Um Poderoso E Divertido Meio De Ensino-aprendizagem Em Língua Espanhola: A Música Numa Perspectiva Lúdica



Pretende-se neste artigo promover uma reflexão sobre o lugar que ocupa a música no ensino da língua espanhola para estudantes brasileiros, igualmente sobre o papel desta no ensino daqueles discentes que estão nas séries finais do ensino fundamental , a fim de buscar a promoção destes em todos os seus aspectos formadores, não apenas vendo o ensino da língua de forma isolada. Ressaltemos que a música tem o poder vibracional de provocar  estímulos que trazem consigo uma resposta emocional que a transforma em força, estímulo transcendente para o desenvolvimento dos discentes.

O som, sabemos, surge através da vibração de partículas e objetos que constituem uma força invisível de grande significação. Esta atua sobre nós, seres humanos, opera mudanças a níveis físico, emocional, cognitivo. Cada tecido, cada célula, molécula emitem vibrações de vida em diferentes freqüências, os instrumentos musicais também operam de forma diferenciada em nós. Pichou Riviére (1995) já afirmava que a música auxiliava na diminuição das ansiedades, na ruptura do estereótipo e no restabelecimento da dialética sujeito-realidade. A música, no contexto do ensino da língua, não pode ser vista somente como uma maneira dos alunos expressarem-se verbalmente, lingüisticamente, através da corporeidade e do ritmo, mas na maior harmonização de suas vidas, além do ensino da língua, lhes proporcionando bem estar, qualidade na aprendizagem e acelerando  mesma.

O desenvolvimento holístico almejado com a utilização desta tende a ser progressivo como o é a própria cadência musical. Todos os alunos cresceram elaborando em seus conceitos tendências afetivas, estéticas, conceituais e estes percebem que as suas tendências de vida são a reprodução destas tendências assimiladas ou a renovação das mesmas, pois a liberdade também deve fazer parte deste instrumento de ensino que faz aprender a ser, conviver, pensar. Reconhecer o uso da música como recurso pedagógico representa a expansão reflexiva de uma metodologia não convencional, mas embalada pelas emoções e movimentos. Esta contribui para desenvolver a segurança, tolerância, solidariedade, proteção contra estímulos stressantes, inteligência emocional e inter-pessoal.

A música, o cantar socializado, o preencher a letra desta enquanto a ouvimos e através da mesma buscar maiores subsídios para a compreensão de outra cultura e língua objetivando desenvolver o potencial não só lingüístico mas criador, fazendo com que a maneira dos jovens aprendizes a mesma se manifeste garantindo a subjetividade e espontaneidade destes. Nas dinâmicas com a utilização de músicas em língua espanhola como a de extrair da letra destas, palavras ou expressões para estudos posteriores, deixar na letra original  lacunas para os alunos preencherem com as palavras que de forma sonora captem, montar quebra-cabeças com a letra das mesmas, jogos, onde ora um grupo como o de meninas, por exemplo, as cantam, ora meninos, dentre outras incontáveis possibilidades como a dramatização das músicas, produções textuais com a utilização destas, pintura ou montagem de painéis ou cartazes das sensações que estas lhe trouxeram etc, tudo isso colabora para que o humanismo se expresse, se reafirme, se engrandeça. Quando os educandos têm a possibilidade de aliar o ensino da língua espanhola ao prazer, a arte, ao lúdico que provêm da música e de sua expressividade eles obtêm a possibilidade de desenvolverem sua expressão corporal, a arte em metamorfose se transforma em puro exercício de expressividade, exteriorização de sentimentos e emoções, e por conseguinte de leitura e interpretação da língua e da cultura hispânica que os cercam, envolvem, acariciam, libertam e, porquê não, preparam para o exercício da pluralidade cultural.

O que se valoriza nesta inserção da música na produção do conhecimento é o processo criativo aliado à aprendizagem contextualizada com outras vivências e disciplinas, aqui se valoriza qualquer manifestação que poderá detectar sintomas e causas de possíveis bloqueios que prejudicam a aprendizagem da língua espanhola. O objetivo de se trabalhar de forma lúdica com a música vem da observação do pouco interesse dos alunos das séries finais do ensino fundamental pela disciplina de língua espanhola, assim, a música inserida na aprendizagem desta língua assume um caráter especial, onde a mesma é utilizada como meio e não como fim em si mesma. A reflexão que pretendemos deixar aos leitores deste artigo, sendo estes professores ou discentes, é de juntos repensarmos nossa prática, reavaliando-a. Procuremos compreender o lugar da música como processo de criação dentro do currículo de língua, movimento do ser, na percepção do conhecimento que o aluno terá de si mesmo como indivíduo global no contato com ela, no reforço da condição de detectar, tratar e ampliar o seu aprendizado, estabelecendo uma colaboração na difusão da língua no Brasil, especialmente no Estado do Rio Grande do Sul, Estado fronteiriço que tem muito a partilhar com esta língua e cultura que lhe é tão a fim.

Por inúmeros fatores acreditamos que a aprendizagem com música pode tornar o trabalho do professor transformador, mais agradável e singular. Para trabalhar com o lúdico porém é de vital importância o estudo, a pesquisa, o planejamento para executar uma aula prazerosa mas igualmente cheia de objetivos, fundamentada teoricamente para subsidiar a prática, que vem acrescentar nos educandos a construção de mecanismos de compreensão e assimilação do método executado. Para Almeida Filho (1996), explorar as vantagens da proximidade entre o Português e o Espanhol nos permite a adequação a um planejamento que ele chama de evolutivo, no qual a experiência de aprender línguas torna-se parte de uma experiência maior de aprender outras disciplinas como ciências, artes, história.

Os professores de língua espanhola, transformadores, ou que assumem seu papel como partícipes do processo de construção e significação desta segunda língua através do lúdico ensinam seus alunos a explorarem seu mundo interior ao mesmo tempo em que assimilam novos conceitos lingüísticos. Estes passam a saber que trabalhar com a emoção é quão ou mais complexo do que trabalhar de forma puramente tradicional a língua estrangeira, estimulam seus alunos a pensar antes de agirem e se apossarem do novo signo lingüístico, não tendo medo do medo, de serem líderes de si mesmos, autores de suas histórias, conhecedores de sua cultura e a de outros grupos sociais, os professores transformadores dos quais falamos sabem filtrar estímulos stressantes e aprendem a trabalhar não somente a gramática formalista estrangeira e as regras da mesma mas problemas concretos e lógicos dentro do código da língua espanhola, também as contradições das vidas de seus alunos, estas que não deixam de existir quando estes adentram no aprofundamento da cultura hispânica.

Quando nós, profissionais de ensino e aprendizagem de língua espanhola, assumirmos este papel de mediadores e transformadores dos discentes com a língua e aprendermos a contextualizá-la com os problemas e vivências dos nossos alunos estaremos extraindo dos pequenos estímulos de suas existências o que eles têm de melhor, dando aos mesmos a coragem necessária para com liberdade aventurarem-se à territórios desconhecidos como os que os são os da língua que estão desvelando.

O professor reconhecendo o aluno como sujeito no processo interacionista torna clara a interação entre a língua e a vida. Freire (1992) salientava que os instrumentos fundamentais para o ensinar são o ver, o escutar, o falar e o agir. Assim como para estar vivo, não basta somente a pulsação do coração, para ver, não basta somente ter olhos e os ter abertos. É mister observar o outro e a si próprio, o que significa estar atento à busca, à compreensão de significados do desejo do outro, a fim de que a sintonia possa ser construída. Olhar autoritário é olhar, segundo Freire, que não vê o outro, que não leva em conta a hipótese do outro. Esse olhar é incorporado pelo educador que tão somente dá o conhecimento e não lê significados, não observa, não busca a sintonia com o outro. Assim reflitamos no papel do educador na construção do desenvolvimento, da autonomia dos seus alunos, esta segundo Pérez (1993) é alcançada na medida em que tanto o que o indivíduo pensa como o que faz é decidido por ele mesmo. Quando os PCNs (1998) falam que o distanciamento proporcionado pelo envolvimento do aluno no uso de uma língua diferente o ajuda a aumentar sua autopercepção como ser humano e cidadão não podemos deixar de frisar que a música no ensino da língua ajuda a melhorar  a sensibilidade dos alunos, ajuda a construir sua autonomia, a capacidade de concentração e a memória, trazendo benefícios ao processo de ensino aprendizagem. Esta estimula áreas do cérebro não desenvolvidas por outras linguagens e através do desafio da criatividade lhes impõem uma nova visão do ensino e de si mesmos. Concordamos com Dias (2003) quando esta fala que enquanto o aprender for desmembrado do prazer, enquanto estudar ainda for um dever e não brincadeira construtiva sempre vai ter matéria chata para os educandos do ensino fundamental.

Ao entender o outro, segundo os PCNs (1998) e sua alteridade, pela aprendizagem de uma língua estrangeira, ele aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social.

Por alteridade entende-se os fatores sociais que caracterizam a vida de outras pessoas em comunidades onde as línguas maternas, línguas oficiais e ainda línguas estrangeiras coexistem.

Um dos grandes desafios deste século para nós docentes segundo Mayor (1998) será formar cidadãos do mundo de amanhã, cidadãos críticos, autônomos, polivalentes, criativos, capazes de enfrentar os múltiplos desafios que este século não deixará de lhes lançar. O que ocorre é que infelizmente não fomos preparados e nem preparamos nossos alunos para a vida, com suas frustrações e desafios. O que percebemos é que sem a educação da emoção dentro do ensino da língua espanhola, que é intrínseca à música, ao lúdico, ao prazer aliado à aprendizagem, estamos formando alunos insensíveis ou sensíveis em demasia. Os discentes que têm aulas puramente tradicionais de língua estrangeira não conhecem o porquê de aprenderem uma outra cultura, outra língua, são alienados, quando muito, desinteressados, sem metas, desejo de aprofundar seus saberes, tornando-se conformistas e acabando por nunca utilizando o que aprenderam, não se conhecendo nem aprendendo a conhecer outra cultura. As escolas, principalmente, as públicas, não estão conseguindo educar a emoção, educar para a cidadania antes de ensinar uma nova língua à sua clientela, menos ainda despertando o interesse destes estudantes de avançarem em seus estudos de língua estrangeira. Assim, podemos afirmar como Rogers (1978) que melhorando o nosso relacionamento com os alunos, melhoramos o nosso ensino, melhoramos a aprendizagem. Os nossos alunos segundo Rogers estão ávidos deste tipo de comunicação: eles querem, antes de tudo, ser vistos como pessoas que existem, que amam, que choram, que sofrem, que têm dificuldades. Só os alunos? Nos questiona Rogers: - E nós professores, também não desejamos ser vistos não só como aqueles que sabem alguma coisa, mas igualmente como pessoas humanas?

Precisamos formar jovens que tenham uma emoção rica, um gosto pela aprendizagem da língua espanhola, este conhecimento da língua integrado à emoção, sem esta emoção, pouco acrescentará na vida dos discentes o lúdico, a música na construção do saber da língua espanhola. Propomos através deste artigo ressaltar que os professores transformadores de língua espanhola analisem, discutam e reavaliem esta proposta e suas próprias metas de trabalho, para que estas  sejam, se não reformuladas, ao menos melhor adequadas às melhorias do ensino brasileiro, tão propagadas em nosso país e pouco praticadas.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Filho, J. C. P. O planejamento de um curso de línguas:  a harmonia do material insumo com os processos de aprender/ensinar. Campinas: Unicamp, 1996.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Secretaria de educação fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

DIAS, Rejane. O bom aprendizado segue um método que reflete o cotidiano. Ed. 2, 3 e 4. Jornal


Autor: Luana Marafiga


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