Reconhecer a Dor no Recém-Nascido: Um Desafio para Enfermagem



O presente estudo teve como objetivos identificar os critérios que os profissionais de Enfermagem utilizam para reconhecer a dor no recém-nascido; verificar se há utilização de métodos sistemáticos para avaliação da dor e verificar as principais ações /cuidados realizados pelos profissionais de Enfermagem em relação à dor. A metodologia adotada foi quantitativa descritiva exploratória; a população foi selecionada em instituições hospitalares públicas, privadas e filantrópicas situadas na cidade de Santos – SP, sendo composta por (13) enfermeiros, (14) técnicos de Enfermagem, e (27) auxiliares de Enfermagem. Os dados foram colhidos por meio de um questionário composto por 13 questões fechadas no período de 30 dias, durante o mês de agosto, os dados foram tratados sob método estatístico simples. Evidenciou-se que todos os profissionais entrevistados acreditam na dor do recém-nascido, aplicam métodos não farmacológicos de forma empírica apesar de não estarem treinados para reconhecer a dor do recém-nascido de forma sistemática. Palavras chaves: Dor; recém-nascido; Enfermagem.

1 INTRODUÇÃO

A dor antigamente era vista como sinal de castigo; era um fenômeno inevitável, portanto, era aceita e nada se fazia para amenizá-la. Acreditava-se que era preciso sofrer de dor para que seus pecados fossem pagos; valorizada como exaltação da fé, as pessoas se flagelavam, pois quanto mais sofressem de dor, mais purificadas se tornavam.

Hoje a dor é um dos sintomas mais comum na prática clínica, é enfrentada pelos seres humanos como sinônimo de sofrimento, sendo numerosas as causas, circunstâncias, sentimentos, ações que influenciam na sua percepção. Deixou de ser apenas um sintoma e passou a significar estado patológico do indivíduo; sua natureza interfere na qualidade de vida, na participação com o meio, transformando-a em um importante problema clínico.

Concordando com Couto (2006), a expressão de dor em um adulto se dá através das palavras, lamúrias, gritos, gemidos para verbalizar aquilo que só o indivíduo que sente é capaz de expressar. A exteriorização verbal da dor apresenta-se como um fator incontestável diante da forma relativa, do ser humano. Entretanto, esse fator torna-se difícil de ser explicado quando as pessoas que as sentem não possuem capacidade de verbalizar, como os recém-nascidos.

Talvez por essa razão que até meados da década de 70, acreditava-se que os neonatos não sentiam dor, devido a esse conceito pouca ou nenhuma importância foi dada à prevenção e tratamento da dor. (BERNALDO; HUBERMAN, 2002, p. 299).

Desde as épocas mais remotas, a criança e em especial os recém-nascidos, foram tratados com descaso, sendo considerado um ser humano inferior aos demais; o infanticídio pode exemplificar o infortúnio da história. Por muitos anos os neonatos viveram em um mundo nublado, onde sua dor não era valorizada. O crescimento científico permitiu desanuviar, e desvendar a neurofisiologia da dor no recém-nascido.

A dor pode sofrer classificações, variando de acordo com a intensidade, tempo de evolução e características. Pode ser dividida com maior finalidade clínica, em dor aguda e crônica.

Segundo Potter e Perry (2002, p.582), a dor aguda tem duração breve, início imediato e seu fim é esperado. Já a dor crônica dura por um período prolongado e muitas pessoas nunca obtém o alívio completo.

No entanto, as sensações dolorosas que não apresentam lesão orgânica, na maioria das vezes são desacreditadas pelos profissionais de saúde e consequentemente não aliviadas.

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, 1979), conceitua a dor como: "uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão de tecido real ou potencial ou descrita em termos de tal lesão. A dor é sempre subjetiva".

Esse conceito reforça que a dor é subjetiva, e faz acreditar que varia do ponto de vista de cada um; seu fenômeno é diversificado e complexo; e a sua intensidade e modulação são individualizadas. Embasado nessa teoria, é inconcebível ignorar a dor de um indivíduo, só porque ele não possui lesão visível.

Vários estudos baseados na observação clínica constataram que não existe relação entre limiar, quantidade de tecido lesado e intensidade da dor que o indivíduo expressa. (ZUCCOLOTTO; RAÑNA et al, 2002, p.200).

O recém-nascido pode apresentar memória a estímulos sensoriais a que tenha sido submetido ainda no útero materno. Há relatos de pais de crianças que foram expostas a procedimentos dolorosos no período neonatal, e algumas mães referiram que seus filhos necessitam de luz forte e ruídos ambientais para que consigam dormir. Experiências dolorosas neste período determinam a arquitetura final do sistema de dor do adulto e possivelmente a variabilidade individual da resposta à dor e a freqüência destas experiências não tratadas pode levar a alteração na maturação deste sistema. (BERNALDO; HUBERMAN, 2002, p.302).

Durante as primeiras horas de vida, o recém-nascido de risco é submetido a uma série de procedimentos dolorosos tais como: intubação, acesso venoso, coleta de exames por punção arterial, punção lombar, aspiração de tubo orotraqueal, ventilação mecânica, drenagem de tórax, punção de calcanhar, entre outros.

O alívio da dor é uma necessidade básica e um direito de toda criança. É um grande impacto na vida do indivíduo; e quando se trata de recém-nascido essa condição é muito mais grave, pois muitas vezes o profissional não está capacitado para perceber a presença da dor, e então passa despercebida. É uma sensação potencialmente prejudicial para o organismo, que produzirá reações reflexas.

Alterações biodinâmicas poderão ocorrer após estímulos dolorosos, há um estresse que inclui modificações cardiovasculares, respiratórias, imunológicas, hormonais, metabólicas, comportamentais.

Potter e Perry (2002, p.582), referem que no início da dor aguda, a frequência cardíaca, frequência respiratória e a pressão arterial aumentam e se a dor continuar sem alívio, há sinais de exaustão física. Ocorre diminuição dos valores dos sinais vitais, o que indica uma reação parassimpático. Há menor resposta aos estímulos do ambiente. Essas alterações provocam instabilidade clínica, o que prejudica sua recuperação no processo saúde-doença. Diante das sensações dolorosas ocorrem respostas de ação reflexa voluntária e involuntária.

Guinsburg (2000, p.64), descreve que a estimulação dolorosa apresenta conseqüências clínicas e biológicas de grande relevância para o recém-nascido, as quais se destacam os distúrbios cognitivos durante o desenvolvimento.

No entanto, observamos ao longo da nossa vida profissional situações que contrariam a definição de Guinsburg, onde a dor não é caracterizada como fator importante na recuperação de um indivíduo, principalmente quando se diz de recém-nascidos.

A neonatologia é o ramo da Pediatria que se ocupa das crianças desde o nascimento até 28 dias de idade. (SOUSA; KAWAMOTO et al., 2001, p. 135). Trata-se de uma especialidade que tem avançado muito nos últimos anos; neste avanço houve uma melhor creditação da questão da dor no recém-nascido e suas peculiaridades.

Gaspary (2004, p.48-49) cita em sua publicação que durante a vida fetal e neonatal todo complexo responsável pela transmissão da dor está em desenvolvimento e os mecanismos modulatórios do sistema de transmissão da dor amadurecem mais tardiamente. Assim o recém-nascido e especialmente o prematuro respondem evidentemente a estímulos dolorosos, e na maioria das vezes essa resposta é exagerada e generalizada. Baseado nesse conceito é indubitável a presença da dor nesses indivíduos, e o que é mais interessante é que eles sentem a dor com muito mais intensidade que o adulto, devido a sua imaturidade modulatória.

De tantas referências observadas nas literaturas atuais sobre a neurofisiologia da dor no recém-nascido ressalta-se a de Bernaldo e Huberman (2002, p.299-300) onde diz que o sistema nervoso central do feto origina-se a partir do folheto ectodérmico do embrião e o sistema sensorial que se desenvolve muito cedo. Por volta da 7ª semana de gestação surgem os primeiros sensórios cutâneos na região perioral do feto. Na 11ª semana espalham-se para o resto da face, mão e pés. Por volta da 15ª semana para o tronco e porções proximais dos membros inferiores e superiores. Na 20ª semana de gestação toda a superfície do feto apresenta receptores nervosos. Todo esse processo é precedido pelo desenvolvimento de sinapse entre fibras sensitivas e interneurônios, que se iniciam na 6ª semana de gestação no corno dorsal da medula.

Diante dessa citação é obtuso não acreditar na dor dos neonatos, anatomicamente há comprovação de que os bebês possuem capacidades para as sensações dolorosas como os adultos. Na conexão entre receptores periféricos e as raízes dorsais da medula, existem fibras finas e pouco mielinizadas responsáveis pela transmissão nociceptivas, e as fibras grossas mielinizadas, estão relacionadas à condução das sensações benignas ou prazerosas. Os autores concluem, ao dizer que o desenvolvimento anatômico necessário para o tratamento da dor ocorre principalmente na vida fetal e nos primeiros meses de vida. (ZUCCOLOTTO; RAÑNA et al, 2002, p. 201),

"O feto, mais ainda que o recém-nascido sente dor sem poder expressar-se..." (BERNALDO; HUBERMAN, 2002, p.301). Compreende-se que ainda feto, é capaz de sentir sensações dolorosas.

É conveniente lembrar que até mesmo no adulto, impulsos sensitivos são transmitidos por meio de fibras não mielinizadas ou fracamente mielinizadas. Na verdade a mielinização incompleta do sistema nervoso implica somente uma velocidade mais lenta de condução do impulso nervoso, o que é compensado no recém-nascido pela distância menor a ser percorrida. (BERNALDO; HUBERMAN, 2002, p.300).Com todos esses aspectos relacionados, é de grande importância acreditar na dor do recém-nascido.

Observa-se um conjunto de evidências científicas, demonstrando que o neonato não só sente dor, como também sofre desequilíbrio orgânico e emocional que comprometem seriamente o seu bem-estar.

Diante de tantas afirmações sobre a dor, a internação hospitalar gera grande desequilíbrio orgânico para o bebê; a transição da fase intra-uterina para a extra-uterina é um desafio. O estresse gerado, o ambiente, a temperatura, a iluminação, sons, manipulações, a falta do aconchego do colo materno, a fome que não pode ser saciada pelos seios da mãe, entre outros são fatores colaborativos para o aumento da dor.

A internação hospitalar como grande influenciador da dor; configura a vivência de um impacto, uma crise no contexto familiar, uma experiência externa de interrupção de continuidade do processo da vida. (SEBASTINI, 2002).

O crescimento técnico-científico favoreceu a queda da mortalidade neonatal, inúmeros equipamentos e incubadoras modernas vêm proporcionando esse avanço. No entanto paralelamente a esta situação temos o desgaste físico e emocional do neonato que se encontra hospitalizado em uma unidade de terapia intensiva. Afastado da mãe, personagem fundamental, sofre alterações orgânicas cooperativas para o seu desgaste. O neonato é exposto há dezenas de procedimentos dolorosos, e manipulações excessivas, o que acarreta intensos desconfortos.

As autoras Silva e Reis (2007, p.5) referem que a UTI é para o recém- nascido um local de conservação e recuperação do seu bem estar e garantia de sobrevida, assim como um sítio gerador de desconforto, desgaste físico, emocional e dor intensa. Isto posto, torna-se fácil perceber a importância da participação da família principalmente da mãe para a melhoria do seu estado geral.

Quando se fala da questão do conforto do recém-nascido, a maior problemática é a dor, pois inúmeros procedimentos utilizados para o tratamento se acompanham de fenômenos dolorosos. Como já foi visto a dor não gera benefícios ao organismo do recém-nascido, muito pelo contrário, dificulta sua recuperação.

A dor nesses indivíduos torna-se invisível e passa despercebida. Aprender a visualizar, a enxergar essa sensação nos neonatos é uma atitude de grande valia, a qual garantirá dignidade e respeito pelo outro, instrumento essencial para uma terapêutica eficaz. Contudo, é freqüente ouvirmos dos profissionais que o recém-nascido "está chorando porque está com manha", e que aquele procedimento "nem causa tanta dor assim". Como podemos saber a dor sentida pelo outro? São situações como essas que nos induzem a acreditar num grande despreparo dos profissionais em relação à dor.

Ao realizar um procedimento invasivo a dor é esperada. E por se tratar de uma condição que se prevê, a analgesia na maioria das vezes não é realizada. É comum ouvirmos dos profissionais: - Ah dói! Mas é assim mesmo viu. - Nossa! Mas não dói, você está chorando à toa.

Em especial os profissionais colocarem-se no lugar do outro em uma situação dolorosa talvez o faça visualizar a dor com novos olhos e reconhecê-la como um fator importante que pode colaborar para uma instabilidade clínica.

O profissional que consegue compreender o outro, evita julgamentos impulsivos sobre ele e tem a maior tendência a ser sensível e autêntico. (POTTER; PERRY, 2002, p.154).

A comunicação é uma das mais importantes habilidades que o profissional de Enfermagem necessita dominar. Nem sempre a equipe sabe reconhecer as manifestações de dor no recém-nascido. Em 1988, Montagu já dizia que em nossa progressiva sofisticação e falta de envolvimento recíproco, passamos a utilizar exageradamente a comunicação verbal. A comunicação não-verbal é de grande importância. Potter e Perry (2002, p.149), enfatizam que na comunicação não - verbal as ações falam mais do que as palavras, há transmissão de mensagens sem uso das palavras.

Tratando-se de recém-nascidos, é inútil usar a comunicação verbal em exagero, já que se refere a indivíduos que exige do profissional atuação muito mais complexa.

A comunicação humana é um processo complexo que envolve comportamentos e relacionamentos, permitindo a associação dos indivíduos uns aos outros e com o mundo ao seu redor. (POTTER; PORRY, 2002, p. 145).

Diante de inúmeros procedimentos dolorosos, depara-se a um ambiente desconhecido. Mais do que em qualquer período de sua vida o recém-nascido necessita prioritariamente de ser acolhido. O desconforto doloroso é constante e pouco se faz para amenizá-lo; há procedimentos que poderiam ser realizado analgesia antes de sua realização.

Diante das especificidades da dor é inegável a importância da atuação do profissional de Enfermagem garantindo a resolutividade da assistência. Muitas vezes a dor tem tido uma passagem silenciosa pelos profissionais, devido à dificuldade das pessoas em identificar e reconhecer a dor no recém-nascido.

Portanto é preciso envolver os profissionais a fim de que façam uma escuta cuidadosa e qualificada. É fundamental avaliar a dor num contexto geral, pois tem interface com diversas alterações fisiológicas, e na maioria das vezes não são relacionadas pelos profissionais.

O corpo e sua essência estão sendo esquecidos. O corpo é um veículo de expressão energética que atua na recuperação e cura, portanto deve ser visto como objeto essencial para a prática do cuidar, é imprescindível refletir que este corpo pertence a alguém, e é capaz de transmitir energias positivas e negativas.

Como diz Figueredo et al (2003, p.440), corpo é uma unidade psicossomática que fala, que expressa através de sinais e gestos e que sente; cada célula repete a função criadora, total do ser humano. O corpo revela-se e é revelado no ato de cuidar. Ele tem cor, postura, proporção, estruturas, movimentos, tensões, sentimentos, vitalidade, entendidos como expressões do seu interior que é individual e singular em cada um. Essa afirmação faz entender que o corpo que cuida e o corpo cuidado estão inteiramente interligados, o cuidar e o ato de tocar oferece subsídios grandiosos no alívio da dor.

Substanciando a citação de Figueredo et al; Mezzomo et al (2003, p. 87) dizem que para tratar o cuidar em toda a dimensão, devemos direcionar nossa atenção para a relação existente entre a pessoa que cuida e a pessoa que recebe o cuidado. E ainda o mestre Bittes Jr. (2001, p.76) cita que, "o fato do cuidador estar atento aos efeitos que suas ações criam no paciente, acaba também sendo um cuidado tão valioso quanto qualquer procedimento feito".

O toque é uma forma especial de comunicação. Os profissionais devem estar atentos e seguros na utilização do toque proposital durante as interações dolorosas. A Enfermagem pode aproveitar o toque que é realizado nos procedimentos invasivos, tratando-o como um cuidado especial. O ato de tocar possui uma complexidade e um valor capaz de tornar-se aliado para o enfrentamento da dor.

Segundo Adriola; Oliveira (2006, p.973), os recém-nascidos são capazes de responder a uma maior variedade de estímulos do que se acreditava há alguns anos atrás. No que tange reações dolorosas o ato de tocar é especial para a saúde física e mental e sua ausência causa prejuízo principalmente aos bebês.O toque é uma linguagem; desde o nascimento todas as pessoas têm necessidades de contato tátil, essencial para seu desenvolvimento, acentuada quando há exposição ao estresse. (FIGUEREDO et al, 2003, p. 441).

Contudo, cabe ao profissional capacitado considerar a imaginação, o pensamento sobre o que está acontecendo com o recém-nascido e a intuição; esses elementos poderão estar associados a experiências de vida ou não.

"É preciso dar aos outros que sofrem, mais do que técnica da nossa arte; a nossa força afetiva e o próprio coração derramando a mãos cheias o bálsamo da caridade anônima." (LACAZ , 2003, p.67).

Assim, parece existir um método próprio de demonstração dos sinais de dor na criança pré-verbal, através de uma linguagem alternativa difícil de ser entendida pelas pessoas que não possuem a sensibilidade de perceber; compete ao profissional apropriar-se de outras formas de comunicação.

"Aprender a cuidar da vida humana é uma contínua e interminável ação." (Bittes Jr., 2001, p.95).

É necessário refletirmos na vida existente ao doarmos energia no cuidar do indivíduo; doar energia possibilita visualizar o ato de cuidar com uma dimensão ainda melhor.

O enfermeiro deve buscar uma sensibilidade aguçada capaz de identificar os elementos colaborativos para os causadores da dor, porém não será suficiente para identificá-la. Se pararmos para refletir uma criança com febre: sua temperatura será medida, uma criança com dispnéia: sua freqüência respiratória segue parâmetros para defini-la. E a dor?

A dor acaba sendo menosprezada pela maioria dos profissionais, os quais relatam que é um fenômeno normal, já esperado, e muitas vezes, por esse motivo, não é feito nada para amenizá-la.

É necessário transformar essa face, semeando sementes veremos novos tempos de colheita farta e rica em humanização e solidariedade. Acreditar na mudança da atuação e na construção de uma ampla gama de valores, são passos essenciais para a implementação de uma nova cultura de atuação.

Dada a natureza do tema entende-se que é imprescindível a interação dos profissionais, para o enriquecimento do trabalho em conjunto que propicia o alcance ao êxito.

A compreensão é um dos maiores desafios para o ser humano. Para garantir a essência da vida humana é necessário que se instale uma relação entre o amor, o doente e o cuidador.

Rolim (2003) salienta que a aliança terapêutica se instala pela capacidade de entender e acolher afetivamente.

Como agente do cuidado, precisa-se demonstrar sensibilidade e disponibilidade para ouvir, mediar e valorizar o outro diante das sensações dolorosas.

A medição individualizada da dor, de forma coerente e sistematizada, permite conhecer a funcionalidade do tratamento e a identificação das causas da instabilidade clínica e emocional.

O desenvolvimento profissional em neonatologia configura o avanço na qualidade de atendimento aos neonatos, possibilitando outro olhar, passam a ser identificados como pessoas, indivíduos, que não possuem a capacidade de falar, porém são capazes de sentir.

"... É como tal que a criança deve ser considerada e assistida. O que é parcial é apenas o grau de aproveitamento das capacidades potenciais de que nasceu dotada, as quais nem o adulto aproveita em sua totalidade" (ALCANTARA, 2002, p.05).

É relevante entender que o neonato é uma pessoa completa, que merece respeito e dedicação, devemos assisti-lo como "ser", como indivíduo completo.

Alcântara (2002, p.05) foi feliz quando disse "... não é por ser criança, seja menos pessoa que o adulto, do mesmo modo que o botão de uma rosa é menos rosa do que uma rosa desabrochada".

Os bebês merecem respeito e devem ser assistidos com humanização. São capazes de sentir, talvez muito mais, que nós adultos, que não conseguimos valorizar as pequenas coisas da vida, só porque são pequenas.

A Enfermagem é uma ciência que se dedica ao cuidar do ser humano individualmente; ganhou seu espaço acumulando conhecimentos e técnicas empíricas as quais serviram para o seu desenvolver.

De acordo com Horta (1979, p.11) em 1967, surgiram os primeiros trabalhos desenvolvidos em teoria holística de Enfermagem, onde se enxergava o homem como um "todo". Esse conceito nos dirigiu a ênfase da humanização ao indivíduo na saúde e na doença.

No entanto o que vemos na prática clínica é o esquartejamento do homem, dividindo-o em partes as quais não possuem sentimentos, emoções e direitos de ter desejos. Como separar a dor do indivíduo? É fácil entender as partes, os fragmentos. No entanto quando se trata de seres humanos, de pessoas, não se deve separá-los, dividi-los. Observam-se dificuldades em enxergar o indivíduo como um todo, sem fragmentá-lo.

Há domínios do nosso ser, que neles a tecnologia não atua. O equilíbrio do emocional, racional, as técnicas e procedimentos precisam estar inteiramente interligados. O ser humano deve ser resgatado, é embrutecedor visualizar profissionais atuando somente na objetividade homem-máquina.

Concordando com Mezzomo et al (2003, p.175) a profissão não pode perder seu caráter mais louvável: a humanidade.

Cuidar de vidas é mais que salvar um corpo, mas é também olhar com atenção para os olhos do outro, ouvi-lo, socorrê-lo em profunda dor da sua alma. É compartilhar da dor. (MEZZOMO et al, 2003, p. 65)

Existe uma complexidade extensa ao abordar o relacionamento enfermeiro-paciente, os profissionais devem estar aptos para a decodificação do indivíduo principalmente quando se diz decodificar a linguagem de dor dos recém-nascidos.

Há uma exigência de estado de adaptação permanente; o homem atravessa situações diferentes constantemente em sua vida, o qual faz tornar-se único e imprevisível.

A Enfermagem permite ao indivíduo adaptar-se através do reconhecimento, análise do homem e suas potencialidades.

Horta (1979, p.22), enfatiza o conceito de Martha Rogers que diz, "A Enfermagem é uma magnífica epopéia de serviços à humanidade. Através da sua evolução, desde os primórdios até o presente; muitas vezes os instrumentos foram inadequados e os passos vacilantes, mas esforços para ajudar o homem na luta para a sobrevivência sempre persistiram".

Esse conceito nos direciona a entender que a Enfermagem deve ajudar o homem a alcançar o nível máximo de bem estar. E se falando de dor, é impossível atingir o nível de equilíbrio com as sensações dolorosas presente.

O processo de Enfermagem surgiu com a finalidade de sistematizar o atendimento; a expressão "processo de Enfermagem" foi empregada pela primeira vez em 1961 para explicar o cuidado de enfermagem. Segue uma série de passos (coleta de dados, diagnóstico de Enfermagem, planejamento, intervenção e avaliação) que focaliza a individualidade do cuidado regendo-se pelos conhecimentos científicos e pelas experiências. (Horta, 1979, p.35).

Para garantir esse processo houve a implementação da sistematização da assistência de Enfermagem (SAE); a introdução dessa prática garantiu a assistência humanizada ao indivíduo.

Acredita-se que a melhor maneira de estruturar e proporcionar conhecimento na área de Enfermagem é atuar de forma adequada junto à criança e seus familiares, por meio da implantação da SAE voltada para as reais necessidades dessa clientela.

A sistematização da assistência de Enfermagem permite a atuação autônoma e sólida. O enfermeiro necessita utilizar preceitos científicos e humanísticos que compõe o arsenal de conhecimento profissional. (CODO; PAES, 2004, p.29)

Considerando a necessidade da Sistematização da Assistência de Enfermagem na identificação e avaliação da dor no recém-nascido, salienta-se a importância da capacitação profissional, garantindo ao neonato uma assistência individualizada, respeitando suas limitações, atuando no alívio da dor e contribuindo para uma melhor qualidade na assistência de Enfermagem; proporcionando ao menos momentos de conforto.

É de suma importância o manejo da dor diante da tecnologia dos novos tempos; há métodos específicos que permite fundamentá-las. Temos como aliadas, as escalas específicas para avaliação da dor no recém-nascido, que oferecem subsídios sistemáticos nas sensações dolorosas.

Mudanças orgânicas, determinadas expressões comportamentais entre outros atribui à representação dolorosa, no qual oferece elementos valiosos para a escolha da mais adequada analgesia.

A atuação ética da equipe de Enfermagem é uma atividade que tem compromisso com o ser cuidado e o ser cuidador.

Potter e Porry (2002, p.06) comentam em sua obra, sobre a teoria de Hildegard Peplau (1952), onde o desenvolvimento da interação interpessoal entre o paciente e o enfermeiro era seu propósito principal.

O qual define um modelo teórico interpessoal enfatizando o relacionamento entre enfermeiro e paciente.

Há uma profunda preocupação e expectativa que o profissional de Enfermagem compreenda a importância e a sua responsabilidade diante dessa problemática.

Nesse contexto é possível visualizar o desconhecimento do profissional às conseqüências morais no que se diz respeito ao alijamento de si mesmo, frente a dor do recém-nascido; atuação essa, nada digna.

Esse estudo buscou fundamentar a prática da atuação de Enfermagem, diante da dor do recém-nascido, evidenciando sua identificação, avaliação e condutas que favorecem o alívio da mesma, garantindo um atendimento solidário e respeitoso.

O exercício da profissão baseado em pesquisa e evidências fortalece sua identidade, contribuindo para que ocorra um melhor entendimento das suas peculiaridades. A pesquisa em Enfermagem favorece o desenvolvimento dos consumidores traçando caminhos promissores para a evolução da profissão.

Para tal trataremos do conhecimento, atuação e reflexão do profissional de Enfermagem, auxiliares e enfermeiros, que trabalham em unidades de terapia intensiva neonatal, frente a dor dos neonatos ali hospitalizados, pois há uma preocupação em subsidiar o tratamento da dor nesses indivíduos.

Propomos a presente pesquisa apresentando possibilidades, a qual a dor tratada de forma sistemática é mais coerente e garante um melhor resultado.

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Autor: Camila Dias Teixeira Soares


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