios que julgarem convenientes, permitindo que os professores com desempenhos satisfatórios também sejam premiados. É, portanto, uma alternativa para mobilizar, concretamente, todos os níveis que compõem a escola para o alcance da excelência na educação.[8] Alguns estados brasileiros, como Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, já estão trilhando por este caminho e já existem aqueles que são contra e os que são à favor da implantação da meritocracianas escolas. Alguns sindicatos de professores e profissionais da educação já se manifestaram contra esta política, colocando em dúvida as eficiências dos instrumentos utilizados para mensurar o desempenho das instituições, bem como a lisura deste processo. Por outro lado observou-se vários pesquisadores que tecem comentários favoráveis a meritocracia, enxergando uma real possibilidade de ascensão da carreira de educador, além de acreditarem no seu resultado positivo. Talvez seja esta a solução para a motivação dos docentes e discentes, na empreitada da construção e reconstrução do aprender e ensinar com significação.

O sonho de voar de Leonardo da Vinci era considerado por muitos, impossível. Até Santos Dumont, de um lado e os irmãos Wright, de outro, inventaram uma máquina voadora. O avião! Americanos e russos pensaram que poderiam voar mais alto. Ir à lua! Os dois chegaram ao espaço. Os americanos pousaram no solo lunar e muitos ainda não acreditam que o homem tenha pisado lá. Que isso não passa de uma conspiração americana, para ter destaque entre as grandes potências. Ainda existem pessoas que acreditam que manga com leite faz mal, como existem "educadores" que acreditam que o seu papel é apenas de transmitir conteúdos programáticos e que as questões de hábitos de higiene e princípios de valores é de exclusiva responsabilidade da família.

Este trabalho só quer promover uma reflexão entre aqueles que pensam e fazem à educação deste país, sobre a necessidade de ambientes limpos e bem conservados, com jardins floridos, com arte, transbordando conhecimento. Um lugar propício para o educar, com gente ensinando e aprendendo. Uma escola necessária, um lugar feliz.

REFERÊNCIAS

BARROS, Célia Silva Guimarães. Pontos de psicologia do desenvolvimento. 6 ed. São Paulo:Ática, 1991.

BRASIL, Constituição Federal Brasileira, 6 de outubro de 1988.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais:Ministério da Educação. Secretaria da Educação. Fundamental. volume 8, Apresentação dos Temas Transversais e Ética, 3.ed. Brasília: 2001.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais:Ministério da Educação. Secretaria da Educação. Fundamental. volume 9, Meio Ambiente e Saúde, 3.ed. Brasília: 2001.

BRASIL, Lei 9394/96, Lei de diretrizes e bases da educação nacional, 20 de dezembro de1996.

ESCOLAS ESTADUAIS TERÃO MANUAL DE CONSERVAÇÃO, LIMPEZA E MANUTENÇÃO, Disponível em: http://www.folhadaregiao.com.br/noticia?85854. Acesso em: 08 de julho de 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, 5.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

O BRASIL QUE QUEREMOS SER, Disponível em : http://veja.abril.com.br/40anos/blog/monica-weinberg/index.shtml. Acesso em: 5 de agosto de 2009.

PADILHA, Paulo Roberto. Currículo Intertranscultural, São Paulo: Cortez, Coleção/Série: Biblioteca Freiriana, v.8, 2004.

REVISTA NOVA ESCOLA. "Uma relação de amor e ódio", 200.ed. São Paulo: Editora Abril, março de 2007.

RODRIGUES, Neidson. Da mistificação da escola à escola necessária, 9.ed. São Paulo: Cortez , 1993




Autor: LUIZ ROGERIO PRADO AZEREDO


Artigos Relacionados


Refletindo A EducaÇÃo

Pra Lhe Ter...

Blindness

Por Que Fazer Estágio?

Tudo Qua Há De Bom Nessa Vida...

A Paz Como Realidade

Soneto Ii