Educação em Baixa, Alienação em Alta



Antes de partir pro tema deste artigo, vou contar o contexto da coisa.

Nesses dias, dei uma passada em umas duas comunidades de que sou membro no orkut com o tema Educação. Postei um tópico em cada, um sobre educação e alienação e outro sobre uma monografia de educação ambiental. Desapontadamente os tópicos não receberam uma mísera resposta em seis dias de postado. Reparei logo que o histórico de tópicos das duas comunidades é desolador, com inúmeros tópicos de um post (sem nenhuma resposta) e frequência muito baixa de tópicos criados ou respondidos. Decidi então dar uma varredura nas maiores comunidades relacionadas ao tema Educação do orkut. Tristemente vi que, das dez maiores relacionadas a educação geral, apenas uma não está com tópicos terminados em 2007 ou com tantos tópicos de um post na primeira página de fórum. Detalhe: as comunidades em questão possuem mais de quinze mil membros.
Em seguida, verifiquei comunidades relacionadas a Big Brother Brasil e a times de futebol. Como eu esperava, suas maiores comunidades, em média sete vezes maiores que as maiores comunidades orkutianas de educação, bombam, efervescem de tópicos novos e outros subindo a todo instante.

Agora o principal. A conclusão que tirei de tudo isso é que vemos refletida em comunidades virtuais como o orkut a gravidade da alienação no país. É alarmante a coisa: os confinados na “casa mais vigiada do Brasil”, como diz a Globo, e a escalação dos times para as primeiras rodadas dos campeonatos estaduais são muito mais importantes que a educação.

Não canso de dizer que é resultado da educação básica desastrosamente precária e da obsolescência gritante dos métodos didáticos (na educação pública e em grande parte das escolas particulares). O que mais presenciei na vida (considerem a hipérbole) foi criança e jovem demonstrando que não gostam de estudar, ou pelo menos odeiam a didática do jeito que se mostra hoje.

Analisando em partes cada disciplina de Ensino Fundamental (excluindo o odioso Ensino Religioso) na metodologia obsoleta que eu estou rechaçando: Matemática, Física, Química e Biologia, sem laboratórios de experiência, são meras matérias fundamentadas na decoreba e por isso esquecíveis; a História, com sua abordagem restrita a personalidades e fatos e excludente dos povos e de seus costumes e culturas, também se configura como um antro de decorebas inúteis e sem nenhuma aplicação prática; a Geografia, com seus ensinos de meros dados sobre países, capitais, população, relevo, hidrografia, etc. e também fundamentado em decorebas e explicações prolixas de Geografia Física e de Humana, vira outro cano de despejo de dados aleatórios e quase inúteis para os alunos; Português até ensina ortografia e gramática com uma eficiência restrita, mas a literatura dada em regras e com as ligações sociais omitidas vira decoreba e a interpretação de textos não é dada eficientemente de modo aos alunos pegarem artigos e reportagens e analisarem seu conteúdo e contexto; Artes são tratadas em último plano pelas políticas das escolas e se tornam inúteis.

Digo, claro, que a presença dessa didática odiada depende muito do carisma e do porte do professor que a transmite: se for um Professor Girafales (de Chaves, claro), monótono, autoritário e decorebista, vai sim levar adiante a chatice das aulas; se for um Roberto Falcão, um dos melhores professores que já tive (e olha que eu tive aulas com ele num cursinho!), adotante de um jeito revolucionário e cativante e que faz milagres com um piloto e um quadro-branco, vai pôr abaixo a monotonia da didática odiada, independente da metodologia didática da escola.

Acho que fui meio longe do assunto mestre deste artigo, mas sintetizando o que eu disse acima: a didática clássica como a conhecemos desde crianças faz o processo de educação ser algo chato, desinteressante, descartável e inaproveitável para a vida. A escola não consegue ser atraente, mantém-se como nada mais do que uma obrigação rígida que só é seguida “porque papai e mamãe obrigam”. Não consegue ensinar muita coisa realmente proveitosa para a vida diária. Como resultado, as crianças querem que a hora da largada chegue logo para irem brincar na rua, os adolescentes querem ouvir o sinal sonoro para irem para a farra. A diversão banal é muito mais interessante do que a “maldita” escola e toda sua chatice. O resultado disso é o lançamento pelo ralo (dispenso o eufemismo de formatura) de gente que não quer saber mais de estudo e que não aprendeu quase nada de significante e assim não tem o que discutir em comunidades de utilidade. Nem mesmo se dão ao trabalho de chegar nas comunidades orkutianas de educação para criticar a instrução de baixa qualidade que receberam, tamanha a alienação em que estão mergulhados. Sem interesse no construtivo e sem nenhuma vacina educacional contra lixo cultural, essa gente vai procurar coisas banais, muitas vezes idiotas, para ocupar suas mentes no tempo livre. Do mesmo que as crianças e adolescentes que esperam a largada da escola chata. E é daí que vemos crescer a filosofia destrutiva do “Ah, esse assunto de educação é muito chato, prefiro me divertir que me sinto melhor”. Quem ganha com tudo são os manipuladores do povo ignorante, desde magnatas da televisão que ganham rios de dinheiro com publicidade de programas imbecilizantes até políticos que se vêem livres da avaliação crítica do grosso do povo e conseguem se garantir em mandatos duradouros. Estes manipuladores são os que mais se beneficiam com a alienação do povo. O Big Brother Brasil, o “forró de cachaça, chifre e cabaré”, a crueldade dos rodeios, as brigas relacionadas a futebol, todos tão admirados pela mesma gente que tem ojeriza a falar de educação, são triunfantes sobre o hábito de ler e discutir sobre educação e outras coisas úteis.

Resumindo tudo: nossa educação não educa direito, é chata e repele as pessoas de falarem sobre ela. E quem ganha com isso são os tutores da alienação.

No final, concluímos o título do artigo: educação em baixa, alienação em alta.


P.S: antes que digam que orkut não reflete a realidade: a internet, incluindo esse sistema, concentra as massas pensantes que podem estabelecer muito mais facilmente troca de idéias e debates em geral. É onde pessoas que seriam normalmente ignoradas ou até discriminadas off-line, como ateus, gays e filósofos iniciantes, encontram parceiros de consciências e idéias e fazem suas idéias fluírem para as pessoas. Se vemos a educação tão em baixa num sistema que permite essas facilidades, é porque boa a situação não é.


Autor: Robson Fernando


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