Um Negro na Casa Branca



Às vésperas do "20 de Novembro", dia em que comemoramos, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, assistimos a ascensão de um negro americano à Casa Branca. Um fato político que marcará a história dos EUA, um país marcado por uma histórica segregação sócio-racial. Barack Hussein Obama (47 anos) - "o abençoado", filho de um economista queniano e de uma antropóloga americana, branca, - chega ao poder porque é um intelectual competente e sensível às vozes de milhares de americanos que se decepcionaram com a política bélica desastrosa e com a aguda crise econômica interna do republicano George Walker Bush (62).

Com a chegada de um negro à Presidência, a sociedade americana deverá provar ao mundo que, de fato, a sua democracia, solidificada nos princípios da liberdade, está suficientemente amadurecida para tolerar e apoiar a governabilidade de um Presidente negro. Ademais, concretiza-se o sonho de um dos maiores líderes negros da história mundial: Martin Luther King, que, nos anos 1960, encampou marchas contra a segregação racial cujas lutas pelos direitos individuais, sociais e políticos dos negros americanos estão simbolizadas no sacrifício de sua própria vida.

Por que Barack Obama foi eleito? - Esta pergunta é fundamental para entendermos o novo cenário político americano, pois ele trouxe de volta os eleitores às urnas. Sua estratégia de entusiasmar e conquistar eleitores jovens foi algo extremamente importante. Depois, o uso da Internet para ganhar a simpatia de colaboradores foi outro trunfo que passa a marcar as futuras eleições nesses Estados. Portanto, foi uma eleição marcada pelo otimismo e entusiasmo de americanos das diversas faixas etárias, em suma, uma eleição multicultural e multiracial. Isso fez a diferença. Fenômeno que nunca se viu nos EUA.

Outro fator essencial na vitória de Barack Obama foi sua sensibilidade para com os cidadãos americanos. Ele desceu até às camadas populares para sentir seus dramas e problemas. Ele mesmo em seu livro A audácia da esperança (2007) afirma: "precisamos de um novo tipo de política, que seja capaz de escavar e construir algo novo a partir dos conceitos que nos unem como povo". Isso diz tudo para um povo que está vivendo o drama atual de uma aguda crise econômica interna e o fracasso de uma guerra contra o Iraque. Segundo Obama, esse novo tipo de política transcende não só as preferências políticas – republicanos ou democratas -, mas também credos religiosos, classes e questões raciais – "pretos, brancos ou mulatos", como ele acentua. Mas o novo tipo de política tem a ver com a sua proposta de – apesar das diferenças – buscar uni-los por meio de "um fio comum de esperança", quando diz: "A maioria delas acredita que qualquer pessoa disposta a trabalhar deva ter o direito a um emprego que ofereça condições dignas de subsistência. Elas acreditam que as pessoas não devem ser vítimas de ações de falência por estarem doentes; que qualquer criança deve ter direito a uma boa educação – que esta não seja apenas promessa -, inclusive a educação superior, independentemente de os pais terem condições de bancá-la. Querem segurança, querem ser protegidas contra a ameaça de bandidos ou terroristas; querem água e ar livres de poluentes e tempo para desfrutar da companhia dos filhos. E quando estiverem velhas, querem ter direito a uma aposentadoria que lhes garanta dignidade e respeito".

Portanto, os eleitores de Obama não estavam, em princípio, preocupados com questões raciais senão entusiasmados com suas sugestões políticas para tirar os EUA da crise externa e interna, dois grandes desafios para a sua agenda política. O terceiro desafio será, sem dúvida, conduzir o país para uma perspectiva multiracial, superando o biracialismo. Eu não acredito - como afirma o sociólogo Demétrio Magnoli - que Barack Obama "implodiu o mito do racismo", porque ascendeu ao poder distanciando-se do "discurso racial", como fizeram os líderes negros da década de 1960. Não creio. Ele usou de uma estratégia política para conquistar os eleitores brancos. No entanto, Obama tem plena consciência do racismo americano e, por isso, teve que se apresentar como um ator social pós-racismo, se assim podemos chamar.
Autor: Antonio Leandro


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