A Máquina Mágica



O episódio tem jeito de conto de fadas. A Nikon CoolPix de Farrel era uma câmera comum, até que, por acidente, caiu no leito de um rio. Farrell passou semanas tentando secá-la totalmente, mas foi inútil.

Então, ele decidiu ver o que ocorreria se a usasse assim mesmo. Surpresa! A Nikon transformara-se em um instrumento fabuloso.

A cada clique, produzia revelações com auras fluorescentes, belíssimos arco-íris, paisagens fascinantes verdadeiros óleos sobre tela. Uma delas, intitulada Cabin, lembra uma pintura de Van Gogh.

Obviamente, um webdesigner habilidoso pode conseguir resultados idênticos, se usar um bom software como o Photoshop. Mas a Nikon mágica de Farrell é muito mais criativa.

"Tudo acontece entre o momento em que eu pego o foco e pressiono o disparador. Nunca sei o que virá a partir daí e sempre fico admirado com os resultados", ele diz.

A experiência inusitada deu um novo alento à vida de Farrell. Suas fotos são exibidas em galerias de arte do estado do Tennessee, onde ele nasceu, e estão à venda em versão para papel.  Farrell viaja por todo os Estados Unidos e para o exterior fazendo palestras em famosos clubes de fotografia.

O que causa espanto é que das oito mil fotos que ele fez desde então, não há uma igual à outra. Segundo Larry Andell, da Cohen Cameras, de Nova York, o engenheiro consegue efeitos que não são aleatórios, mas se ajustam perfeitamente ao contexto de cada imagem.

"Imagino que a câmera ficou sensível a densidades particulares de cor e captura as coisas de uma forma totalmente nova", diz Andell, tentando explicar o fenômeno.

Por sinal, ninguém conseguiu desvendar o mistério que cerca a Nikon feiticeira. Presume-se que a umidade tenha formado minúsculos cristais que influem tecnicamente nas fotos.

Bruce Dale, que por trinta anos trabalhou na National Geographic, celeiro dos melhores retratistas do mundo, comenta, perplexo, a obra de Farrel:

"As fotos são de fato impressionantes. Elas têm me inspirado e são de fazer inveja a qualquer profissional.

Farrel não é um novato na arte de fotografar. Ele já foi fotógrafo da Marinha norte-americana e participou de vários workshops de fotografia. Por sinal, foi no workshop de Bruce Dale, em Pecos River, Novo México, em agosto de 2001, que se deu o milagre. Atribuído a Dale.

"A história virou piada só porque eu disse que iria comemorar o final do workshop dando um banho em Farrell, um de meus melhores alunos", brinca Dale.

O que realmente sucedeu foi que, ao fim dos trabalhos, Farrell e seus colegas de classe decidiram fazer tomadas do rio Pecos, que atravessa os contrafortes das montanhas conhecidas como Sangre de Cristo, no Novo México.

Farrel montou sua câmera num tripé e esbarrou nele, sem querer. Sua Nikon foi parar na água. Ele mergulhou rapidamente e recuperou-a, mas era tarde: as lentes, o painel de controle e o monitor estavam totalmente molhados.

O resto da história tem seu ponto culminante quando Farrell, pela primeira vez, voltou a usá-la.

"A imagem que surgiu no monitor era diferente de tudo o que tinha visto antes. Não era distorcida nem deformada. Ao contrário, mostrava cores e padrões inacreditáveis", ele conta.

Foi uma alegria só. Ou como dizem os jovens pura adrenalina. Na verdade, Farrell pressentiu que tinha em mãos uma nova forma de apresentar a fotografia.

"Senti-me como uma criança que vê o céu pela primeira vez", ele recorda.

Farrell Eaves é daqueles norte-americanos simpáticos, que tiveram uma vida bastante agitada e que, agora, aposentados, divertem-se com uma boa pescaria à beira de um lago, com montanhas ao fundo.

Ele vive com a esposa Fern, com quem é casado há 45 anos, em Walden, cidadezinha do estado do Tennessee, a poucos quilômetros de Chattanooga famosa porque foi sucesso musical de Glenn Miller (Chattanooga Choo Choo, lembra?).

Farrel tem um hobby que lhe garante uma boa renda extra: constrói móveis e seu estilo favorito é o chippendale.

Formado em engenharia mecânica, sempre teve uma queda pela fotografia. A serviço da Marinha dos Estados Unidos, ele gravou cenas dramáticas da Guerra da Coréia.

Mas jamais pensou que um dia, por mero acaso (ou teria sido a mão do destino?), se transformaria numa celebridade do clique.

Avô coruja de uma menina e cinco garotos, ele percorre os Estados Unidos, de ponta a ponta, contando para membros de clubes de fotografia, a história fantástica da câmera que caiu na água e, que, a partir daí, começou a exibir imagens que mais parecem obras de clássicos da pintura.

Por e-mail, concedeu-me este depoimento:

"Fotografar é uma coisa de que gosto muito e levo muito a sério. Comecei a fazê-lo quando ainda estava no colegial. Meu serviço militar foi como fotógrafo da Marinha, durante a Guerra da Coréia. Depois, continuei trabalhando como tal até me formar em Engenharia Mecânica.

Com certeza, os dias de hoje são os mais felizes de minha vida. O que aconteceu com minha câmera foi uma coisa maravilhosa. Sempre me recordarei da primeira imagem, quando a Nikon secou o suficiente para que eu pudesse ver através de sua lente foi uma cadeira típica de Pecos River.

Daí por diante não parei de fotografar e a cada clique minha pequena câmera respondia com uma qualidade fantástica. Senti-me profundamente grato porque parecia que eu estava tendo uma oportunidade única de compartilhar com o mundo alguma coisa realmente inusitada.

As imagens que consegui não puderam ser reproduzidas por qualquer programa eletrônico. Algumas vezes eu as cortava, mas quase sempre as registrava, pacientemente, na extensão em que o foco permitia.

Posso dizer que tenho agora uma ferramenta sem similar em todo o planeta. Tudo o que aprendi em muitos anos estudando fotografia, trabalhando com fotografia, parece estar dentro de minha Nikon. E olha que ela é limitada. E tem suas manias. Por exemplo, não suporta flash. Se ele estiver ligado, ela se recusa a funcionar.

A única área em que minha câmera é igual às outras é a da composição de uma imagem. E esta é a parte que mais me fascina. Compor está no coração é a alma do fotógrafo.

Devo o reconhecimento que tenho atualmente a muitas pessoas, em especial a Bruce Dale, ex-fotógrafo da National Geographic. Ele é um amigo excepcional. Mas tem ainda os jornalistas da API, da Wired Magazine e do Herald Times, de Melbourne, na Austrália.

Esse pessoal me incentivou muito. Mas devo ter tido também ajuda dos céus, não sei se de extraterrestres (é brincadeira!). A verdade é que tenho tido muitas alegrias. E quem sabe um dia, alguém me diga: ´Farrell Eaves? Sim, eu soube daquele velhinho que fazia fotos com uma câmera que caiu num rio.´Legal!.

Autor: João S. Magalhães


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