Sobre a Violência em Teresina - II



SOBRE A

VIOLÊNCIA EM TERESINA - II



A partir de meados da década de 1990, as ocorrências policiais isoladas e corriqueiras em Teresina foram transformadas em “notícia-show” nos programas policiais e exibidas como um espetáculo nosso de cada dia. Como fatos noticiosos, as interpretações dos atos violentos cotidianos em Teresina, têm ocupado mais espaços, principalmente, nas percepções jornalísticas, provocando o surgimento de muitas propostas imediatistas sobre as prováveis soluções para diminuir a violência e o medo social.

Hoje, os fatos violentos em Teresina que aparecem nas manchetes dos noticiários policiais – não há aqui uma tendência de criminalizar a imprensa - vão se constituindo no imaginário social como um “grande monstro do mal” que encurta vidas, revela a omissão do Estado e da sociedade, amedronta os ricos e criminaliza os pobres nos bairros de periferia. Jornalisticamente, já se fala até em “guetização da violência” ou “volta à barbárie”. É fato que as representações ou sentidos da violência que são transformados esteticamente pela imprensa em informação jornalística, através da espetacularização midiática, têm ocupado espaços com o caráter de prioridade informacional em programas televisivos, jornais impressos e noticiários de rádios.

Em Teresina, essa espetacularização midiática, de certa forma, encontra respaldo nas constantes manifestações de preocupação da população e das autoridades policiais com os freqüentes registros de práticas tidas violentas. Nesse contexto, onde o medo social é midiaticamente, coletivizado, tende-se a construir e legitimar uma suposta cultura do medo.

É possível perceber três aspectos que perpassam as representações sociais e os sentidos das violências no discurso jornalístico: 1) a idéia de evolucionismo cultura: bárbaro/selvagem/civilizado; 2) a espacialização e estigmatização pela violência; e 3) a tentativa de negação do sentido das práticas de sociabilidade da juventude – no caso, as gangues.

A concepção jornalística das violências se caracteriza pela reificação da criminalização da pobreza, a segregação social e a espacialização das violências em certas áreas de Teresina, principalmente de classes populares onde o desemprego, o desarranjo familiar, os baixos níveis de escolaridade, a falta de perspectivas e as precárias condições de habitabilidade são marcas visíveis da falta de assistência do Estado, e não características essenciais da natureza ou condição humana dos pobres.

Na verdade, o discurso jornalístico ou midiático é uma representação social que, dentre outras implicações, reforça a idéia discriminatória de que nos locais onde existem vilas e favelas são espaços, potencialmente preparados, para o desencadeamento das mais diversas práticas de sociabilidade violenta.

Essas percepções ou representações sociais jornalísticas que disseminam uma visão discriminatória sobre o comportamento dos pobres, terminam por criar uma estética da violência ou da barbárie, que, de certo modo, já está entranhada na própria natureza dos meios de comunicação de massa como uma condição inerente à construção da notícia espetacularizada. Desse modo, corrobora a consolidação no imaginário social de uma suposta violência generalizada.


Autor: Arnaldo Eugênio


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