Silêncio



No nebuloso ar da incerteza dorme a palavra escondida, pronta para ser dita, impedida pelo silêncio.

Do silêncio nasce à palavra não dita, a língua emudecida, o indizível. É aqui que nossa comunicação torna-se tensa, misteriosa, sombria. Não temos o que dizer, mas podemos pensar; nada é capaz de dar conta daquilo que não se conhece: como explicar algo que se esconde? Surpresa!

Nossos silêncios são muitos: minha filha Beatriz quando dorme ou no momento em que está com a boca em uma chupeta, perpetua-se no silêncio; aquele que em situação de compenetração estudantil, preparando-se para o vestibular ou concurso público assume a solidão, dialoga com o silêncio; a reflexão, a solidão, a raiva, o medo, a dor, o amor possuem a princípio o seu peculiar silêncio. Imaginem Bach com suas composições, Sócrates e suas reflexões e a criação solitária de Carlos Drummond de Andrade. E aqueles presos e torturados pela ditadura militar, que permaneciam no escuro, fechados numa sala pequeníssima sob um forte calor. No cérebro a confusão, o monólogo e lá dentro o silêncio e o seu malefício.

No palco uma apresentação e ao final uma platéia apática, quieta, o entusiasmo que não veio, o silêncio que sentencia, a nulidade do espetáculo. Os artistas envaidecem com o barulho, inspiram-se com as palmas.

A palavra é um mistério, perpassa pelo silêncio, fortifica-se no ermo e cresce com a imaginação. Silêncio, pois estou elaborando a próxima crônica.


Autor: Sergio Sant'Anna


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