Depressão Pós Parto: Um Problema Relevante na Adolescência



Lilian Kuster de Albuquerque, Eduarda do Espírito Santo Rezende Corrêa Cardoso, Pamella Faria da Silva Josiane de Freitas Macario

Resumo

Este estudo permite ressaltar as repercussões da maternidade na vida das jovens e evidenciar a importância do pré-natal e de serviços que proporcionem atendimento pós-parto, enfocando a saúde de uma forma global, beneficiando as adolescentes e seus filhos. Tendo em vista os problemas inerentes à gravidez na adolescência e a importância de direcionar ações de saúde para essa população.

Palavra chave: Depressão, pós-parto, gravidez na adolescência.

Abstract

This study allows highlight the impact of motherhood in the lives of young people and highlight the importance of prenatal care and services that provide postpartum care, focusing on health as a whole, benefiting the adolescents and their children. In view of the problems of adolescent pregnancy and the importance of direct actions of health for this population

Depressão pós-parto um problema relevante na adolescência

Postpartum depression a major problem in adolescence

Keywords: Depression, postpartum, adolescent pregnancy.

Introdução

A fase puerperal corresponde a um momento importante da vida da mulher, lembrando que a mesma passa por mudanças biológicas como também transformações de ordem subjetivas. Sendo assim, os riscos para o aparecimento dos transtornos aumentam em face das preocupações, anseios e planejamentos realizados e sentidos pela puérpera.

Os distúrbios psiquiátricos podem acometer os indivíduos em diversas fases da vida, uma vez que a vulnerabilidade é agravada por eventos naturais somados a predisposição psicossocial e psicológica.

A gravidez na adolescência coloca tanto a mãe como o bebé numa situação de elevado risco psicossocial condicionando adversamente as suas respectivas trajetórias desenvolvimentais, como se descreve a seguir, Os distúrbios psiquiátricos puerperais se classificam em Depressão Puerperal, Psicose Puerperal e Tristeza Pós-Parto que se diferem entre si em diversos aspectos. O presente artigo discutirá acerca dos transtornos psíquicos puerperais, com ênfase na Depressão Puerperal

É indiscutível que uma das mudanças mais importantes que ocorrem nessa etapa da vida está relacionada ao início da atividade sexual e, conseqüentemente, risco de uma gravidez. É cada vez mais precoce e freqüente a atividade sexual entre jovens e a gravidez, nessa fase da vida, é sempre impactante pois, sem ter alcançado maturidade emocional e independência financeira, a mulher terá a sobrecarga de criar um filho

Especialmente quando ocorre entre a população de baixo nível sócio-econômico, há evidências de que além dos problemas biológicos e psicossociais para o binômio mãe/filho, que são mais importantes quanto mais jovens for a mulher, a adolescente terá menos oportunidade de estudar e conquistar um espaço profissional do que as mulheres que adiam a maternidade para a idade adulta

Reconhecendo os problemas inerentes à gestação na adolescência e a carência de serviços específicos para esse grupo populacional, os serviços públicos devem dar suporte ao atendimento às mães adolescentes que freqüentaram o pré-natal de uma determinada Instituição, paralelamente à atenção aos seus filhos visando o resgate do seu projeto de vida, incentivo a maternagem e a prevenção de nova gestação.

Sobre depressão pós-parto (DPP)

Criaram-se um instrumento para escala de avaliação, mas não foi tão apropriado, o instrumento utilizado hoje é um a diagnóstico amplamente utilizado na psiquiatria, mas foi elaborada para avaliar e quantificar a sintomatologia depressiva em portadores de transtornos do humor. Não é recomendada para outro tipo de paciente, nem para pessoas normais e não constitui instrumento diagnóstico para identificação de depressão. 4 Escalas mais apropriadas já são disponíveis no Brasil, validadas e específicaspara o diagnóstico da DPP, a exemplo da Edimburgh Postnatal Depression Scale5 (EPDC) e da Postpartum Depression Screening Scale2 (PDSS), citadas pelos autores. As escalas utilizadas para depressão geral têm limitações importantes quanto à capacidade de detectar sintomas depressivos em mulheres no pós-parto. Um dos pontos de debate envolvendo o uso desses instrumentos é a inclusão de sintomas que são considerados reações fisiológicas normais do puerpério, como fadiga e distúrbios do sono, e a exclusão de outros importantes para o diagnóstico da DPP (como sentimentos ambivalentes em relação à criança e de opressão pela responsabilidade de cuidar, dificuldade em revelar seus sintomas por receio de serem estigmatizadas, entre outros).

Não há trabalhos no Brasil que avaliem a DPP na adolescência. Moraes et al3 afirmam que as precárias condições socioeconômicas e a não aceitação da gravidez são os fatores que mais influenciam o aparecimento da depressão no puerpério. Considerando a gravidez na adolescência como um problema de caráter social, partindo do pressuposto de que a gravidez nesta fase é mais freqüente nas classes menos favorecidas e encaradas, na maioria das vezes, como inoportuna, com conseqüências biológicas, psicológicas. A depressão em MULHERES pós-parto, ocorrendo geralmente no período de quatro semanas após ter dado a luz (PARTO). O grau de depressão varia de transitório leve a transtornos depressivos psicóticos ou neuróticos.

Prevenção

O conhecimento dos fatores de risco da Depressão Pós-Parto são extremamente importantes no planejamento e implementações de ações preventivas. ROCHA (1999) aponta como medidas preventivas dos transtornos depressivos puerperais o máximo de apoio emocional e físico durante a gravidez, parto e puerpério (obstetra enfermagem e pediatra); o máximo de apoio emocional da família, amigos e companheiro; discussão com o companheiro a respeito da importância da adolescentese sentir amada e segura; e encaminhamento da mãe com risco elevado para depressão pós-parto para aconselhamento ou psicoterapia.

REVISÃO DA LITERATURA

A presente investigação delineou-se como uma pesquisa descritiva do tipo exploratória, com abordagem qualitativa. A vulnerabilidade da mulher ao desenvolvimento ou agravamento da depressão após o nascimento de um filho tem sido ressaltada em diversos estudos (Hopkins, Marcus, & Campbell, 1984; O'Hara, Neunaber, & Zekoski, 1984). De acordo com a literatura, há poucas evidências de que a presença da depressão pós-parto esteja associada apenas a mecanismos biológicos, como, por exemplo, a uma diminuição nos níveis hormonais, o que a explicaria como resultado de alterações metabólicas (Carnes, 1983). Nesse sentido, alguns autores têm enfatizado que uma combinação de fatores biológicos, obstétricos, sociais e psicológicos pode significar risco para a depressão pós-parto (Cooper & Murray, 1995; Reading & Reynolds, 2001). De fato, uma série de estudos tem evidenciado uma associação entre a ocorrência da depressão pós-parto e o pouco suporte oferecido pelo parceiro ou por outras pessoas com quem a mãe mantém relacionamento (Beck, 2002; Beck, Reynolds, & Rutowsky, 1992; Brown et al., 1994; Deal & Holt, 1998; Kumar & Robson, 1984; Pfost, Stevens, & Lum, 1990; Romito, Saurel-Cubizolles, & Lelong, 1999), o não planejamento da gestação, o nascimento prematuro e a morte do bebê (Kumar & Robson, 1984), a dificuldade em amamentar (Warner, Appleby, Whitton, & Faragher, 1996), e a dificuldades no parto (Brown et al., 1994). Além disso, alguns estudos mostram uma associação entre a depressão da mãe e eventos de vida estressantes, como: problemas de saúde da criança (Romito et al., 1999); dificuldades relacionadas ao retorno ao trabalho (Hock & DeMeis, 1990; Murray et al., 1995); e adversidades sócio-econômicas (Seguin, Potvin, St Denis, & Loiselle, 1999).

1. Puerpério

O puerpério caracteriza-se por se apresentar como uma fase de profundas alterações no âmbito social, psicológico e físico da mulher. De acordo com KITZINGER apud MALDONADO (1997), este é um período que se inicia após o parto com duração de aproximadamente três meses. No caso de mulheres primíparas, esta fase pode estender-se, uma vez que a inexperiência associada a sentimentos de ansiedade, medo, esperança, entre outros, somatizam-se e produzem o quadro de instabilidade ainda maior do que o natural. O desenvolvimento deste processo transitório está interligado diretamente às reações apresentadas diante dos fatos, ou seja, a compreensão e a passagem não só da mulher, mas da família como um todo pelo puerpério, será o limiar entre a saúde e a doença.

Alguns autores ressaltaram o caráter conflituoso da experiência da maternidade como um fator de risco para a ocorrência de distúrbios mentais após o nascimento de um bebê (Maldonado, 1990; Soifer, 1980). Nesse sentido, conceberam que tais distúrbios podem ter origem no conflito da mulher em assumir o papel materno, o que tornaria necessário um redimensionamento da própria identidade. Da mesma forma, Stern (1997) afirmou que, com a chegada do bebê, a nova mãe percebe-se diante de uma reelaboração de esquemas a respeito de si mesma, os quais englobam todos os aspectos do seu ser. A reavaliação de sua identidade, sob essa ótica, pode ser acompanhada de um sentimento de perda subjacente ao sentimento de ganhos com a maternidade, o qual pode estar relacionado à presença de sintomas depressivos.

Os transtornos psiquiátricos foram classificados de maneiras diversas na literatura. Na Décima Revisão Internacional das Doenças (CID-10), eles não são considerados distúrbios mentais específicos do puerpério, mas sim associados a ele, ou seja, o parto atua como um fator desencadeante devido à fragilidade psicológica qual a mulher se expõe. Deste modo, os transtornos se classificam da seguinte maneira: Síndrome da Tristeza Pós-Parto; Depressão Puerperal ou Pós-Parto e Psicose Puerperal (CHENIAUX JR apud ZANOTTI et al, 2003).

A Depressão Puerperal (DPP), segundo ZANOTTI et al (2003) é um transtorno mental de alta prevalência e que provoca alterações emocionais, cognitivas, comportamentais e físicas. Inicia-se de maneira insidiosa, levando até semanas após o parto.

O quadro depressivo surge de forma insidiosa, e na maioria das vezes, nas duas primeiras semanas após o parto. Os principais sintomas que caracterizam a depressão puerperal são tristeza, choro fácil, desalento, abatimento, labilidade, anorexia, às vezes náuseas, distúrbios do sono, insônia inicial e pesadelo, fadiga principalmente envolvendo os cuidados com a criança, hipocondria, irritabilidade, dificuldade de concentração e memorização, perda do interesse sexual, idéias suicidas e sentimentos negativos em relação ao marido; culpa, preocupações envolvendo o bebê, ansiedade, sentimentos de incapacidade em relação a maternidade e temor do ciúme dos outros filhos em relação a criança, no caso de uma multípara (Rocha apud ZANOTTI et al, 2003).

Considerações finais

A partir da revisão de literatura efetuada, constatou-se a predominância de estudos de caráter descritivo a respeito de algum aspecto da vivência da gravidez e/ou da maternidade pela adolescente, nem sempre havendo preocupação, da parte dos autores, no sentido de teorizar e elaborar hipóteses explicativas para os seus achados.

Chama atenção, também, o fato de a maior parte dos estudos ter um delineamento transversal e quantitativo, e um bom número deles utilizar comparações entre mães adolescentes e adultas, o que nem sempre é o mais adequado, em função das diferenças sociais, econômicas e culturais geralmente existentes entre os dois grupos. Em muitos destes estudos, sobressai a idéia de que, quanto mais idade tem a mãe, mais competente e adequada ela seria.

A literatura tem apontado, em algumas situações, um modelo deficitário de mães adolescentes, caracterizando-as como sexualmente promíscuas, dependentes dos benefícios estatais, irresponsáveis e possuidoras de pobres habilidades parentais. No entanto, as experiências, motivações e aspirações destas jovens parecem variar enormemente. Assim, reitera-se a necessidade de se levar em conta a heterogeneidade existente entre as vivências deste grupo de grávidas/mães conforme o contexto social, econômico, familiar e o perfil psicológico de cada uma. Isto porque as concepções negativas e reducionistas podem consistir em um entrave para o desenvolvimento de pesquisas e a atuação dos profissionais. Estes, por sua vez, devem ser capazes de desenvolver intervenções de apoio a estas jovens, para que possam alcançar seus objetivos pessoais, o que pode resultar em uma maternagem mais adequada, prevenindo-se, assim, diversos problemas psicossociais para elas, sua criança e sua família. Nesse sentido, considera-se que pesquisas visando à avaliação de intervenções voltadas à parentalidade na adolescência possam ser úteis no planejamento de políticas públicas que originar novos programas de assistência e orientação aos jovens, tão necessários em nosso contexto.

Lilian Kuster de Albuquerque, Eduarda do Espírito Santo Rezende Corrêa Cardoso, Pamella Faria da Silva, Josiane de Freitas Macario

Colaboradores

Contribuições: ALBURQUERQUE. LK, CARDOSO. EESRC, SILVA. PF,

MACARIO. JF. Todos fizeram suas contribuições e ajudaram no desenvolvimento desde trabalho por igual.

Referencia

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Autor: Lilian kuster de Oliveira Netto


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