Restos do Lixo



Nas calçadas transeuntes circulam em meio a mendigos caídos. Dorme um homem enrolado em um trapo e do seu lado o amigo fiel, um cão. Mais a frente deita-se uma senhora amparada por um cobertor e um pedaço de papelão que lhe massageará as costas. Na esquina pede esmolas três crianças barrigudas e de pernas finas para não serem surradas pelos seus pais que se escondem na quadra seguinte. Na porta do hotel, a espera dos clientes, um senhor passa o chapéu para a próxima moeda. Um restaurante elegante ganha uma nova ilustração: pichação, urina e fezes humanas. No calçadão garotos tentam assaltar a idosa desavisada. Às escondidas, tomando banho no chafariz, crianças se refrescam nesse calor escaldante. O guarda tenta espantá-los, mas não adianta, o segurança precisa andar e com isso a volta dos garotos está assegurada.

O lanche que o homem maltrapilho come na frente daquele bar foi dado pelo gerente daquele estabelecimento, que todo dia repete essa ação. Na madrugada gritos de socorro ecoam da praça ao lado de casa: mais uma jovem pode ter sido estuprada. Policiamento? Nenhum. Essas são horas de moças descentes estarem em casa, exclama o delegado de plantão. O dia já amanhece, o Sol surge potente e nas calçadas os tropeços em meios a obstáculos humanos enrolados em panos sujos, deteriorados pelas mazelas do mundo.

Nas sombras daquela árvore pombos dividem migalhas de pão com os andarilhos que por ali passam, ficam e montam acampamento. Mulheres grávidas realizam seus partos no meio da praça, esperam à noite,pois o ar é mais fresco e poucas são as pessoas que por ali se arriscam a passar. Nos albergues as camas não sobram, a comida é pouca e doações acabaram. Na Secretaria de Promoção Social o secretário toma café, fuma um cigarro, realiza algumas reuniões e vários papéis são assinados. Árvores são cortadas por razões ilógicas como essa. Não há preocupação, nem mesmo das autoridades - os maiores responsáveis. O poder cegou aos que tinham um pouco de humanidade. O homem que estava devorando o lixo no poema de Bandeira, agora sofre com o lixão montado pelas autoridades em meio à cidade.


Autor: Sergio Sant'Anna


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