O Papel do Terapeuta Ocupacional em Tratamento de Psicóticos



Introdução

Baseando-se na problemática atual do tratamento de psicose no Brasil, este trabalho destina-se a definir qual o papel do Terapeuta Ocupacional no tratamento destes pacientes psicóticos.

Para melhor ilustrar e exemplificar será abordado o histórico da atuação do Terapeuta Ocupacional no tratamento de psicóticos desde seu inicio. Pelo fato de ser um assunto complexo, durante o desenvolvimento deste trabalho será focada com mais intensidade a Esquizofrenia.

Histórico da Atuação do Terapeuta Ocupacional em Tratamentos de Psicose.

Nise da Silveira foi pioneira na terapia ocupacional, introduzindo em 1944 este método no Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro e, segundo suas próprias palavras, entrara na Psiquiatria "pela via de atalho da ocupação terapêutica, método então considerado pouco importante para os padrões oficiais". Inicialmente, quando reintegrada ao serviço público (1944), sentia-se inapta para exercer a tarefa de psiquiatra, pois, era ferozmente contra os choques elétrico, cardiazólico e insulínico, as camisas de força, o isolamento, a psicocirurgia, e outros métodos da época que considerava extremamente brutais e recordavam-lhe as torturas do Estado Novo aplicada aos dissidentes políticos, e que ela conhecia tão bem. De qualquer modo, sua postura humanista a faria ser uma pioneira das idéias de Laing e Cooper (antipsiquiatria), Basaglia (psiquiatria democrática) e Jones (comunidade terapêutica).

No mesmo ano que entrou no Hospital Pedro II (antigo Centro Psiquiátrico Nacional), Nise colaborou com o psiquiatra Fábio Sodré na introdução da TO naquela instituição. Em 1946, sabendo que Nise havia colaborado na implantação da TO no HPII, o então do diretor deste hospital, Paulo Elejalle, entusiasta desta forma de reabilitação psiquiátrica, pediu a ela para criar a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) do Centro Psiquiátrico Pedro II, neste mesmo ano. Em 1954 o STOR foi regulamentado pelo próprio Paulo Elejalle através de uma ordem de serviço, e oficializado em 9 de agosto de 1961 pelo decreto presidencial no 51.169. Nise dirigiu o STOR desde a sua fundação, em 1946, até sua aposentadoria compulsória em 1974.

O STOR tinha alguns setores especializados, mas foi a criação do atelier de pintura que o tornaria famoso.

Em pouco tempo o atelier do STOR ganhou notoriedade e a produção dos pacientes tornou-se um material impressionante sobre as imagens da psicose. Já em 1947, uma exposição sobre esta forma de arte foi organizada pelo Ministério de Educação e Cultura, outra em 1949, no Museu de Arte Moderna de São Paulo ("nove Artistas de Engenho de Dentro"), com obras escolhidas pelo crítico francês Leon Degand, e ainda neste mesmo ano outra exposição na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Para preservar e pesquisar o acervo artístico dos psicóticos (que reúne cerca de 350 mil obras), Nise criaria o internacionalmente famoso Museu de Imagens do Inconsciente em 1952.

Para Nise, a terapia ocupacional era uma psicoterapia não verbal, única e apropriada à reabilitação de psicóticos. Ela ressaltava o alcance desta terapia para além das formas convencionais de psicoterapia (verbais), ao constatar que a comunicação com os esquizofrênicos graves só poderia ser feita inicialmente em nível não verbal. A terapia ocupacional permitia a eles, segundo suas próprias palavras, "a expressão de vivências não verbalizáveis que no psicótico estão fora do alcance das elaborações da razão e da palavra".

Dentro desta perspectiva, o psicótico não é apenas uma relação de sintomas positivos e negativos, é preciso proporcionar ao paciente um ambiente onde ele possa encontrar o suporte afetivo que o ajude a retornar ao mundo externo, este é um dos papéis do Terapeuta Ocupacional.

O que é esquizofrenia?

É uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou no inicio da idade adulta.Sua freqüência na população em geral é da ordem de 1 X 100 pessoas. No Brasil, estima-se que haja 1,6 milhões de esquizofrênicos.

Ela atinge em igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no homem, por volta dos 25 anos e na mulher, por volta dos 30 anos.

A esquizofrenia apresenta várias manifestações, afetando diversas áreas do funcionamento psíquico. Ocorrem alterações do comportamento e sintomas que levam à psicose (incapacidade de distinguir entre a realidade e a imaginação).

Os principais sintomas são:

Delírios:São idéias falsas dos quais o paciente tem convicção absoluta. Por exemplo, ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas.

Alucinações:São percepções falsas dos órgãos dos sentidos. O paciente ouve vozes, e tem alucinações visuais, táteis ou olfativas.

Alterações do Pensamento: As idéias se tornam confusas, desorganizadas, ou desconexas, tornando seu discurso incompreensível.

Alterações na Afetividade: Perda na capacidade de reagir emocionalmente às circunstâncias, ficando indiferentes e sem expressão afetiva.

Diminuição da Motivação: O paciente perde a vontade e o interesse pelas coisas, encontrando grandes dificuldades para as tarefas do dia-a-dia.

Como resultado, muitos pacientes com esquizofrenia sofrem não apenas de dificuldades emocionais e do pensamento, mas também da falta de habilidades sociais e de uma boa integração social. As abordagens psicosociais são necessárias para promover a reintegração do paciente à família e à sociedade.

É dentro desta abordagem psicosocial, seja no hospital ou na comunidade, e em programas de reabilitação, que o terapeuta ocupacional vem desenvolvendo seu trabalho que tem por um de seus objetivos ajudar o paciente a lidar com as dificuldades do dia-a-dia.

O papel do Terapeuta Ocupacional no Tratamento dos Psicóticos (Esquizofrênicos).

O uso dos medicamentos é fundamental pois são eles que tratam os sintomas psicóticos. Porém, só eles não são suficientes, o paciente e freqüentemente a família necessitam de outras intervenções. Dentre elas destacamos:a Terapia Ocupacional através da terapia familiar, dos grupos operativos e dos acompanhantes terapêuticos.

Inicialmente a terapia ocupacional surgiu com o objetivo de reabilitar, readaptar e reinserir socialmente o paciente, ao longo dos anos o espaço e a importância esta pratica tem aumentado. Neste tratamento, o paciente, o terapeuta e a atividade por eles desenvolvida formam uma tríade que se desenvolve com o objetivo de uma melhor compreensão pelo paciente, seja do mundo externo (a realidade) seja do interno (pensamentos e emoções).

Terapia familiar – A família freqüentemente "adoece" junto com o paciente e necessita de atenção. A intenção é apoiar os familiares orientando os sobre a doença e como relacionar se com o paciente, bem como identificar e cuidar de questões outras alheias ao paciente; para que isto ocorra o Terapeuta Ocupacional tem que conhecer o contexto sócio-cultural do paciente, através de um estudo profundo e delicado.

Grupos Operativos (GO) – Os pacientes e o terapeuta desenvolvem uma tarefa durante o grupo determinada e executada por ele. Tal prática visa a melhora do pragmatismo, da comunicação individual e social e auxilia também, na delimitação do que é interior e externo ou seja o que são fantasias e o que é realidade.

Acompanhante Terapêutico (AT) – Este profissional relativamente novo tem por objetivo ajudar o paciente na reintegração social, bem como uma melhor organização das tarefas cotidianas.

Cada paciente necessita de um plano terapêutico especifico, nele leva se em conta as características do indivíduo, sua sintomatologia e os objetivos a serem alcançados com o tratamento.

Quando necessário e solicitado, o Terapeuta Ocupacional interage com outros profissionais da área da saúde buscando um atendimento completo e objetivo para a melhoria do paciente.

CONCLUSÃO

A Terapia Ocupacional vem desenvolvendo desde a época de Nise da Silveira, formando profissionais cada vez mais capacitados na área mental, principalmente no que diz respeito à reinserção e reintegração do paciente à família e à sociedade, e às suas tarefas do cotidiano.

Para que possa haver esta recuperação o Terapeuta utiliza atividades como: oficinas de arte, expressão corporal, atividades do cotidiano e outras.

BIBLIOGRAFIA

WILLARD/SPACKMAN. Terapia Ocupacional.Madrid: Panamericana. 8ª. Ed.915 p. 1998.

LOUZÃ NETO, M . R . Esquizofrenia in: Revista brasileira de Medicina. Vol. 55 n. 3. Março. 1998. p. 84 – 96.

SILVEIRA, Nise da.Terapêutica Ocupacional: Teoria e Prática. Casa das Palmeiras, Rio d Janeiro, 1979.

Folheto – PROJESQ- Programa de Esquizofrenia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Parceria com o Projeto Fênix.


Autor: Evandro Caversan de Godoy


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