Caminhos do Cuidar



A Instituição de Saúde escolhida para o desenvolvimento da experiência de estágio foi a Creche São Miguel Arcanjo, localizada na Favela do Moinho na região Oeste da cidade de São Paulo. Essa creche é mantida pela Associação Católica Aliança de Misericórdia, que também mantém outras duas creches denominadas, Misericórdia I e II, localizadas no bairro de Taipas, também na zona oeste de São Paulo.

A favela do Moinho tem mais de três mil pessoas vivendo entre os trilhos da CPTM, embaixo do viaduto Orlando Murgel próximo á Avenida Rio Branco, nas ruínas do antigo Moinho Matarazzo. A maior parte dos moradores se sustenta recolhendo e vendendo lixo reciclável. Não há luz, água encanada ou sistema de esgoto. São cerca de 750 famílias[1].

Pensando nisso, a Ong Habitare (Centro de Atendimento, Estudo e Pesquisa em Psicanálise e Psicossomática) fundada há cinco anos, tem como objetivo principal à prevenção em saúde mental, trabalhando prioritariamente junto a gestantes e crianças de zero a três anos em situação de risco.

Para a favela do Moinho, fizemos uso do projeto "Caminhos do Cuidar", em que o objetivo geral é a ampliação das funções requeridas para o exercício da função educadora/cuidadora, enquanto agentes importantes na prevenção e promoção de saúde, agentes que podem vir a possibilitar um ambiente facilitador para o desenvolvimento saudável das crianças.

No decorrer deste trabalho, nossa intenção através da proposta da Ong foi informar e capacitar as educadoras da creche a fim de ampliar seus repertórios sobre as principais noções do desenvolvimento emocional, afetivo e social desde as etapas iniciais - bebê até a primeira infância – 5 anos.

O desenvolver do projeto "Caminhos do Cuidar" teve a participação da Universidade Nove Julho que visou relacionar a teoria da psicologia, embasado em um olhar da teoria psicanalítica winnicottiana e a prática da pedagógica vivenciada pelas educadoras no seu cotidiano.

2. Discussão

A escolha deste estágio foi feita a partir da apresentação que os docentes realizaram de suas propostas de estágio para este semestre em sala de aula. De todas, a que me chamou atenção por ser diferente de todas que já pude participar, foi à proposta oferecida pelo docente Ivan Ramos Estevão. Tal proposta está relacionada a uma Ong (Habitare), esta por sua vez, realiza um trabalho em uma creche localizada na comunidade do Moinho.

Para acompanhar este trabalho fizemos uso da teoria winnicottiana, também utilizada nos demais projetos desenvolvidos pela Ong em questão.

Já no primeiro encontro de explicação do estágio, nosso supervisor nos apresentou dois artigos para leitura e referencial teórico para que pudéssemos conhecer o trabalho realizado em creches com crianças pequenas. Os textos foram, "A creche e o brincar: alternativas para a educação no primeiro ano de vida" e também, "Atender, cuidar e prevenir: a creche, a educação e a psicanálise".

Textos muito interessantes, pois, através destes, pude entrar em contato com as práticas do cuidar no ambiente proposto pelo estágio, a creche.

Basicamente estes textos abordam a temática da importância da psicanálise no trabalho com bebês não só no âmbito clínico, mas também no que se refere à detecção e prevenção de riscos psíquicos precoces. Outro ponto do texto traz a importância do "brincar" e suas implicações na constituição do sujeito.

Na semana seguinte chegamos então na discussão, decisão dos temas e metodologia que trabalharíamos com as educadoras na creche. No primeiro momento escolhemos, a comunicação entre educadores e pais, focando na independência da criança e também no papel errôneo que a creche assume como a de responsável pela "educação" de seus filhos.Outro tema abordado foi o da comunicação externa e interna e da agressividade infantil.

Durante nossos encontros falamos sobre o que Winnicott postula sobre a dependência absoluta/parcial rumo à independência. Discutimos também sobre o ambiente facilitador e a formação das patologias e sobre a importância das educadoras no processo de formação do self.

O método de aproximação ao tema utilizado por nós durante todos os encontros, foi sempre em forma de dinâmica e depois uma reflexão sobre a proposta da própria atividade.

Na terceira supervisão de estágio conhecemos duas psicólogas responsáveis pelo projeto junto à creche. Fabiana e Laís. Elas falaram sobre a proposta de trabalho da Ong que tem como objetivo principal a prevenção em saúde mental, trabalhando prioritariamente junto a gestantes e crianças de zero a três anos em situação de risco além de enfatizar a todo este publico a importância do cuidar. Lembrou-nos que deveríamos sempre enfatizar para as cuidadoras/educadoras a importância do papel delas no desenvolvimento de cada uma das crianças, bem como a capacidade que essas mulheres têm para proporcionar um desenvolvimento saudável e um ambiente suficientemente bom e seguro.

De todos os assuntos falados durante este nosso encontro, o mais importante para mim, é o de que a creche além de ser um lugar para o desenvolvimento saudável, ele é um espaço para brincar.

Outro ponto que trabalharíamos com a creche é a importância do vínculo fortalecido entre educadora/criança para proporcionar um desenvolvimento contínuo.

Falamos sobre a questão da instabilidade de funcionários em todas as creches administradas pela Aliança de Misericórdia e este fator, é, o que prejudica o que realmente devemos proporcionar ao cuidar de uma criança, vinculo e segurança.

Atualmente a Aliança de Misericórdia que administra "financeiramente" as três creches, conta com o seguinte quadro de funcionários.

Creche Misericórdia I – 01 coordenadora pedagógica, 14 cuidadoras/educadoras e 01 cuidadora/educadora volante.

Creche Misericórdia II – 01 coordenadora pedagógica, 03 cuidadoras/educadoras e 01 cuidadora/educadora volante.

Creche São Miguel Arcanjo (Moinho) – 01 coordenadora pedagógica, 01 coordenadora administrativa, 05 cuidadoras/educadoras e 05 cuidadoras/educadoras que são estagiárias sendo que 01 delas é volante na equipe.

Outro ponto discutido por nós foi o de que sempre antes de realizarmos as atividades, semanalmente teríamos um líder para iniciar o trabalho de dinâmica e discussão com o grupo de educadoras, a fim de termos nossos objetivos alcançados.

Chegamos ao dia da visita à creche que foi realizado no último dia 27 de março de 2008.O intuito desta visita foi o de fazer uma observação à realidade do trabalho das cuidadoras/educadoras da creche. Chegamos ao local por volta das 14:00 horas e ao entrar na favela do Moinho me deparei com uma realidade antes só vista pela televisão. Um ambiente inóspito, com mau cheiro, algumas pessoas com rostos tristes, outras com "ar de desconfiança". Senti que entrei na casa de um estranho sem ser convidada.

Fomos recepcionadas pelas educadoras e pela coordenadora pedagógica Raquel. Ela nos deu a liberdade de escolher a classe que desejaríamos fazer a observação. Conhecemos todo espaço antes de ficar fazendo a observação. O prédio é composto por salas de aula, que estão divididas por faixa etária, a primeira é o berçário, bebê de 0-1 ano. A segunda sala é a de crianças de 1 a 2 anos, e assim sucessivamente até a sala de 05 anos, ou seja, nesta ultima as crianças estão pré-alfabetizadas. Além das salas de aula, a creche possui uma lavanderia, um refeitório, uma cozinha, uma sala que me aparentou ser um almoxarifado e por fim, uma sala para a coordenadora pedagógica do lugar.

Após conhecermos toda creche fui fazer a observação proposta na sala de aula do grupo de bebês de 1 a 2 anos de idade. Esta experiência foi maravilhosa e ao mesmo tempo triste para mim. Considerando que essa ambivalência de sentimentos deve-se ao fato de que eu adoro estar perto de bebês, más estes bebês da creche tem uma aparência de sofrimento físico e psíquico. Muitos deles têm seus olhos tristes e o sorriso que emanam é desconfiado, eles demoram a confiar de quem se aproxima. Também tive a oportunidade de ficar na sala onde ficam os bebês de 0 a 1 ano. Nesta sala eu fiquei bem à vontade e até aproveitei para alimentá-los, já que já era quase à hora de todos saírem. Os pais destas crianças que ficam na creche, começam a buscá-los a partir das 16:30, mas o horário de funcionamento é das 08:00 as 17:00 horas.

A rotina de todos é seguida por escrito, as duas cuidadoras/educadoras que acompanhei, me mostraram que seguem realmente uma agenda diária de atividades que devem ser realizadas igualmente todos os dias, por todas as salas de aula. As atividades estão entre, alimentação, horário para brincadeira, horário para atividade, horário para higiene, entre outras coisas.

Isso me surpreendeu um pouco, pois, sei que cada ser humano tem um ritmo diferente, e talvez nem todos possam acompanhar um o ritmo do outro.

Aproveitei este momento para reviver o acalanto da maternidade. Segurei alguns no colo com muito amor e foi difícil dizer adeus.

A visita foi chegando ao fim, por que já era hora dos pais buscarem seus filhos, nos despedimos das cuidadoras/educadoras, da coordenadora e saímos. Eu com o desejo de doar realmente todo meu conhecimento teórico e por que não materno, a fim de ajudar aquelas mulheres a compreender a sua verdadeira importância na vida de cada um daqueles seres.

Após a visita na creche tivemos então supervisão para contar e discutir com o restante do grupo a experiência de cada uma.

Durante esta supervisão, recebemos a visita das psicólogas, Laís e Tereza que vieram até nós para iniciar a capacitação teórica em Winnicott. O assunto principal deste nosso encontro foi à relação de maternagem, em relação ao cuidar.

Tereza falou sobre o desenvolvimento do projeto que agora fazemos parte, "Caminhos do cuidar". Contou-nos sobre os cuidados básicos como o toque, o pentear de cabelos, o cortar unhas, dar banho, etc, que são realizados pelas cuidadoras na creche, e que estes são momentos percebidos por nós, como de extrema importância e significação. O cuidar é necessário para criar um ambiente facilitador para o desenvolvimento das potencialidades de cada criança. É através deste cuidar, que para Winnicott", as crianças se constituirão como sujeitos.

Para Winnicott, a pessoa que tem a possibilidade de preservar seu verdadeiro Self se torna espontânea e independente.

O verdadeiro Self é estabelecido entre 0-1 ano e se firma através da experiência de comunicação entre o bebê e "seus" cuidadores. Essacomunicação entre "mãe" e bebê é uma comunicação de mutualidade e sensações. A partir dos 6 meses a relação é de contigüidade, o eu e o não eu deve ser aprendido, o bebê pode fazer uso do objeto transicional. É este que vai substituir a ausência da mãe e fazer com que o bebê sinta-se mais seguro.

"Para agüentar ser um ponto neste mundo, nossa mãe suficientemente boa nos possibilitou a oportunidade de usar a criatividade e de criar o seio e nos transformar em Deus".

Finalizamos a supervisão discutindo a dinâmica que realizaríamos no primeiro encontro. Escolhemos a dinâmica do barbante, "a teia de relações", para apresentação de todas as participantes.

Chegamos ao dia da apresentação do projeto para todas as educadoras e coordenadoras das creches, São Miguel Arcanjo (Moinho), Misericórdia I e Misericórdia II.

O encontro aconteceu no dia 05 de abril de 2008, tivemos a presença de 13 cuidadoras/educadoras, 03 coordenadoras, 02 psicólogas, 01 psicopedagoga e 06 estagiárias de psicologia.

Sentamos em circulo e todas as participantes estavam identificadas com uma etiqueta com seu nome.

O discurso foi iniciado por Teresa que é uma das diretoras da Ong Habitare, idealizadora do projeto. Ela falou sobre a importância do "cuidar" na primeira infância, especificamente de 0 a 3 anos e o quanto este cuidado afeta o desenvolvimento desses pequenos seres.

Tereza foi interrompida pela psicóloga Laís, pois o horário estava acabando. Nosso tempo de encontro vai das 09:00 as 11:00 e ainda não havíamos nos apresentado. Contamos a elas que éramos estagiárias do 9º semestre de psicologia. Explicamos que estaríamos dando continuidade ao trabalho realizado no semestre anterior e que nosso objetivo era o de proporcionar a elas, um espaço onde elas pudessem falar de suas experiências como cuidadoras e assim uniríamos a teoria à prática.

Demos então inicio a dinâmica do barbante, uma dinâmica que tem o objetivo de apresentar as pessoas participantes do encontro.

Uma das estagiárias explicou à dinâmica e o objetivo desta. O exercício de integração consiste que a primeira pessoa segura uma ponta do barbante e fala seu nome, algumas características pessoais e algo que goste de fazer, o barbante então é "jogado" para outra pessoa que faz a mesma coisa, e assim sucessivamente até chegar ao ultimo integrante do grupo. Do ultimo para o primeiro temos uma rede formada. Uma ligação entre todos os membros do grupo.O barbante então é devolvido e o carretel vai voltando ao começo da dinâmica, ou seja, ao participante inicial. Este voltar tem um detalhe, para que a rede se desfaça cada participante vai falando o que se recorda de cada um dos membros do grupo.

Finalizamos o primeiro encontro com as educadoras e perguntamos quais eram as expectativas delas para a realização deste nosso trabalho.

Quando estávamos prestes a sair, a psicóloga que nos acompanhou durante todas as visitas já convidou as educadoras para o encontro que aconteceria na semana seguinte.

Na discussão da atividade em supervisão, eu e as minhas colegas estagiárias, expusemos nossa opinião sobre o controle da atividade ter ficado sobre a responsabilidade das representantes da Ong e não conosco. Isso então foi levado às representantes da Ong por nosso supervisor de Estágio.

Decidimos que no encontro seguinte faríamos a mesma dinâmica para apresentação das participantes, se por acaso aparecessem novas cuidadoras/educadoras.

Mas, as coisas não são sempre como imaginamos, no encontro do dia 12 de abril de 2008, para nossa surpresa apenas 03 cuidadoras/educadoras apareceram. As seis estagiárias e a psicóloga estiveram presentes para a intervenção. No encontro anterior tivemos a confirmação da presença de 07 pessoas.

Para este encontro não houve necessidade de realizarmos dinâmica de apresentação, visto que, éramos poucas "desconhecidas".

Enquanto tudo isso acontecia, algumas crianças nos observavam do lado de fora do portão e algumas até chegaram a entrar e sentaram-se nas pequenas cadeiras que havíamos colocado em circulo.

Percebi neste momento que ficaria difícil de pedir que elas saíssem da creche, mas conseguimos com a ajuda das cuidadoras/educadoras.

Quando nos sentamos antes de darmos inicio a conversa, pois já passavam das 09:30h, as educadoras nos contaram que a creche demorou muito para ser construída e chegar a ser o que hoje é para esta comunidade carente. Os padres que ali começaram o trabalho tiveram muita dificuldade para conquistar as pessoas e a confiança destas para darem início ao projeto deles.

Falaram também da dificuldade que enfrentam com a mudança constante de creche, perdendo assim a oportunidade de criar um "vinculo seguro" com as crianças do Moinho. Neste encontro quem mais se posicionou foi a educadora Debora, ela mencionou que elas também passam por algumas imposições institucionais que não concordam.

Neste momento então fomos voltando ao foco que era a realização da dinâmica.

Para dar inicio a atividade deste dia pensamos em uma dinâmica com música para abordarmos o tema do "ritmo". Cada um tem um ritmo diferente!

Antes de começarmos, fizemos um aquecimento com movimentos físicos para que pudéssemos nos sentir mais a vontade. E todas nós participamos ativamente e até com mais disposição e desenvoltura para dar inicio a atividade inicial.

A dinâmica do "ritmo" consistia em uma voluntária no meio do circulo segurando um objeto, que para nós era uma bola colorida, deveria dar inicio a uma dança conforme a música que ouviria em conjunto com as outras participantes. Uma das estagiarias controlou o som, pois o CD contemplava várias músicas diferentes. A primeira participante então fez a sua dança. As demais deveriam imitá-la ou pelo menos realizar os movimentos de forma parecida. As músicas foram mudando e as participantes ao receberem a bola deveriam então conduzir a dança. Todas tiveram a oportunidade de mostrar o seu próprio ritmo, sua dificuldade ou mesmo habilidade com a dança. Este momento para mim foi muito divertido.

Ao término da dança nos sentamos e então trouxemos em discussão o que esta atividade tem haver com o trabalho delas. Aos poucos elas foram falando da dificuldade que tinham em dançar como a colega do lado, de como é complicado imitar o outro, etc.

Fizemos então a intervenção dizendo que nós não conseguimos realmente ser igual ao outro, pois cada um de nós tem um ritmo de ser diferente. E as crianças também são assim. Por isso umas fazem a atividade mais rápido, outras mais devagar e assim elas são. Cada indivíduo possui uma singularidade, sua particularidade e não podemos comparar um ao outro.

Foi aí que elas começaram a se lembrar de seus pequenos alunos e puderam fazer uma comparação com o tema por nós desenvolvido. Chegaram a citar alguns exemplos que como o Gabriel, este aluno em especial tem uma historia de vida muito particular mesmo. Ele tem a sua maneira de ser e de fazer com o que os outros se adaptem a sua necessidade e ritmo.

Fomos finalizando o trabalho daquele dia e convidando a todas que viessem no próximo encontro.

Já na supervisão, logo fomos despejando para o supervisor nossa tristeza de terem aparecido apenas 03 educadoras.

Senti-me insegura com a proposta, e fiquei pensando, será que todos os sábados vamos para lá, estudamos, nos preparos, pensamos na atividade com as colegas do estágio e aparecem 03 pessoas de 33?

O supervisor nos acalmou, disse que ia reforçar este tema com a Ong e fomos então pensar em qual seria a próxima atividade. Seria a mesmo tema e dinâmica de interpretação do tema. Resolvemos apenas mudar a dinâmica de apresentação das participantes, caso não as conhecesse-mos.

Não realizaríamos intervenção na semana seguinte a supervisão de estágio, pois estaríamos respeitando a "ponte" de feriado.

Então aproveitamos para discutir os acontecimentos da segunda visita a creche. Discutimos com o supervisor e com as demais estagiárias, pontos como:

- Cristalização das idéias; falta de diálogo entre as hierarquias, vinculo com as crianças, respeito à diferença entre elas (crianças),rotina de trabalho e principalmente o quando devemos a todo momento enfatizar a importância delas como cuidadoras/educadoras no desenvolvimento psíquico saudável para aquelas vidas.

No encontro que aconteceu no dia 26 de abril, trabalhamos o tema desenvolvimento saudável da criança e a sua relação com o educador da creche.

Neste encontro repetimos a mesma dinâmica da dança, conforme combinamos os temas repetiriam-se quinzenalmente para que todas as participantes pudessem vir e conhecer os temas.

Tivemos 07 participantes presentes, foi bem interessante este encontro.

Resolvemos começar com uma pequena dinâmica de "quebra-gelo" a fim de nos apresentar-mos e também conhecermos novas cuidadoras/educadoras.

Fizemos a dinâmica de apresentação do objeto, esta tem por objetivo solicitar a cada participante que fale de um objeto ou o mostre dizendo por que ele é importante para si.

Algumas disseram não possuir objeto de apego, outra disse que o objeto é a filha, pois é ela quem lhe dá forças, umas dizem que não precisam de objeto, basta estar bem consigo mesma, outra cita que seu objeto é o palhaço, pois o rosto de um palhaço sempre esta sorrindo, mesmo que ele não esteja bem, sempre irá mostrar "uma cara sorrindo", por pior que possa estar, e por fim a ultima disse que seu objeto de apego é a bíblia, pois sempre anda com ela na bolsa.

Ao finalizarmos esta apresentação realizamos a dinâmica do ritmo com o intuito de abordar o mesmo tema do encontro passado, perceber o outro e seu contorno.

Todas participaram e nós nos divertimos mais uma vez.

Sentamos em circulo e demos inicio a discussão.

O tema central novamente foi o ritmo de Gabriel, um caso conhecido até pelas outras creches. Elas se queixaram de que tem dificuldade de lidar com a agressividade de algumas crianças. Neste momento uma das educadoras, que já deu aula para o Gabriel, disse que quando ele era de sua turma conseguiu construir um vínculo com o garoto. Ela percebeu que o menino possui uma carência muito grande dos cuidados maternos, por isso, ela disse que ele não precisa de alguém que lhe eduque, mas sim alguém que lhe de carinho.

Foi então que finalizamos nosso encontro pontuando a fala de cada uma, dando a devida importância ao desenvolvimento emocional saudável e dizendo que o cuidado na relação do educador com a criança pode ser um ambiente facilitador para esse pequeno ser.

Durante a supervisão do dia 28 de abril, apenas trouxemos para a discussão do grupo o que havia acontecido no encontro do ultimo dia 26, já que na semana seguinte não teríamos nosso encontro, pois, era mais uma vez "ponte" a um feriado.

Neste encontro tivemos a presença da psicóloga Lais da Ong Habitare. Sua presença foi importante, afinal havíamos pensado em conjunto em levar alguns textos para que as cuidadoras/educadoras pudessem conhecer de maneira agradável o que falamos sobre a teoria winnicotiana. E foi muito válido, elas gostaram e pediram que levássemos sempre textos de apoio a fim de que elas pudessem se respaldar dos conceitos teóricos unidos a prática do cuidar.

Comentamos entre nós algo que nos surpreendeu durante o encontro quando pedimos as cuidadoras/educadoras que apresentassem um objeto. Para nossa surpresa muitas não conseguiram fazer essa relação. Penso que nossa proposta foi um pouco subjetiva e elas tiveram então dificuldade de abstrair algo simbólico para si. Talvez não façamos mais dinâmicas como esta.

Outro ponto que levantamos foi o pedido das participantes em terem um certificado de horas presentes durante nossos encontros aos sábados. Nosso supervisor ficou então de conversar com a coordenação do curso e verificar a possibilidade. Talvez este seja um motivador para a presença das meninas.

No encontro que realizaríamos em 10 de maio levaríamos cópias dos textos: "Higiene mental da criança pré-escolar" e "A professora, os pais e o médico" de Winnicott. O nosso intuito era o de que pudéssemos conversar sobre o tema que seria, "Prevenção e promoção de saúde emocional na creche – possibilidades de vínculos saudáveis".

Durante o encontro de 10 de maio iniciamos o dia de maneira diferente, primeiro fizemos uma breve explicação sobre os textos entregues a elas, estes por sua vez falam sobre a constituição de vínculos saudáveis em um ambiente facilitador.

Winnicott nos traz a questão da cristalização como fator de inibição da criatividade para o individuo, ou seja, quanto mais limitamos o poder criativo que podemos favorecer na infância, mais tornaremos os pequenos "empobrecidos" de possibilidades de construírem seus verdadeiros selfs.

Já no texto "A professora, os pais e o médico", Winnicott nos aproxima da importância não menos relevante dos três profissionais. Apesar de parecer que cada um tem uma responsabilidade diferente, percebemos o contrário, estamos interligados em uma rede de vínculos que se forem bem marcados, facilitaram o caminho para a constituição saudável do individuo, seja este psíquico, social, cultural ou físico.

Dando continuidade ao encontro, após terminarmos a explicação, partimos para a realização de uma dinâmica psicodramatista de inversão de papéis.

Durante a realização da atividade as cuidadoras/educadoras escolheram cartões coloridos com frases que as remetiam ao cotidiano da creche. A atividade deveria ser realizada através de uma pequena representação de cena que contivesse o conteúdo do envelope escolhido pelo trio de participantes.

Como neste dia tivemos a presença de um grupo significativo, sugerimos que elas escolhessem dois cartões e representassem duas cenas.

Para nossa surpresa, todas realmente "incorporaram" os personagens e atuaram brilhantemente. Algo que me chamou atenção foi o papel da coordenadora representada por uma educadora neste dia. Para ela ser "chique" é representar este papel. Fio aí que me dei conta do quanto há de angustia reprimida em cada uma das educadoras.

Outra cena interessante foi representada por um trio que simulou uma briga entre as crianças, a educadora sem conseguir dar conta de outra criança que chorava. Este cenário foi para mim de total desamparo e realmente entristecedor para quem vivencia esta experiência.

Contudo, para as educadoras esta atividade me pareceu muito agradável. Elas conseguiram fazer a "ponte" entre o tema e a dinâmica, pois, quando fizemos a discussão, elas conseguiram dizer o quanto se sentem frustradas quando não conseguem dar conta de uma situação na sala de aula.

Na supervisão deste encontro realizada em 12 de maio, discutimos a questão da aproximação entre teoria e prática efetivada no encontro do ultimo sábado.

Decidimos que o tema do próximo encontro seria a Comunicação Verbal e não verbal.

Os textos de apoio utilizados para este tema foram retirados do livro, "Os bebês e suas mães". Capítulo 03, "A amamentação como forma de comunicação; e capítulo 09 "A comunicação entre o bebê e a mãe e entre a mãe e o bebê: convergências e divergências".

Chegando à creche no dia 17 de maio fomos logo reforçando o tema do encontro. Discutimos os temas dos textos abordando a importância do ambiente facilitador.

Falamos sobre a importância da amamentação, que nos remeteu a aula ministrada por Teresa nos explicando a importância das primeiras experiências ligadas à alimentação em relação ao fantasiar do bebê. Este bebe ao sentir fome fantasia a criação do seio a seu favor, alimentando-o como se ele o tivesse criado a partir do seu desejo.

Realizamos neste dia a dinâmica do "telefone sem fio", apenas para falar da dificuldade que temos em por mais simples que seja a mensagem que desejamos transmitir, não podemos supor que o outro a entenderá. Esta aí a comunicação com falhas e desvios. Isso acontece em qualquer ambiente de trabalho. E a explicação para a realização desta pequena brincadeira era a de dizer apenas que não somos obrigados a entender o que o outro quer dizer e ao mesmo tempo, quando deixamos de entender algo que foi "mal dito", devemos nos posicionar.

A outra atividade que realizamos foi através de cenas do cotidiano representadas através da mímica. Nesta atividade todas perceberam o quanto é difícil compreender algo que fica "não dito".

Isso para nós e para elas ficou bem claro na realização da dinâmica.

Na supervisão posterior a este encontro tivemos a oportunidade de ter outra aula com Teresa. Neste dia ela nos trouxe o tema da "Delinqüência, violência e agressividade, do livro Privação e Delinqüência de D.W. Winnicott.

A aula foi supostamente a mais interessante para a proposta deste estágio, finalmente falaríamos para elas o que gostariam de saber. O que é agressividade? Por que algumas crianças agem de tal maneira?

Nossas respostas foram respondidas e reafirmadas no encontro de 31 de maio.

No horário combinado como nos sábados anteriores estávamos lá, e particularmente este dia para nós e para as cuidadoras/educadoras foi o mais grandioso.

Iniciamos o dia conversando em circulo sobre o que elas entendiam por agressividade. "Soltamos" algumas falas pensando que pudéssemos chamar a atenção para o tema, quando surpreendentemente elas passam a falar da violência que sofreram em suas infâncias e casamentos, entendem algumas atitudes vivenciadas como agressividade.

Usaram o espaço como setting terapêutico. Elas falaram, falaram, deram exemplos da vida particular, de como cuidam de seus filhos e aí chegaram ao posicionamento como "educadoras". Não fazem na creche o que fazem em casa. (bater quando necessário).

Depois de acolhermos todas as angústias, fomos a explicação do tema por elas tão esperado. Diferenciamos a agressividade e a violência.

Explicamos que as falhas psíquicas são apresentadas a partir de uma falha na maternagem.

Falamos que o período da dependência relativa é aquele na qual se consolida as experiências adquiridas no período da dependência absoluta. Este é o período na qual a criança reconhece o outro, ocorre a separação do que é o eu do não eu.

Para que não ocorram falhas no desenvolvimento e então surja o comportamento anti-social, a criança deve ter um ambiente suficientemente bom para tolerar as falhas do mundo.

Um comportamento anti-social surge como uma forma de chamar a atenção a algo que foi "roubado" desta criança, algo que lhe foi tirado, e então com a esperança de recuperar este algo perdido, ela então adquiri um comportamento que para muitos pode parecer inadequado. Para nós é saudável, pois enquanto houver esperança, esta será uma maneira de se demonstrar sua experiência de "perda" do objeto.

Falamos um pouco também sobre como lidar com este manifesto de esperança. Podemos proporcionar uma experiência de regressão onde os aspectos do self são integrados. Podemos deixar à criança re-viver a experiência traumática e por ela a patologia pode desaparecer. A conversa com a criança também é uma forma de dizer a ela que entende o quanto sofre com isso, que conquistou algo e foi perdido.

Na supervisão do dia 02 de junho expusemos o que aconteceu e o quanto foi produtivo nosso encontro. Escolhemos como tema final a importância do brincar e decidimos que aplicaríamos como dinâmica uma atividade com massa de modelar e que apresentaríamos a elas o filme "Crianças Invisíveis", especificamente um trecho sobre a criatividade da brincadeira em uma favela do Brasil.

Começamos assistindo ao filme e depois falando sobre a importância do brincar no encontro de 07 de junho. Apontamos as diferentes formas de brincar nas diferentes faixas etárias.

Cada uma falou sobre sua experiência de brincar na infância e isto para cada uma delas me pareceu muito importante. Elas são diferentes faixas etárias e de lugares diferentes, então, a conversa ficou divertida, porque algumas brincadeiras citadas eram por nós desconhecidas. Então cada uma falou de si e de como é bom ser criança.

Partimos para a brincadeira com a massa de modelar. Sentadas nas cadeiras pequenas da creche, fizemos uso das pequenas mesas para elaborar-mos nossa atividade. Dividimo-nos em grupos e cada um com possuía um pote de cor diferente. Pedimos que cada uma pegasse um pedaço da massa e fizesse uma bola e que esta seria dividida para criar o que quisessem. Algumas tiveram dificuldades de brincar. Não convêm expor tais dificuldades, pois, estão ligadas a dificuldades pessoais e psíquicas.

Esta atividade também foi agradável para elas, porque ao termino da brincadeira elas disseram estar sentindo-se bem.

Chegamos ao final, na ultima supervisão conversamos em grupo que daríamos uma devolutiva pessoal tanto para as participantes do projeto como para a Laís que nos acompanhou fielmente nesta jornada.

Fizemos um questionário de avaliação de reação que poderá ser encontrado nos anexos a este trabalho.

Para esta despedida em 14 de junho, resolvemos fazer um encontro bem agradável com um pequeno café.

Era um dia ensolarado e muito agradavel, também era dia de vacinação contra a paralisia infantil, a creche foi utilizada para a vacinação das crianças.

Utilizamos o espaço do refeitório para nos despedirmos.

Foi muito bom ouvir palavras de incentivo a realização de nosso trabalho.

Fizemos um pequeno resumo de nossa trajetória, e pedimos que todas as presentes nos pontuassem o que mais gostaram de trabalhar ou ainda que pudessem nos sugerir novos temas.

Os temas que elas mais gostaram foram a agressividade e o brincar.

Sugeriram temas como sexualidade infantil, mais aprofundamento no tema agressividade, como conversar com os pais e até temas voltados para elas mesmas.Sugeriram também que fizéssemos encontros na creche de Taipas.

Perguntamos a elas o que levou algumas educadoras a não participarem, elas nos contaram que vários fatores influenciaram nesta "não vinda". Primeiro a localização, a maioria mora em Taipas, outras estudam e só tem o sábado para realizarem outras atividades com filhos e família e por fim outras ainda estudam e participam do programa Escola da Família.

Agradecemos a presença de todas e falamos do interesse de continuarmos.

Fomos então ao café de confraternização, depois pedimos o preenchimento da avaliação de reação de nosso trabalho e com um pouco de saudade nos despedimos.

Sair sem ter a certeza de voltar faz parte de nossa profissão. Nunca temos a certeza que um paciente vai voltar até a próxima consulta. Para Winnicott, a terapia se realiza na própria consulta terapêutica, às vezes, não é necessário um retorno. São pequenos encontros que podem facilitar a integração do self.

3. Conclusão:

Falar do obvio é difícil. Doei minha vontade de estar com elas por todos os sábados. Foi gratificante realizar este estágio.

A realidade de estar em um lugar como a favela do Moinho me fez pensar que intervir em lugares como aquele é possível e necessário.

Penso que este trabalho possa continuar e deva. Todas aquelas crianças e cuidadoras/educadoras precisam de muita atenção e dedicação. Tolerar aquele ambiente é primordial.

Sugeri em supervisão algumas intervenções para dar continuidade no trabalho. Tais como: Inserção do tema da feminilidade, questões de ser mulher, sexualidade, controle de natalidade, doenças sexualmente transmissíveis, drogas, álcool, ou seja, temas que podem ser propagados pela favela em discussões, por exemplo, com os pais das crianças.

Inserção da equipe multidisciplinar, acordo por exemplo entre a Uninove e a Ong Habitare, para compartilharem de suas propostas com as disciplinas, medicina, nutrição, enfermagem, etc...

Talvez um plantão jurídico para abordar causas comunitárias.

E para trabalhar com os pais, poderíamos fazer uso de atividades lúdicas, com atrativos como cafés da manhã, brincadeiras, gincanas, jogos, etc...

Implantação de uma caixa de sugestões ou "desabafos" para favorecer a comunicação interna.

E o mais importante deles é propagar o trabalho para as outras creches, visto que na maioria dos encontros tivemos apenas a presença das educadoras de Taipas, as do Moinho apareceram muito pouco.

4. Bilbliografia:

ALMEIDA, L. S. Indicadores Afetivos do Processo de Vinculação entre Bebês e Educadoras de Creche. 2000.

BERNARDINO, Leda Fischer e KAMERS, Michele. A creche e o brincar: Alternativas para a educação no primeiro ano de vida. Estilos clin. [online]. jun. 2003, vol.8, no.15 [citado 15 Junho 2008], p.48-57. Disponível na World Wide Web: . ISSN 1415-7128.

BRAZELTON,T Berry - Momentos Decisivos Do Desenvolvimento Infantil.

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[1] Fonte: http://www.midiaindependente.org/media/2006/09/361192.pdf

Autor: Vivian Gubert Crepaldi


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