Sobre a Violência em Teresina - I



Nos últimos anos, as supostas “gangues” de jovens – não só nos bairros de periferia - em Teresina tornou-se um elemento recorrente no discurso policial sobre as violências, sendo mapeadas e responsabilizadas pelas autoridades policiais como um dos principais fatores das violências que levariam a população da cidade verde “de volta à barbárie”.

Trata-se de uma representação das autoridades policiais que localiza geograficamente as violências – uma territorialização da violência ou lugares violentos – e estigmatizam os pobres como pessoas perigosas. Construindo um rótulo social negativo sobre a localidade e, indistintamente, identificando os seus moradores como potenciais criminosos, não só porque seus comportamentos violem normas socialmente estabelecidas, mas porque estes, supostamente, têm características pessoais e sociais que justificam a repressão.

O problema é que, através do discurso policial, sem fundamentação consistente, deduziu-se que são os jovens direta ou indiretamente, os principais causadores da violência em Teresina – o mito do adolescente infrator sem punição -, já que estes se fazem presentes em muitas das ocorrências registradas.

Com a disseminação do discurso policial sobre “a juventude violenta sem punição”, tenta-se generalizar a idéia de uma suposta “involução humana”, cujos jovens pobres da periferia de Teresina seriam a comprovação factual na medida em que teriam elegido a banalização da morte como elemento emblemático do seu próprio cotidiano.

Para as autoridades da segurança, o Estatuto da Criança e do Adolescente não protege o adulto do menor infrator nem protege o menor, por isso, a polícia precisaria ter “poderes” facultados para tirar esses menores das ruas – uma higienização social – para evitar uma banalização de seus atos infracionais e a “volta à Era da barbárie”. Ideologicamente, argumentam que Teresina é “uma cidade de povo pacato e ordeiro” – um discurso positivista da índole pacífica teresinense – e que, portanto, as atuais ações violentas fazem parte de algo recente na história do processo civilizatório da cidade.

Do ponto de vista político, é interessante perceber que a maioria dos secretários da segurança, e alguns membros vinculados à Justiça, a Polícia Militar e Civil, sempre tentaram sair de seus cargos públicos mediante uma catarse política. Transportar-se dos seus cargos públicos, através do voto popular, para a condição de representantes políticos, exaltando e personificando o controle do Estado sobre as violências na figura austera do Secretário da Segurança ou do policial destemido e truculento como forma de inibir a ação dos “criminosos”.

Assim, dissemina-se no imaginário social local a idéia farsante de que um bom Secretário da Segurança Pública ou policial respeitável precisa ser um homem destemido e heroicizado que sabe incorporar, caricaturalmente, a figura do “xerife” de filme americano. Um sujeito linha dura; discurso autoritário; ações espetaculosas; “cara de mau”; além de implacável e inflexível nas negociações, cujo slogan emblemático é: “bandido bom é bandido morto”.

Entendo que o controle da criminalidade passa antes por uma polícia inteligência e não pelo exibicionismo autoritário e repressor.


Autor: Arnaldo Eugênio


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