A Circunferência Viciosa Ao Preconceito Lingüístico



RESENHA CRÍTICA: O que é preconceito lingüístico? Muitas perguntas, muitas respostas... É evidente que qualquer que seja ele, é de um verdadeiro mau gosto, isto é, mas não há, neste mundo, quem não tenha atitude preconceituosa. Todavia, é uma virtude que tenta se afastar o mais longe possível dessa praga, que, em alguns casos, é resultante da manipulação ideológica. É nesse sentido que podemos analisar as razões lingüísticas, discursivas e argumentativas que justificam ou não um comportamento preconceituoso dos professores sobre a produção escrita num gênero textual específico. Segundo Marcos Bagno, em seu livro "Preconceito lingüístico" trata de desconstruir alguns mitos que envolvem a língua portuguesa falada no Brasil, e define propagados maior referente as estes mitos a imposição dos conjuntos de regras e normas que guiam a gramática tradicional, que para ele funciona como meio de confirmação e legitimação das diferenças sociais brasileiras. É interessante observar que o livro e dividido em três partes principais, que se encontram intimamente ligadas, sendo que na primeira parte, Bagno comenta e se contrapõe à oito mitos referentes a língua portuguesa,, enquanto na segunda ele trata do circulo vicioso do preconceito lingüístico e, por fim propõe a desconstrução propriamente dita destes preconceitos lingüísticos.
Palavras-chave: Mitologia – Preconceito Lingüístico – Teoria e Crítica Literária.

O autor nos mostra que é um livro que discute o uso da língua em sociedade, comentando, principalmente, sobre o preconceito introduzido no uso da linguagem. Assim, o autor consegue expor a sua concepção sobre os diferentes mitos existentes em relação ao preconceito lingüístico.Ainda discorrendo sobre isto, Marcos Bagno coloque que: "O preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, á confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão." ( BAGNO, 1999, p. 9.)

É neste fragmento acima, Marcos Bagno descreve esses mitos criados no Brasil. Isto significa dizer, que um deles é o de que o Maranhão é a região do Brasil onde se fala o português mais corretamente, de acordo com a "Norma Culta" (gramática). Segundo Bagno, não existe isso de que existe um lugar onde se fala melhor português, até mesmo porque cada região tem uma história de colonização ou de povoamento diferente. Pode-se afirmar que há a influência dos imigrantes portugueses. Portanto, o livro, que é pequeno e muito acessível, Bagno comenta todos esses preconceitos em relação à língua portuguesa

De acordo com as colocações de Bagno, que ao colocar suas idéias, utilizam-se de um tom por vezes irônico, mas nem por isso deixa de tratar o assunto com a seriedade de que necessita. Esta maneira de escrever é bastante clara e sucinta, fazendo com que o leitor compreenda, sem muitas dificuldades, sua posição e consiga pôr em prática uma reflexão pessoal sobre o tema em discussão. Portanto, a gravidade que o assunto exige e a beleza pelo autor explorada, o leitor, ao ler a obra, começa a perceber o tratamento exposto à linguagem nos dias de hoje. Com isto, fica mais clara e objetiva com que a língua portuguesa é utilizada na cultura brasileira e o modo com que essa língua é vista pela sociedade, erroneamente, em função da confusão que se faz entre a língua e a gramática normativa.

Dentro desta perspectiva, Marcos Bagno, comenta que a partir dessa divisão, língua versus gramática normativa, o livro Preconceito lingüístico passa a ser organizado e estruturado em capítulos interligados, que apresentam essas discussões imprescindíveis para o estudo lingüístico. Além da importância desse estudo sobre a linguagem, há uma outra contribuição muito valiosa, no que se refere ao aprimoramento dos professores de língua portuguesa, em relação ao crescimento profissional, resultando no combate ao preconceito perante a sua atividade pedagógica.

Faz-se necessário afirmar, que todos os seus argumentos, Bagno põe em evidência a importância de reconhecermos a diversidade lingüística de nosso país para que, com isso, o ensino da língua portuguesa não se torne, por vezes, e como é chamado, um "ensino de língua estrangeira". Desta maneira, pode-se entender que isso já se dá, pois, por um longo tempo. Nesse sentido as escolas prestigiarem somente o ensino da língua padrão, não aceitando e rejeitando qualquer outro tipo de registro. É Nesse caso, que o preconceito mostra-se forte e presente, assunto esse que merece ser debatido. Em seguida, o autor destrincha uma série de equívocos cometidos pelos senhores-gramáticos-da-norma-culta. Faz críticas, principalmente, aos que tratam a Gramática da Língua Portuguesa como se ela fosse o deus maior. Como podemos perceber o conceito de "preconceito lingüístico" se transfigura, ou seja, o termo "preconceito" não está necessariamente atrelado a um espaço físico, Segundo Marcos Bagno em o "Preconceito lingüístico - o que é, como se faz" aponta que:

"É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano lingüístico, atores não-nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum no Brasil, muito menos no Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste de Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão." (BAGNO, p. 43 - 44)

Neste fragmento acima, podemos considerar que a língua portuguesa como um instrumento de comunicação, possuidora de diferentes normas e registros, não impedindo que seus usuários se relacionem, o ensino da língua passará a ser visto como um aprimoramento da linguagem de cada falante, e não algo complicado e incompreensível. Isto fica entendido que o problema está no modo como se ensina a Língua Portuguesa e naquilo que é ensinado sob o rótulo de "linguagem portuguesa", certamente ficará mais difícil encontrarmos brasileiros dizendo "eu não sei português", ou seja,"português é uma linguagem muito difícil". É preciso destacar ainda que a nossa tradição educacional sempre negou a existência de uma pluralidade de normas lingüísticas dentro do universo da língua portuguesa. Além disto, a própria escola não reconhece que a norma padrão culta é apenas uma das muitas variedades possíveis no uso do português e rejeita de forma intolerante qualquer manifestação lingüística diferente, tratando muitas vezes os alunos como "deficientes lingüísticos". Marcos Bagno argumenta que falar errado tem explicações lógica, científica e igualmente lingüística, histórica, sociológica e psicológica.

Nessa perspectiva de análise o caráter é visto como uma gramática normativa usada hoje é, na verdade, uma gramática descritiva da língua, utilizada na época em que foi escrita, veremos então, a necessidade, como defende Bagno, de descrevermos na verdadeira língua falada e escrita pelas classes cultas do Brasil, desenvolvendo com esse estudo uma gramática da norma culta brasileira. Assim podemos compreender que esse material, com função didático-pedagógica, servirá para prática do ensino para todos professores, alunos e falantes em geral. É dessa forma que vemos a gramática normativa tradicional, peça importante de todo esse círculo vicioso de "preconceito lingüístico", seria substituída pela nova gramática, muito mais "simples" de ser entendida. Em fim, essa nova gramática estaria escrevendo a língua portuguesa em uso do Brasil, e não a norma culta utilizada em Portugal.

Portanto, essa gramática não for efetivamente escrita, o papel do professor, então, deve ser de combate ao preconceito lingüístico que existe. De início, não podemos recusar e discriminar o modo como os alunos e a sociedade, de modo geral, fala, mas sim aproveitar esse uso para introduzirmos a norma considerada culta, Como foi analisado por Marcos Bagno, o ensino da língua deve passar de mera repetição para reflexão. Além disso, do ponto de vista prático, essa nova postura deve ser utilizada e ao invés de reprodução, uma produção do próprio conhecimento gramatical do aluno, transformando-o num pesquisador de sua língua. Vale lembrar, que a gramática precisa deixar de ser um pacote fechado, um produto acabado. Afinal, a língua é viva, dinâmica e está em constante movimento. Sendo assim, ela se coloca em permanente transformação, o que torna incoerente a permanência da gramática normativa tradicional, possuidora de uma linguagem que sofreu algumas modificações de acordo com o tempo.

BIBLIOGRAFIA

  • BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico - o que é, como se faz. 2ª edição. São Paulo:Brasil, Edições Loyola, 1999.

Autor: Luciano Agra


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