O Tratamento do Jornalismo Cultural no Jornal Cinform



Artigo desenvolvido por: Arícia Menezes, Brunca Carvalho, Jéssica Lieko, Marina Lopes e Raquel Passos, orientadas por Polyana Bittencourt.

INTRODUÇÃO

Formas de agir, pensar e se portar diante da sociedade, criando vínculo com o cotidiano, demonstram um pouco o que diz respeito aos costumes de um povo. Buscam-se conceitos que tragam informações sobre o que é cultura no âmbito nacional para adequá-los na realidade sócio-cultural sergipana. E, tendo essas maneiras de se relacionar interligadas com o histórico da região, o cidadão cria um elo forte com o cotidiano: o aproxima do quadro de valores culturais daquele povo.

O desenvolvimento social de um indivíduo tem influência direta com o que os aspectos culturais denotam e marcam a sua própria personalidade e, por sua vez, são praticamente dissociados com o tempo/momento. Daí a importância dos meios de comunicação de massa dissipar a idéia de valor cultural existente em cada sociedade. Em primeiro lugar, informar, promover reflexão, divulgar, incentivar e interagir devem ser conjugados constantemente. Assim, o segundo passo e o objetivo final, são alcançados pela intenção que rege a retórica da mídia.

Caderno de cultura em jornal impresso é estrategicamente posicionado como último a ser folheado para descontrair o leitor que percorrera todo o veículo por assuntos pesados e polêmicos. Esse se sobressai, em termos reflexivos, justamente por tratar de temas leves, proporcionando conteúdo de uma forma que o receptor sinta-se incluído nesse contexto. Porém, muitas vezes, não é com esse perfil que a temática é tratada e, assim, a relevância de seu conteúdo é quebrada.

Tratando-se da temática, conceitos de autores como Shapiro, Geertz, Daniel Piza são cabíveis para sustentar o ponto de vista em relação à cultura no viés nacional. E estudiosos como Aglaé Fontes e Luis Antônio Barreto dão voz na esfera regional – em Sergipe, para ser específico. Assim, a discordância existente nessas duas vertentes é realçada.

1.O que é Cultura

Apesar de o conceito de cultura variar um pouco de autor para autor, a maioria deles converge em uma idéia básica para descrevê-la: o costume. Cabe a ele possuir os mais variados hábitos peculiares a cada indivíduo que os obtemno dia-a-dia. Geertz (1989, p. 4) define cultura como sendo uma teia de significados tecida pelos homens em suas interações do cotidiano. Desta forma, a palavra cultura pode ser traduzida como um sistema peculiar, caracterizado pela integração de ações conjuntas, identificadas: ideologias, crenças, expressões, formas de ser e estar. Outro autor que defende essa acepção é Shapiro (1982, p.223): "cultura consiste em uma série de padrões integrados de comportamento, desenvolvidos a partir de hábitos de massa".

Além do costume adquirido pelas diferentes sociedades – levando-se em conta os aspectos geográficos, a época e os momentos históricos vividos por tais sociedades – a hereditariedade, também, está intimamente ligada ao fundamento que teoriza a cultura. Não haveria, pois, continuidade nos hábitos de um povo se eles não fossem transmitidos, geração a geração. Kuckhohn e Kroeber,em 1962, desenvolveram mais de 150 tipos de definição para cultura, dentre elas está o modo de viver de um povo na sua globalidade; a hereditariedade social que um indivíduo adquire do seu grupo a qual o pertence; uma maneira de pensar, sentir, crer; a globalidade de um saber coletivamente possuído; um comportamento aprendido; um mecanismo para a regulação normativa do comportamento. Nesse ponto a cultura é conceituada como um conjunto de costumes que é resultado de tradições acumuladas e repassadas de indivíduo para indivíduo dentro das sociedades.

Embora as culturas sejam diferentes, variando de acordo com cada sociedade, a forma como elas agem sobre o indivíduo é a mesma, moldando-o de forma padronizada com suas características.

(...) cada cultura coloca a sua marca sobre o indivíduo que se desenvolve sob sua influência e cuja personalidade é uma combinação resultante de sua constituição física e nervosa particular, dos padrões de sua cultura e de suas experiências individuais (...) (SHAPIRO, 1982, p.233).

A cultura no Brasil se desenvolveu a partir da sintetização de culturas diversas que foram chegando através da colonização. Imigrantes foram se acomodando no país, se reproduzindo com os povos encontrados e impondo a própria cultura. Assim formamos a nossa. Com o passar do tempo houve adaptações, mas pmigrantes foram se acomodando no pando aqui atravtetizaçao usando or causa dessa miscigenação dos povos, encontra-se no Brasil uma sintetização de diversas culturas. Cada região desenvolveu a sua de acordo com características específicas sobre clima e realidade social do povo.

A partir do desenvolvimento das regiões, algumas manifestações culturais passaram a ser vistas como modelo cultural, causando certo preconceito para com outras que não se assemelham ao protótipo estipulado. Por esse motivo, já faz parte da bagagem histórica do Brasil, uma parte da população não valorizar sua própria cultura. Passam então, a esquecer a cultura que os cercam, e desenvolver a cultura protótipo, empobrecendo algumas manifestações. E essa situação gera uma verdadeira bola de neve.

Tal problema não se restringe às cidades pólo em detrimento das menos industrializadas. Com a citação acima, pode-se analisar o problema em outro âmbito. O do Brasil em relação a outros países de grande desenvolvimento. As cidades menores copiam o centro industrial do país, e o centro industrial copia outros países de grande desenvolvimento. A globalização é um fator de grande relevância para esse aspecto.

Cultura em Sergipe

Sergipe possui características culturais muito peculiares que estão diretamente ligadas ao nível econômico da população, fatores climático, e ao ritmo do forró; todos inseridos no cotidiano do nordestino aplicado à sua própria realidade, que diz respeito também, aos fatores sócio-econômicos da região. Bordados, forró, quadrilhas, poesias, religiosidade, patrimônios, barcos de fogo, museus, sotaque, cinema: são alguns elementos que, juntos, formam a teia cultural de Sergipe. De acordo com a estudiosa de cultura do estado de Sergipe, Aglaé Fontes, essa diversidade foi originada pela influência de índios, negros e brancos.

"A cultura popular sergipana esboça o tom de uma civilização mestiça, mesclada de raças combinadas onde não predomina nem o branco europeu civilizador, nem o escravo ou indígena. A combinação das raças gerou não apenas o mestiço como modalidade étnica, mas uma cultura híbrida recheada de diversas matrizes, fruto da colonização brasileira." (Luiz Antonio Barreto)

As manifestações folclóricas são o forte do estado. Há quatro cidades consideradas pólos folclóricos, onde se pode encontrar a maioria das manifestações que representam a cultura local: São Cristóvão, Laranjeiras, Japaratuba e Estância. Muitas delas foram influenciadas pelos africanos que aqui vieram e ficaram. BARRETO destaca que "em 1977, Sergipe foi avaliado como a maior reserva folclórica do Brasil por possuir 220 grupos folclóricos.".

As chamadas crenças populares atuaram de maneira decisiva no surgimento de diversas manifestações culturais.Os festejos juninos, tradição respeitada por toda a população e que promove o turismo da cidade, têm forte relação com a religião e com a agricultura - fertilidade da colheita. Os festejos juninos vieram com os portugueses, assim como a prática de acender fogueiras - que viera da crença antiga de que um casal de noivos combinou que acenderia uma fogueira para retratar o nascimento de seu filho. Trata-se da comemoração do nascimento de algum santo.

As quadrilhas regem os eventos juninos. São costumes da aristocracia européia com forte influência da Inglaterra, mas sua origem é francesa. O concurso de quadrilhas é uma manifestação de grande importância para o Estado. A tradição de se dançar quadrilha foi mantida, porém inovada. As roupas variam com a intenção de cada grupo e ainda surgiu uma de suas vertentes: o "xote", que é a quadrilha mais "acaipirada". Os instrumentos bumbo, sanfona, triângulo e pandeiro fazem parte desta tradição desde que estes grupos nasceram; pois para se dançar com o par, era preciso acompanhar ritmos. E assim os instrumentos se contextualizaram na manifestação cultural. BARRETO explica que "a tradição junina é fortemente encontrada no município de Estância, onde há característica peculiar de se utilizar os fogos e as batucadas durante os ritos folclóricos".

Mesmo com todas essas vertentes culturais, muito do que se produz no Estado não é reconhecido pela própria população. Não há como negar que aqui haja um cenário cultural forte e que é respeitada pelos descendentes da cidade e por todo o país. Mas, a procura pela semelhança com os modelos culturais também é muito presente. Sendo assim, muitas coisas aqui produzidas não são levadas em consideração, não adquire força suficiente para sobressair nacionalmente. BARRETO observa que "falta um bom plano político para que haja incentivo e investimentos à cultura local e às riquezas culturais ganhem dimensões maiores."

2. Jornalismo Cultural

Falar em jornalismo cultural significa abordar divergentes opiniões sobre o que é cultura e sobre como fazer um jornalismo em cima da individualidade das análises. Inicialmente, o jornalismo de cultura, tinha um caráter especialmente crítico "dedicado à avaliação de idéias, valores e arte." (PIZA, 2007, p. 12).

Se anteriormente, tratar de cultura era debater sobre literatura, teatro, artes plásticas e música eru­dita, atualmente outras lingua­gens e campos estéticos foram agregados à pauta cultural, como o cinema e a música popular. A manifestação cultural crescente da sociedade foi uma característica fundamental para mudanças no conceito de jornalismo cultural.  Jornais e revistas, que são os principais meios de manifestação desse tipo de jornalismo, passaram a ser meros divulgadores de agendas culturais. Em meio às mudanças ocorridas, o autor Daniel Piza atribui à confusão de valores dos "cadernos dois" a submissão ao cronograma de eventos.

Embora haja o estigmatizado preconceito, ultimamente, julgando a abordagem da cultura na mídia apenas como a agenda cultural de determinado local em certo período, Daniel Piza quebra esse paradigma, caracterizando o jornalismo cultural como uma fonte de formação de opinião e raciocínio crítico da sociedade.

(...) a imprensa cultural tem o dever do senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das tendências que o mercado valoriza por seus interesses, e o dever de olhar para as induções simbólicas e morais que o cidadão recebe (PIZA, 2007, p. 45).

Se, de acordo com as idéias de Shapiro (1982, p.223) supracitadas, cultura "consiste em uma série de padrões integrados de comportamento, desenvolvidos a partir de hábitos de massa"; o mais lógico seria que o jornalismo cultural retratasse de maneira fundamentada as manifestações referentes aos costumes e hábitos de cada comunidade, como é feito com demais segmentos de notícias. Porém, nem sempre é o que ocorre.

O autor Piza contata que o jornalismo cultural vem sendo esmagado por assuntos das celebridades, "um rebaixamento geral dos critérios de avaliação dos produtos".

As publicações se concentraram mais e mais em repercutir o provável sucesso de massa de um lançamento e deixaram para o canto as tentativas de resistência - ou então as converteram também em 'atrações' com ibope menor, mas seguro (PIZA, 2007, p. 31).

Outra característica do jornalismo cultural trazida por Piza remete ao início do jornalismo no Brasil. Não havia jornalistas, estes eram escritores, por isso o jornalismo brasileiro tem raízes literárias. Através dessa característica histórica as crônicas também estão presentes nos espaços culturais dos veículos impressos. Tornou-se uma forma de atrair a literatura para o jornalismo, como coloca o autor: "(...) a crônica sempre teve espaço fixo nas seções culturais de jornais e revistas brasileiros e, portanto, é uma modalidade inegável do jornalismo cultural brasileiro" (PIZA, 2007, p.33).

2.1 Caderno "Cultura e Variedades" do Cinform

Com o slogan "Independência e Credibilidade", o jornal semanal tem uma tiragem de 21 mil exemplares e segue com sete cadernos editoriais, sendo eles: caderno 1, Líder - Esportes, Veículos, Imóveis, Olho Vivo, Emprego & Mercado e Cultura; atingindo todos os municípios de Sergipe e incluindo, também, as capitais de Bahia e Alagoas.

Não obstante ao jornalismo cultural desenvolvido em outros jornais brasileiros, que nos últimos anos tem virado quase sinônimo de agenda cultural, o caderno dois do Cinform demonstra submissão ao cronograma de eventos, através de notas breves e curtas. "Toda publicação, portanto, tem um recorte a propor para seu leitor - não só um recorte da agenda de eventos culturais, mas também o de um conjunto de olhares sobre tendências do momento em relação ao passado (...)" (PIZA, 2007, p.49).

O objeto de estudo aqui apresentado possui uma linha tipicamente voltada para atingir o público em massa.As primeiras páginas são compostas por matérias literárias e musicais, como lançamento de livros, eventos culturais, premiações; acompanhadas de fotos, com a presença de pouco ou nenhum gráfico.

A página principal divide espaço com uma publicidade, geralmente ocupando metade da página, ou um pouco menos. No interior do caderno as entrevistas longas, dividem espaço com os resumos das novelas, bilheteria de filmes, horóscopo e uma página inteira para a agenda cultural.A televisão, como meio de comunicação mais popular, recebe destaque nas notícias das seções de Cultura e Variedades. Artistas que estão na mídia televisiva ocupam toda uma página, onde conta-se sua história, seguida por entrevistas com celebridades.

3.Cultura Sergipana no Cinform

Apesar de procurar sempre trazer matérias de conteúdo sergipano, sobretudo nas matérias de capa, o caderno elabora isso de forma noticiosa, meramente informativa, funcionando como uma vitrine de divulgação da agenda cultural do estado. Show, peças, filmes, literatura, e demais eventos artísticos que tenham acontecido ou estejam iminentes, ocupam a maior parte das páginas destinadas à cultura sergipana. Matérias bem elaboradas sobre esse tema são veiculadas: o leitor se informa, mas não se habitua a discutir sobre o tema proposto.

Indo de encontro ao que fora abordado no capítulo anterior, quando mencionou-se o teor reflexivo que, para Piza (2007), deveria ser uma característica inerente ao jornalismo cultural, a forma como tal vertente jornalística é exposta à sociedade no veículo em questão, é objetiva e direta, como as notícias factuais presentes nos demais cadernos. O leitor passa  a se informar sobre determinado acontecimento, mas não se sente atraído a refletir sobre tal tema, nem sobre sua relevância sócio-cultural. O texto jornalístico acaba por não estimular o aperfeiçoamento do senso crítico, fazendo com que o seu público apenas consuma a cultura de forma passiva, e não forme um pensamento ativo ao redor dos seus hábitos e costumes locais.

As informações são secas e postas como blocos, com a mesma característica de, por exemplo, a parte policial do jornal. Percebe-se que o recado é passado de maneira fria e sem cor. A estética do caderno, muito parecida com as outras editorias do veículo, a capa da sessão de Cultura não propõe, não instiga, nem convida o leitor a interagir com o que fora abordado. Apenas se preocupa em fazer o básico dentro da retórica do jornalismo: fotos ilustram a matéria principal, sem adaptar nenhum outro recurso para atrair a atenção do receptor. Se compararmos com outros veículos, por exemplo, "Folha de São Paulo", essa característica fica ainda mais nítida. Nota-se a necessidade de ações criativas a serem exploradas e inovadas em todo o caderno, principalmente na capa – onde é o primeiro contato do leitor com a editoria. Algo que acelerasse o pensamento sobre a temática e fizesse refletir para que o caderno passasse a ser apreciado, e não somente folheado.

Ainda analisando a pesquisa feita, ficou clara a ausência de críticos e escritores locais, que seriam as pessoas mais qualificadas a escrever sobre cultura em um jornal voltado para o estado. Sente-se falta na equipe da empresa, alguém que exerça sobre o caderno de Cultura, única e exclusivamente; buscando explorá-lo desde sua raiz até os aspectos figurativos e lingüísticos apropriados e voltados para a temática. Talvez um profissional especializado nesse viés do jornalismo pudesse torná-lo mais valorizado.

Essa deficiência também é abordada por Daniel Piza (2007): a escassez, cada vez maior, da existência de críticos nos cadernos de cultura. No jornal Cinform essa especialidade é algo novo e, apenas voltado para o campo da música sergipana. Há um cronista que aparece em algumas edições – este possui uma freqüência maior no site que no impresso; tornando o acesso à este viés, escasso. Ainda há matérias de cunho informativo que são postas no caderno, porém, a maioria das páginas é reservada para o entretenimento.

Horóscopos, resumos dos capítulos de todas as novelas, entrevistas freqüentes com atores da TV e uma tabela com a grade dos filmes que estão passando nos cinemas de Aracaju possuem espaço reservado na editoria. Duas páginas pelo menos trazem esses temas. Assim, observado e analisado no Cinform, é nítido que o entretenimento possui força maior dentro desse caderno, chegando a dominar a atenção do seu público. Caso houvesse um espaço destinado a um crítico de cinema agregado nesse espaço, talvez não limitasse a visão do leitor apenas para os horários dos filmes, estimularia o senso crítico para discutir sobre a mensagem que tal roteiro transmite; por exemplo. Nesse contexto, o incentivo cultural é substituído pelo modismo do entretenimento convencional e nada instigante.


REFERÊNCIAS

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Koogan, 1989.

KROEBER, A. L. & KRUCKHOHN, C. Culture: a critical review of concepts and definitions, 1952. Apud White, Leslie. A "Human culture". In: Encyclopaedia britannica. 15. ed. Chicago, The University of Chicago, 1974. Macropaedia, v. 8, p. 1151-1159

SHAPIRO, Harry L. (org). Homem, Cultura e Sociedade. Traduzido por G. Robert Coracy, Joanna E. Coracy, Margarida Maria C. Oliva. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. 3 edição. São Paulo, SP: Contexto, 2007.

FONSECA, André. Home Page. 15 de Fevereiro de 2006
http://www.culturaemercado.com.br/post/o-verdadeiro-jornalismo-cultural/?setor=2&pid=329 14 de Maio de 2008, às 20h14.



Autor: Marina Lopes


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