Lula, O Eterno Keynesiano
Nosso querido presidente com sua
capacidade incrível de explicar questões complexas de forma bastante simples,
nos brindou com outra pérola, desta vez sobre causas de uma recessão. Disse ele
num discurso em 26 de novembro de 2008: “- O sujeito ouve crise no café da
manhã, crise no almoço, chega em casa ouve crise no jantar. Aí o sujeito se
assusta e não acaba por não comprar mais nada. Como cai o consumo, a indústria
não produz, porque não produz, acaba demitindo. Aí sim temos crise.”
Sem dúvida uma explicação de uma eloqüência
ímpar. Contudo, é bom lembrar que tal explicação econtra amparo técnico em
Keynes e sua crítica ácida sobre a forma que os clássicos viam a recessão e
suas soluções.
Vamos aproveitar a fala do nosso presidente
e voltar ao bom e velho livro texto. Segundo os clássicos as famílias consomem
parte da sua renda e poupam o restante. Se os consumidores decidirem poupar
mais, a demanda por bens e serviços cai, mas isso é contrabalançado porque os
empresários simplesmente investem mais. Mas como isso acontece? Quando as
pessoas poupam elas utilizam um banco para remunerar suas aplicações. Os bancos
por sua vez emprestam esses recursos aos empresários. Num cenário de aumento da
poupança, o banco terá muito mais fundos para emprestar, por sua vez ele reduz
o custo que é cobrado de quem toma dinheiro emprestado – a taxa de juros. Se os
juros caem, os empresários tomarão muito mais dinheiro emprestado já que mais
projetos se viabilizarão. Assim com mais investimento sendo realizado, o
dinheiro acaba chegando ao bolso do cidadão e todos vivem felizes para sempre.
Keynes achava toda essa explicação uma
falácia. Existe até a história seguidamente repitida, que quando os
funcionários do Tesouro Britânico recomendavam paciência e prometiam a
recuperação da economia no longo prazo Keynes respondeu em seu Tract on
Monetary Reform: “A longo prazo todos nós estaremos mortos”. Mas isso é outra
história. Vamos voltar à nossa análise da recessão.
Sobre a visão dos clássicos, Keynes refutou
a ligação entre poupança e investimento: as famílias e as empresas poupam por
razões completamente diferentes. Uma família pode poupar por hábito ou por uma
razão específica – velhice, talvez. Já as empresas mudam seus planos de
investimentos baseadas na política, na confiança, na tecnologia, na taxa de
câmbio, ou simplesmente em qual time ganhará o Campeonato Brasileiro deste ano.
Esperar que apenas a taxa de juros traga harmonia para o mercado é insensatez. Se
a poupança das famílias exceder os investimentos privados, os excedentes
realmente aparecerão, só que acabaram levando os empresários a demitir, trazendo
o consumo a um patamar ainda mais baixo.
Numa recessão, como é o atual cenário
mundial em novembro de 2008, as empresas cortam investimentos gerando
desemprego e nova queda no consumo, ou seja, agravamento da recessão.
Um ponto interessante é que o
pessimismo das famílias e das empresas é uma profecia que sempre se
auto-realiza. É por isso que o presidente americano Dwight Eisenhower implorava
à população que fosse às compras durante a recessão de 1958. Mas comprar o quê?
Qualquer coisa, dizia ele. Da mesma forma, o governo brasileiro nos últimos
dias têm repetido o mantra que comprar é bom, que a população não reduza seu
consumo e que as empresas não desistam de seus planos de investimento.
Portanto, da próxima vez que você ouvir
uma parábola do Lula sobre consumo e investimento, não se esqueça, ele pode
estar citando – mesmo sem saber – os postulados da economia keynesiana.
Bibliografia:
Buchholz, Todd G.
Novas Idéias de economistas mortos; tradução de Luiz Guilherme Chaves e Regina
Bhering. Rio de Janeiro: Record. 2000.
Por Alexsandro Rebello Bonatto em 28 de novembro de 2008.
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto
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