A Bíblia e Seu Percurso Histórico: A Voz de um Povo



1° ETAPA: UMA PEQUENA INTRODUÇÃO:

1 – Um livro de livros menores:

A Bíblia é um conjunto de livros escritos durante vários séculos. Ao pé da letra, a palavra bíblia significa “livrinos” , pois é o plural da palavra grega bíblíon (“ livrinhos), que por sua vez é o diminutivo da palavra biblos (“livros”). Quem primeiro usou a palavra “Bíblia” para se referir às Sagradas Escrituras foi João Crisóstomo, no quarto século depois de Cristo.

Na Bíblia nós temos, assim, uma coleção de livros menores, diferentes entre si, cada qual contendo uma mensagem e procurando iluminar a vida do povo de Deus de acordo com a realidade de quando foram escritos.

Esses livros falam da historia e da experiência de um povo do Oriente, o povo de Israel. Escravo no Egito, este povo experimentou Deus como o Deus da vida e da liberdade, o Deus que deseja conduzir pelo caminho da liberdade em vista plena para todos.

Deus e o povo de Israel fizeram juntos uma Aliança, um pacto, um acordo: Deus prometeu a liberdade e a vida, prometeu acompanhar e proteger sempre seu povo, e o povo prometeu caminhar segundo a vontade do seu Deus, vivendo na fraternidade, como irmãos. O problema é que, da parte do povo, essa promessa foi constantemente quebrada, surgindo daí conflitos e opressões dentro do próprio povo de Deus e de outros povos em relação ao povo de Israel.

É a história dessa Aliança que temos na Bíblia. São ao todo 73 livros, e nesses livros temos vários modos de escrever: historia poesia, hinos, cartas e outros estilos, de acordo com a mensagem que se queria comunicar.

2 – Livros de época diferentes, inspirados por Deus:

Os livros que formam a Bíblia são diferentes exatamente porque procuravam responder diversas de cada momento histórico. Antigamente se acreditava, por exemplo, que Moisés havia escrito sozinho todo o Pentateuco(o Pentateuco são os primeiros cinco livros da Bíblia, na ordem em que eles aparecem hoje em nossas Bíblias). Os estudos permitirem descobrir que os livros d Bíblia forem escritos por várias mãos, pouco a pouco, redigidos, emendados, mudados, de acordo com os momentos históricos do povo de Israel. Há livros que foram escritos de modo mais rápido, e outros que demoraram muito para ser finalizados.

A Bíblia conta os acontecimentos que cobrem um período de tempo muito grande: desde a experiência do primeiro pai, Abraão, ou de seu descedente Jacó, que era um arameu errante ( ler Dt 26,5), por volta do ano 1850 antes de Cristo, até a experiência de perseguição dos primeiros cristãos, que encontramos no livro do Apocalipse de João, no final do século e inicio do segundo século depois de Cristo. Mais de dois mil anos, portanto, estão presentes nas páginas da Bíblia. E tal como a longa história de povo de Israel com seu Deus, assim também a Bíblia foi longamente preparada e gerada. Ela é, por isso, inspirada por Deus: todos aqueles que escreveram os textos bíblicos procuraram expressar por meio deles a vontade de Deus na caminhada do povo. Deus iluminou e inspirou essas pessoas na descoberta do seu projeto de liberdade e vida. Foi um processo dinâmico e gradual: o ser e o agir de Deus foram sendo descobertos aos poucos, até a revelação total que se deu com Jesus Cristo, o revelador perfeito do projeto de Deus Pai. Por isso, como afirma o Concílio Vaticano II, a Bíblia é a Palavra de Deus, a mensagem que Deus transmitiu ao seu povo milhares de anos atrás, e que continua transmitindo a nós hoje, quando lemos as Sagradas Escrituras e procuramos nelas iluminação e alimento para nossa vida. Porque e revelação plena de Jesus continua a acontecer hoje em nossa caminhada com a Bíblia.

3 – Uma coleção de livros

Os 73 livros que se encontram na Bíblia Cristã se dividem em duas grandes partes: Antigo e Novo testamento. A palavra “testamento” vem da tradução grega para a palavra hebraica berit, que significa “aliança”, “pacto”. Na tradução grega de berit, de fato, encontramos a palavra diatheke, que significa “testamento”, “contrato”, “aliança”. Podemos dizer que as duas grandes partes da Bíblia se referem à Antiga e à Nova Aliança entre Deus e o seu povo. Para nós, cristãos, Jesus é o ponto de chegada do Antigo Testamento e o ponto de partida do Novo testamento.

Quando dizemos que a Bíblia é uma biblioteca de 73 livros, é preciso notar que existe uma diferença entre a Bíblia dos católicos e dos protestantes. As Bíblias protestantes não trazem sete livros: Judite, Tobias, 1°Macabeus, 2°Macabeus, Bacuc, Eclesiástico e Sabedoria, além de Éster 10, 4-16,24 e Daniel 13-14. Estes livros foram considerados inspirados num segundo momento, quando a Bíblia hebraica já estava bem formada, e entraram no conjunto dos textos sagrados somente quando a Bíblia hebraica foi traduzida para o grego, na tradução da Setenta, por volta do ano 250 antes de Cristo. Visto que os protestantes só aceitam a Bíblia hebraica como inspirada, estes textos ficaram de fora. Já os católicos aceitam a Bíblia grega, e portamto os sete livros acima, escritos em grego, foram considerados sagrados. Hoje, porém, algumas Bíblias protestantes trazem também estes livros, que são considerados como “deuterocanônicos”.

Para chegar á ordem dos livros tal como a encontramos hoje em nossas Bíblias, muita água correu. Antigamente os textos eram escritos em rótulos, cada livro num rótulo, sem uma ordem fixa. O que existia, para os judeus, era a divisão da Bíblia em tr~es grandes grupos: a Lei (os cinco primeiros livros, ou seja, o Pentateuco), os Profetas e os Outros escritos. Os critérios utilizados para chegar à ordem atual dos livros foram diversos. Entre esses critérios estão o cronológico (os livros são ordenados de acordo com a ordem dos acontecimentos históricos que narram) e o tamanho (as cartas de Paulo foram ordenadas da maior até a menor, ou seja, de Romanos a Filemon).

2° ETAPA: O ANTIGO TESTAMENTO:

No total, o antigo testamento tem 46 livros, dos quais serão divididos a seguir:

1 – Pentateuco (a lei)

Os cinco primeiros livros que formam o Pentateuco são: Gênesis, êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Eles, os cinco primeiros livros da Bíblia, são também chamados de “Tora” (=lei) porque contêm a lei da Antiga Aliança. Estes livros foram escritos ao longo de 500 anos, e falam da criação do mundo e da aliança que Deus fez com o povo hebreu. Em Gn 1-11 temos a narração d criação do mundo e do ser humano. Em Gn 12-36, a história dos patriarcas. Em Gn 37-50, a história de José. O livro do êxodo, que significa “saída” dos hebreus da opressão do Egito em busca da Terra Prometida. No êxodo Deus se revela como Javé e faz com o povo um pacto, entregando-lhe suas leis de vida. Os outros três livros também tratam da história da libertação do povo hebreu e das leis que o povo procurou seguir e adaptar ao longo da história.

2 – Livros Históricos

Os dezesseis livros que formam os livros históricos são: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Éster, 1 e 2 Macabeus.

Estes livros formam a maior parte do Antigo Testamento, e contam a história desde a entrada na Terra Prometida até pouco antes do nascimento de Jesus. Tratam, portanto, da história do povo de Deus tanto na Terra Prometida quanto no exílio. Podemos dividir estes livros em três grupos:

2.1) Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis querem mostrar que o importante na caminhada do povo é a fidelidade à Aliança com Deus. Se as lideranças e o povo desrespeitam o pacto com Deus, acabam caindo em desgraça: se são fieis à Aliança recebem a benção;

2.2) 1 e 2 Crônicos, Esdras, Neemias, 1 e 2 Macabeus foram escritos depois do exílio na Babilônia, e querem contar a história de modo a orientar o povo na reconstrução, em vista da organização e da sobrevivência diante do poder estrangeiro. Por isso, também a história passada é relida à luz da nova situação de reorganização do período depois do exílio;

2.3) Rute, Tobias, Judite, Ester são livros escritos para apresentar situações vividas pelos judeus na Palestina ou no estrangeiro, a fim de iluminar a caminhada do povo quando foram escritos. Não são acontecimentos históricos, mas histórias inventadas a partir de situações reais e concretas do povo.

3 – Livros Sapienciais e Poéticos

Os livros que compõem estes grupos Bíblicos, são: Jô, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico.

Nestes livros nós temos a sabedoria e a espiritualidade do povo de Deus. São fruto da caminhada, das experiências da vida, dos erros e acertos que o povo foi fazendo ao buscar a liberdade e a vida com o projeto de Deus. Assim, a sabedoria do povo de Deus presente nestes livros não é algo teórico, aprendido em outros livros ou em aulas; a sabedoria é fruto da meditação e da reflexão sobre a própria vida. No livro dos Salmos, por exemplo, temos 150 orações sobre as mais diversas situações das pessoas e do povo, orações que brotaram de realidades que estavam sendo vividas. Nessas orações temos o modo como as pessoas e o povo se relacionavam com Deus.

Os livros da Sabedoria são cinco: Jô, Provérbios, Eclesiastes, Sabedoria e Eclesiástico. Os livros de poesia são dois: Salmos e Cântico dos Cânticos.

4 – Livros Proféticos

Os livros deste grupo bíblico, são: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

Os livros proféticos são tradicionalmente divididos em dois grupos: os profetas maiores e os menores, de acordo simplesmente com o tamanho dos livros. Os quatro maiores são Isaias, Jeremias, Ezequiel e Daniel.

Nos livros proféticos encontramos os escritos e as pregações dos profetas, aqueles que ao longo da história convocaram as lideranças e o povo para a conversão, a volta ao projeto de Deus, denunciando as situações injustas e alertando para o julgamento de Deus. Quando acaba o Reino de Israel e o povo vai ao exílio, os profetas anunciam a esperança, encorajam o povo a reconstruir a própria vida e história; são os chamados profetas da consolação, que exercem sua missão também no período depois do exílio.

5 – Quando foi escrito o Antigo Testamento e como?

O Antigo testamento foi escrito aos poucos, ao longo de quase mil anos.

Já vimos que, de início, a história e as leis do Povo de Israel eram transmitidas de boca, de pai para filho.

Quando alguns começaram a colocar por escrito essas tradições (a partir do século X a.C, Ou da época de Salomão), não surgiram logo os livros que nós conhecemos. Os textos ,mais antigos foram desenvolvidos e reelaborados mais de uma vez, na medida em que o Povo ia aprendendo as lições da história. Com a ajuda dos profetas, ia reconhecendo novos aspectos da revelação de Deus.

Assim a Bíblia foi escrita em épocas diversas e por muitas pessoas, Por isso, às vezes, a Bíblia pode contar o mesmo assunto de maneiras diferentes. Outras vezes, num mesmo capítulo, estão entrelaçados textos de épocas distantes.

Também há grande variedade de tipos de textos (os chamados “Gêneros literários”). No Antigo Testamento temos leis, histórias, crônicas, poesias de amor, cânticos da liturgia, provérbios e até umas poucas fábulas e novelas. Naturalmente é muito importante distinguir esses tipos de texto para entendê-los bem.

6 – Como foi conservado e multiplicado o Antigo Testamento?

Naquela época se escrevia, com tinta e caneta, em folhas de papiro (depois costuradas para formar rolos) ou em pedaços de couro ou pergaminho (depois ajuntados em forma de livro). O texto original era copiado muitas vezes.

Conhecemos hoje muitas cópias desses antigos manuscritos. Eles transmitiram o texto hebraico do Antigo Testamento e suas traduções mais antigas, gregas e latinas. Só no século XV as Bíblias começaram a ser impressas e aí se introduziu a divisão em capítulos e versículos, que usamos hoje.

7 – Como procurar um texto?

Os livros da Bíblia estão divididos em capítulos e versículos para facilitar a procura e a citação de uma frase.

Quando se lê, por exemplo, a indicação “EX 5, 12”, o primeiro número indica o capítulo. Neste caso, é o livro do Êxodo, capítulo 5. O número depois da vírgula indica o versículo. Neste caso, é o versículo 12.

Na Bíblia, o número dos capítulos está indicado com um número grande; os versículos com números bem pequenos.

8 – Revendo o caminho feito

1) O que significa a palavra “Bíblia”?

2) Como se divide a Bíblia?

3) Quantos livros têm a Bíblia?

4) Quantos são os livros do Antigo Testamento?

5) Que quer dizer “Pentateuco” e quais são seus livros?

6) Que outros tipos têm o Antigo Testamento? De que se tratam?

7) Quando foi escrita o Antigo Testamento e como?

8) Como foi conservado e multiplicado?

3° Etapa: NOVO TESTAMENTO:

No total, o Novo Testamento possui 27 livros, dos quais serão divididos a seguir:

1 - Os Evangelhos

São quatro livros que vêm logo no começo do nosso Novo Testamento, que são: Mateus, Marcos, Lucas e João.

A palavra “evangelho” quer dizer “boa notícia”. Cada um dos quatro evangelhos narra a boa notícia de Jesus, sua vida e missão, desde o nascimento até a paixão, morte e ressurreição.

Os evangelhos foram escritos entre 30 e 70 anos depois da morte e ressurreição de Jesus. Foram escritos a partir das histórias que as comunidades recordavam da vida de Jesus e transmitiam de boca em boca. A preocupação, quando os evangelhos foram escritos, não era mostrar as coisas exatamente como aconteceram, como uma biografia do jeito que conhecemos hoje. As comunidades queriam manter viva a lembranças das ações e palavras de Jesus, de modo que a vida fosse sempre iluminada por elas.

Cada evangelho tem um rosto próprio. O evangelho de Mateus quer mostrar Jesus como o Mestre da Justiça, aquele que vem realizar toda a justiça do Pai. Marcos quer mostrar quem é Jesus, através de suas palavras mas sobretudo de suas ações. Lucas quer mostrar que com Jesus começa uma nova história, a história da liberdade que Jesus vem trazer para os pobres e excluídos e que cria novas relações de fraternidade. Estes três evangelhos são chamados “sinóticos”, pois seguem basicamente o mesmo esquema. O evangelho de João segue um esquema diferente; nele encontramos sete sinais realizados por Jesus, sinais que mostram Jesus como o verdadeiro Caminho para a Vida, como o enviado pelo Pai para revelar e concretizar seu plano de serviço e amor sem limites.

2 - Atos dos Apóstolos

O evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos formam uma só obra. Enquanto no evangelho de Lucas temos o caminho de Jesus, nos Atos temos o caminho das primeiras comunidades cristãs. No evangelho, Lucas apresenta o grande caminho de Jesus, da Galiléia até Jerusalém. Nos Atos, ele apresenta o grande caminho dos discípulos de Jesus, de Jerusalém até Roma. A mensagem central dos Atos é o testemunho dos discípulos: tendo recebido o Espírito Santo, eles divulgam a boa notícia de Jesus até os confins da terra.

3 – Cartas

São as seguintes cartas que formas este itinerário Bíblico: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 a 3 João e Judas

As cartas que encontramos no Novo Testamento podem ser divididas em dois grandes grupos: as cartas de Paulo e as cartas católicas. A carta aos Hebreus, que antigamente se pensava que tivesse sido escrita por Paulo, na verdade é um sermão as respeito de Jesus Cristo como único sacerdote, único mediador entre Deus e os homens. Para os cristãos o que conta não é mais a Lei, mas a salvação que vem de Jesus Cristo.

As cartas de Paulo foram escritas para responder a situações concretas e resolver problemas específicos das várias comunidades que o Apóstolo acompanhava.

As cartas católicas, ou seja, universais, recebem esse nome porque não foram escritas para pessoas ou comunidades em particular, mas para toda a Igreja. As cartas católicas são sete: uma de Tiago, duas de Pedro, três de João e uma de Judas.

4 – Apocalipse

O apocalipse de João foi escrito para iluminar a vida das comunidades que enfrentavam a perseguição no final do primeiro século depois de Cristo. Nesse livro encontramos muitas imagens e símbolos do Antigo Testamento que eram familiares ao povo da Bíblia, mas que para nós muitas vezes dificultam a compreensão.

Ao contrário do que se costuma falar, a palavra apocalipse não quer dizer previsão sobre o futuro, mas revelação. No Apocalipse, de fato, encontramos a revelação do próprio Jesus Ressuscitado, vencedor do mal e da morte, que conduz as comunidades nos conflitos e provações. É um livro de resistência profética, pois convida a resistir diante das situações de morte, a denunciar e destruir o mal para anunciar e construir o bem.
Autor: Thiago Marques Lopes


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