As Causas da Revolução Inglesa



1- Referências Bibliográficas:

Stone, Lawrence. As causas da Revolução Inglesa. São Paulo: Edusc, 2000. p. 99 - 115

2- Credenciais do autor:

Lawrence Stone é inglês e professor emérito da Universidade de Princeton. Fez parte do período marxista britânico "Post e Prisent". Nasceu em 1919 e faleceu em 1999.

3- Resenha Descritiva:

O autor constrói seu texto sob uma perspectiva multi causal: defendendo que a Revolução Inglesa não pode ser explicada por apenas um fator, processo ou fato isolado. Este foi um evento complexo, com diversos processos que o desencadearam. Stone relata que a maioria das instituições do Estado e da Igreja, dois anos antes da citada revolução entraram em colapso. Além disso, houve elementos de ruptura mas no decorrer da revolução não provocou mudanças na estrutura social. O que ela traz de inovador é o fato do rei Carlos I ser julgado em nome do "povo da Inglaterra". Mais do que nos atos, a natureza revolucionaria da Revolução Inglesa está presente nas palavras, ou seja, na grande produção impressa que floresceu entre 1640 e 1661. O pensamento dos participantes da Revolução Inglesa era muito mais reformador do que revolucionário. O autor muitos exemplos dos grupos sociais que desejavam reformar a sociedade para deixá-la semelhante a um passado mítico, diferente em cada caso. No entanto, Stone também argumenta que a oposição parlamentarista falava em uma linguagem com tom e conteúdo radical. Stone chega a falar em uma "revolução cultural", pois esse entusiasmo não estava presente nas camadas mais altas, mas também entre os súditos. Stone diz que os parlamentaristas falavam com excitação em exportar a revolução política para toda a Europa. Um grande desejo de mudanças estava presente entre os parlamentaristas. Stone defende que a teoria da luta de classes não pode explicar o evento estudado. Ele reconhece a importância dos estudos dos historiadores marxistas, mas diz que a teoria da luta de classes não se aplica a Revolução Inglesa, visto a mesma ter sido marcada pela quase total passividade das massas rurais e dos trabalhadores agrícolas, como também a relativa neutralidade da "burguesia". Nenhuma oposição feudal – burguês patrão – empregado, rico – pobre ascendente – descendente pareceu ter solidez explicativa para justificar a luta de classes. Stone conclui afirmando que a revolução foi uma luta complexa entre ordens e grupos de status, e por isso é necessário observar este evento com um olhar multi causal, descartando definir uma hierarquia de condicionantes para o evento da Revolução Inglesa.

4– Resenha Crítica:

Para entendermos um pouco das facetas da política atual é necessário estudarmos e analisarmos experiências passadas.É o caso do atual sistema de governo da Inglaterra , dirigido pelos parlamentares, auxiliados pela presença carismática da família real. Esse sistema é conseqüência direta do processo revolucionário inglês do século XVII. E vários historiadores propõem teorias diversas acerca das causas da Revolução Inglesa, mas cada um deles escolhe apenas uma etapa de um evento histórico caracterizado por múltiplos processos que eclodiram com a revolução. Dessa maneira, Stone propõe uma nova forma de focalizar a revolução, observando-a como um evento histórico multi causal. Entendemos que esse pensamento é inovador se considerarmos que Stone é um historiador marxista. O autor é marxista, mas de uma geração posterior aquela influenciada pelo clima bi polarizado da Guerra Fria. Ele propõe uma analise dos acontecimentos da Revolução Inglesa da perspectiva de longa duração. Isso é bem pertinente, pois a Revolução Inglesa não pode ser entendida como uma ruptura completa da chamada "burguesia" com a monarquia, mas deve ser analisada como um processo de transformações a longo prazo. Se pensarmos em algum tipo da ruptura, a grande novidade que Stone nos apresenta nesta obra é o regicídio de Carlos I em nome do "povo" da Inglaterra. Para o século XVII, o elemento "povo" é extremamente inovador, pois evoca um principio de união cívica, conjunção nacional, pouco vista anteriormente. Stone também faz a crítica do termo "revolução", pois na experiência dos ingleses de 1640, este termo evoca o retorno a uma harmonia ou ordem anteriormente perdida, e não uma ruptura com a ordem estabelecida. Por outro lado, apesar do caráter conservador da revolução, um sentimento de mudança crescia, ganhava ímpeto. Tanto no parlamento, quanto nas ruas – segundo Stone, através de jornais, panfletos, discursos ou sermões, falava-se em uma "Revolução Cultural" e em até exportar a revolução para o restante da Europa. Entendemos que este pensamento de Stone é pertinente, porque a Revolução Inglesa marcaria a gênesis do desenvolvimento da política moderna. A influencia marxista na obra de Stone ainda se faz presente em alguns termos que ele usa (burguesia, por exemplo). Mas Stone não se utiliza da tradicional teoria marxista da luta de classe, pois ele a acha insuficiente para explicar a Revolução Inglesa. E ele está certo também nesse ponto. De certo que a Revolução Inglesa não foi uma luta de classes, rico contra pobre, ascendente contra descendente, "burguesia" contra monarquia. A sociedade inglesa do século XVII encontrava-se em um momento de mobilidade, de desagregação. Os diversos grupos da sociedade encontravam-se desarticulados em relação ao lugar que ocupavam na mesma. Entendemos que, por esse motivo a chamada "burguesia" não existia como grupo social sólido e unido. O que existia era uma articulação de "novos ricos", com ascendente influência na sociedade, que tinham interesses em comum, principalmente o aumento da participação da sociedade. Por isso é difícil pensar nesses homens tramando uma derrubada do rei, que representava para eles um "auxiliar" de Deus na terra. No que se refere a hierarquia social, esses novos comerciantes mantinham um pensamento conservador. Mas são inegáveis as mudanças provocadas pela revolução. Mudanças que não foram artificiais, mas que transformaram a estrutura política, inaugurando a política moderna. Uma sociedade corporativa, onde a importância residia na pessoa divinizada do rei, começa a se transformar em uma sociedade individualista, não no sentido contemporâneo da palavra, mas sim no sentido de proteger a comunidade política. Em fim, este trabalho de Lawrence Stone acerca dos eventos da Revolução Inglesa nos ajuda a compreender a complexidade de causas que podem estar por trás de qualquer fato histórico. É necessário um estudo apurado e a consulta as diversas facetas que marcaram a sociedade e o período histórico social: política, economia, cultura, religião, comportamento, etc. E como afirma Stone, não existe uma hierarquia para se definir as causas de qualquer acontecimento, pois elas serão manejadas de acordo com as influencias intelectuais do historiador.


Autor: EDUARDO SANTOS


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