O Cientista e Fracis Bacon e os Parlamentaristas



O CIENTISTA

1 – Referências Bibliográficas:

ROSSI, Paolo. O cientista. IN. VILLARI. Rosário (org.) O Homem Barroco. Lisboa: Presença, 1995.

2 - Introdução

Na obra "O Cientista", o grande autor Paolo Rossi, propõe uma viagem pela História nos séculos XVI e XVII, tentando entender o pensamento do homem renascentista para uma compreensão do surgimento da ciência. Para isso ele apresenta o discurso dos atores e dos teóricos positivistas, tentando assim identificar as continuidades e rupturas entre o período medieval e barroco renascentista, dessa forma ele acaba contestando idéias positivistas que estão arraigadas na formação histórica do homem. Por meio de uma abordagem historicizada, perguntando para os documentos, consequentemente para os intelectuais daquele momento da história, Paolo e os pensadores nos mostram que a ciência não está isenta de qualquer relação de poder, como religiosa, política e ideológica.

Aborda de maneira direta uma variedade de conceitos de suma importância como os da tradição mágica, tomista ou aristotélica e mecânica, mostrando mudanças e continuidades no pensamento do homem, o qual está em pleno processo de mudança, ressignificando e criando novas idéias e abordagens. Dentro disso, Paolo apresenta os chamados cientistas diletantes, que foram influenciados pelas tradições mágica e aristotélica, dando assim uma nova visão de mundo, criando uma nova tradição denominada como mecânica, a qual foi de grande importância para a formação e progresso metodológico e cientifico no período renascentista. Traduz-se que homens diletantes eram homens curiosos, que se despertaram para uma outra compreensão de mundo.

Por fim o autor discorre sobre vários elementos essenciais para a compreensão da formação do cientista, tentando investigar e explicar as idéias e figuras emergentes, multiplicidades dos personagens, à herança da magia, o conhecer e fazer, a igualdade das inteligências, a ciência e os doutores de memória, o retrato do cientista e a ciência política.

3 – Critica do Resenhista:

O autor faz uma importante observação a respeito das relações de poder, tentando nos mostrar que a religião, as etnias, a política e as tradições culturais estão diretamente ligadas às hierarquias e relações de poder, assim não se pode separar ciência e política conforme os renascentistas acreditavam. Destaca também a importância de se definir que o cientista moderno como nós conhecemos nasceu entre os finais dos séculos XVI e XVII, e critica a visão dos positivistas, os quais defendiam que o nascimento do cientista moderno aconteceu, somente depois de uma ruptura entre o mundo renascentista e medieval. Assim o autor faz novas abordagens, perguntando diretamente a este documento, se transportando para o momento em que vivia os grandes personagens da revolução científica.Entendo que Paolo conseguiu explanar seus questionamentos de maneira bem planejada e historicizada, com basenas respostas que pensadores como Pieter, Francis Bacon, Kepler, Galileu, Descaters e outros deram. Dessa forma podemos compreender melhor a formação moral, intelectual, política e religiosa desse período e consequentemente desses homens diletantes, para compreendermos o que está relacionado a imagem de mundo mágico, a qual o autor a descreve, onde se pode tocar e interferir na natureza, fazendo uma relação direta entre ação e intervenção, e apresentando seus representantes, diretos os cabalistas, hermetistas e alquímicos, que após iniciados podiam intervir no mundo natural. É de suma importância perceber a ação direta sobre a natureza, podendo fazer, tocar e interferir sem um sentimento de culpa e desaprovação. Assim importantes características são apagadas da história da ciência pelos positivistas, por não aceitarem uma revolução cientifica com elementos resignificados da tradição mágica e tomista. Na tradição tomista ou aristotélica o autor apresenta a visão de mundo, como corpo sagrado, sendo seus representantes os cristãos, tomistas, aristotélicos, que se baseavam na fé e na razão, e acreditavam que o conhecimento se encerrava em si mesmo, pregavam a não intervenção, e valorização da vida pós-morte como recompensa para o bom homem. Paolo Rossi tenta mostrar ao leitor a importância das visões de mundo anteriores para a formação da tradição mecânica, tentando explicar por meio de sua investigação que um pensamento não pode surgir do nada, pois tem que se analisar a trajetória de vida, da sociedade que o produz, olhando, para os valores, místicos, sociais, religiosos, políticos, morais e outros.

Com essa abordagem crítica e de conteste aos positivistas, Rossi tenta mostrar as heranças da magia e da tradição aristotélica incorporada à mecânica, a qual enxerga o mundo como uma máquina com leis próprias. Representado por homens diletantes, curiosos que se despertam para uma nova compreensão do mundo e entendem que o saber ter que ser contemplado e automaticamente intervir na natureza, pois o mundo é uma máquina que necessita ter suas imperfeições corrigidas. Este novo homem testa, observa aprende e intervem, consequentemente cria um método, e prática o empirismo para comprovar e provar, criando um código, o qual unifica os métodos de compreensão e os racionaliza fazendo com que o homem comum possa participar dessa comunidade de conhecimentos. Essa nova visão defende que tudo que possa ser tocado é passível de ser entendido pela física mecânica, que o conhecimento só é eficaz à medida que ao se interferir na natureza possa se reverter a bem da sociedade. Foi fundamental para esse processo mecânico a nova visão dos astros, visão coperniciana que modificou as explicações do sistema solar, tirando o planeta terra da condição de centro do universo e passando o sol a ter esse importante destaque, assim abre espaço para infinitos questionamentos.

O artigo "O Cientista" é de grande valor, historiografico, pois faz uma nova abordagem das tradições do período Barroco renascentista, mostrando as confluências, a qual deixa evidente que a mecânica não nega e jamais poderia negar as tradições mágica e aristotélica, pois esses novos cientistas fazem parte dessas tradições que vão servir de base para a mecânica. Em vista do que foi exposto, o autor utiliza como base para tentar explicar as visões de Galileu, Bacon, os quais defendem uma valorização do trabalho manual, unindo o conhecimento à habilidade dos artesãos, fazendo uma junção entre o método e a prática para um melhor desempenho e resultado na sociedade. Como também defende a separação de assuntos da ordem física e metafísica. Estes novos pensadores acreditavam que a verdade da ciência não devia ser procurada nas Sagradas Escrituras, como também não seria lícito procurar nas escrituras uma filosofia natural. É importante perceber como a igreja se posiciona em meio a esses novos pensamentos científicos, que tentam separar elementos físicos dos teológicos, pois as teses desses grandes filósofos vão de encontro ao pensamento defendido e imposto pela igreja.

FRACIS BACON E OS PARLAMENTARISTAS

1.1 – Referências Bibliográficas:

HILL, Christopher. Francis Bacon e os Parlamentaristas. IN: Origens intelectuais da Rev. inglesa. SP: Martins Fontes, 1992.

2.1 - Introdução

A obra "Francis Bacon e os Parlamentaristas" do autor Christopher retrata os séculos XVI e XVII, fazendo um breve relato a vida pessoal de Bacon e a seu pensamento filosófico. Nesta obra Bacon com base no escrito do seu contemporâneo Gilbert, critica a Aristóteles e aos filósofos escolásticos, pois acredita na implantação de projetos financiados pelo Estado, para a melhoria da condição humana. Passa a fazer uma reflexão sobre o domínio da revolução Inglesa. Critica também as idéias escolásticas que seriam a preocupação em conciliar a tradição com as novas necessidades. De acordo com Hill:

Bacon foi tanto um pensador social quanto cientifico. Graças a seu poderoso senso histórico, percebeu que algo novo estava acontecendo, não só na ciência como também na sociedade[1].

O texto discuti novas idéias, a respeito do saber, defendendo uma emancipação entre Teologia e Física, para isso Bacon argumenta de maneira responsável e bem fundamentada tentando mostrar aos homens e às autoridades do saber, que é preciso entender o mundo físico, a natureza, para crescer intelectualmente, economicamente e consequentemente chegar mais próximo a Deus.

3.1 – Crítica do Resenhista:

A obra expõe como ponto de partida as grandes invenções como: a imprensa, a pólvora e a bússola. Descobertas acidentalmente pelos modernos artesãos que por acaso acabaram transformando o mundo. Bacon questiona e tenta mostrar como poderia ser então superior o progresso, se estas experiências fossem planejadas e dirigidas por uma ciência, a qual trabalha a prática e a teoria, conseqüentemente o homem se libertaria das dificuldades impostas pela natureza.

O texto apresenta várias realizações de grande importância, destacando o pensamento cooperativo, o acerto de contas com a religião, defendendo que a investigação cientifica não entrava em conflito com a teologia. Estas duas grandes exposições foram de vital importância para a conquista do apoio dos parlamentares puritanos. Bacon lança um poderoso sistema filosófico transformando práticas cotidianas à condição de um sistema intelectual. Dessa forma ele defende uma cooperação do filósofo com o trabalho do artesão, para uma melhor expansão da mente humana e sua capacidade.

Bacon acreditava que esse método cientifico libertaria a humanidade das conseqüências do pecado original. Utilizando-se de argumentos científicos e religiosos, ele tenta dar utilidade ao conhecimento pratico e teórico, visto que em sua concepção nada adianta o conhecimento se não utilizado, pois ele defendia o utilitarismo e o empirismo, como interesse do bem coletivo e consequentemente questionava o Aristotelismo afirmando que segundo seu entendimento este estava atrasando a Inglaterra. É importante perceber como Bacon se alia e defende o direito de homens comuns, comerciantes, armadores e outros que já tinham um certo conhecimento prático, para que freqüentem universidades com a finalidade de se unir o saber prático com a teoria, na tentativa que o resultado atenda a utilidade pública, o bem comum.

Bacon com uma boa fundamentação, questiona pontos vitais da tradição Aristotélica tentando desmontar a idéia do homem caído, destituído da graça de Deus, defendendo que ao desenvolver e apreender a verdade natural o homem repara o pecado original e realiza grandes feitos.

A formação religiosa de Bacon, era composta de pressupostos calvinistas com base na fé e na razão tendo um pouco mais de abertura para a razão. Ele não negava que anteriormente eram homens caídos, mas que Deus tinha restabelecido a razão em prol da prosperidade humana e que o Aristotelismo era contrário a essa prosperidade. Portanto bacon defendia que tocar no mundo, nessa máquina, não era mais pecado e elevava o homem a Deus.É importante frisar que Bacon não se considerava o pai desses pensamentos, pois segundo sua concepção ele era instrumento para divulgar as vozes filosóficas que tentavam pensar o mundo de outra maneira após o desmonte Copérnico. Dessa forma Bacon discutiu a física, a mecânica na tentativa de separar o mundo físico do metafísico e assim separar a razão da fé e da religião.

Esta obra é de grande valia para a formação do homem, pois estabelece uma relação entre as três tradições, em um sistema filosófico e moral, com a finalidade de emancipar o que é físico, logo tangível, que automaticamente a ciência pode investigar, se encarregar de explicar e testar, da teologia assuntos extraterrenos que somente a religião e Deus podem explicar. Com isso Bacon faz uma união das tradições com a finalidade de desenvolver um conhecimento para o beneficio e utilidade da vida, juntamente com um sistema que enriqueça a Inglaterra, por meio do conhecimento prático dos homens comuns e do conhecimento teórico dos universitários, consequentemente elevando o homem a Deus.

BIBLIOGRAFIA

ROSSI, Paolo. O cientista. IN. VILLARI. Rosário (org.) O Homem Barroco. Lisboa: Presença, p. 231-250, 1995.

HILL, Christopher. Francis Bacon e os Parlamentaristas. IN: Origens intelectuais da Rev. inglesa. SP: Martins Fontes, p.117- 137, 1992.

LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. SP, Brasiliense, p. 112 -114




Autor: EDUARDO SANTOS


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