Avaliação da Aprendizagem Escolar



Alex da Silva Queiroz¹

RESUMO

O presente artigo tem o objetivo de fomentar uma reflexão/análise entre professores, gestores escolares e coordenadores pedagógicos sobre a concepção de avaliação, os métodos e os critérios utilizados na avaliação da aprendizagem escolar dos educandos, perguntando se essa avaliação está voltada para uma perspectiva democrática ou antidemocrática do processo de ensino-aprendizagem. O texto abordará a concepção de avaliação segundo a visão de professores, a atual dinâmica do processo de ensino-aprendizagem na escola, a posição da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco diante da avaliação e o que ela surgere. E para confrontar com a prática, a linha orientadora que irá fundamentar esse artigo foi colhida dos estudos e pesquisas conduzidos por Cipriano C. Luckesi, Jussara Hoffmann, Zélia D. Mediano, declarações e depoimentos de professores(as) e alunos(as) da Escola Severino Farias.

PALVRAS-CHAVE: Professor; Avaliação; Aprendizagem; Democratização.

ABSTRACT

This article purpose is to cause a reflection and an analysis among teachers supervisors, pedagogical coordinators of assessment conception, methods and criteria used on students’ school learning evolution, by asking if this kind of assessment is addressing to a democratical or an antidemocratical perspective of teaching-learning process. The text will also broach an assessment conception based on some teachers’ point of view; the present dynamics of teaching-learning process in school; Pernambuco Education Secretary Stance and what this institution purposes to the assessment. To confront the practice, the guide line which will base this paper was taken from studies and researches carried out by Cipriano C. Luckesi, Jussara Maria Lerch Hoffmann, Zélia D. Mediano; and from assertions and testimonies provided by teachers and students from  Severino Farias School.     

KEY WORDS: Teacher; Assessment; Learning; Democratization

____________________

¹Aluno do 8º período de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Caruaru

 

INTRODUÇÃO

“A avaliação é um processo presente em todos os aspectos da vida escolar: professores avaliam alunos, alunos avaliam professores, diretor avalia seus professores e estes o diretor, pais avaliam professores e escola. Entretanto, só a avaliação do aluno pelo professor parece ser um aspecto formalmente reconhecido na vida da escola”.

(Zélia D. Mediano)


Dentre os vários mecanismos que podem definir a democratização do ensino, temos as eleições para diretor e para o grêmio estudantil, a elaboração do projeto político pedagógico, o acesso à escola e, sem dúvida, para Luckesi (2006, pág. 62) a permanência do educando na escola e a conseqüente conclusão do período escolar também são consideradas como mecanismos democratizadores do ensino público.  Chamo a atenção para o término da fase escolar, porque ele só acontecerá a partir da maneira como os(as) professore(as) estão avaliando  o processo de ensino e aprendizagem dos  seus alunos. Caso contrário, será motivo de evasão e alto índice de repetência escolar.

_________

*Escola Estadual Severino Farias

 

Evidentemente, como a escola está inserida no movimento da prática social, deverá buscar estratégias pedagógicas para não cometer, no plano da realidade, práticas antidemocráticas, que dificultam o acesso da aprendizagem e afastam o aluno da escola.  O papel da escola é garantir a permanência do educando até que ele atinja um nível de conhecimento capaz de relacionar-se socialmente. Entretanto, isso só é possível quando a aprendizagem dá-se através de instrumentos avaliativos voltados para uma perspectiva processual e qualitativa do educando. Perceba que é qualitativa; não classificatória. Visando ampliar a reflexão sobre esse tema é pertinente  questionar-nos

-        Por que avaliamos?

-        Qual a diferença entre conceitos e notas?

-        Por que a prova é vista como um fantasma que amedronta os alunos?

-        Qual o motivo pelo qual saíram os conceitos e voltaram as notas?

-        Por que não avaliamos o processo de ensino-aprendizagem dos alunos de forma processual, contínua e qualitativa?

Por isso, nossa intenção é argumentar junto aos profissionais/educadores que ato de avaliar não está, necessariamente, ligado à um conjunto de técnicas e normas, mas de uma certa medida de compreensão, análise e reflexão crítica da nossa prática pedagógica no dia-a-dia da escola. Buscando, é claro, adotar meios de avaliação mais libertadores do processo de ensino-aprendizagem dos educandos. Assim, esperamos que esse texto sirva de instrumento de reflexão para que possamos olhar para dentro de nós mesmos e começar a mudar nossa postura tradicionalista, burocrática e seletiva de avaliar nossos alunos.

 

A CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO SEGUNDO OS PROFESSORES

 

Ao perguntar a três professoras de uma escola pública sobre a concepção de avaliação da aprendizagem escolar, elas responderam-me:

 

Professora A: “É avaliar o quantitativo e o qualitativo. Processo contínuo, observando a participação, atividade, o dia-a-dia do aluno no processo de ensino-aprendizagem”.

Professora B: “Avaliação é um processo contínuo que envolve desde participação do aluno nas aulas até as atividades como provas e trabalhos. É dependente da relação entre o professor, a turma e a metodologia adotada para as aulas”.

Professora C: “Avaliação é uma apreciação global do desenvolvimento do educando em relação ao que ele conseguiu assimilar em determinado período”.

 

O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA ESCOLA

 

O modelo de avaliação atualmente utilizado na escola pública é baseado no processo classificatório, ou seja, tem como princípio a exclusão, não a inclusão.

As instituições de ensino, dessa forma, não estão formando jovens talentos nas três culturas: humana, científica e artística, mas alunos treinados para obter um valor “X” numa escala de 0 a 10 ou conceitos - DC (Desempenho Construído), DEC (Desempenho Em Construção), DNC (Desempenho Não Construído) – pela aprendizagem que é medida por testes (mal formulados) no final de cada unidade. Para Hoffmann (2001, pág. 52), além do teste ser usado de forma equivocada nas escolas, ele é entendido como instrumento de constatação e mensuração e não de investigação.   

   Ao consultar os alunos de diferentes séries da Escola Estadual Severino Farias, se eles sabiam quais eram os critérios que os(as) professores(as) usavam para lhes atribuir uma nota, 67,5% dos educandos responderam-me que não sabiam. Outro dado importante a destacar é que 51,42% preferem ser avaliados pelos conceitos.

Concordo com os educandos porque eles não são produtos de supermercado para lhes atribuir um valor numérico. Penso que essa prática também é discriminatória, uma vez que não são levadas em consideração as questões psicológicas e sociológicas dos alunos. Conforme Luckesi (2006, pág. 79), “os conceitos estariam efetivamente expressando a qualidade da aprendizagem do aluno naquela unidade de conhecimento e não uma ‘média’ de elementos sobre os quais não se pode fazer média”.

A escola pública trabalhava com os conceitos (DC, DEC e DNC) que no fim do ano letivo de 2007 foram convertidos em notas. Em outras palavras, podemos dizer que os conceitos só serviam para escamotear as notas. A escola poderia continuar avaliando através dos conceitos na medida em que eles fossem utilizados e interpretados de forma correta. Luckesi (2006, pág. 78) traz uma contribuição relevante para que possamos compreender melhor a diferença entre notas e conceitos.

“(...) se diferenciam na medida em que as notas (expressão numérica da qualidade da aprendizagem) possibilitam uma passagem indevida da qualidade para quantidade e os conceitos verbais, por si mesmos, não permitem esse ‘contrabando’”.

 

 

 

 

 

AQUILO QUE SURGERE A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

 

Segundo uma minuta da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, as escolas públicas voltarão a avaliar o processo de ensino-aprendizagem, apenas, através das notas. Dentre outras propostas da minuta podemos destacar:

 

1. Da Avaliação da Aprendizagem do Aluno

1.2 uma avaliação planejada no horário da aula-atividade pelos professores da disciplina e série e realizada individualmente por todos os alunos da série por disciplina, contemplando os conteúdos mínimos definidos pela Secretaria de Educação no bimestre;

1..3 essa atividade deverá ser organizada, preferencialmente, no formato de questões de múltipla escolha;

 

Sobre avaliação de múltipla escolha, Chalort diz:

 

 “O modelo baseado em assinalar uma alternativa, em certo ou errado, em verdadeiro ou falso, não mede a atividade intelectual; o mundo do verdadeiro ou falso é do fanatismo e não da cidadania. Nega a reflexão e o saber e impede que os alunos leiam, escrevam e aprendam. O trabalho do professor é fazer nascer novas questões e o interesse pela escola, caso contrário, ele gasta o ano letivo em imbates sem soluções” (Bernard Charlot, 2006).

 

 

 

 

 

 

COMO OS PROFESSORES ESTÃO AVALIANDO OS ALUNOS NO SEU PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E O QUE NOS DIZEM OS TEÓRICOS

 

Os professores usam o instrumento de avaliação (a prova, o teste) como ameaça e para valer sua autoridade quando os alunos estão bagunçando. Diante dessa situação, ouvimos dos docentes as seguintes frases: “Me aguardem com a prova da próxima semana”, “Se vocês não pararem de bagunçar vou fazer um teste ‘relâmpago’ valendo de zero a dez”, “Estudem! Prestem atenção! A prova desta unidade vai ser muito difícil”.

Assim como Hoffmann, para muitos teóricos, esse tipo de avaliação já é considerado arcaico, tendo em vista outros métodos de avaliação mais coerentes e justos. O professor, por exemplo, que entende o educando como um ser histórico, cultural e afetivo (subjetivo) que apresenta avanços e recuos. Luckesi (2006) defende a idéia de que deverão ser coletados dados da realidade das condutas dos alunos e, por conseguinte, uma tomada de decisão dos resultados satisfatórios e insatisfatórios. Caso isso não esteja acontecendo nas escolas, o ato de avaliar está perdendo o seu verdadeiro sentido: desenvolver habilidades cognitivas nas diversas áreas do saber, o que significa, também, contribuir com a formação humanística do educando.

  

Outro meio considerado punitivo e injusto que a escola e, consequentemente, os professores aplicam no processo de avaliação e no rendimento cognitivo dos alunos é as indevidas correções. Não é que vamos deixar de corrigir, mas o segredo está em como corrigir. Pois Hoffmann (2001, pág. 59) afirma:

 

“se valorizamos os ‘erros’ dos alunos, considerando-os essenciais para o ‘vir a ser’ do processo educativo, temos de assumir também a possibilidade das incertezas, das dúvidas, dos questionamentos que possam ocorrer conosco a partir da análise das respostas deles, favorecendo, então, a discussão sobre essas idéias novas ou diferentes”.

 

 

 

 

 

 

Hoffmann, ainda nos questiona:

 

-        Qual o significado de se atribuir notas a toda e qualquer tarefa do aluno, desde que ele ingressa na escola?

-        Por que se usam canetas vermelhas, salientando a ação corretiva?

-        Qual a razão dos calendários de provas, atestados médicos nas ausências, uso obrigatório de canetas pelas crianças?

-        O quanto somos responsáveis pelos fantasmas das provas? E com que propósito?

 

 

A partir deste pressuposto, Luckesi (2006) sugere que a avaliação seja diagnóstica, ou seja, os dados coletados deverão ser analisados criteriosamente não com o objetivo de aprovar ou reprovar os alunos, mas para os(as) professores(as) reverem o desenvolvimento do aluno, dando oportunidade para que ele avance no processo de construção do conhecimento. Neste tipo de avaliação, a participação dos educandos é peça fundamental, pois juntos aos professores poderão entender/compreender a situação da aprendizagem que, por sua vez, está atrelada ao ensino. Assim, a avaliação será colocada em prática com aqueles que tiverem a oportunidade de freqüentar, participar e interagir com o processo de construção do conhecimento na sala de aula.

 

Um exemplo desse processo diagnóstico e reflexivo da avaliação seria os conselhos de classe. Hoffmann (2001, pág. 106) traz uma contribuição relevante sobre o objetivo e a função dos conselhos de classe na escola, confira:    

 

 

“Ora, sem duvida, esses deveriam ser momentos importantes das instituições: professores de todas as disciplinas, supervisores, orientadores, diretores (em algumas escolas, os alunos) reunidos para conversar, trocar idéias, sugerir alternativas às dificuldades de todos! (...) Ao contrário, reduzem-se à apresentação de notas ou conceitos dos alunos e seleção de pareceres finais dentre um rol já estabelecido pela escola”.

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

          Em síntese, concordo com Lucksi (2006, pág. 66) quando diz: “a nosso ver, a atual prática da avaliação escolar tem estado contra a democratização do ensino, na medida em que ela não tem colaborado para a permanência do aluno na escola e a sua promoção qualitativa”.

          A meu ver, a escola pública só irá melhorar em todos os aspectos e, principalmente, na avaliação da aprendizagem escolar quando ela entender de fato que, por ser pública, é democrática, e por ser democrática, é de todos. E será com a participação dos alunos, professores, coordenadores, equipe gestora e a comunidade, tendo vez e voz nas ações planejadas e fundamentadas no Projeto Político Pedagógico da instituição escolar, que teremos um ensino democrático e de qualidade. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências bibliográficas

 

CANDAU, Vera Maria (Org.) Zélia D. Mediano. Rumo a Uma Nova Didática. Petrópolis, RJ:16ª Edição. Ed. Vozes, ...

CHARLOT, Bernard. Fala, Mestre. In: Revista Nova Escola. Outubro de 2006 LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem escolar. SP: 18ª Edição. Ed. Cortez, 2006

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação: mito e desafio: uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2001

 

 

 


Autor: Alex Queiroz


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