Na Companhia de Soldados



"A tenda de Hodges ardia em chamas, enquanto soldados aterrorizados e confusos tentavam escapar ou deitavam-se sangrando na areia (...)" página 135

"(...) Algo explodiu à nossa direita com um brilho amarelado e o barulho de tiros ficou mais intensocerca de 45 metros à frente (...)"página 264



Essas e outras cenas apavorantes foram presenciadas pelo premiado jornalista norte-americano Rick Atkinson durante a invasão ianque ao Iraque de Saddan Hussein. Pulitzer 2003 pela história no livro, An Army at Dawn: The War in North Africa, 1942-1943, onde narra os fatos ocorridos na II Guerra Mundial no cenário da África do Norte, Atkinson é best seller em histórias das guerras e outros conflitos armados que os EUA participaram, traz em seu mais novo trabalho, Na companhia de soldados (In the Company of Soldiers: A Chronicle of Combat, tradução de Leo Oliveira, Bertrand Brasil), a intimidade e a rotina dos soldados enviados pelo governo Bush nos primeiros momentos do conflito que ainda hoje impera sem fim.

O renomado jornalista e historiador fez parte do grupo de repórteres que nos primeiros dias da guerra do Iraque, tiveram a chance de ter uma relação mais direta e pessoal do conflito. Com uma visão critica, o autor consolida sua carreira levando o leitor ao campo de batalha e para dentro do Exército americano. Acompanhando a 101ª Divisão Aerotransportadora desde sua saída de Fort Campbell, Kentucky, até sua entrada em Bagdá, como correspondente do The Washington Post, tinha a missão de fazer artigos jornalísticos sobre o cenário de guerra, entretanto foi além.

Um olhar cativante em forma de crônicas, que cuidadosamente descreve as estratégias dos lideres, as personalidades e a maneira de como se trava uma guerra moderna. É como ele escreve, em sua nota, "(...) tudo aqui é extraído , em sua grande e esmagadora parte, do que vi, ouvi, cheirei, provei e senti, com todas as vantagens e desvantagens inerentes às narrativas picarescas em primeira pessoa (...)".

Apesar de não mostrar a história de uma companhia em combate, aborda o sentimento em relação a guerra, o pensamentos dos sargentos, tenentes, majores e comandantes, estreitando a história da guerra num lado mais íntimo. Uma testemunha ocular que conta, com tristeza e desilusão, outras vezes, com alegria e orgulho a finalidade de uma guerra como aquela. Uma visão heróica e orgulhosa para os norte-americanos, mas crítica nos apontamentos dos acidentes de percursos.

Também podemos colocar o livro, como a história de um homem, o General David H. Petraeus, comandante da 101ª Divisão, um guerreiro moderno no sentido real do termo. O autor passou grande parte de seu tempo no Iraque ao lado do general e observou como a figura desse homem e suas ordens instruem, motivaram, e conduziram seus soldados e comandantes subordinados aos compromissos que cada qual tinha.

Para construir a história Atkinson se ampara numa grande bibliografia que vai deste livros sobre a história iraquiana antiga, que descreve o país na época da Mesopotâmia até relatórios de unidade, ajudando os leitores a ampliar o conhecimento sobre a região, o aparato de guerra, os pontos de vista de outros jornalistas e historiadores, detalha o planejamento dos comandantes, a contabilidade das batalhas.

A imagem nítida, numa escrita afiadamente pessoal e critica, mas por vezes póética, da invasão ao Iraque. Fluindo a caminha para a guerra, o Screaming Eagles, colocando o leitor no cenário, descrevendo a ação, o humor, as táticas e o drama vivido pelo lado norte-americano. Falta agora um trabalho do outro lado, vamos esperar.

SERVIÇO Na companhia de soldados, Atkinson, Bertrand Brasil, 2008, 322 páginas, R$ 45,00


Autor: Cadorno Teles


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