A Semântica e o Professor de Português



Neste artigo Madre Olívia destaca a importância do trabalho conjunto entre sintaxe e semântica. Porém, o que é visto, hoje, em salas de aula, é um trabalho estritamente isolado de sintaxe e inferiorizado de semântica.

Observamos que a pouca atenção dada ao estudo da significação pode ser uma característica que empobrece o estudo da língua materna, no que tange o ensino fundamental e médio.

Sabemos que há uma grande preocupação em ensinar ao aluno regras gramaticais, em fazê-lo um repetidor de "rótulos" contidos na gramática e para isso é dedicado muito tempo de aula à Sintaxe, entretanto o tempo dedicado ao estudo semântico é insignificante.

Ora, esse descompasso é preocupante e problemático, pois as relações significativas permeiam desde sempre a vida do aluno, seja na leitura de um "outdoor", seja na construção de imagens que ele tem de fazer para interpretar um poema, seja ouvindo uma piada em que ele, necessariamente, constrói o significado, enfim a Semântica está presente em seu cotidiano e ele o percebe de diversas maneiras, enquanto que a Sintaxe não é, muitas das vezes, perceptível em seu dia-a-dia.

Com esses exemplos, verificamos que a Semântica ainda não recebe um tratamento adequado nos estudos lingüísticos. Maria Helena de Moura Neves assim o diz: "A semântica é um dos domínios da linguagem que têm apresentado sérias dificuldades para a investigação científica. Essas dificuldades estão intimamente ligadas à amplitude e à complexidade inerentes aos fenômenos relativos ao significado e decorrem do tipo de tratamento que a semântica tem recebido nos estudos lingüísticos." [2]

Rohlfs também declara: "– O campo da significação, que é de enorme importância, lamentavelmente ainda não ocupa o devido lugar nos cursos universitários." [3]

Contudo, entendemos que a semântica tem um papel importante nos estudos lingüísticos; não há como separar o estudo dos significados e os estudos sintáticos, pois esses se complementam. Veja o que nos ensina Weinreich: "a sintaxe e a semântica, essas duas partes do processo lingüístico, se produzem simultaneamente; os dois elementos se encontram de maneira constante em estreita cooperação" [4]

Complementam-se em sentido amplo, pois a Semântica conduz o aluno a esclarecer conceitos gramaticais, habilita-o ao uso efetivo da linguagem, desperta a capacidade de compreender os outros e de se expressar, desenvolve o raciocínio, etc.

Madre Olívia nos diz a esse respeito que: "Esta análise semântica, em certos momentos, parecerá ao adolescente, mais de acordo com a realidade de sua vida, do que a sintática, às vezes um tanto arbitrária. Porque na prática, o jovem também, como qualquer adulto, guia-se pelos significados apreendidos na mensagem, mais que pelas formas".[5]

Todavia, Madre Olívia nos alerta que a análise sintática é igualmente necessária, o que se deve fazer é dosar gradativamente ambas, ou seja, a análise semântica não substitui a análise sintática e sim, complementa; e ainda, preenche uma lacuna que bem observa Olívia: "A dos valôres semânticos não vem "substituir", e sim, completar, preenchendo uma lacuna: ainda não era feito o estudo sistemático das "idéias que brotam de relações", âmbito da Semântica sincrônica, ciência promissora, nesta era que tanto busca a "comunicação". [6]

BIBLIOGRAFIA

CÂMARA, J. Mattoso. Dicionário de Filologia e Gramática. Rio de Janeiro: J.Ozon Editor, 4ª Ed. refundida e ampl., 1970.

Olívia, Madre. Semântica hoje e o professor de português. In Littera (revista para professor de português e de literaturas de língua portuguesa), Ano I, 1971. Grifo.

NEVES, Maria Helena M. Gramática na escola. São Paulo: Contexto, 1999.





Autor: Eliane Vieira


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