Dr. Dimitri N°04



Ronyvaldo Barros dos Santos

Dr. Dimitri

N°04

Parte I – Do que se conta sobre o desaparecimento de um pequeno prodígio

Júnior era um garoto bem dotado de inteligência. Deparava-se com um sério problema de assimilação social. Os seus pais eram inexperientes, desprezando o seu jeito sagaz. Sem saber, faziam com que este prodígio se distanciasse mais e mais de todos e de tudo. Na maior parte do tempo o garoto ficava em companhia somente de alguns alfarrábios. Sem a atenção dos pais ou de qualquer amigo, aprendia a lidar sozinho com os problemas corriqueiros. Um súbito ódio tomava conta de si.

O garoto estava a estudar em sua alcova. Repentinamente avista um vulto que perpassa rapidamente para o outro lado do quarto. Em busca de resultado para um grave problema de física, o prodígio lê em voz alta:

— A Teoria das Supercordas diz-se quanto às "partículas fundamentais" que são cordas que vibram em um espaço de dez ou onze dimensões...

Logo Júnior pôde notar que havia alguém ali. Retirou-se do seu quarto e desceu uma escada que dava para a sala. Depois disso não fora mais visto.

Parte II – Dimitri à beira da loucura

Desde o último ato que se deu, Dimitri Kosovski se via pensativo. Cogitava todo o tempo o que deveria ter ocasionado uma "recessão" de mulheres belas e bondosas. Julius imaginava que o detetive estivesse triste por não ter encontrado a Kristin James. Porém era mais grave, já que há muito Dr. Dimitri não tomava mais nenhum trago do seu tão apreciado chá. O seu aprendiz chegou a oferecer-lhe uma chávena com a bebida, mas o homem não aceitava.

Estavam de volta à feliz Cidade do Brasil. O nosso herói se encontra insano e melancólico, segundo imagina Julius. Ao amanhecer um novo dia Dimitri não se levanta para tomar o imperdível chá das sete. O seu aprendiz o encontra de olhos fitos e enrubescidos, cogitando, talvez, acerca de algum crime hediondo. Porém este grato investigador há tempos tenta se libertar dos delitos, pois não aposta mais na sua aptidão para desvendá-los. Em busca da sua antiga identidade, viu-se um médico experiente e um doutor instigado a desvendar uma nova doença.

À noite Julius recebeu um telefonema de um familiar de Dimitri que perguntava pelo investigador. O aprendiz contou tudo ao seu amo, que não teve qualquer reação, ao dado que Dimitri piscava os olhos fitos numa janela que estava à sua frente.

Repentinamente uma visita inesperada. Batia à porta a donzela dos sonhos do nosso herói, a senhorita James.

— Gostaria de falar com o senhor Dimitri Kosovski — disse a donzela ao aprendiz assim que ele atendeu a porta.

— Sim, ali está ele, mas acho que é melhor vir numa outra hora.

— Não, não, não seja grosso, caro Julius, deixe-a entrar e ofereça-lhe uma bebida — disse Dimitri surpreendentemente.

Kristin entrou e se sentou ao lado do detetive.

— Em que posso ser útil, senhora.

— Sou a atriz Kristin James, não se lembra?

— Vagamente — mentiu Dimitri.

— Vim aqui pois me disseram que eras o melhor investigador. Necessito da sua ajuda. Pago o quanto for necessário.

O nosso herói pôde notar a beleza extremada desta donzela magnânima.

— Sinto muito, mas estou em ócio nestes tempos.

— Desculpe-me, porém um sobrinho desapareceu. Estamos todos desesperados e carecemos da sua ajuda, por favor — os olhos da senhorita cintilaram com magnificência.

— Pois bem. Ajudarei simplesmente porque não posso ver o sofrimento nos olhos das pessoas — findou Dimitri.

Parte III – Os temores da senhorita Kristin James

Dimitri tomava o seu chá das vinte. Ficou a par de todas as pistas quanto ao desaparecimento do garoto. Conjeturava que talvez o garoto não tivesse sido seqüestrado como se cogitava, pois já havia cerca de quarenta horas que o garoto desaparecera e pela experiência que Dimitri havia adquirido acerca de seqüestros os malfeitores já deveriam ter entrado em contato com os parentes do garoto, o que não ocorrera, todavia.

Ao chegar à delegacia de polícia, Dimitri logo avistou o delegado Roberto sentado em sua cadeira almofadada. Em pé estava a senhorita Kristin, tão linda e majestosa! Sentada à frente do delegado estava a mãe do garoto desaparecido, a senhora Angelina. Ela contava que o seu filho há cerca de duas horas antes do desaparecimento estava cólero, pois o pai não havia permitido que o garoto fosse a um congresso de física em que estaria presente o seu grande ídolo, o cientista Martin Gardner.

Ao chegar à delegacia, Dr. Dimitri despertara diversos olhares. Muitos dos policiais que ali estavam o respeitavam em demasio. Ele disse:

— Tragam-me chá de menta e escuteis o som que toca ao fundo — muitas vezes a frase representava uma chamada para o inquérito que se desenrolava. Disse ao Julius: — Há tempos não avisto tão exaltada figura, caro aprendiz. Saibas que estou sempre atento às tuas pilhérias. Permaneceis emudecido. Não gostaria de ouvir a tua voz.

Julius, sempre cauteloso, baixou a cabeça e não disse nada.

O detetive se achegou mais para perto de Kristin e, restaurado, optou por escutar o inquérito. Ao dado que presenciara a investigação do delegado, um primeiro pedido de resgate se afixara. Dimitri então se pôs a refletir mais sobre um possível seqüestro. Neste momento de reflexão se aproximara a senhorita Kristin dizendo:

— Estou calma porque sei que você é o melhor investigador. Todos me recomendaram o Dr. Dimitri. Apenas não consigo crer que algo assim possa ter acontecido na minha família. A melhor coisa que fiz até hoje foi contratar os seus serviços, pois há muito tempo eu não mais vejo os meus familiares e todos eles me consideram arrogante e indelicada. Agora eles sabem que eu quero ajudar. Mas não sei o que ocorrerá depois disso tudo. Não sei se eles me aceitarão de volta.

Dimitri fitou-lhe profundamente os olhos e disse-lhe:

— Tenha certeza, cara donzela, encontrarei o garoto com a sua vida plena e não terás nada a temer doravante. A propósito, sou grande fã seu. És uma atriz diviníssima.

— Juro que ao terminar isso tudo eu te darei um autógrafo — concluiu a senhorita.

O nosso herói então percebeu que asno foi de pensar que aquela bela figura pudesse ser caluniadora. Por isso, ainda mais vigoroso, se pôs a cogitar milhares de hipóteses acerca do caso. Uma idéia surgiu em sua cabeça. Pô-la em prática seria um grande remédio à sua agonia...

Parte IV – Fim à trágica história do garoto-prodígio

Há acontecimentos que nos surpreendem. Às vezes pessoas que buscam senão a felicidade treaem-se a si próprias acreditando poderem mudar uma realidade que as atemorizam. Fez-se a vez do pequeno Júnior. Incerto da sua condição de gênio, acolhido por um desconhecido, despertando-se do ódio que o definhara, resolvera viver só, junto somente a um amigo que julgava conhecer.

Dr. Dimitri resolveu conversar com o seqüestrador que novamente entrara em contato:

— Aqui quem fala é o senhor Dimitri Kosovski. Farei apenas uma pergunta que se fará boa somente se responderes o que lhe convier, porém a verdade absoluta. Estimo que queres a quantia em cédulas destacadas. Pois bem. Conheces a vítima? — o seqüestrador não respondeu — Bem, quero falar com ela.

— Ótimo, lhe dou um minuto para falar com ele. Mas tome cuidado, porque senão será o seu fim — disse enfim o malfeitor.

— Alô. Sou um detetive. Direi apenas uma coisa: "Não podereis continuar com isto. É degradante. Sei que isto não procede como um caso policial corriqueiro." — o garoto apenas respirou profundamente e desligou o telefone.

Ninguém que ali estava entendia o que significava a conversa daquele homem com o seqüestrador. Todos ficaram apreensivos com a atitude de Dimitri. Entretanto o nosso herói tinha uma percepção fabulosa dos fatos. Ele conseguia enxergar tudo o que não estava ao alcance das outras pessoas. Os fatos para ele se encaixavam por si só.

Dimitri pediu a contribuição de todos para resolver o caso. Apesar de ninguém compreender o porquê daquilo, todos confiavam seguramente no detetive, pois para Dimitri nenhum crime era irresolúvel.

Ao entregar ao seqüestrador o valor pedido num local marcado, Dimitri tratou de ocultar um microfone na bolsa onde se encontrava a importância devida. O detetive acreditava que o garoto, tão astuto, queria somente se livrar de todos os seus conhecidos e começar uma vida nova. Ao iniciar a escuta, esperando todos que o bandido soltasse Júnior, escutaram o seguinte diálogo:

— Eis a sua parte, garoto — proferia o seqüestrador se dirigindo a Júnior e dando-lhe uma parte do dinheiro.

Obrigado, Wesley. Sem você isso nunca daria certo — respondia o prodígio.

Todos avistaram o garoto deixar o veiculo em que estavam ele e o então seqüestrador. Contudo ainda puderam ouvir mais.

— Ei, garoto, foi bom fazer negócio contigo — disse o malfeitor.

Júnior não respondeu nada. Deu de ombros ao homem e prosseguiu, porém ouviu-se um forte estampido em seguida. Era Wesley que sacava uma arma. Dimitri, que estava próximo do veículo, acorreu ao garoto que estava ensangüentado. O seqüestrador acelerou o carro após pegar o resto do dinheiro que havia dividido com Júnior.

O prodígio, agonizando, derramou as suas últimas lágrimas. Ali estavam presente os pais do garoto, alguns policiais e a senhorita Kristin James que, desesperada, ajoelhou-se ao chão e pôs-se a chorar ininterruptamente.

Dimitri Kosovski não acreditava que, próximo ao garoto, não pôde evitar a sua morte. O caso estava encerrado com a morte da vítima. Dimitri ficou emudecido e melancólico e jurou à sua amada que não descansaria até encontrar o assassino.


Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos


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