Você Já Deu Hoje?



Você já deu hoje?

Há alguns anos eu ouvi uma frase que até hoje, vez ou outra, me vem em minha memória: - "O homem inventou tantas coisas pra ganhar tempo, economizar tempo, que acabou ficando sem ele".

Realmente! - Construímos carros velozes, inventamos milhares de equipamentos mecânicos e eletrônicos que nos facilitam; que nos ajudam a realizar tarefas com maior rapidez e segurança. Fogões atômicos, de micro-ondas, máquinas para lavar tudo que possa ser lavado, geladeiras e "freezers" para conservar tudo que possa ser conservado, etc. Roupas que não necessitam de ferros de engomar... Pisos que não dão o trabalho que davam outrora... Comidas prontas, congeladas, sucos que, para usufruirmos deles, basta apenas abrir a tampinha da garrafa, sorvetes, enfim, o mundo moderno está repleto de facilidades, tudo em nome de "se ganhar tempo". Computadores pra escrever mensagens sem erros, fáceis de enviar, até com efeitos especiais, flores, animação, dependendo da criatividade e da perícia de quem sabe utilizar.

- Mas e daí eu pergunto?

- Cadê todo esse tempo ganho?

- Será que nós ganhamos mesmo todo esse tempo?

- Eu sinto que não!

No tempo de meus avós, quando ainda não existiam todas essas facilidades; quando havia muita roupa pra lavar, engomar e passar a ferro de carvão; quando havia muito chão pra esfregar; quando havia muita roça para plantar e carpir, tudo no "no braço"; quando havia grandes distâncias para serem percorridas a pé e, mesmo depois de um dia pesado, ao anoitecer eles se sentavam numa varanda ou na sala, ou num canto qualquer, tranqüilamente, e tinham tempo para conversar.

Hoje, o máximo que encontramos são bilhetinhos autocolantes afixados em geladeiras, quando muito.

Os "antigos", não tão antigos assim, pois isso era costumeiro há menos de trinta anos, reuniam-se à mesa das refeições todos os dias e compartilhavam o que estava acontecendo com cada um deles. Davam-se uma chance de um ajudar ao outro; de um conhecer mais ao outro; de um perceber alguma dificuldade no outro e de pronto poder ajudar, ser prestimoso, solidário. Com certeza, eu não tenho dúvidas, essa era a principal causa da união existente numa família. - O diálogo! A conversa nem que fosse pra falar de banalidades.

Eles também passavam, às vezes, horas escrevendo cartas no bico da pena de ganso, de peru, de pavão, com tinteiro e mata-borrão para enviá-las aos seus parentes, amigos e entes queridos. Escreviam para pedir e darem notícias; para mostrar que em algum momento de seus dias, de suas vidas, lhes davam atenção.

Tais cartas, às vezes, nem chegavam ao seu destino ou se chegavam, chegavam com muitos dias, semanas e até anos de atraso, pois o sistema de correio não era tão eficiente como é hoje. Mas, o mais importante nisso tudo é que elas eram enviadas. Eu cheguei a receber cartas borradas por pingos de tinta e até manchadas por lágrimas de quem as escreveu, com palavras rabiscadas, com erros de escrita. Algumas me chegaram cuidadosamente perfumadas. Cartas que "nas suas mal traçadas linhas", revelavam-me o quanto eu era estimado, querido e longe do conteúdo, o quanto eu era importante para tais pessoas.

E hoje, com toda essa tecnologia à nossa disposição, vejo pessoas dizendo que não tem mais tempo pra isso, principalmente para dar atenção a alguém que dizem que gostam, amam. Que não tiveram, durante todas às 24 horas do seu ocupadíssimo dia, cinco minutos pra ligar o seu computador e escrever um simples "Oi... Eu estou bem... e você... como está?", sem erros e ainda com um "perfuminho eletrônico", demonstrando que tomou o maior cuidado e carinho no que escreveu.

Aí eu pergunto: - Será que gostam mesmo?

- Que forma estranha essa de gostar, se não tem tempo pra pegar um telefone e ligar pra essa pessoa e perguntar como ela está;

- Quer forma estranha essa de gostar se são capazes de conviver com elas sob o mesmo teto e nem lhes dirigir um "bom dia" sequer, durante um dia inteiro, durante semanas, meses, anos ou até uma vida inteira;

- Que forma estranha essa de gostar se, mesmo estando distantes, não são capazes de escrever duas linhas "caprichadas" pra essa pessoa que gostam, principalmente por correio eletrônico que é um "vapt-vupt", dizendo que está bem e perguntando como essa outra pessoa está.

Por vezes, limitam-se somente a repassar mensagens recebidas de outros, sem o menor cuidado, como que para dizer: "Lembrei de você! - e essa mensagem tem muito haver ou a ver com você".

- Será que tem haver ou a ver mesmo?

- Será que quem a recebe queria receber esse tipo de mensagem?

- Será que o "Destinatário" queria receber uma mensagem assim de um "Remetente" que lhe é considerado precioso?

- Eu tenho certeza de que pessoas que amamos não devem estar limitadas ao clique de um mouse, comandos de "copiar/colar" e botões de "reenvio" de mensagens. Eu tenho certeza de que as pessoas que amamos; que prezamos; que consideramos amigas, com as quais achamos que temos laços bem estreitos, não devem ficar a mercê de coisas assim. Eu tenho certeza de que ninguém - (que chegou ao nível de ter um computador em sua casa ou em seu trabalho) - é tão ocupado assim nos dias de hoje que não possa sentar quinze minutos na frente dele para dizer às pessoas que ama, que naquele momento ela estava em seu pensamento e expressar-lhe essa lembrança, esse carinho, esse amor, com suas próprias palavras, não com palavras de outrem e enviar-lhe uma mensagem, de cunho pessoal e intransferível. Eu tenho certeza de que ninguém é tão ocupado que não possa dispensar uma hora do seu dia para dar atenção para aquele que ama e lhe ama verdadeiramente, pois lhe dispensa atenção também.

Nem para o meu cachorro eu deixava de dispensar um tempo do meu dia para dar-lhe atenção, brincar com ele e só com ele. Ah! Ele sabia disso e retribuía. Às vezes, eu estava tão absorvido em meu trabalho, no que eu estava fazendo, que ele vinha, esfregava o seu focinho em minha mão, como a dizer: - Hei... Cara! - To aqui viu? - Você não vai me dar um carinho hoje? - Você não vai dar uma coçadinha no meu pescoço? - Você não vai me levar pra passear???

No exato momento, há anos atrás, quando eu escrevia estas linhas, meu cão, o Ralph, fez isso. Não tive dúvidas! Larguei imediatamente esse escrito e fui dar o carinho que ele merecia; que ele necessitava pra continuar me acarinhando também. Quinze minutos depois retomei o que estava escrevendo e continuei e, ao terminar, fui dar um belo passeio com ele. Com um amigo assim, eu até podia acertar o relógio, pela manhã, sem medo de errar a hora. É quando ele vinha até meu quarto acordar-me, exatamente às 7:00 horas. Com um amigo assim eu nunca perdi hora de ir à panificadora, pois ele sabia que essa era hora dele ir passear também.

Será que você já deu hoje a oportunidade de largar tudo o que estava fazendo quando percebeu que um familiar, um amigo, seu cônjuge, seu namorado/a, seu parceiro/a estava precisando de atenção?

Será que você já se deu hoje a oportunidade de parar quando se lembrou de alguém que ama; de alguém que você não pode dizer com sua própria voz que ama e se propôs, de alguma forma, externar a essa pessoa o seu gostar, o seu amor, já que essa pessoa não está perto?

Será que você já deu hoje a oportunidade de perceber que alguém quis lhe dar atenção, que alguém talvez tenha lhe dedicado quinze minutos, uma hora ou o dia todo pra lhe dar atenção, pois lhe ama e você nem prestou atenção nisso por que naquele momento você estava com muitas tarefas importantes a realizar?

Será que você já deu hoje a chance de parar e perceber que situações como estas, acontecem em todos os momentos de nossas vidas, mas como adquirimos muitos equipamentos para ganhar tempo, você não está tendo tempo para perceber o que acontece com as pessoas que estão a sua volta?

Eu acredito que as pessoas deveriam observar mais a natureza, a natureza das coisas, dos animais e das pessoas, mas elas se esqueceram de como isso é importante. Preferiram e preferem ganhar tempo apertando botões e se esqueceram de como é bom apertar pessoas, abraçá-las, beijá-las?

Sempre digo que deveríamos observar mais a natureza. A natureza é prodigiosa! - Assim como o meu cachorro, diariamente, pedia-me várias vezes a minha atenção, o meu carinho, o meu "aperto" e retribuía da mesma forma, pode existir alguém, bem pertinho de você ou mesmo longe, necessitando de um momento de sua atenção e querendo ser grato a você por isso. Ou uma pessoa lá longe pode estar necessitando de, pelo menos, ter a sensação de que você a ama, que você lhe quer bem, de que essa pessoa é realmente importante pra você e também quer ter a oportunidade de dar o mesmo carinho e a mesma atenção.

Pense nisso: - Talvez, no dia em que você descobrir que está com tempo para dar atenção a quem você gosta e a quem te gosta também, essa atenção já não seja mais necessária. Talvez seja tardia por vários motivos.

Eu não tenho dúvidas de que hoje as pessoas estão trocando de parceiros, de cônjuges, de amigos por causa dessa falta de tempo da qual nos fizemos vítimas. Eu não tenho dúvidas de que muitos filhos estão buscando refúgio nas drogas ou na prostituição, fugindo de casa, achando a vida em família “um saco” por causa dessa falta de atenção, da desatenção dos que lhes deveriam dar atenção. Eu não tenho dúvidas de que amigos estão buscando novas amizades para substituir aquelas que não lhes retribuem a atenção que lhes é dada.

Por isso, se você realmente gosta de alguém, por favor, demonstre isso sempre! Não pense somente na pessoa que você gosta, pois eu tenho certeza que bem poucas pessoas possuem o dom de ler pensamentos. Só pensar não prova nada. Levante-se dessa cadeira, dessa cama, vá lá e dê um abraço no seu filho ou filha; no seu esposo ou esposa; no seu amigo ou na amiga; no seu namorado ou na namorada; em seu animal de estimação e diga que os ama. Mas fale em voz entendível, carinhosa, que você os ama muito! Que você às preza, que você confia neles e que da mesma forma eles podem sempre contar com você. Se não estiverem por perto, passe a mão no telefone e ligue. Dois minutos apenas! A ligação não será tão cara se você considerar que está zelando de um tesouro incalculável. Se estiverem tão longe que uma ligação telefônica possa influir negativamente no seu orçamento, e ainda não tiver um computador conectado a Internet, escreva umas linhas e mande pelo correio convencional uma "carta social" que custa R$ 0,01 - (Um centavo) somente. Ninguém é tão miserável que não tenha essa quantia no bolso ou não possa pedi-la a alguém.

Mas fale, abrace, acarinhe, escreva, não fique só pensando em fazer. Mostre isso em atitudes simples e diretas.

Faça! A oportunidade de dar é agora, não a perca! Lembre-se que depois ainda não existe!

- Então... Você já deu hoje???... Flores, um abraço, um beijo, um carinho, um bom dia, um sorriso, uma palavra "de eu estou vivo"... Lembrei-me de você, pois você é muito importante pra mim!

Pois saibam que eu já dei hoje!... Várias vezes!

Dei até o tempo que levei para escrever essa mensagem de reflexão para todos aqueles que estão em minha lista de correio eletrônico. Muitos eu nem conheço, mas já prezo muito. Muitos eu conheço e já me são mais do que especiais. E saibam todos: não foi pouco esse tempo. Demorei pra “cacete” até terminá-la e julgá-la pronta pra ser enviada e, assim, hoje eu vou dormir feliz por isso... Pelo menos hoje! Do amanhã eu ainda não sei, pois ele ainda não chegou!


Luiz Antonio Schimanski
Curitiba/Paraná

Autor: Luiz Antonio Schimanski


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