O Enigma Não Esclarecido



A grande premissa do problema da relação entre homem e Deus está na questão de como encontrar um caminho para uma percepção desse mesmo Deus por meio da contemplação aqui e agora. Para entender a resposta bíblica, precisa haver certeza daquilo que o mundo representa e tentar compreender as categorias pelas quais a Bíblia vê o mundo. Essas categorias são o sublime, a reverência e a glória.

A religião tem como grande premissa a capacidade que o homem tem de ultrapassar a si próprio. O homem pode estabelecer uma relação com o mundo onde está inserido e pode, também, elevar sua mente com Ele (Deus) que ultrapassa o mundo. Elevando sua mente, o homem pode se ligar ao absoluto, adquirir a capacidade de viver com exigências que são condicionais.

Nossa atenção às coisas do mundo se revela pequena e também nosso interesse é limitado. Há três aspectos da natureza que comandam a nossa atenção: poder, beleza e grandeza. E há três maneiras por meio das quais podemos nos relacionar com o mundo, explorá-lo, apreciá-lo, aceitá-lo com reverência. Diferentes aspectos da natureza induziram o talento do homem; seu poder outras, e a mente do homem foi atraída por sua grandeza. O uso da natureza é seu valor mais importante e o mais importante propósito humano é o de utilizar seus recursos. O homem tornou-se um animal fazedor de ferramentas e transformou o mundo em uma enorme caixa de ferramentas que satisfazem suas necessidades.

Os gregos aprenderam para compreender; os hebreus aprenderam para reverenciar. Na modernidade, o homem aprende a fazer uso de seu conhecimento: "Conhecimento é poder", como dizia Francis Bacon. Dessa forma, a humanidade se sente cada vez mais estimulada a estudar, pois conhecimento é sinônimo de sucesso.

Para os teóricos do conhecimento, o conhecimento de caráter religioso é uma forma inferior de conhecimento. Essa concepção vem desde August Comte (fundador do positivismo) que dizia que a humanidade possuía, ao longo de sua história, três fases no desenvolvimento humano: a metafísica (ou religião), a filosofia e, por fim a mais importante, a ciência. Futuramente, encontram-se dificuldades para se compreender como existiram gerações anteriores que não consideraram a idéia de Deus como sendo o mais elevado conceito do qual o homem é capaz de formular. Gerações essas que ficaram envergonhadas e consideraram o desenvolvimento do ateísmo como sinal de progresso na emancipação do pensamento humano. O conforto e o luxo, juntamente com o sucesso, seduzem todos os dias os apetites humanos, o que deturpa a percepção daquilo que é necessário. A sociedade pós-moderna, herdeira de todas essas mazelas, vive um verdadeiro vazio, sobrepondo o ter sobre o ser.

Contudo, ainda restam esperanças. Vê-se que o mesmo homem pós-moderno e sua sociedade atual buscam um recuperar-se. Recuperação essa feita gradualmente. Começa-se a reconhecer a falta no direito até mesmo de sonhar, de não poder chorar suas perdas, o que gera uma ansiedade das coisas fabricadas pelo sistema e que pensa poder precisar. O homem de hoje deixou há muito tempo a capacidade de confiar no seu poder de acreditar ou na sua dor por perder a vontade de acreditar.

Uma percepção apurada do que é o sublime pode ser encontrada em vários escritores que devem sua grandiosidade a fontes hebraicas. Contudo, não se pode negara qualidade de escritores gregos antigos como Homero e Ésquilo. A percepção do sublime como espécie misteriosa de beleza está ausente da filosofia grega no período clássico. O mais antigo tratado sobre o sublime foi escrito no sentido de atributo de distinção, levando a concluir que a grandeza interior da alma humana resulta da capacidade do homem de se deixar sensibilizar pela grandiosidade externa da natureza.

Na relação entre belo e sublime, este tem sido comparado àquele. Identificava-se o sublime com o imenso, o terrível e o obscuro, que causam o sentimento de dor e medo. O belo identificava-se com o suave, o pequeno e o delicado, que inspiravam o sentimento de amor e de ternura. O belo dá prazer sem interesse algum e o sublime dá prazer quando se opõe aos interesses do sentido, definição kantiana.

Já o sentido do mistério reporta ao livro do Eclesiastes, que é um livro formado por depoimentos de um homem que buscou a sabedoria pelo discernimento no mundo e seu significado. A existência é um mistério e a sabedoria está além do alcance do homem. Não somos capazes de atingir o discernimento sobre o que significa e qual o propósito definitivo das coisas. O homem é incapaz de atingir os pensamentos que povoam sua própria mente e nem entende o significado de seus próprios sonhos. Caso concreto é o que encontramos em alguns trechos do livro de Daniel (2, 27).

Apreender e compreender são coisas bem distintas. Quando apreendemos, não podemos compreender. Desse modo, o mistério é uma categoria ontologia que não pode ser compreendida, apenas apreendida. O mistério é uma dimensão que perpassa toda a existência humana. Pode ser sentido em todos os lugares e a qualquer hora. Do mesmo modo que o mistério, o mundo em que vivemos é algo apreensível, mas não compreensível.

Portanto, ligado ao mistério, o enigma continua obscurecido, velado ao homem para sempre. Até mesmo as legiões celestes cobrem suas faces na presença de Deus. Só o que podemos ter é a percepção de que a presença do mistério se faz; presença que a mente humana não pode penetrar.

O nome verdadeiro de Deus também fica no obscuro, oculto. O mistério não é Deus, seu poder não é arbitrário. Ele é grande em poder e age com justiça e correção. Não transgride e a natureza é submetida à sua vontade. Para o homem, a quem resta uma parte da Sabedoria divina, fica uma vida vivida na responsabilidade e fica a graça de ser sócio de Deus.

Atitudes em relação ao mistério: fatalista, positivista e bíblica. A fatalista mostra o mistério como poder supremo que controla toda a realidade; o mundo é controlado por um poder irracional, inescrutável, cego, despido de justiça ou propósito. Dentro da atitude positivista, há uma crença de que a natureza da realidade ou o domínio sobre a natureza da realidade e suas asserções não têm significado. Na visão bíblica, Deus precisa do homem e seu objetivo definitivo não é uma lei, mas um juiz; não um poder, mas um pai.

Sublime, mistério, enigma são palavras que possuem um significado que, contudo, não podem ser expressas, fidedignamente, porque estão relacionadas a algo próprio do homem. Além de estar no âmbito da vida humana, as três palavras acabam tendo uma relação direta com Deus, que é outra palavra inexplicável. Para que haja comunicação entre os seres humanos no tangente dessas palavras – e daquelas que lhe estão próximas: belo, inefável etc. – há, digamos que, uma convenção de sentimentos e de idéias. O homem precisa se comunicar e precisa explicar suas experiências tanto no âmbito da vida cotidiana quanto em suas experiências extra mundo físico.

Dizer que somos seres que tendem ao absoluto é uma tese que já foi defendida pelos mais diversos pensadores. Contudo, as experiências realizadas com Deus são experiências que, por extrapolarem a dimensão do físico, dificultam, de certa forma, a capacidade de expressar concretamente. Por isso se faz importante o estudo sistemático das religiões. Ciências como Teologia e Ciências da Religião auxiliam, dão ferramentas, para que a razão humana apreenda (compreender é outra história), ao menos em partes, o objeto de estudo.

Portanto, a dimensão religiosa humana é uma dimensão que não se pode apagar de uma hora para outra. Os discursos a cerca de Deus e das suas relações com o humano não teriam razão de ser se não fossem importantes. Discussão essa iluminada pela razão em comunhão com os sentidos. Assim é que se faz a fé, desse casamento. Senão, valorizando apenas uma só, matamos a experiência, adulteramo-la, enfim.

A teologia e as coisas de Deus é que nos ensinam e nos exortam a nadar contra a maré de um mundo que prega o materialismo como forma de satisfação da vida, que coloca a dignidade de ser abaixo do ter. Vemos as chamadas ditaduras do poder e da beleza e da grandeza. Para a sociedade pós-moderna em que vivemos, o conhecimento tornou-se poder. As ciências experimentas são o que dão a ultima palavra em tudo. E junto com isso, o grande mercado consumidor gera sempre mais e mais produtos para satisfazer o vazio que o homem encontra em meio a si.

Com a ditadura da beleza, as pessoas ficam cada dia mais insatisfeitas consigo mesmas porque dão atenção a um pseudo-padrão daquilo que a própria sociedade diz ser belo. Entretanto, belo é algo que se faz no simples, no pequeno, não em ostentações de grandes círculos de moda e de padrões de beleza que só ajudam a aumentar ainda mais o vazio presente nas pessoas. E esse vazio não consegue ser preenchido.

E a teologia não quer, e nem deve, ser resposta para todos esses problemas. Ela é um sinal, uma luz em meio ao túnel escuro no qual a sociedade pós-moderna se encaminha. Referencias são necessárias. Caso contrário, ficamos ainda mais perdidos e sem conseguir coisa alguma que nos torne seres humanos mais realizados e mais satisfeitos.
Autor: Anderson Rodrigo Oliveira


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